Traição
O véu azul-negro celestial, que outrora decorava-se com estrelas formando encantadoras constelações, estava sendo tomado por uma neblina. As casas, umas ao lado das outras, pareciam querer desaparecer no meio da noite diante de seus olhos e um silêncio insistente sufocava a pequena cidade.
A neblina densa e repentina não era esperada nesta noite iluminada. — quase disse ela, totalmente atenta aos sons ao redor de ambas. Passos rápidos e gemidos podiam ser ouvidos à longa distância, com sua audição. — A neblina não está sendo formada por um fenômeno natural. — ela reforçou, segurando fortemente a mão da lobisomem ao seu lado.
A brisa trazia consigo o som de todos os movimentos e atos que estavam ocorrendo há metros de distância, – umas duas ruas atrás daquela – junto ao terrível e inacreditavelmente esperançoso pressentimento de que poderia ser um vampiro antigo movido ao ódio que guardara por todos os séculos. Jennifer Morrison? Talvez fosse uma ilusão; o desejo repentino de rever sua mãe, o vampiro mais antigo e forte existente. Escutava as presas perfurando furiosamente a garganta de vários homens, aumentando a força sobre os elementos da natureza, por isso a neblina. Mamãe?
— Algo aconteceu? — a loura arqueou a sobrancelha, era possível ver. Sua visão não era muito comprometida pela neblina, mas se Robin conseguia vê-la, talvez não estivesse não difícil de enxergar. — Também não gosta de neblinas?
Alice deu de ombros, sentindo uma vontade inexplicável de dar passos para a igreja ao ouvir a movimentação silenciosa de algumas ruas atrás da antiga construção enegrecida. Era como se estivessem tentando ocultar algo das pessoas, nas ruas vazias de Brasov.
— Eu escuto... — respirou fundo, segurando a mão da arqueira. — Eu estou escutando passos de vampiro e humanos. — apontou em direção à igreja. — É como se eles estivessem ao meu lado, entende? E, nesse momento, escuto um vampiro antigo se alimentando de vários humanos.
Robin arregalou os olhos com tal resposta, estando dividida diante aos fatos. Abriu mão de sua vida como caçadora após ser amaldiçoada e por ter conhecido Alice, mas percebera que haviam vampiros que deveriam ser detidos.
— Queres impedir? — indagou.
— Não, eu não quero impedir. Quero ver quem é. — Alice respondeu, iniciando lentamente seus passos até a igreja.
A lobisomem observava a mais velha andando pouco a sua frente, os cachos dourados bagunçados conforme a brisa fria batia em sua pele pálida, os lábios avermelhados e trêmulos como se ansiasse por aquele momento. Robin não saberia responder o que Alice esperava daquele ataque. Encolheu-se, então, abraçando o próprio corpo e protegendo-se do frio, enquanto a seguia até perto da cena que a lobisomem, até então, nunca havia presenciado.
Alguns corpos estavam distribuídos pelo chão, entretanto, embora seus pescoços estivessem rasgados, não possuíam poças de sangue. Nenhum dos homens ainda vivos conseguia ferir a mulher de cabelos louros, bagunçados e respingados de sangue, com um terno caro manchado. O demônio aparentava concentrado, deliciando-se conforme drenava o sangue das veias das vítimas.
— Mamãe... — Alice sibilou com um leve sorriso em seu rosto, apontando discretamente para a figura loura que se alimentara de uma dúzia de homens da antiga Ordem do Dragão. — Eu preciso ir falar com ela.
— Aquela é tua mãe? — Robin perguntou aturdida, paralisada.
Ao longe, a figura monstruosa alimentava-se, mordendo violentamente o pescoço dos homens. Os longos cabelos ondulados lembravam os de Alice, exceto pelo fato de estarem banhados pela cor vermelha do sangue fresco. Uma companheira ao seu lado, observando assustada todas aquelas mortes... Jennifer Morrison era um monstro, ela pensou.
— Alice, não! — gritou, segurando-a levemente e obtendo sua atenção. — Me disseste que não a vê desde tua infância. Ela está... — travou o maxilar, procurando resposta para o que assistia, sem pronunciar a palavra monstro. — Tua mãe não é a mesma que antes, Alice. Ela está... enfurecida e poderá fazer algo contra ti se for falar com ela neste momento.
