Onde está Roni?
Os orbes castanhos se abriam vagarosamente, acostumando-se com os feixes de luz solar que adentravam pelas janelas, iluminando gradativamente o local. Sua cabeça doía latejante, embora estivesse pousada sobre o macio travesseiro, fazendo-a soltar um leve gemido de dor e lembrar-se de ser golpeada no alto de sua cabeça, enquanto, naquele momento, sentia a fraca luz do sol queimar sua pele. Assustou-se ao ver que o sol já havia nascido e que aqueles homens levaram Regina durante a noite.
— Regina! — Ivy chamou, desesperando-se por estar em seu quarto e, ao tentar abrir a porta, perceber que estava trancada. Bateu fortemente na porta, insistindo desesperadamente em gritar outras vezes. — Regina! — gritou, porém, ninguém respondeu. — Mãe? Mãe, abra essa porta!
O silêncio predominou torturantemente naquele âmbito, exceto por perguntas e preocupações gritantes em sua mente, fazendo com que deslizasse as costas sobre a madeira da porta e caísse sentada no chão.
Regina Mills está em perigo! — sua mente insistia em relembrá-la disso, resultando em algumas lágrimas a mancharem sua face. Sentia-se inútil dado o fato de que estava armada e por hesitar em atirar, por não ter coragem de ferir alguém, perdera a mulher que tanto amava.
— Socorro! — gritou outra vez, depositando socos contra a porta de madeira de seu quarto, mas ficando um enorme período de tempo sem resposta alguma.
Com a palma de suas mãos enxugou as lágrimas e curvou seus lábios em um sorriso ao escutar o som de uma chave destrancando a fechadura e, em seguida, a porta ser aberta fazendo com que ela percebesse que era sua mãe. Não seria nenhuma surpresa se sua mãe houvesse destrancado a porta em outras ocasiões, mas aquela era deveras suspeita. Ivy havia gritado por quase uma hora, havia chorado a ponto de quase enlouquecer, e somente naquele instante sua mãe retornara para acalentá-la?
— Demoraste para me destrancar, mãe. — pronunciou-se imediatamente para disfarçar suas suspeitas sobre sua mãe. Entretanto, odiava o fato de pensar que ela seria cúmplice de tudo aquilo, fazendo-a se perguntar o que ela estaria ganhando em troca. Victoria Belfrey estava em casa durante a noite, junto aos outros moradores da pensão, e só aparecera para trancá-la em seu quarto? — Por quê me trancaste aqui?
Victoria, ainda em silêncio e com uma expressão séria em seu rosto, trancou habilmente a porta atrás de si, ato que Ivy ficara surpresa uma vez que a mais velha também carregava uma pequena bandeja em mãos.
— Estás desconfiada, Ivy? — Victoria perguntou com claro tom de repreensão, encarando ardilosamente a mais nova. Dava seus passos até o criado mudo próximo a cama, pousando a bandeja sobre ele. — Estavas desacordada no topo da escada, minha filha. — Victoria Belfrey respondeu ríspida, olhando-a por cima do ombro.
— Não seria mais prudente ter chamado um médico ao invés de trancar-me? — a morena indagou, atentando-se a resposta de sua mãe. Torcia para que Victoria não tivesse envolvimento com o rapto de Regina, e que ela a ajudasse a encontrá-la.
Observou Victoria Belfrey virando-se totalmente de costas, inclinando-se para entornar um chá de cor vermelha – que costumava fazer – em uma xícara de porcelana branca, a mesma que sua filha tanto amava.
— Tome, querida. — desviou-se do assunto, mexendo com o talher, misturando um possível adoçante com o chá. Entretanto, por algum motivo, a jovem sentiu-se ameaçada e tentou controlar os pequenos tremores que institivamente seu corpo dava. — Nem que seja um único gole... Garanto que ficarás melhor após beber um pouco.
A mais nova virou o rosto, sentindo que sua mãe havia bufado com aquela atitude. Certamente ela não esperava uma recusa e desconfianças vindas de sua parte.
— Eu insisto, Ivy. — Victoria disse em outra tentativa de fazê-la beber o chá. — Beba enquanto está quente.
