04 • TENTATIVA
ILHA INFINITY • MAR DO CARIBE
23 DE DEZEMBRO
11:03 PM
RAE
A insegurança é um dos piores sentimentos do mundo. É uma sombra amaldiçoada que nos faz questionar cada escolha, cada palavra, cada passo. É horrível.
Eu sei disso porque já senti demais essa angústia, a sensação sufocante de não saber quem você é exatamente, de se sentir perdido, abandonado e sem rumo. É um vazio que corrói de dentro para fora, e eu percebo isso nos olhos de Jason. É totalmente compreensivo ele querer fugir por se sentir assim.
Já estive exatamente onde ele está agora – tentando esconder o medo atrás de uma fachada de força, esperando que ninguém perceba o quanto isso machuca.
Mas nem todos aqui encaram a insegurança como algo comum. Para a maioria, é uma fraqueza, e se sentir fraco não é um dos ensinamentos dos guerreiros da Liga. É uma das poucas coisas que discordo sobre os princípios da família al Ghul.
Acredito que só conseguimos ser fortes porque um dia fomos fracos.
Talvez, por isso, eu sinta essa necessidade tão forte de ajudá-lo. Porque ninguém deveria carregar esse peso sozinho.
Quando cheguei aqui, Hana me ajudou a me sentir menos insegura. Me ensinou que precisamos cair para nos levantar, e tudo bem se fracassarmos, desde que tenhamos a coragem de nos reerguer e sairmos mais fortes.
Por isso, alguns guerreiros não suportam as rígidas regras impostas pela Liga das Sombras. Nem todos tiveram a mesma sorte que eu. E, sem querer me gabar – mas já me gabando –, Jason teve muita sorte de ter sido eu quem o flagrou tentando fugir.
Conseguimos voltar ao quarto dele sem maiores interrupções e antes que Yvian chegasse. Já estava no horário que geralmente vínhamos para tentar acessar suas memórias enquanto ele dormia.
— O que vocês querem de mim? — Ele pergunta, assim que fecho a porta.
Com a expressão mais fechada do que antes, ele segue andando até a pequena varanda do quarto.
— Não queremos nada de você — respondo, dando alguns passos em sua direção. — Estamos aqui para te ajudar.
Ele apoia as mãos no parapeito e vejo as pontas dos dedos ficarem brancas. Também conheço essa raiva.
— Me ajudar? — Ele deixa um longo suspiro sair e fecha os olhos. Estava prestes a contestar sua pergunta, mas ele fala mais rápido: — Eu estava morto e vocês me reviveram. Que tipo de ajuda é essa? O que vocês querem de mim?
Quando ele abre os olhos, vejo toda a raiva que está tentando conter dentro de si. Era quase palpável.
— Talia e Ra's acreditam que você será importante para os propósitos da Liga — começo a explicar, com calma. — Eles não teriam trazido você de volta se não acreditassem nisso. Algo no seu passado é importante para eles, e o seu futuro ainda mais.
— Meu passado? Então eles sabem quem eu era? Você sabe quem eu era?
Abro a boca para responder, mas nada sai de imediato. Não queria causar mais um conflito interno para ele.
— Você precisa lembrar por si só — explico, tentando escolher as palavras. — Quer dizer, eu posso te ajudar a fazer isso, porque se deixarmos suas memórias voltarem naturalmente, pode ser que demore meses, ou até anos. Ou, talvez, nunca voltem.
— Então você sabe quem eu sou? Quem eu fui?
O olhar de Jason é duro como pedra, mas além da raiva que ele sente, consigo sentir o que há no fundo dos seus olhos: o medo.
Apenas assinto levemente, desviando o olhar para o pátio abaixo do nós.
— Se você quer tanto me ajudar, então por que não me diz? — Ele dá um passo na minha direção. Ainda estou com os olhos fixos no pátio, mas sinto o olhar dele pesar sobre mim. — Quem eu era?
Respiro fundo e volto a atenção para ele.
— Posso te ajudar a lembrar.
— Quem eu era, Rae? — Ele me interrompe. — Éramos conhecidos?
— Não. Você não me conhecia.
— Então como você sabe quem eu era? — Vejo sua expressão se fechar ainda mais. — Você sabe por que eu morri? Como eu morri?
Eu deveria estar preparada para essas perguntas. Todos os outros sobreviventes do Poço que ajudei a recuperar as memórias fizeram o mesmo questionamento. Mas, ao contrário de Jason, minha resposta sempre era negativa.