— Ela precisa de minha ajuda... — choramingou, com os olhos marejados em repleta emoção ao ver o rosto de sua mãe. — Aqueles homens são maus.
— Alice, por favor. — a vampira olhou-a, sentindo-se dividida. Sua mãe estava diante de seus olhos, como o sonho se tornando realidade, mas talvez Robin tivesse razão. — Agora que sabes que ela está viva, poderás procurá-la.
— Não, Robin. Eles a mataram no passado! — exclamou. — Eles mataram as minhas mães.
Robin assentiu, respirando fundo, afim de acalmá-la. Apesar de ter caçado incansavelmente a vampira rotulada como Drácula, a lobisomem sentia que deveria ficar ao lado de Alice. Alice era a pessoa que mais a entendia; até mais que sua própria prima, Zelena. Recentemente, começara a estar do lado de seres inumanos, considerados demônios e bestas. Afinal, após passar anos caçando essas criaturas, havia sido amaldiçoada como eles depois de levar uma mordida; Jennifer Morrison, avista de tudo que Alice a havia contado, também fora uma pessoa pacífica até ser amaldiçoada.
— Alice... — colocou as mãos, uma em cada lado do rosto da mais velha, tomando sua atenção. — Naquele tempo, tua mãe era apenas uma humana. Tudo bem, ela era uma das humanas mais poderosas que existiu, mas ainda era uma simples mortal. Agora, ela é quase invencível. Aqueles homens jamais conseguirão matá-la, até porquê, pelo meu conhecimento sobre a Ordem do Dragão, eles são membros descartáveis.
— Então, prometa-me que irás observar cada passo dela. Quero esperar somente ela se acalmar.
— Eu prometo que ninguém irá machucá-la.
Robin encolheu os ombros, antes de assentir. Analisou de soslaio a vampira ainda matar pessoas e, por um momento, perguntou-se como havia mudado tanto em poucos dias. Jennifer era o tipo de vampira que merecia morrer; ela, porém, era a vida de todos os outros. Se drácula morresse, Alice também morreria. Por esse e mais motivos, ela jamais tentaria matar aquele monstro em sua frente; Robin gostaria de conhecer a Jennifer que Alice tanto amava.
— Não deixes tua prima ir atrás dela e nem os membros da Ordem pegarem-na.
— Tenho outra escolha? — Robin perguntou, rindo pelo nariz.
— Claro que não! — a vampira respondeu, abraçando-a.
O toque de recolher, na pequena cidade de Brasov, imposto por membros da Ordem do Dragão havia um motivo. Algumas pessoas começaram a duvidar das lendas de demônios noturnos e se arriscavam a perambular pelas ruas durante a noite. E, pelo motivo do toque de recolher que quase todos respeitavam, nenhum humano percebeu o que estava acontecendo naquele momento.
— Emms, vamos? — Ruby implorou.
A loura permanecia de olhos fechados, deliciando-se com o sabor do sangue fresco e sentindo aumentar sua energia. O líquido quente respingava lentamente em suas vestes e escorria sobre o corpo do homem, enquanto suas presas estavam cravadas na jugular para alimentar-se.
Abriu os olhos totalmente enegrecidos, permitindo que Ruby Luccas observasse pela primeira vez as veias negras formadas ao redor de seus olhos, jogando o corpo do homem no chão e segurando rapidamente outro membro da ordem que havia tentado acertá-la com uma adaga no coração.
— Diga-me onde está Regina. — pediu calmamente, segurando-o pela gola de seu casaco, enquanto limpava os próprios lábios.
— Vá para o inferno! — o homem bradou, observando-a fazer uma expressão entristecida e, em seguida, sorrir.
— Eu já estou morta. — analisou um último sobrevivente encolhido na parede. — E já estou no meu inferno.
— Emms! — Ruby chamou-a outra vez.
Ela escutava atentamente o ressoar das batidas descompassadas do coração daqueles homens. Fuzilava o olhar para o que lhe enfrentara, enxergando medo dentro de suas órbitas castanhos escuros, porém fidelidade à Ordem. Reconhecia aquilo; o homem poderia ter medo, mas preferiria morrer que entregar os planos de seu mestre.