— Não! — exclamou, fechando os punhos e sentindo uma pontada na cabeça. A mais velha assentiu e cruzou os braços, embora Ivy soubesse que sua mãe não deixaria de tentar forçá-la a beber. Victoria somente aguardava uma explicação para a teimosia dela. — Por que me trancaste e onde tu estava que não escutaste os gritos durante a noite? Cadê Regina? O quê fizeres com ela?
— Há mais alguma acusação para fazer contra tua própria mãe?
— Sei que tu me golpeaste. — respondeu acusadoramente, observando a outra dar uma risada desacreditada com o que acabara de ouvir, embora fosse verdade. — Sei que és amiga daquelas pessoas, aliás, ninguém ousaria entrar em tua pensão para atacar, tampouco ficariam calmos diante a toda aquela gritaria. O fato de me manter aqui apenas confirma tudo o que sei. Eu quero saber o por quê disso tudo! — bradou fechando os punhos, controlando sua raiva.
— Compreendo toda a tua ira, minha filha.
— Então diga-me algo para que eu entenda teus motivos!
— Não entendes, minha filha. — Victoria respondeu, com a voz nenhum pouco arrependida. — Sacrifício se é necessário. Sabes que acho a jovem Mills uma ótima pessoa, mesmo que tenha uma postura nenhum pouco aceitável para uma mulher. Sabes que eu conhecia seus pais e quão amiga eu era deles, então eu não estaria cooperando com algo se eu tivesse outra escolha. Eu sempre te colocarei em primeiro lugar, Ivy Belfrey, mesmo que tenha que sacrificar outras pessoas.
— Não entendo. — sussurrou.
— Só peço para que quando eu morrer, tu fujas para o mais longe que puderes. — pediu, sem explicar o que queria dizer, observando os traços delicados de sua filha mostrarem-se confusos. — Tudo o que faço é para que nada aconteça a ti.
Ivy abria e fechava a boca, sem saber o que dizer. Percebera a verdade carregada no som de voz daquela que era sua mãe. Constava preocupação e sinceridade, contudo nenhum arrependimento por seus atos.
— Estregaste Regina para que nada me acontecesse? — indagou irritada, observando a mãe assentir. Seus braços estremeciam, denotando o nervosismo produzido em seu corpo. Não se permitiria sentir-se culpada por levarem Regina, pois ela iria salvá-la sem medir esforços e engolindo seu orgulho. — Não sabes como escutar isso apenas aumenta minha tristeza. — sussurrou e, aproveitando que Victoria se virou, pegou o bule e acertou a cabeça de sua mãe como a mesma havia feito consigo, fazendo com que a mesma caísse no chão. — Desculpe, mamãe.
Cuidadosamente, Ivy tateou as mãos sobre as vestes de Victoria até encontrar um molho de chaves que poderiam destrancar a porta.
Os orbes cores de esmeraldas fixavam-se no frasco que Whale lhe dera, observando que pouco de seu sangue estava ali dentro. Em meio às perguntas que ela se fazia em relação à suposta cura, sua cabeça fervia com tudo aquilo. Aliás, o soro possuía mais sangue que o esperado por ela, sangue que não poderia ser somente dela.
— O doutorzinho esconde algo, Senhorita Luccas. — a vampira constatou, deslizando seus dedos gélidos sobre a parte de fora do frasco. No meio de todo aquele sangue, a loura sabia que, sim, possuía algum tipo de soro, mas era impossível que um simples soro científico misturado com seu sangue, o sangue amaldiçoado, seria capaz de ser sua cura. — Sinto isso.
Fechou os olhos e ingeriu o líquido do frasco, abrindo um leve sorriso por sentir o calor que aquela manhã estava fazendo, mesmo ela não estando no sol ainda. Era difícil condená-lo, uma vez que aquele soro estava lhe ajudando, mas ela não podia ignorar o fato de tudo aquilo ser muito suspeito.