Eu o conheci no dia de sua morte por um mero acaso que, hoje, já não acredito que tenha sido tão acaso assim.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, a porta do quarto se abre e Yvian entra por ela, fazendo com que nós dois desviássemos a atenção até ele.
Yvian estava com as vestimentas pretas e impecáveis de sempre, com a postura séria e concisa. Mas, quando seus olhos percorrem pelo quarto e nos vê na varanda, eu poderia arriscar dizer que vi uma rápida surpresa, e até mesmo uma certa confusão em seu olhar, mas que se esvaiu na mesma velocidade em que surgiu.
— Estava te procurando — ele diz, dando alguns passos em nossa direção e intercalando o olhar entre Jason e eu, mas sei que o que acabou de dizer foi direcionado a mim.
— Estávamos aqui... — olho rapidamente para Jason e torço para que ele permaneça calado — conversando. Passei mais cedo por aqui e vi que ele estava acordado e resolvi... conversar.
É uma mentira péssima e fraca. Definitivamente, preciso aprender a mentir melhor. Mas espero que Yvian não faça muitas perguntas e aceite essa farsa que acabei de inventar.
— Ele sabe também quem eu sou? — Sinto meu maxilar tensionar ao ouvir a voz de Jason ao meu lado. Era para ele ficar de boca calada.
As sobrancelhas de Yivian se encontram, em uma expressão confusa, mas ainda fechada.
— Ele também sabe como te ajudar — me apresso em dizer. — Todos nós estamos aqui para isso.
— Então por que você fica entrando na minha cabeça toda noite?
Silêncio.
Acho que levou de quatro a cinco segundos para que eu ou Yvian conseguisse dizer alguma coisa.
Meu olhar alterna entre os dois e, como eu já estava sendo encurralada pelas perguntas de Jason, decido tomar a frente. Respiro fundo antes de repetir o que já disse a ele várias vezes nesta noite.
— Você precisa se lembrar de quem você é, e eu posso te ajudar com isso. Yvian pode te ajudar a encontrar quem você pode ser daqui para frente. Hana pode te ajudar a te deixar mais forte, mais preparado para qualquer situação. Ra's e Talia podem te ajudar com um propósito, uma razão pela qual vale a pena ficar aqui. — Dou um passo na direção dele, e me certifico de que seus olhos estejam fixos nos meus, e de que entenda que tudo isso que acabei de dizer é verdadeiro. — Você precisa da gente, e nós precisamos de você.
Outro silêncio.
Dessa vez, bem mais longo. Eu conseguia ouvir apenas a respiração pesada de Jason, que parecia estar se controlando a todo custo para não gritar comigo e com Yvian. E, mesmo que ele gritasse, eu compreenderia. Não faço ideia de como é perder totalmente a memória de uma vida inteira, mas sei como é se sentir assim: vulnerável, exposto, inseguro.
Percebo que Yvian me encara com uma seriedade maior que antes, então volto a organizar as palavras na minha cabeça para que ele e Jason entendam a minha nova tentativa. Não gostaria mais de invadir a sua mente enquanto dorme, preciso fazer com que ele confie em mim, porque, talvez, seja por esse motivo que não estamos tendo progresso algum. Precisamos de outra opção, outra tentativa.
— Vamos fazer o que seguinte — intercalo o olhar entre os dois, calmamente —, podemos começar do zero, sem pressão. Vamos respeitar o seu tempo, Jason. Ninguém aqui quer te fazer mal. — Volto a encará-lo nos olhos. — Sei que você tem muitas perguntas e todas elas parecem não ter sentido, mas te prometo que vamos encontrar as respostas, se você nos deixar te ajudar.
Mais um silêncio.
Agora, apenas o som de uma coruja preenche a quietude entre nós três. O som é baixo – a ave deve estar a alguns metros de distância, talvez em alguma árvore no pátio –, mas, neste instante, parece ensurdecedor.
Jason quebra a tensão do momento virando-se de costas para nós. Ele volta a se encostar no parapeito da varanda, fecha os olhos e respira fundo.
Yvian ainda me encara com uma expressão indecifrável, mas fechada, como sempre. Então não sei dizer se ele está bravo, se achou uma boa ideia o que acabei de dizer ou se ele vai me matar assim que sairmos desse quarto. Se levar em consideração a sua falta de humor, eu diria que a última opção seja a mais válida de todas.