Sem mais delongas, a vampira cravou suas presas no pescoço do homem, desta vez com fúria e rapidez, sem paciência para se deliciar do sabor do sangue. Precisava, aliás, encontrar Regina, a mulher que tanto amava. Acompanhou impaciente os gritos esganiçados silenciarem, a respiração ir embora e as batidas do coração pararem. Quando acabou, mirou seu olhar para o outro homem no canto da parede.
— Emms. — Ruby segurou seu pulso, obtendo sua atenção. — Ele está com medo. — advertiu, assustada com o que Emma Swan se tornava em sua forma mais sombria.
— Eu sei. — sorriu de lado, porém, com a voz leve.
Aproximou-se minuciosamente, podendo jurar escutá-lo estremecer de medo. Ele parecia esperar sua vez de ser atacado, visto que estava encolhido no canto da igreja, olhos abertos e pernas tremendo.
— Oi! — ela exclamou, recebendo o olhar amedrontado do mesmo. — Onde está a Regina?
O homem balbuciou algo que Emma jurou ser apenas gaguejos, por tamanho medo.
— Bem, eu posso fazer diferente dos teus colegas. — iniciou uma proposta, circulando o local com o olhar. Era nítido o divertimento no brilho de seu olhar maquiavélico; uma leve distração e, talvez, alegria por estar cumprindo sua vingança. — Tu não passará por isso se me disser onde está a Regina... — ela o analisou franzir o cenho, como se não confiasse em sua palavra. E ela não o julgava. — Deixe-me te contar uma história, tudo bem? — o homem permaneceu em silêncio. — Há muitos anos, pessoas que se diziam do bem, assassinaram pessoas inocentes, separaram uma família e amaldiçoaram uma mulher. Tudo o que ela mais queria era a felicidade, até que a encontrou e os mesmos homens ameaçaram tomá-la outra vez... Então, ajude-me a encontrar Regina?
— Não irás me morder? — indagou.
— Claro que não. — analisou o homem assentir, se levantar e dar um sorriso forçado, numa tentativa de esconder o medo; ela escutava as batidas do coração desacelerarem, embora ainda estivessem pouco fora do normal.
— Regina? — indagou, sentindo um arrepio em seu corpo ao perceber que a mulher havia se aproximado suficientemente. — Ela é uma jovem diferente, mas inteligente. É uma pena que tenha sido escolhida para ficar entre ti e a Ordem... Nossa missão aqui era te distrair, pois nosso mestre sabe de tua incansável busca por Regina.
— Distrair-me? De quê?
— Regina já está de volta à pensão. — estremeceu. — Nosso mestre não queria feri-la; não se ela colaborasse.
— Ela está bem? — Emma sorriu abertamente, virando o olhar para Ruby com esperanças. — Eles não a machucaram? — perguntou com a voz embargada.
— Não, eles não machucaram ela. — o homem respondeu sem medo, talvez por ter enxergado um lado humano naquela mulher.
— Eu... Muito obrigada. — assustou-o quando o envolveu em seus braços, dando um abraço amigável. — Muito obrigada. Sei que és da Ordem, mas obrigada pela informação. — agradeceu em seu ouvido, sentindo o homem hesitar em retribuir o abraço. — Agora devo vê-la. — afirmou, girando o pescoço do homem rapidamente e escutando o estalar do osso se quebrar.
— Emms! — Ruby esbravejou. — Por quê? Ele te ajudou!
— Ele é um membro da Ordem, lobinha. Mesmo que não tenha muita importância como os outros... Ele é um descendente dos que me tiraram tudo. — Emma respondeu friamente. — E eu estou aqui para matar todos eles.
— Pensei que estivesse feliz com Roni, ou, Regina. — supôs, como sempre temendo o dia em que a loura descobrisse a verdade sobre Regina.
— E estou, Ruby. Roni é a minha felicidade, é a minha calmaria. — respondeu. — E eu a amo, realmente a amo. Entretanto, meus planos não mudaram. Lembre-se que retornei à Romênia para me vingar de todos, matá-los com minhas próprias mãos. Agora, com Roni, sinto ainda mais que devo matá-los, para que não machuquem-na outra vez.
— Não use Roni como desculpa para tua vingança, Emma.