— Percebeste isso agora? — Ruby encarou-a esperando por uma resposta sincera a qual já sabia qual era, Emma Swan nunca confiara totalmente no professor. Tal resposta sempre foi nítida desde o dia em que ele libertara de seu féretro, desde o dia em que entrara em sua casa lhe oferecendo a cura para a maldição de não se sentir mais humana, e naquele momento estava ainda mais nítido no olhar da loura. — Aquele homem metido a inteligente nunca me enganou. Muito questionador o fato de precisar de teu sangue para lhe curar de uma maldição que está exatamente em teu sangue.
— Nem tanto. — Emma levantou-se, olhando-se no reflexo do espelho enquanto amarrava sua gravata. — Questionador é o fato de precisar apenas de meu sangue e de um líquido fabricado por ele... Por ora, devo esquecer esse assunto no momento, pois teremos uma enorme mudança a se fazer! — lembrou-se do fato de que Granny e alguns empregados que contratara estavam encaixotando seus pertences para sua mudança para o Castelo, o que a deixava extremamente animada.
A feição pensativa foi substituída por um sorriso que delineou seus lábios, evidenciando seus dentes. Ruby chegava a perguntar-se como aquela loura jamais se permitira sorrir durante os dez anos em que a serviu, uma vez que seu sorriso era indescritível.
— Tu estás tão feliz, Emms! — Ruby Luccas exclamou sorridentemente, abrindo levemente as janelas da alcova. — Não sabes como aprecio tua felicidade.
— E tu estás radiante, Ruby Luccas. — a loura analisou com seu olhar questionado, admirando o brilho que parecia resplandecer sobre a face da morena. — Como está teu coração? — a loba sentiu-se ruborizar. Aquela, aliás, fora a primeira vez que Emma Swan lhe perguntara tão abertamente sobre seus sentimentos. — Vamos, Senhorita Luccas, não precisas te envergonhar.
— Eu... Anteriormente eu tinha algumas dúvidas entre Zelena Mader e Belle French, entretanto Belle é sobrinha do padre Gold e se mantém longe de desobedecer seu tio. — ela suspirou, encarando-a. — Estou me envolvendo sentimentalmente com Zelena.
— Deverias trazê-la para comer em nossa mesa algum dia. — a vampira sugeriu amigavelmente, dando-lhe um sorriso em indicação de que não haveria problema algum. — Trarei de pedir para que Granny providencie um excelente jantar, ou almoço, como preferes.
— Oh, não, Emms. — Ruby Luccas pronunciou-se imediatamente. Embora os sentimentos que nutria por Zelena fossem verdadeiros, fazendo-a confiar inteiramente na mulher de cabelos ruivos, a loba tinha ciência de que deveria manter Emma Swan em segredo. Qualquer deslize e pessoas erradas saberiam quem ela realmente era. — Sabes que é perigoso se aproximar de pessoas... Tu mesma sempre me disse tais palavras.
— Não achas que Zelena merece um voto de confiança?
— Eu... — a mais nova pausou a fala por alguns instantes, sem saber o que responder. Confiar em Zelena ela confiava, mas Emma confiar na ruiva era diferente. — Eu tenho certeza de que ela merece um voto de confiança, mas isso... Isso é arriscar demais, Emms. Passaram-se décadas em que planejaste retornar para Bucareste, e por mais que eu não concorde com tua vingança, se ela ou qualquer outro desconfiar de quem tu és acabaria com teus planos. Olhe, tu nem contaste para Roni.
— Achas que Zelena Mader acredita na existência de vampiros? — a loura questionou, analisando o sorriso divertido moldando-se sobre a face de sua amiga.
— Sinceramente? — a morena suspirou e fitou o teto, tomando coragem para confessar algo que ela não afirmava nem para si mesma. — A Senhorita Mader é muito inteligente, e essa é uma das características que me fascina nela. Portanto, esse fato é o que me assusta. — continuou, enquanto fitava o olhar para diversos cantos do quarto, sentindo a atenção da loura voltada para si. — Zelena sabe de muitas coisas, mas não sei o que são... O fato de ela ter certeza de que seres sobrenaturais existem me faz pensar. Provavelmente ela presenciou algum ataque contra humanos ou apenas viu algum...
— E tu tens medo de ela descobrir e não reagir bem por acontecimentos passados? — Emma perguntou, começando a entender o receio de sua amiga.