— Acho que preciso dormir. — Jason diz, por fim, ainda com os olhos fechados.
Em outras palavras, ele estava nos expulsando do seu quarto. Mas, sinceramente, já considero um avanço. Ele não negou, não gritou, não colocou o dedo na nossa cara nos acusando de atormentá-lo mais uma vez.
— Também acho — respondo, concordando.
Envolvo seu antebraço com a mão direita e o toque faz com que ele vire o rosto em minha direção, franzindo ainda mais as sobrancelhas que já estavam enrugadas. Olho firme em seus olhos castanhos mais uma vez e espero que ele entenda o que os meus querem dizer: não fuja, não tente fazer isso de novo.
Não verbalizo essas palavras, porque Yvian não poderia saber da fuga. Em vez disso, apenas acrescento:
— Tente descansar, nos falamos amanhã.
Me afasto lentamente, ainda torcendo para que ele entenda o recado na minha expressão.
Assim que cruzo a porta do quarto de Jason, Yvian me segue no mesmo instante e fecha a porta atrás de si. Em um movimento repentino, ele me segura pelo braço e nos afasta dali, seguindo para o próximo corredor.
— O que você está fazendo? — Pergunta, em um volume baixo, quase inaudível pelos dentes semicerrados.
— O que você acha? — Devolvo no mesmo tom.
Eu sabia que ele iria questionar. Sei também que está sendo pressionado para fazer com que Jason evolua nos treinamentos – os quais ele mal consegue fazer porque está sempre brigando com tudo e todos e tentando fugir de todas as tarefas que atribuem a ele.
— O garoto precisa ser monitorado de perto, Rae. Ele ainda não é confiável, não podemos deixá-lo livre assim para escolhas.
— E qual outra solução você tem em mente? — Retruco, livrando meu braço de sua mão. — Porque, claramente, o que estamos fazendo não está dando certo.
— Só precisamos tentar mais algumas vezes e...
— Eu sei o que estou fazendo. — O interrompo. — Eu sei o que estou vendo na mente daquele garoto. As poucas lembranças que vi mostram a mesma coisa: medo. E ele não vai conseguir se abrir emocionalmente se continuar se sentindo assim.
— Não temos muito tempo, você sabe disso. — A voz dele soa ríspida, como uma faca arranhando uma pedra.
— Não, Yvian, eu não sei. — Endireito a postura e cruzo os braços, olhando fixamente em seus olhos escuros. — Não sei exatamente o quê e para quê estamos preparando esse garoto. Ninguém me falou nada, então não sei que prazo é esse que você está falando.
Eu realmente não sabia. Quer dizer, Talia deixou claro para mim algumas vezes que teríamos uma longa missão pela frente, que precisávamos ser diretos e que a pessoa que traríamos de volta seria importante. Mas isso foi antes de eu descobrir que essa pessoa era Jason Todd, o garoto que vi morrer dois anos atrás.
Assim como Yvian, também estou impaciente, mas por motivos diferentes. Gostaria de ter mais clareza e transparência para entender o que vamos enfrentar.
O vejo se esforçar para não fechar ainda mais a expressão. Ele desvia o olhar, deixa um suspiro escapar, leva os dedos à ponte do nariz e balança a cabeça.
— Tudo o que você precisa se preocupar agora é em recuperar as memórias daquele garoto. Quando chegar a hora certa, você vai saber.
— E que diferença faz se vocês me contarem agora? — Minha pergunta sai quase instantaneamente após sua última palavra.
— Não é algo com que você precise se preocupar agora. Sua mente precisa estar livre e focada para consertar a dele. Você sabe quem ele é, sabe como ele morreu. Imagine quando tudo isso voltar à tona para ele. Essa já é uma carga enorme que você terá que ajudá-lo a controlar para que os treinamentos dele sejam eficientes.
Engulo em seco a vontade de confrontá-lo nesse exato momento. Yvian é um homem extremamente controlador quando quer ou precisa ser. Mas eu não tenho muita paciência quando ele tenta fazer isso comigo.
— Estamos entendidos? — Sua voz continua ríspida, e seu olhar parece escurecer ainda mais.
Assinto silenciosamente, com a expressão mais fechada que consigo.
— Ótimo — ele dá um passo para o lado, pronto para sair daqui. — Amanhã tentaremos de novo. E da forma de costume.