— Sério? — a vampira deu uma risada, incrédula. — Depois de hoje, achas mesmo que estou a usando como desculpa para minha vingança?
— Desculpe, Emms. — pediu, observando a loura subir no automóvel, e, em seguida, subiu também. — Eu só... Eu penso em como ela ficará quando souber que mataste esses homens. Ela salva vidas, Emms. Isso seria doloroso para ela; saber que a pessoa que ama tira vidas.
Por alguns segundos, Emma não retrucou. Era nítido, que por algum instante a realidade passou em sua mente. Entretanto, ela matava o bastante para sobreviver, exceto em casos que se tratavam de sua vingança ou de alguém ferindo quem ela ama. Em sua mente, não estava fazendo absolutamente nada de errado.
— Vamos, Ruby. Te deixarei em casa e irei até a pensão em que Roni mora. — alertou.
Emma Swan guiou-as até a enorme casa, em Bucareste, em que estavam acomodadas enquanto não se mudavam para o enorme Castelo de Bran, na próxima semana. Sempre passavam por despercebidas, pois a casa não ficava exatamente no centro da cidade e as ruas sempre se mantinham escuras e vazias. Envolveu a mais nova em seus braços, podendo sentir o corpo tremular em choque, talvez. Tinha noção de que havia assassinado pessoas na frente de Ruby, culpando-se por ela ter ficado assim; deixara a única pessoa que estava sempre ao seu lado, para trás, enquanto alimentava-se dos homens.
— Me desculpe, Ruby. — pediu, com a voz arrependida, ajudando-a a subir as escadas. Segurando-a pela cintura, guiou-a até a cama. — Eu esqueci que nunca havia matado pessoas na tua frente. A sensação de vingar-me é tão grande, que às vezes perco o controle. Eu deveria ter parado.
— Está tudo bem, Emms.
— Não, não está! — respondeu alterada.
A mais nova sentou-se na cama, inclinando-se para acariciar os cabelos dourados da vampira. Pela primeira vez viu sua amiga daquele jeito após matar alguém. Inclinada, com cotovelos apoiados sobre o joelho e os olhos fechados, enquanto escondia o rosto nas palmas das mãos. Era o sentimento de culpa, e Ruby reconhecia muito bem.
— Ruby, sabes que és minha família, assim como Roni. Estive tão sedenta por vingança e por recuperar Roni, que esqueci de ti. Não pensei em como aquela cena poderia afetá-la. E eu não posso perder nenhuma de vocês.
— Eu te entendo, Emms. — Ruby respondeu com sinceridade. Desde a primeira lua cheia que passou em Bucareste, a lobisomem sentiu que perdia seu controle naquela cidade, então jamais poderia julgar Emma por perder o controle e matar aqueles homens, os quais estavam na imensa lista de vingança da mesma. — Eu só não gosto da ideia de não abrir exceções para tua vingança. Isso não é saudável.
— Eu tenho que matá-los, Ruby. — acariciou a face da mais nova, colocando uma mecha de cabelo negro atrás da orelha. — Por que tens tanto medo? Por que se incomoda tanto com o fato de eu matá-los?
— Não é nada. — mentiu, olhando-a nos olhos e trincando o maxilar. Percebera o analisar suspeito da vampira sobre si, questionando-se o que Ruby pudera estar escondendo. Jamais suportou esconder um segredo de sua mestre e amiga, mas a mesma não queria saber o nome verdadeiro de Roni. E Ruby queria a garantia de que Emma não descontaria na cópia de Lana. — Nem todos os descendentes devem ser ruins, Emms. Sei que queres vingança, pois o que todos lhe fizeram não tem perdão, mas vale a pena perder teu tempo os matando? Roni está aí, para fazê-la companhia e te amando mais que tudo, então por que não ir embora de uma vez por todas?
— Eu NÃO sei, Ruby! — Emma Swan levantou-se rapidamente, exaltada. Não sabia responder se poderia ser egoísmo de sua parte não abrir mão da vingança, mas ela precisava daquilo. As pessoas precisavam daquilo. — Eu já lhe disse uma vez... Eu não sei o que é, mas há algo a mais nessa cidade; algo que me prende e me atrai, como se eu necessitasse permanecer aqui. E eu tenho a chance de extingui-los, de uma forma que a assassina Tilly não conseguiu. Tens noção de que se eu os matar, não existirão pessoas capazes de condenar a amaldiçoar outras pessoas? Eu preciso disso, não só por mim, Roni e meu passado. Eu preciso acabar com estas pessoas que acham que são deuses.