— Sim, afinal não sei o que houve ao certo, e eu tento não me entregar ao sentimento como tu te entregas. — confessou, sentando-se sobre a cama e encostando a cabeça sobre ela.
— Como não? Estás apaixonada por ela!
— Eu não nego que estou apaixonada, mas tenho medo de o que possa acontecer conosco caso tenhamos algo sério, e por isso fico admirada com tua coragem de andar livremente com Roni. — a loura de terno entendera anda mais o motivo de Ruby tanto temer, e não a condenava por aquilo. Ela mesma temia em amar a mulher semelhante à Lana, mas sentimentos de séculos não são apagados instantaneamente. Ela sabia que haviam sentimentos em que se valiam a pena lutar, e indubitavelmente Roni era um deles. — Assisti somente uma perseguição em toda a minha vida, e nunca mais pretendo presenciar uma. Por toda a vida, a partir daquele momento, eu pedi a Deus para que aquilo jamais fosse acontecer comigo... Eu não gostaria de ser considerada anormal para que todas aquelas condenações viessem sobre mim, mas é a segunda vez que sinto algo por uma mulher e é inevitável.
— Senhorita Luccas, se achas que consegue negar todos teus sentimentos por Zelena e se realmente queres isso para evitar perseguições, eu não te condenarei. Conheci pessoas que fizeram o mesmo na antiguidade; pessoas que se casaram com outras do sexo oposto somente para não irem à fogueira. — aconselhou sinceramente, sem condenação alguma, caso a amiga tomasse tal decisão, afinal os anos em que viviam eram difíceis. — Entretanto, conheci pessoas que lutaram pelos sentimentos e por quem realmente eram, e devo lhe dizer que não há coisa mais bela que lutar por algo que ama. Eu sou um exemplo dessas pessoas.
— Por isso te admiro... Mesmo após toda a perseguição que passaste, continuas a lutar por quem amas.
— Eu poderia te ajudar caso queiras seguir com teus sentimentos. — disse, recebendo um olhar confuso da morena em sua frente. — Tive uma filha mais velha que Alice. Bom, inicialmente ela era uma aprendiz na qual ensinava táticas de guerra, entretanto eu acabei tendo-a como uma filha. Duas décadas após minha transformação, os povos e a ordem se ergueram contra ela ao descobrirem o envolvimento com uma feiticeira. Dois pecados graves aos olhos de todos. Contudo, ajudei-as a fugir e recomeçar, e embora eu tenha sido condenada e trancada naquele féretro consigo sentir que elas foram felizes juntas.
Ruby Luccas não lhe deu resposta às tentativas de ajudá-la, pois no momento ela repetia mentalmente tudo o que a vampira acabara de dizer. Jennifer e Lana lutaram pelo amor que possuíam, e provavelmente não tiveram seu final feliz pelo fato de que a loura era uma figura importante para os romenos; uma figura exemplar, e por isso não dava para esconder sua união. A outra filha dela, no entanto, conseguira fugir das perseguições e ser feliz. Entretanto, lembrava-se de pessoas que a loura dizia ter visto irem à fogueira. A lobisomem, no entanto, não presenciara tais tipos de punições. Assistira homens e mulheres do vilarejo em que habitava agredirem e até lançarem pedras contra as pessoas perseguidas, e, no final de tudo, uma delas foi entregue a um sanatório pela própria família.
— Emms, posso dar a resposta depois? — deu um sorriso e um suspiro aliviado ao observá-la assentir sua pergunta.
— Granny está se aproximando e em breve abrirá a porta. — a loura afirmou dando um sorriso, pois sempre que fazia isso a loba ficava boquiaberta.
Em questão de minutos, a maçaneta da porta fora destrancada e a figura de uma idosa de pele rosada e rechonchuda fez-se presente. Simpaticamente, Granny dissera que havia alguém a falar com Emma Swan, e que a pessoa dizia ser urgente, antes da mesma se retirar do quarto e voltar para a sala no andar de baixo.
— Como fazes isso! — Ruby exclamou rindo.
— Vantagens de ser uma vampira. — a loura de terno sussurrou em seu ouvido antes de descer as escadas.
