Noite II
MADELIENA
Acordei assustada.
Minha respiração estava irregular e o suar se acumulava na minha coluna e testa. Desesperada, levei à mão a garganta, ainda podia senti-la sendo apertado, o sangue escorrendo pelas minhas feridas abertas, vozes sussurrando o meu nome, enquanto arrastavam o meu corpo quase sem vida pelo piso de mármore.
Ainda assustava, joguei os lençóis para longe. Passei os dedos nos cabelos, sentindo-os molhado. Depois de alguns minutos me acalmando, foi ao banheiro me banhar. Retirei minha camisola suada e entrei na banheira enquanto ela enchia. A água estava gelada, fazendo a temperatura alta de o meu corpo diminuir. Quando á banheira já estava cheia, desliguei a tornei. Fechei meus olhos, enquanto murmurava uma canção que as irmãs anciãs cantavam quando eu tinha pesadelos.
Não consigo me lembrar dos pesadelos que me assombravam a noite. Depois da purificação, tudo o que eu conseguia lembrar, era do medo terrível que me prosseguia todas as noites, de acordar gritando e chorando. Minhas irmãs falavam que era o Deus caído tentando me corromper, esperando que meu corpo enfraquecesse para conseguir roubar a minha alma e se eu não tiver controle, se eu permitir que ele invada a minha mente, eu pereceria e minha alma seria devorada.
Depois da purificação, consegui me livrar dos pesadelos e das alucinações. Então me pergunto, por que os pesadelos decidiram voltar agora? Depois de todos esses anos. Eu estava mais forte, minha magia continuava pura, então, por quê? Olhos vermelhos invadiram a minha mente, mas o descartei sabendo que não importa o quão poderoso ele possa ser. Ninguém conseguiria invadir minha mente. Não mais.
Sai do banho e me enxuguei com calma. Sequei meus cabelos molhados e voltei para o quarto. Vesti uma camisola limpa e deitei na cama, os lençóis ainda estavam quentes, repousei a cabeça nas almofadas macias e fechei os olhos, pronta para dormir. Mas antes que o sono chegasse sentir algo gelado tocar meu pé, uma mão acariciando minha pele. O ar ficou preso na minha garganta, minha mente entrou em pânico, procurei um feitiço de proteção, mas eu não conseguia pronuncia-las. Seu toque gelado foi subindo, passando pelo meu joelho e coxa. Um gemido de pavor saiu dos meus lábios quando sentir o colchão afundar com o peso do meu pesadelo. Posso sentir lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas, meu corpo não se mexia.
O corpo gelado se deitou ao meu lado, seu toque subiu para os meus quadris. Minha mente gritava para que a magia fosse convocada, para que a Deusa me protegesse. Quando senti meus cabelos sendo puxados delicadamente para trás, revelando meu pescoço pálido, meu corpo estremeceu. Só quando senti seus lábios tocando o meu pescoço, eu pude gritar. Gritei até que minha garganta doesse, até que minha magia me abraçasse e me protegesse daquele ser maligno que visitará o meu quarto.
— Madeleina! — Alguém gritou. Abri meus olhos à procura da voz familiar. Mas tudo o que eu conseguia ver, era o teto branco com detalhes dourados a centímetros do meu rosto. Quando o medo passou e reparei que tudo aquilo não passava de um pesadelo infernal. Meu corpo cai, indo de encontro ao chão. A dor da queda fez o ar dos meus pulmões sair bruscamente. Minhas irmãs se ajoelharam a minha volta. Todas com olhos arregalados e cabelos desgrenhados. — Deixe-a respirar — ordenou Belledisse, fazendo todas se afastarem em um pulo. Sem esforço, ela me pegou nos braços, deitando-me na cama macia.
— Irmã — chamei, sem saber o que dizer.
— O que aconteceu, Madeleine? — questionou, enquanto arrumava minha camisola e tirava os cachos negros do meu rosto. — Diga-me. — Seus olhos negros brilhavam com a luz fraca da vela. Seu rosto estava tenso e suas narinas dilatadas.
— Eu tive um terrível pesadelo.
Ela suspirou bruscamente, fazendo seu rosto relaxar.
— Parecia tão real — murmurei, sentindo meu coração bater com força.
— Não se preocupe. Suas irmãs estão ao seu lado. — Assegurou ela, acariciando meu rosto com o polegar. — Não permitirei que nada de ruim a aconteça com você e nem com a sua doce magia.
~~*~~
Ficar ajoelhada no meio da floresta não foi bem uma escolha, mas sim, uma necessidade. Uma brisa fria soprou, fazendo meus cabelos dançarem com seu ritmo. Encarei o céu cinza por alguns segundos, antes de voltar para minhas irmãs, Um círculo de pedras foi feito ao meu redor. Uma pequena cuia de madeira estava no chão a minha frente, ela está feia de mel e ervas perfumada.
Marie, Tey, Katherine e Benna estavam sentadas um pouco distante da cerimônia. Seus véus brancos balançavam a favor do vento, deixando o formato de seus rostos no tecido fino.
Benedity, a segunda bruxa mais velha daquele lugar estava ao lado de Belledisse. Ambas seguravam bacias de porcelana. A cerimônia simples é para limpar as energias negativas do meu corpo, não era nada doloroso. Agradeci a Deusa por isso.
— O banho de ervas limpara sua energia, ela lhe trará descanso e sossego — anunciou Benedity, para logo em seguida, conjurar o fogo lilás. As pedras começaram a queimar em uma chama pequena e constante. Era agradável senti-las queimando minha pele. Belledisse e Benedity começaram a cerimônia com uma canção antiga. Analisei Margo surgir com seu vestido cinza e seus cabelos vermelhos. Ela se ajoelhou na minha frente e pegou a cuia com mel. Ainda de joelhos, afogou dois dedos no mel e começou a melar minha testa, depois as bochechas. Fechei os olhos, esperando que ela terminasse. O cheiro forte de ervas fez meu nariz coçar, mas não fiz nenhum movimento para aliviar o incomodo.