— Eu sinto muito, Emms. — a lobisomem não retrucou. Os argumentos de Emma Swan eram bons e ela não reclamaria, mas tinha certeza de que tudo ficaria péssimo quando Emma descobrisse que Roni, na verdade, era Regina Mills.
— Boa noite, Senhorita Luccas. — a loura simplesmente disse, antes de se retirar do cômodo.
A imensa e silenciosa casa adormecia sob a luz do luar, permitindo que alguns feixes do luar adentrassem através das janelas. Adormecida, no final de uma das ruas mais afastadas do centro de Bucareste, as janelas escutavam o crocitar da coruja na amendoeira e o chacoalhar dos galhos de algumas árvores conforme o vento se chocava contra eles, derrubando algumas folhas.
Emma Swan andava inquieta enquanto aguardava Granny lhe trazer trajes limpos. O som de todos os seres da natureza, tanto da coruja quanto dos galhos das árvores, quase encobria uma respiração ofegante vinda de sua sala. As batidas desenfreadas e excitantes de um coração pulsante, o enlouquecedor aroma que tanto lhe enfraquecia. Roni, ou melhor, Regina.
— Meu Deus! — a vampira ofegou no instante que seus olhos cruzaram os castanhos de Roni. Correu diretamente para a mais nova, chocando seu corpo ao dela, abraçando-a apertadamente. — Meu Deus, Roni! Não lhe machucaram? — perguntava esbaforida, passando as mãos no rosto e nos braços da mesma, como se checasse se ela estava bem. — Estás bem? Irei pedir para que Granny pegue um copo de água para ti!
Entristecida e atormentada pelas palavras de Robin de Locksley, Roni não respondia a quaisquer perguntas preocupadas que saíam da boca de Emma. Analisava seus lábios se moverem rapidamente, pronunciando palavras nas quais sequer conseguia distingui-las.
— Roni, não quero te perder outra vez! Nunca mais! — uma lágrima descia de seus olhos, evidenciando seu lado mais humano.
A morena meneou a cabeça, constatando aquela mulher de longas madeixas louras e olhos claros, percebendo que, além da preocupação emitida nos orbes verdes, o terno que sempre era mantido impecável estava com pequenas manchas de sangue. Negava-se a pensar que a única pessoa que amava era, na verdade, uma assassina; ia contra todos seus princípios.
— Há tempo não sentia o que senti quando pensei que poderia ter acontecido algo. — declarou a loura, gesticulando as mãos conforme as lágrimas desciam de seus olhos. — Te procurei em todos os lugares e não pararia até te encontrar.
Emma Swan não poderia ser como Robin dissera. — a mais nova convencia-se.
Aquela Emma Swan era totalmente diferente. Amável, apaixonada, inteligente e justa; era totalmente humana. Diferente da mulher que mal reconhecera pelas palavras que ouvira de Robin. A loura não poderia ser uma pessoa tão bondosa, mas matar tantas pessoas de uma vez. Sentia os braços frios e pálidos, abraçando-a numa tentativa de protegê-la e escutava o soluçar da loura próximo ao seu ouvido.
— Roni, por favor, diga-me alguma coisa. — a mais nova sentiu seu próprio coração apertar em seu peito. Ela amava Emma Swan mais que tudo, amava saber que seus sentimentos eram recíprocos, e lhe doía ouvi-la chorar. — Como chegastes aqui?
— Eu precisava te ver. — sussurrou, paralisada.
Emma afagava os cabelos negros, inalava o eflúvio que emanava naturalmente daquela mulher e a abraçava numa tentativa de passar todos seus sentimentos naqueles atos. Sentia-se tranquila e feliz em saber que mal algum havia acontecido com sua amada; que ela havia retornado viva e sem arranhão algum, embora parecesse em choque, o que estava preocupando a vampira.
— Roni, está tudo bem? — perguntou, ainda abraçando-a.
— Emma... — sibilou, acompanhando-a em seus choros e soluços. — Jennifer?
Imediatamente a loura franziu o cenho e afastou seus rostos para olhá-la em repleta confusão. Nos orbes verdes, a verdade parecia refletir-se, entregando-a.
— Eu precisava de tua negação sobre isso. Eu desejava ver em teus olhos que nunca ouvira este nome, mas infelizmente vejo que é verdade. — afastou-se tentando enxugar as próprias lágrimas, que esguichavam de seus olhos.
Naquele instante, ao identificar a decepção de Roni, tudo começou a fazer sentido para Emma Swan. Por qual motivo a deixariam ir sem arranhão algum? Os homens nos quais diziam-se corretos queriam sua ruína; queriam que Roni, ou Regina, se voltasse contra ela. Talvez ver seu amor a odiando fosse mais uma condenação?
— Agora eu entendo. — suspirou, rindo em nervosismo. — Agora me odeias.
— Como podes pensar isso? — Roni perguntou indignada. Mesmo diante de todas as acusações, ela amava Emma, mas tudo estava complicado. — Eu nunca irei odiá-la, Srta. Swan. Entretanto, não posso fechar meus olhos perante tudo isso. Estou chateada por ter escondido algo tão importante! Emma, tu sempre soubeste minha profissão e que salvar vidas é tudo que faço, mas escondeste que matas inúmeras pessoas? — repreendeu com raiva, afastando-a com um leve empurrão.
— Eu nunca saberia o momento certo para lhe dizer a verdade. — a loura tentou explicar, antes que voltasse a chorar. Seus sentimentos estavam a flor da pele, como o vampirismo aumentava cada sensação; ou sentia muita raiva, ou muita tristeza ou muito amor. — Eu necessito de vida humana para sobreviver, Roni... Esta é uma das minhas maldições. E eu assassino somente os que são perigosos, e eu faria tudo para vê-la segura.
— Ninguém está seguro, Emma. — interrompeu, travando o maxilar.
Por um momento, as duas mantiveram-se numa silenciosa troca de olhares. No entanto, os sentimentos transbordantes não eram evidentes. Roni a olhava em dúvidas, perdida; conseguia sentir a adaga dentro de suas vestes e a consciência dizer que aquilo era o certo a se fazer. Emma, no entanto, a olhava esperançosa e temerosa, torcendo para que nada daquilo afetasse a relação delas.
— Hm, quem lhe contou sobre meu passado? — pigarreou, quebrando o silêncio.
— Creio que conheças Robin Locksley. — resposta alguma precisou ser dita, pois o olhar desacreditado da vampira a entregava; ela conhecia o homem. — Eu não sei o que pensar, Emma, me desculpe. Ele disse que há outros como ti; outros que alimentam-se descontroladamente e que só há uma forma de matá-los. — declarou.
Os olhos esverdeados caíram para as mãos pequenas de Roni, que tirava a adaga de dentro de suas vestes. Era um objeto que, por mais que fosse antigo, estava em perfeito estado como se os membros da Ordem tivessem um apreço por ele. A lâmina afiada refletia sob a luz do luar, que adentrava pela enorme janela, quase fazendo com que a loura desse passos para trás em consequência das memórias que aquela adaga lhe trazia.
— Onde conseguiste esta adaga? — perguntou analisando as mãos trêmulas de Roni.
A mais nova avançou, sem responder àquela pergunta, pressionando a vampira contra a parede e encarando os belos pares de olhos verdes. As pequenas mãos tremulavam, enquanto erguia a adaga até a altura do peito da mais velha, exatamente em direção ao coração. Seus olhares mantinham-se conectados.
A mais nova mantinha-se silenciosa, analisando a pálida mulher de cabelos dourados, numa tentativa de pensar o que a vampira poderia estar planejando. Os orbes cor de esmeraldas estavam marejados e, ao mesmo tempo, frios; ela sentia demais as coisas, e vê-la se voltando contra ela havia partido seu coração, Roni deduziu, Emma poderia estar analisando até onde sua coragem poderia ir? Bem, a mais nova sabia que se a vampira quisesse, poderia matá-la ali mesmo, com facilidade, mas a loura permanecia frágil.
— Não irás se defender? — Roni indagou.
— Não, Roni. Eu não farei nada.
— Por quê?
— Porque eu te amo. — a vampira respondeu com sinceridade. — Tu és a mulher mais inteligente e forte que conheço, deixas tua marca por onde passas... És diferente de qualquer outra. Jamais poderia te ferir, mesmo que eu quisesse. Eu te amo e eu entendo como está se sentindo, então não irei fazer nada.
Roni puxou-a mais para perto, sem quebrar os olhares. Por fim, intercalou minuciosamente os brilhantes e sinceros pares cores de esmeraldas, os lábios pálidos que a fazia desejar beijá-la outra vez e, por último, a adaga em suas mãos. Deslizou a lâmina sobre o tecido do terno, fechando os olhos e respirando fundo.
— Isso é tão difícil... — declarou, porém, ainda sem soltá-la.
Os olhos verdes começavam a ficar avermelhados, conforme lutava para não chorar. Emma Swan, em todos os anos que esteve no novo século, nunca permitiu-se estar tão frágil a alguém. Entretanto, aquela era a mulher que mais amava em sua vida; aquela era Roni e, talvez, um pouco de Lana lhe apontando uma adaga. A adaga de Robin de Locksley.
— Eu sei que aquele homem falou coisas terríveis a meu respeito e que sou um monstro...
— Não. — Roni a interrompeu. — Tu não és um monstro. — paralisou, soltando a vampira.
A adaga caiu sobre o tapete em seus pés e, em seguida, a morena se afastou bruscamente. Abaixou o olhar para as próprias mãos, que tremiam por adrenalina daquele instante. Ela estava nervosa. Se aquele era sua missão na terra, ela havia falhado. Roni, por mais que estivesse indo contra tudo que lutava, não conseguia matá-la.
— Roni? — a calma voz da loura despertou-a, juntamente à sensação de que a mesma estava se aproximando calmamente.
— Não... — olhou-a por cima dos ombros, lançando seu olhar mais triste. Emma Swan, daquela vez, não conseguira distinguir se a mais nova estava triste consigo mesma ou com ela. — Nada muda o fato de eu não saber o que pensar. Desculpe-me, Senhorita Swan.
Roni virou as costas e se retirou antes que a loura pudesse intervir, segurando as lágrimas que se formavam outra vez em seus olhos. A mulher de cabelos negros desaparecera diante de seus olhos, saindo durante a noite e deixando a vampira sozinha.
(...)
No final da madrugada, antes que a lua desaparecesse e o sol acordasse, como previa o Padre Gold, uma enorme carruagem chegara à Brasov. Não sabiam ao certo se Regina Mills havia cumprido sua missão, mas, como Robin de Locksley dissera, era genuíno se possuíssem um segundo plano; era mais provável ela enxergar um lado humano em Jennifer e render-se àqueles sentimentos que apunhalá-la.
Uma mulher de dourados cabelos presos e um extravagante vestido vitoriano descera da carruagem. Seguidamente, mais dois homens saíram, copiando exatamente seus passos, porém, eles traziam uma pessoa consigo. Os frios olhos verdes denotavam orgulho e superioridade, ciente de que era uma das melhores.
— Esta bruxinha foi difícil de ser pega! — a loura exclamou com uma risada.
— Victoria Smurfit, nós a esperávamos. — Padre Gold cumprimentou-a, simpático.
— Oh, claro que me esperavam. Entretanto, como sabes, meu último trabalho foi um dos mais difíceis dos últimos séculos para a Ordem. Confesso que foi trabalhoso, mas obtive sucesso.
— Sempre obténs sucesso, Senhora Smurfit. — parabenizou-a. — Há outro trabalho para ti.
A mulher virou-se para o homem, que conseguira enxergar um discreto sorriso de satisfação em seus lábios e o brilho em seus olhos.
— Diga-me.
— Nosso mestre diz que dificilmente a jovem Mills exercerá a missão dela. — a loura rolou os olhos impaciente. Pessoas que não cumpriam suas missões não eram dignas de misericórdia caso fosse necessário apagá-las. — Precisamos que vá atrás de Jennifer Morrison, ou, como ela prefere ser chamada, Emma Swan.
— E quanto a cópia medíocre de Lana? — em seu tom de voz havia fascinação. — Se ela acidentalmente entrar em meu caminho?
— O mestre diz que podes matá-la.
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