Fecho os olhos para que ele não perceba minha vontade de revirá-los nesse exato momento. Ouço seus passos se afastarem, e, quando os abro novamente, ele já não está mais aqui. Seguiu até o fim do corredor e subiu as escadas com sua típica atitude autoritária.
Yvian fica acomodado no sexto e último andar, junto com os al Ghul e outros guerreiros veteranos, como Ravi. Hana e eu, por outro lado, ocupamos quartos vizinhos no quarto andar desde que nos mudamos para esta ilha. Nosso andar tem um clima bem mais descontraído, mas nada que neutralize o peso das responsabilidades que carregamos.
Por um momento, me pergunto se dois andares são suficientes para que ele não escute os xingamentos que estou prestes a gritar quando chegar no meu quarto. Porque, sinceramente, se ele acha que vou simplesmente aceitar o jeito dele de impor as coisas em algo que está sob minha responsabilidade, está muito enganado.
Com os pensamentos fervendo, desço as escadas rapidamente e sigo em direção ao meu quarto, mas gostaria mesmo era de socar um saco de pancadas neste exato minuto.
Quando chego ao meu corredor, vejo Hana sentada em frente à porta do meu quarto, com um tabuleiro de madeira em uma mão e uma pequena bolsa de tecido na outra.
— Noite de insônia? — Pergunto assim que ela vira o rosto na minha direção.
Ela se levanta, dando de ombros.
— Hoje foi um dia daqueles — explica, dando um suspiro cansado.
— O que aconteceu? — Questiono novamente, me aproximando da porta do quarto.
Outro suspiro cansado.
— Só hoje tive que lidar com incontáveis tipos de gente que não consegue se concentrar por nada nos treinamentos. Um que se distrai com passos pelo corredor, outro com o som dos pássaros, outro com a própria respiração e outros que nem sequer aparecem, como seu amigo Jason.
Meus olhos reviram involuntariamente ao ouvir o nome dele. Agora, sou eu quem deixa um longo suspiro cansado sair.
— Pela sua cara, você também não teve sorte com ele hoje. — Hana se apoia no batente da porta, colocando o tabuleiro debaixo do braço. — Ainda são só aquelas duas lembranças?
Passo a mão pela testa, pensando em como estou presa no mesmo problema com esse garoto. E agora, há o risco de ele tentar fugir, ser pego no flagra, e as coisas só se complicarem ainda mais para ele, já que não tem como sair daqui.
Olho rapidamente em ambas as direções pelo corredor para saber se há alguém por perto que possa nos ouvir. Não tem ninguém além de Hana e eu, mas escolho não arriscar. Não é à toa que somos conhecidos como a Liga das Sombras.
Abro a porta do quarto e indico com a cabeça para que Hana entre. Ela franze as sobrancelhas ao perceber a minha desconfiança e cruza a porta rapidamente. Em seguida, faço o mesmo e a fecho atrás de mim.
— Ele tentou fugir.
— O quê? — As duas sobrancelhas dela se erguem.
Respiro fundo mais uma vez e vou em direção à cama, me sentando na beirada.
— Como ele tentou fazer isso? — Hana indaga, ainda com a expressão perplexa no rosto. — Nem tem como sair daqui sem permissão.
— Foi o que eu disse a ele.
Passo a mão no rosto para tentar dissipar a onda de estresse que percorria pelo meu corpo. Conto à ela como Jason tentou fugir, o plano de roubar um barco de madeira fajuto e remar rumo à sei lá onde, até ser visto pelo guarda do cais e eu ter que intervir, apagando aquele momento de sua memória antes que a situação toda piorasse.
— Eu sabia que esse garoto ia dar problemas — ela comenta, sentando-se ao meu lado na beirada da cama. — Estava muito enganada quando achei que seria moleza lidar com um ex-vigilantezinho de rua.
Balanço a cabeça, tentando dissipar a preocupação da dificuldade que vai ser daqui para frente.
— Ele realmente aparenta ser um ímã de caos. — As palavras saem da minha boca involuntariamente. — E está completamente perdido. Não sabe quem é, o que está fazendo aqui, ou em quem confiar. E, sinceramente, não posso culpá-lo por isso.
— Não culpar não significa passar pano, Rae. Ele pode estar confuso, mas isso não justifica ignorar todas as ofertas de ajuda que estamos oferecendo a ele. Eu mesma já disse isso várias vezes durante os poucos treinamentos que consegui fazer com ele.