Depois que terminou, levantei o rosto aos céus, esperando que continuassem. Escutei os sons de passos se aproximando cada vez mais.
— Em nome da minha Rainha, eu te purifico. — A água fria molhou meu rosto e meu corpo nu. Ela estava gelada, o cheiro de ervas era agradável e suave. Curvei meu corpo e coloquei minhas mãos na terra, agora molhada. Abri os olhos, encarando meus dedos sujos de terra.
— Que o mal que me persegue seja sugado — comecei com a voz firme. — Que toda força oculta tentando me desanimar ou me influenciar de forma a me derrubar, seja banida! E em seu lugar, fique apenas a harmonia e a pureza de minha alma. Que assim seja. Assim sempre será. — Ao terminar de recitar o encanto desejado, o outro banho acariciou minhas costas e cabeça. Senti uma energia quente me consumir e uma felicidade imensa preencher o meu peito. Meu corpo estava leve e relaxado. Levantei para encarar minhas irmãs. Elas sorriam para mim, orgulhosas que tudo tenha saído como planejado.
O fogo nas pedras ainda queimava quando passei sobre elas. Peguei o vestido que Katherine segurava e o vesti sem me enxugar. Benna me ajudará com o cabelo molhado e o véu. E com isso, seguimos para a mansão encantada em silêncio, deixando para trás todo o mal que me assombrava.
À noite, estávamos todas reunidas no enorme salão. A mesa redonda era de madeira escura, as cadeiras eram longas e confortáveis, seu tecido parecia veludo de cor vermelho vivo. Hoje, seria a primeira reunião com os Vampiros. Esperei por eles no canto do salão, as enormes janelas deixavam a luz de a lua banhar metade do salão. Apoiei-me no vidro pensativo. Meus olhos foram para Katherine do outro lado do salão. Ela acenou e sorri, mesmo sabendo que ela não poderia me ver. Cada uma de nós estava em uma ponta do salão. Éramos um pilar de proteção para nossas irmãs que sentavam a mesa.
As enormes portas foram abertas. Para a minha surpresa, não fiquei nervosa ou ansiosa. Apenas fiquei parada, observando cada um deles entrar. Uma mulher chamou a minha atenção, eu não havia reparado nela na primeira noite. Seus cabelos brancos desciam em uma cascata brilhante pelos ombros e costas. Seus olhos eram grandes e seu rosto em formato de coração. Ela deixaria qualquer pessoa desconfortável com apenas um olhar, ela exalava confiança e perigo. Como todos naquele salão.
— Boa noite. — Turno sentou a mesa com mais quatro vampiros. Franzi a testa quanto o resto se espalhou pelo salão, se posicionando em cada canto. Ignorei o vampiro que vinha na minha direção e ficou em pé ao meu lado. Não esperei que eles fizessem isso. Na verdade, não esperei tê-lo tão perto, não agora.
Encarei Belledisse. Ela não demonstrou nenhuma surpresa, apenas encarou profundamente o vampiro de cabelos brancos.
— Pontual como sempre, Turno. — Belledisse sorriu, revelando seus dentes brancos. — Devemos começar? A muita coisa a ser discutida. — A discussão começou. Escutei atentamente cada declaração, cada sugestão e cada briga naquela mesa. O ódio de Belledisse era evidente quando Turno declarou Massachusetts, nossa cidade natal, Salem, território indispensável pelos Vampiros — Isso é algum tipo de brincadeira, Turno? — cuspiu ela.
— Nunca brincamos — declarou ele, seriamente. — Massachusetts se tornou nosso território quando as bruxas foram expulsas e caçadas pelos humanos no século XVII. — O salão ficou em silêncio. — Deve ter sido muito humilhante ser descoberta daquela forma. — Sorriu, mostrando suas presas afiadas.
Salem é nossa terra natal, mas também nossa maior vergonha. No começo da caçada, havíamos perdidos muitas irmãs na guerra contra os Vampiros. Elas estavam impotentes e fracas demais para lutar. Então, quando foram descobertas, muitas foram acusadas e queimadas na fogueira. Naquele momento, minhas irmãs perceberam que não poderiam mais viver em Salem, a exposição era como um alvo para seus inimigos. Com isso, elas abandonaram Salem em busca de um novo lar.
Belledisse estava preste a responder quando senti algo tocar minha mão. A mão gelado do vampiro segurou a minha, ele é calmo e discreto, meu corpo tremeu ao seu toque, não um tremor ruim. Com o polegar, ele acariciou a palma da minha mão e depois, a pele fina do meu pulso, seus dedos eram tão gelados e macios. Mordi o lábio com força tentando não encara-lo. Ele estava brincando comigo.
Para a minha desgraça, permiti que ele continuasse com as carícias. Isso não deveria acontecer, eu não deveria permitir que um ser imundo como ele me tocasse. Coisa que ninguém nunca fez, porque sou uma intocada. Mas eu permiti. Aceitei o seu toque frio, aceitei que seus dedos se entrelaçassem nos meus. Engoli em seco, com medo que os outros notassem meu erro.
Minha Rainha, eu sou uma vergonha para nosso clã. Uma fraca diante dos prazeres proibidos. O Deus caído parece querer me destruir a todo custo, por isso enviou esse vampiro. Para que o meu desejo por aquele monstro, se tornasse a minha ruína.
...*...
Mais um capítulo publicado, espero de todo coração que estejam gostando.❤️
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