Conforme seus sapatos pisavam forte sobre o chão, chegando ao final do corredor e descendo as escadas, decifrara no ar o aroma sanguíneo subir em suas narinas. Conseguia distinguir perfeitamente que a pessoa provavelmente possuía algum ferimento recente, ferimento no qual resultou em uma leve perda de sangue.
— Senhorita Swan, essa jovenzinha bateu em vossa porta a pedido de ajuda e eu não consegui deixá-la esperando lá fora. — a senhora de óculos e cabelos tão brancos como algodão tentou explicar calmamente, fazendo com que Emma lhe olhasse encantada.
Pessoas idosas e calmas faziam-na lembrar de sua avó, faziam-na lembrar de um cheiro de hortelã que sempre seguia Ruth. Em seguida, virou o olhar para uma jovem que estava de costas, fazendo com que seus orbes verdes avistassem o ferimento no alto de sua cabeça, os cabelos castanhos sujos de sangue seco.
— Obrigada Granny. — disse, olhando para Ruby com o olhar que a loba conhecia muito bem. Aquele ferimento estava atraindo-a. Para seu alívio, a jovem se virou para ela e lhe deu um fraco sorriso. — Bom dia, Senhorita. Estás precisando de acomodações? Estamos de mudança, entretanto não me será problema ajudá-la caso precises.
— És Emma Swan? — a pergunta fez com que a loura arqueasse a sobrancelha.
— Sim, sou eu.
A jovem de olhos cor de chocolate suspirou, já percebendo qualidades em Emma Swan, entendendo o porquê Regina simplesmente havia se apaixonado por aquela mulher.
— Graças a Deus! — a vampira assustou-se e ficou sem reação ao receber um abraço da mulher, resultando ainda mais no odor de seu sangue. Finalmente ela se separou. — Bom, Regina precisa de tua ajuda! — Ivy exclamou desesperadamente, sem perceber que havia revelado o nome de sua amiga.
Ruby Luccas esbugalhou os olhos ao perceber o que havia acabado de acontecer. Lembrava-se de quando descobrira que Roni era, na verdade Regina Mills, uma descendente da ordem do dragão – um fato que não sabia como sua mestra reagiria quando descobrisse –, a loura negara a informação. A loura gostaria de descobrir o nome da morena apenas quando ela estivesse decidido lhe contar, mas naquele momento Ivy Belfrey revelara seu primeiro nome.
— Desculpe-me? — a vampira pronunciou-se confusa, alternando o olhar entre a humana desesperada e a lobisomem assustada. — Não conheço pessoa alguma com tal nome, minha jovem, mas no que tiver em meu alcance irei ajudar.
— Mas Regina é... — foi então que Ivy percebera que havia revelado o nome da amiga, e a loura de terno a conhecia como Roni. — Ai meu Deus... O que eu fiz!?
— Emms, ajude-a. — Ruby pediu, aproximando-se e tocando os ombros da loura. Percebera a confusão nos orbes verdes, perguntando-a quem deveria ser a tal pessoa. — Regina é a pessoa que mais amas em toda tua vida, a pessoa que te conquistou ao retornaste para Romênia... E tu esperaste o momento em que ela própria revelasse o nome, entretanto não pôde descobri-lo de seus lábios.
— Roni? — ela indagou, travando o maxilar.
— Sim, minha amiga. — Swan sorriu por poucos segundos ao analisar o nome Regina. Em seguida, encontrou-se séria pela informação que a amiga de Roni havia trazido. — Lembras que eu havia descoberto o nome dela, mas não lhe contei?
— Roni está bem? — perguntou cortando quaisquer assuntos que pudessem surgir naquele momento. — O que houve?
— Eu não sei... — Ivy Belfrey balbuciou embargada, sentindo seus olhos encherem-se de lágrimas, porém, não ao ponto de cair sobre sua face. Era difícil estar ali, enxergando a preocupação e o amor nas órbitas da loura de terno, enquanto tentava lhe dizer o que acontecera... Sabendo que era ela quem Regina amava. Era difícil imaginar como Regina devia olhá-la, entretanto Ivy respirou fundo e dispersou quaisquer pensamentos. — Levaram-na! — recebeu o olhar de quem esperava mais detalhes. — Ontem, durante a noite, saíamos para jantar. No final de tudo, invadiram o quarto dela e a levaram... Tentei impedi-los, mas me golpearam.
Emma Swan respirou fundo em tentativa de se acalmar e acalmá-la, em contrapartida, o medo há muito não sentido retornara com todas as forças. Temor em perdê-la após reencontrá-la, depois de séculos sofrendo por toda sua família destruída... E tudo havia retornado diante de seus olhos, sem que ela pudesse ter feito absolutamente nada, fazendo-a perguntar-se como não havia percebido que planejavam raptá-la.
Um ataque da ordem era esperado desde o dia em que pusera os pés na Romênia, mas o possível ataque deveria ser certeiro para que exterminassem Jennifer Morrison de uma vez por todas, o que não fazia sentido tirarem a vida de Roni.
— Oh, tudo bem... — a loura suspirou inquieta, pensando em onde a mais nova poderia estar. — Como eram as pessoas que levaram-na? Viu o rosto de algum?
— Todos usavam capas que cobriam seus rostos, todavia pude ver a face de um deles. — ergueu a cabeça para encarar a face pálida de Emma, antes de pensar se deveria revelar também o nome de sua mãe. — O padre Gold era quem liderava todos os outros.
Emma Swan assentiu sem surpresa em sua face.
— Há mais algo que eu deva saber?
— Minha mãe... — a jovem Belfrey sussurrou sem certeza de que deveria fazer aquilo, o que não passou por despercebido à audição da mulher de terno. — Ela os ajudou, golpeando-me pelas costas. — tal informação também não era surpresa para a vampira, uma vez que ela fora sua primeira suspeita em ser um membro da ordem. — Não entendo o porquê levaram a Regina...
— Para matá-la? — Ruby Luccas deu seu palpite. Era a resposta mais óbvia, uma vez que sabiam que tais acontecimentos eram obras da Ordem do Dragão. Os cachos dourados caíam sobre sua face quando abaixou a cabeça, e suspirou, tentando esconder seus medos e sentindo as mãos de Ruby recostarem em seus ombros. — Emms, sei que irás encontrá-la antes que tomem sua vida.
— Não, não é para matá-la. — a morena respondera a pergunta da outra, recebendo o olhar surpreso da lobisomem e um olhar esperançoso da vampira. — Optarão em tirar a vida dela caso não colabore com algo. Disseram-me que hão de afastá-las de uma vez por todas... Hão de acabar com vós. — outra vez aquelas palavras não eram surpresa aos ouvidos de Emma Swan. Nos anos passados, assassinaram sua esposa não somente pelos atos abomináveis, mas, sim, para puni-la. Sendo assim, dessa vez não era surpresa fazerem de Roni uma isca para atraí-la, uma vez que era certo que a vampira não mediria esforços para encontrá-la.
Emma recompôs-se, fazendo um sinal para que a senhora Granny preparasse algumas coisas para acomodar a jovem Belfrey. Enquanto isso, sua mente não parava de pensar onde poderiam tê-la escondido; pensava em diversos esconderijos da Ordem nos séculos passados, mas nenhum parecia ser um local que eles usavam nos dias de hoje. Poucos minutos depois, Granny voltou com uma xícara de café, um bule com água morna e panos limpos – para servir a jovem enquanto limpasse seus ferimentos.
— Obrigada, Granny. — a vampira pediu, pegando delicadamente o bule com água e colocando-o sobre uma pequena mesa. — Senhorita Belfrey, a Granny irá ajudá-la enquanto procuro por Roni.
— Não... Eu tenho que ajudar.
— Não com esse ferimento na cabeça. — a loura advertiu, dando-lhe um sorriso de lado. Ivy, no entanto, tentava virar o rosto e não manter contato visual, pois percebera motivos para quais haviam de ter conquistado Regina. E ela não queria gostar dela. — Alimente-se e deixes que Granny limpe teus ferimentos, enquanto eu e Senhorita Luccas procuramos por Bucareste. — antes que a jovem pudesse protestar, a loura se aproximou segurando em suas mãos e olhando em seus olhos. — Por favor, cuide-se. Roni não gostaria de retornar e vê-la suja de sangue e sem ter se cuidado... Principalmente por ela ter conhecimento na área da medicina.
— Tens razão. — Ivy suspirou e assentiu.
— Trá-la-ei de volta em segurança, Senhorita Belfrey, podes acreditar em mim. — Emma Swan afirmou confiante, recebendo um sorriso sincero da outra, antes de se retirar em companhia de Ruby Luccas.
Ao chegarem ao lado de fora da casa, os orbes verdes da lobisomem fitaram as linhas faciais de sua mestra, de sua companheira e amiga. Por viver décadas ao seu lado, tornara-se impossível da vampira tentar esconder alguma coisa da amiga. Era evidente o temor em seu olhar e em suas tentativas de sorrir, o que era compreensível uma vez que aquela era a segunda vez em que levavam a pessoa que Jennifer amava.
— Iremos encontrá-la, Emms. — ela garantiu, assim como a loura havia feito com a jovem que fora deixada com Granny. — Sei que estás com medo.
— Senhorita Luccas, caso aconteça algo comigo, peço para que cuides de Roni por mim.
— Nada há de acontecer! — a mais nova exclamou. — Olhes para nós. Tu és a vampira mais antiga da história e eu sou uma lobisomem, portanto aqueles velhos não têm chance alguma contra nós.
— Sei disso, lobinha. No entanto, sabes que tudo isso é uma armadilha para me atrair, não é? E eles conseguiram me atrair. Provavelmente a levaram para Brasov, pois em Bucareste tem apenas a igreja como propriedade deles. Conheço-os o suficiente para saber que tomaram Roni porquê sabem que ela foi, ela é e sempre será a minha fraqueza. — finalmente, após a notícia sobre o desaparecimento da mulher que amava, Emma permitiu-se chorar. Levou seu dedo indicador até os olhos, numa tentativa de enxugar suas lágrimas de medo e tristeza. Medo de que o pior acontecesse com aquela mulher tão doce que Roni era; tristeza em saber que jamais poderiam viver normalmente, ou que possivelmente a Ordem conseguiria o que tanto desejavam: Jennifer Morrison morta.
— Não, Swan, dessa vez a vitória não será deles! Prometo-te. — a loba disse uma última vez, sentindo que a vampira estava decidida a acabar com aqueles homens até encontrar Roni. E, caso ela não estivesse viva, terminaria o trabalho de Tilly – a vampira que quase extinguiu a Ordem do Dragão há mais de quatrocentos anos. — Vou arrancar a pele daqueles homens, que se acham Deus. — disse brincalhona, embora soubesse que a vampira realmente faria aquilo, ou pior.
— Vamos de carro... É muito mais rápido até Brasov. — a loura disse, fixando seu olhar em seu veículo.
Os cachos dourados dançavam conforme a brisa da manhã se chocava contra eles, enquanto identificava imediatamente seu automóvel parado em frente a sua calçada. Era o único panhard et levassor da vizinhança – um belo automóvel acolchoado e motorizado, tanto que não precisavam de cocheiros, o que era um avanço para aquelas décadas. Ela observava aquele dia, que parecia com qualquer outro, por mais que não fosse. Admirava a vida comum em Bucareste. Desde pessoas se esbarrando nas ruas, crianças brincando, homens distribuindo jornais, e sempre que analisava aquelas pessoas ela desejava poder viver normalmente com a mulher que amava; expor-se, poder andar de braços entrelaçados sem qualquer preocupação, mas sabia que nem tão cedo aquile desejo se tornaria real. Pelo menos, não no século dezenove.
— Vamos acabar com esses velhotes, Emms. — Ruby disse antes de seguirem até o automóvel, e observando a loura curvar os lábios em um sorriso perverso e vingativo.
OBS: Panhard et Levassor foi uma das primeiras marcas de automóveis, foi criada pelo construtor de máquinas de serraria René Panhard e por Émile Levassor em Ivry, na França em 1886. A empresa inicia a suas atividades construindo motores mas alguns anos depois, em 1889, nasce o primeiro projeto de um carro. Nos primeiros anos da história do carro, a Panhard et Levassor destacou-se por construir os veículos mais avançados tecnicamente.
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