— Eu sei disso. — Respondo, enfadada. — Mas ele não enxerga dessa forma. Na cabeça dele, fugir é a única forma de recuperar o controle, ou sei lá, tentar se encontrar, mesmo que seja uma ilusão.
Hana solta outro suspiro frustrado, revira os olhos e, depois de se levantar, senta-se de novo no chão, posicionando o tabuleiro de madeira à sua frente.
— Já estou de saco cheio desses problemas por hoje — diz, abrindo a pequena bolsa de tecido e retirando as peças do jogo. — E pela sua cara, você também está. Então vamos jogar uma partida de Shogi. Amanhã a gente volta a se preocupar com essas chatices.
Ela começa a organizar as peças no tabuleiro, gesticulando para que eu me sente do lado oposto.
Jogar Shogi – que é basicamente o xadrez japonês – já havia se tornado uma tradição nossa nas noites de insônia. Ela quem me ensinou a jogar, quando me mudei para cá. Lembro de ela ter dito que era algo que jogava muito na infância – um dos poucos detalhes que sei sobre essa fase da vida dela. Apesar de começar como uma distração, nossas partidas acabavam virando verdadeiras competições. Levávamos o jogo tão a sério, que parecia que estávamos na competição mais importante do mundo. Era uma coisa simples, mas foi o que acabou nos unindo com uma distração para além das nossas responsabilidades por aqui.
E ela sabe que o convite é um golpe baixo, porque não recuso nenhuma partida. E, depois dessa noite, acho que preciso de uma distração. Não iria conseguir dormir tão cedo também.
Me junto a ela no chão, cruzando as pernas e ajeitando as peças do meu lado do tabuleiro.
— Vou conversar com a Talia amanhã — digo, quando termino de posicionar a última peça —, sobre a minha nova estratégia. Precisamos nos aproximar do Jason como pessoas normais.
— Boa sorte com isso. — Hana deixa um riso rápido escapar pelo nariz. — E por falar nela... — Ela ergue o olhar e se inclina levemente sobre o tabuleiro. — Eu a encontrei por acaso mais cedo. Ela estava estranha, subindo as escadas para o andar dela devagar. Parecia até que estava ferida, mas não vi marcas. Estava meio... pálida.
Franzo o cenho. Não consigo imaginar Talia tendo dificuldades para subir uma escada. Já a vi ferida uma vez e, mesmo assim, ela agia parecendo que não era nada.
— Será que ela está doente? — Me ouço perguntar.
Hana dá de ombros, voltando a atenção para o tabuleiro.
— Você já viu aquela mulher doente alguma vez?
Nego com a cabeça e mesmo que seus olhos estejam fixos nas peças, ela entende a minha resposta.
— Pois é.
Hana inicia a partida, movendo uma peça. Tento focar no tabuleiro à minha frente, mas minha mente está longe.
Primeiro, Jason tentando fugir de um passado que ele não lembra e de um futuro que ainda não quer aceitar, depois as palavras de Yvian, e agora Talia, com seu comportamento repentinamente estranho.
É como se tudo estivesse se empilhando, peça por peça, até formar um jogo que eu ainda não sei como jogar.
— Sua vez — Hana avisa, batendo de leve no tabuleiro para me trazer de volta.
Faço minha jogada, mas sei que essa partida é apenas um adiamento.
Amanhã, as perguntas vão continuar me atormentando, e as respostas – se é que existem – ainda vão estar fora do meu alcance.
E, por agora, forço a minha mente a se concentrar no som das peças no tabuleiro e a companhia de Hana, que faz com o peso pareça um pouco menos esmagador.
Parece pouco, mas não é. Tenho sorte de ter com quem dividir minhas inquietudes de vez em quando. E isso, para mim, já é o suficiente para evitar que minha cabeça exploda de vez.
ESTAMOS DE VOLTA! (de novo)
Queridos leitores de Into The Void, peço desculpas pela falta de atualização dessa história que tanto amo e quero que vocês também amem.
Estava com uma ressaca de escrita danada, mas ACHO que está passando... E eu também jamais abandonaria essa fic.
Então, obrigada pela paciência e até o próximo. <3
Ah! Lembrando que essa história tem uma playlist e estou atualizando a ordem das músicas, e adicionando outras mais, conforme vou planejando e postando os capítulos. Para quem gosta de ler ouvindo música, o link está fixado no meu perfil. E também estou deixando na mídia do capítulo o link da música no YouTube.
Beijinhos!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro