Irmandade
Castelo de Bran — Anoitecer
A amarelada iluminação provocada pela chama da lamparina iluminava bastante o quadro a ser pintado. Os pincéis traçavam detalhadamente a tela, que anteriormente era branca e límpida, começando a apresentar seus primeiros traços de um retrato. As órbitas azuis observavam minuciosamente os verdes pintados perfeitamente nos olhos da caricatura em seu quadro, enquanto o pincel passeava pela tela.
— Minha estrelinha, estás errando o retrato de tua mãe? — Killian Jones, seu pai, perguntou calmamente ao analisar a figura loura de olhos verdes representada naquele quadro de Alice.
— Acho que a tinta amarela acabou.
— Comprarei amanhã, no início da noite.
— Por que não fazes misturas como mamãe fazia? — perguntou, fitando-o rapidamente. Quando criança, adorava pintar, e Lana lhe dava diversas misturas que formavam os pigmentos e tintas que precisara em seus desenhos. — Mamãe esmagava uma planta chamada... Açafrão, e assim conseguia o pigmento amarelo.
— Lana era inteligente demais... — Killian suspirou, lembrando-se como a esperteza da mulher o deixava admirado. Assim como a bravura de Jennifer. — Amanhã, ao anoitecer, procurarei açafrão para fazer a tinta amarela, está bem?
Sorriu ao ver a mulher concordar com a cabeça.
O homem de cabelos negros e olhos azuis inclinou a cabeça ao comparar o novo desenho de sua filha com todos os anteriores. Quaisquer obras pintadas anteriormente por sua preciosa filha eram belas e uniformes, tingidos com o fundo escuro e esfumaçado, com o rosto de suas mães desenhados perfeitamente. Uma única vez que o rosto do homem fora desenhado em um de seus quadros. Aquela, talvez, tivesse sido a forma que Alice encontrou de sentir-se mais próxima a elas.
Enquanto que desta vez era nítido observar o lugar de fundo daquela pintura. Distintos tons de azuis mesclavam-se sublimemente, gerando a pintura do céu escuro e esboçado com pequenos pontos brancos, indicando as estrelas, ao anoitecer. Um rosto pálido ocupara o centro da tela, e os fios de cabelos dourados e olhos verdes foram os motivos para que Killian confundisse com Jennifer Morrison. Portanto, a mulher do novo retrato usava luvas e uma roupa de couro junto a um capuz. Sem mencionar na aljava de flechas em suas costas.
— Hm, uma arqueira! — exclamou, passando a mão em seu próprio queixo. — Muito bela, minha estrelinha. Estás desenhando novos rostos agora?
Semicerrava os olhos, identificando que na pintura havia uma lua cheia e um lobo mesclado sobre o fundo escuro.
— Essa é Robin, papai. — respondeu-lhe após alguns segundos, concentrando-se aos detalhes em sua obra. — Robin, a arqueira. — concluiu.
— Oh, Alice, que bom que estás conhecendo novas pessoas e fazendo amizades. — verdadeiramente alegrou-se, uma vez que sua filha deveria tentar esquecer toda a solidão e tristeza por suas mães, e viver uma vida o mais normal possível. — Onde a conheceu?
— Nas redondezas do nosso castelo.
— E não a matou? — perguntou impressionado, não conseguindo evitar de um sorriso se formar em seu rosto. Alice, além do mais, fora a responsável pelos ataques em pessoas séculos passados, o que deu início às lendas sobre Drácula ainda viver escondido por de trás dos muros do castelo. Nunca antes havia hesitado. — O que há de diferente em Robin?
— Não sei. — suspirou, tirando a concentração da tela. — Talvez eu não estivesse muito afim de matar alguém.
Killian Jones arqueou uma de suas sobrancelhas e cruzou seus braços, encarando-a. Sua menina jamais poupou pessoas que ousassem se aproximar ou entrar naquele castelo. Protegeu seu antigo lar como não pôde proteger suas mães, visto que provavelmente Lana teria morrido por ela naquela noite confusa. E pelos últimos séculos zelou as únicas lembranças que restaram de suas mães, desenhando-as sempre para que nunca esquecesse de seus rostos.
— Está bem! — levantou-se espalmando as mãos sujas de tinta sobre o vestido vermelho. — Robin precisava de minha ajuda.
— Foi apenas por isso que a ajudou? — questionou-a novamente. — Não precisas esconder o motivo, minha filha. Se estás querendo ter novos amigos, sabes que sou todo apoio.
— Eu disse que iria tentar me desprender e viver uma nova vida. — respondeu sinceramente, aliás havia pensado e concordado a recomeçar. Quem sabe, daquela forma, parte do vazio em seu peito fosse preenchido. — Robin é uma de nós. Digo... Não é simplesmente uma humana. Nem minhas mães, tampouco meu âmago poderia deixar uma humana sofrer a transição para a maldição sozinha.
— Alice, sabes exatamente o risco que pôs tua vida! — seu pai repreendeu-a, olhando-a com um olhar expressivo ao perguntar-se qual havia sido a intenção da mulher.
Sua pequena estrelinha, embora a chamasse assim desde a infância, já não era tão pequena assim. A mesma possuía mais de quatrocentos anos, e perdeu seus poderes – pois, a mesma descobrira na infância que possuía magia como as mulheres julgadas e queimadas na Romênia – quando foi morta em torno de seus vinte e quatro anos em uma de suas buscas para encontrar sua mãe loura, Jennifer Morrison. Presenciou diversos tipos de transições em sua vida, e tinha total ciência de que se aproximar de lobisomens em noites de lua cheia era como uma sentença de morte.
Então, por que arriscar-se apenas para ajudar um lobisomem?
— Sim, eu sei, papai. — assentiu, meneando a cabeça, fazendo com que seus cachinhos rebeldes sacolejassem. — Ao ver que ela se transformou, voei até aqui... Robin não me feriu.
— Eu sei, minha estrelinha, eu sei. Entretanto, ela poderia tê-la atacado mesmo que não intencionalmente. — abraçou-a sem que ela esperasse, fazendo-a sentir o amor que sentia. — Eu apenas estava preocupado. Tu és minha menina preciosa, sabes disso.
(...)
Bucareste
O ódio expressivo em suas faces, cobertas por capuzes, não cessara. Possuíam o conhecimento de que a maior das ameaças havia retornado para Romênia, provavelmente em ânsia por vingança, mas principalmente pela possível ligação que a vampira tinha com a cópia de sua falecida esposa. Aliás, os atos que sua antiga geração de membros daquela ordem secreta fizera com que tudo aquilo fosse acontecer. A semelhança de Regina para com Lana; o sangue da mesma ser a cura para Jennifer; ela ser a fraqueza da vampira... Tudo estava ligado aos planos e atos arquitetados séculos atrás.
Entretanto, não apenas os atos cometidos contribuíram para que ambas se reencontrassem. Lana e Jennifer possuíam uma ligação de alma, resultado do amor possuinte uma pela outra, resultado das promessas de sempre estarem uma com a outra. Mesmo após a morte. E este fato era algo que a Ordem do Dragão não sabia.
— Não compreendo como vós não conseguistes descobrir o nome da pessoa que despertou Jennifer Morrison. — Gold esbravejou, tentando manter-se calmo a medida em que sua respiração se descontrolava, realçando sua raiva. Em seguida, levantou o olhar para cada membro presente ali. — Aparentemente nenhum dos membros da nova geração tem consciência do grau da gravidade que estamos prestes a lutar contra.
— Hm, uma mulher que, no caso, envolveu-se com outra no passado? — indagou Arthur, sem dar importância. — Logo, os antepassados lançaram-lhe uma maldição... E, pelo que estou lembrado, Drácula tem bastante fraqueza. Por quê não atacar neste exato momento, em plena luz do sol?
— Se Jennifer Morrison for atacada publicamente, diga-me quem estaria cometendo um crime aos olhos humanos? Para todos, aquela mulher loura é uma simples cidadã. — o padre deu seus argumentos, com sua cabeça latejando pela ideia que tivera para agir contra a loura. — Diga-me, rapaz, quais as fraquezas de Drácula?
— O sol. — respondeu prontamente, como se aquilo fosse óbvio demais.
O padre soltou uma risada, alisando o próprio queixo. Esperava que alguém respondesse exatamente aquilo, aliás, as lendas sempre relatavam que vampiros morrem ao sol e estacas, assim como enfraquecem com alho. Mas, nem todas as lendas são absolutamente verdadeiras.
— Seria uma boa tentativa, de fato. Entretanto, deves lembrar-se de que o sol não os mata imediatamente. Apenas causa-lhe dor e queima a pele, deixando-os deformados, para, em seguida, mata-los. Jennifer tem aliados, Arthur. Aliados que fariam de tudo para mantê-la viva. Sem mencionar que, se ela estiver ingerindo alta quantidade de sangue, a vampira seria capaz de controlar o tempo... Mudar de um dia ensolarado, para um dia extremamente nublado, permitindo-os andar sob a luz do sol.
Como os membros da Ordem sabiam, o sol não os matava no mesmo instante, mas Arthur confiava que conseguiriam exterminar aquela aberração ao expô-la publicamente.
— Os cidadãos ao vê-la com queimaduras devido ao sol, em seguida pegando fogo, iriam atacá-la também. — Arthur argumentou.
— Jennifer Morrison pode andar sob a luz do sol. — o padre esbravejou, virando o rosto para o lado com uma expressão aparentemente irritada, despejando um soco na mesa. Na maldição que os membros anteriores lançaram, não mencionara que a vampira poderia andar durante o dia, e sim que a luz seria inimiga dela. — Ontem, pela manhã, avistei-a andando normalmente com aquele terno ridículo... Acompanhando Regina Mills.
Tudo o que Robin de Locksley Mills dissera estava acontecendo. Desde a volta de Drácula, até a aparição de uma cópia fiel à antiga esposa da mesma. E todos estavam satisfeitos em saber que Regina era a fraqueza de Jennifer, e poderiam usar este fato ao favor deles. Gold, no entanto, sabia que não seria tão fácil como os planos de Robin, e enfurecia-se por não terminar logo com aquela guerra, uma vez que seu maior desejo era exterminar a raça sobrenatural.
— O que tens em mente, Gold? — Victoria Belfrey perguntou, tamborilando os dedos na mesa, ressaltando impaciência.
— Vós lembrastes de uma antiga adaga, na qual permanece muito bem guardada? — a senhora Belfrey entreabriu os lábios quando se lembrou da lendária adaga de Robin Locksley Mills, a mesma que usara ao cortar o pescoço de Jennifer. Perguntava-se quem seria o louco de ir até Drácula e enfiar a adaga em seu endurecido e parado coração. — Então, o que apenas alguns de vós sabeis é que, a tal adaga é o único objeto capaz de matar Drácula, e consecutivamente todos os outros vampiros existentes.
— E quem tu sugeres a matar Drácula? — Victória indagou.
— Senhora Belfrey, lembras-te de Victoria Smurfit, nossa melhor caçadora, mais conhecida como Cruella? — o padre perguntou, levando uma taça de vinho – da empresa de Emma Swan – até os lábios, bebericando o líquido. — Ela irá planejar tudo, mas provavelmente mandará um de seus ajudantes apunhalar Jennifer.
— E quando pretendes fazer isso, padre Gold? — Victoria Belfrey perguntou aliviada, pensando que em breve se veria livre de tudo aquilo, e, logo, iria fugir daquela Ordem.
— Acalme-se, Senhora Belfrey, teremos que aguardar a lua cheia adormecer e os lobisomens saírem de cena. — Gold respondera, totalmente absorto em seus planos maquiavélicos contra um dos maiores maus existentes no mundo. — Sabeis quem é Jennifer Morrison, e o nome que está usando nestes séculos. Aliás, nunca imaginei que a guerreira tivesse a melhor empresa de vinhos. — gargalhou, sorrindo, lembrando-se que sempre inspirou-se naquela mulher valente que fora durante a humanidade. Na bondade e fé em Deus, guerreando em nome da cristandade. Em sua força inumana, capaz de derrotar bravos guerreiros sozinha... Sem mencionar, que no dia em que a Ordem a traiu, Jennifer perdeu a luta por estar exausta, com os sentimentos a flor da pele e pela trapaça de Robin Locksley Mills. Isso sempre deixara Gold fanático pela mulher, e, no entanto, jamais tentaria extermina-la se a loura não fosse um demônio noturno. — Jennifer Morrison, ou melhor, Emma Swan me surpreende a cada dia que se passa. Em breve ela estará sozinha, alimentando-se de sua fonte vital, o sangue. E neste momento, Cruella e seus homens atacarão.
— E Regina Mills, padre Gold? — Belfrey indagou, torcendo para que a vida da jovem fosse poupada. — O que pretendes fazer com a jovem?
Matar Regina Mills estava longe de cogitação, mas sabia que se os planos de Robin Locksley Mills fossem por água abaixo, teriam que fazer de tudo... Até usar a fraqueza da vampira contra ela.
— Senhora Belfrey, sabes que não pretendo tirar a vida da jovem Mills. — ambos suspiraram aliviados. — Da mesma forma em que não desejávamos tirar a vida de nossos amigos de irmandade, Cora e Henry Mills, pais de Regina. Entretanto, se mais uma vez os planos não derem certo e Regina, assim como os pais dela, não colaborar conosco como deveria, então também não haverá outra saída a não ser matá-la.
Os seus frios dedos finos amarravam impecavelmente o vestido de tecido branco que moldava levemente seu corpo. Diferente das vestimentas utilizadas pelas outras mulheres, onde todas trajavam vestidos com espartilhos e mangas bufantes, a sua, no entanto, era um longo vestido leve.
Seus belos pares de olhos esverdeados ponderavam, ao analisá-lo em seu corpo, em usá-lo ou não. Um pouco desajustada, deu um giro fazendo com que seus cachos dourados chacoalhassem sobre seus ombros, caindo até a cintura. Era um pouco esquisito aos seus olhos estar usando roupas femininas, uma vez que desde que saíra daquele ataúde jamais pôs uma novamente; e, sem mencionar, que até em seus tempos antigos, Jennifer não usava diariamente tais vestes... Sempre as achou extremamente desconfortáveis, exceto esta que estava em seu corpo.
— Senhorita Swan! — Ruby Luccas exclamou com os lábios entreabertos dada a surpresa ao ter aquela visão: Drácula, pela primeira vez, sem seus terninhos. — Que vestido lindo!
— Jura? — abaixou os cílios, olhando-o em seu próprio corpo, e em seguida encarou os pares de olhos verdes de Ruby. — Não estou esquisita? Desajustada com estes saltos?
Senhorita Luccas deu um risinho, suspirando por ver em sua frente tudo o que mais desejou por uma década: vê-la feliz; vê-la em paz.
— Emma, tu estás linda com este vestido, aliás, quando não estás bela, hm? — aproximou-se terminando de dar um laço no vestido branco da loura. — Pegou-me de surpresa. Não esperava vê-la de vestido, uma vez que vi apenas na noite em que fora liberta daquele caixão. Enquanto aos saltos, Emms, podes usar algo menos desconfortável.
A loura assentiu freneticamente, sem tirar o sorriso de seus lábios, principalmente ao sentir a luz do sol tocar em sua pele quando o primeiro raio da manhã adentrara em seu quarto. Whale havia deixado mais alguns frascos do soro em mãos de Ruby, alegando que a vampira não poderia usá-lo todos os dias. Em contrapartida, a verdade era que não poderia coletar sangue de Regina Mills diariamente.
— Qual o motivo que te fez decidir usar essa roupa? — perguntou Ruby, olhando-a de soslaio após virar-se para pegar um par de sapatos discretamente baixos no guarda-roupa. — Sempre disseste que preferia cartolas e ternos, que, aliás, nunca vi mulheres usarem. Mas em ti, Emma Swan, cai muito bem. Tu não sabes andar com tais saltos altos por tua falta de costume, mas se pretendes usa-los a partir de agora... Creio que irás aprender depressa.
— Não irei usá-los, Ruby. — a loura soltou uma risada, jogando-se sobre o fofo colchão da cama macia e fechando os olhos no mesmo instante, logo após escutar o ressoar de batidas dos corações pulsantes das pessoas que passavam pela rua. — Este vestido é uma surpresa para Roni. Lembre-se, Senhorita Luccas, jamais largarei meus terninhos.
A morena com alguns fios de cabelos avermelhados, que eram refletidos pela luz do sol, que se abatia sobre ambas as faces das mulheres, sentou-se ao lado da vampira. Observou-a atentamente, lembrando-se de que em seus mais distantes sonhos imaginara como seria Emma Swan feliz, e, ali, estava ela, com o sorriso resplandecente e a expressão descansada, apaziguada da loura.
A pele pálida e fria tomava um belo contraste causado pela luz solar, que batia sobre os cabelos dourados, deixando-os ainda mais vívidos. Os olhos fechados, os cílios louros abaixados e os lábios curvados para cima, enquanto os pensamentos da vampira vagavam à Roni, ao mesmo tempo em que também voltava aos momentos felizes que tivera com sua família. Entretanto, pela primeira vez, não sofrera ao recordar-se das risadas ecoantes de Lana, tampouco de Alice ao pincelar as telas... Pois, desde o dia anterior, a felicidade atingira com vasta força em seu peito, fazendo com que suas tristezas se desligassem, mesmo que temporariamente.
Logo, Ruby deslizou os dedos sobre as ondas douradas e macias, encaracolando-as entre seus dedos.
— Nada poderá tirar tua felicidade, não é?
O sorriso delineado nos lábios de Emma respondeu tudo.
— Mas há novidade que poderá aumentar ainda mais tua felicidade. — afirmou confiante de que conseguiria vê-la ainda mais contente, e percebera que talvez fosse impossível felicidade maior. O brilho estampado nas orbes verdes mostrava isso. — O Castelo de Bran é uma das maiores construções da região até os dias de hoje, e, no entanto, possui a fama de ser assombrado por Drácula, que ainda vive por trás daquelas paredes de pedras. À vista disso, não há concorrência contra tua compra da propriedade. Consegui tudo o que precisavas, e agora precisastes apenas assinar o documento necessário. Dentro de algumas semanas, teu lar voltará à dona legítima, no caso, a ti.
— Isso quer dizer que... — Emma abriu os olhos, voltando o olhar aos orbes da fiel amiga, que sorriu ao ver a expressão demasiada contente da loura. —... Tu conseguiste me devolver meu antigo lar? Sendo assim, moraremos lá em breve.
— Sim, eu consegui. — a morena respondeu timidamente, dando de ombros. — Digamos que foi um pouco difícil, até chegar ao ponto de eu achar que não conseguiria.
Numa velocidade impressionante, num impulso misto com seus sentimentos de paixão e felicidade, a vampira lançou-se contra Ruby, dando-lhe o primeiro abraço apertado, sincero e repleto de afeto. Apertou-a contra seus braços, acariciando as madeixas escuras, sem palavras certas a dizer, apenas atos pequenos que diziam por si só.
— Irás adorar meu Castelo, Ruby! — exclamou, ainda abraçando-a, sentindo a face da morena descansar em seu ombro. — Poderás levar Zelena para lá, se quiseres.
— Oh, Emma, não poderia levá-la para teu lar. — sussurrou.
— Ruby Luccas! — a loura distanciou-se a ponto de conseguir olha-la nos olhos. Embora o grandioso Castelo fosse seu por direito, queria deixar claro que a partir do dia em que ambas se mudassem, o mesmo também seria o lar de Ruby. — Agora não será apenas o meu lar, minha amiga. Tu irás comigo, e terás um quarto apenas para ti. Lá, aliás, é grande o suficiente para habitar famílias, pois há diversos quartos vazios. Lembro-me de que há tantos corredores e torres que as visitas costumavam se perder entre elas. O único pedido que tenho a fazer é que não escolhas os meus antigos aposentos, visto que voltarei para o mesmo; também não escolhas o aposento de Alice, pois quero deixar do mesmo jeito que o vi da última vez.
Sorriu ao ver a amiga assentir após se afastarem por completo. Recordou-se, então, que tinha algo a pedir à morena.
— Esqueci-me completamente de te perguntar! — exclamou levando as mãos até o alto da cabeça, balançando-a levemente. — Como anda tuas pesquisas sobre os membros da Ordem do Dragão?
Aquela pergunta que acabara de ouvir sair dos lábios da loura fez com que seu corpo estremecesse discretamente, em temor por estar prestes a omitir algumas coisas da amiga, se fosse necessário. Aliás, havia pesquisado incansavelmente por todos os membros da Ordem desse novo século, assim como os descendentes que ainda não haviam entrado para a tal irmandade secreta. Em contrapartida, em meio às buscas, descobrira que Roni, a qual seu verdadeiro nome era Regina Mills, é uma verdadeira descendente de todos aqueles de que a vampira desejava se vingar.
— Bom, havia esquecido de te informar. — pigarreou, coçando a própria nuca em sinal de nervosismo. Não poderia arrancar do coração parado da vampira a felicidade que tanto desejara; jamais poderia quebrar a confiança de Roni para com seu verdadeiro nome. — Desde que chegamos em Bucareste, pus-me a procurar pelos antigos membros, mas infelizmente não encontrei os nomes de todos eles. Após o massacre no ano de tua morte, parece que apenas alguns descendentes entram para a Ordem do Dragão. Normalmente um descendente de cada família por vez. Talvez seja por isso que Belle não faz parte da irmandade junto com o padre, que é tio dela. Entretanto, se for desta forma, caso Gold morra ela assume o cargo dele. — recordou-se imediatamente de que, pelo o que havia encontrado em meio as leituras, ingressar na Ordem do Dragão era um tipo de legado da família.
— Então a cada membro que eu exterminar, outro entrará em seu lugar... — Swan concluiu, porém, sem muito espanto.
— Emma, responda-me uma única pergunta... Todos os descendentes são obrigados a entrarem para a irmandade? Como tu entraste?
— Sabes que não faço ideia de como funcionam as regras da Ordem nos dias de hoje. — a loura respondeu diretamente, ajeitando-se confortavelmente sobre a cama. — Jennifer Morrison nasceu em mil quatrocentos e trinta e um; a Ordem do Dragão foi fundada em mil quatrocentos e oito pelo sacro imperador romano Sigismundo. À vista disso, sabes que vivi no início de toda essa confusão, então não estou ciente de novos costumes dos mesmos. — Ruby assentiu, já sabendo que realmente a loura não pudera saber como os descendentes agiam nos dias atuais. Entretanto, saber pouco da história poderia ajudar em pistas. — Inicialmente a função dada aos membros era a de defender a cruz e batalhar contra seus inimigos, que na época eram os turcos. A irmandade original possuía vinte e quatro membros da nobreza, incluindo meus avós. Sem mencionar os religiosos, que não poderiam ficar ausentes em uma irmandade que lutava pela cristandade.
— Lutar pela cristandade me parece uma boa causa. — a morena respondeu confusa, visto que as igrejas não pareciam tão ameaçadoras aos seus olhos. — Como se tornaram tão loucos?
— A cristandade pode estar diferente neste século em que estamos. Quatro séculos atrás, a igreja matava dizendo ser em nome de Deus. Mulheres queimadas condenadas por bruxaria; as poucas pessoas que amavam outras do mesmo sexo, tipo eu e Lana, eram mortas em praça pública. Muitas apedrejadas. Em contrapartida, como eu te disse, inicialmente nossa missão era apenas a de batalhar contra nossos inimigos. Mas, após a morte de Sigismundo em mil quatrocentos e trinta e sete, levantaram-se em nosso meio alguns religiosos que diziam "os que não seguem os mandamentos também são inimigos da cruz".
— Pressuponho que ninguém se opôs, já que hoje a Ordem está um caos.
— A maioria dos membros da nobreza não aceitaram a guerra entre o próprio povo, por isso a paz entre a irmandade durou por mais algum tempo. Mas os anos se passaram e os membros originais morreram... Os vinte e quatro membros da nobreza. Em mil quatrocentos e quarenta e nove restara apenas eu e meus pais, filhos dos membros originais da irmandade, mas eu e eles éramos a minoria diante de todos aqueles religiosos.
Emma contava detalhadamente a história da Ordem do Dragão, que eram fatos que certamente nem Whale saberia. Ela mesma sabia do surgimento e de todo o retrocesso daquele grupo apenas por ter vivido naquele tempo. Lembrava-se de inicialmente serem um grupo que jamais aprovaria as atrocidades que as outras gerações cometiam, e Jennifer Morrison também fora assim. Associou-se à Ordem anos antes de todas as mudanças, da igreja junto com Robin Locksley começarem a liderar.
— Eu sempre fui fiel à igreja, principalmente a Deus. Jamais participaria da irmandade se soubesse que a mesma tiraria vidas inocentes de nosso povo. — comentou, rememorando sua infância, onde, antes de ser refém dos inimigos junto com seu irmão, seus pais lhe criaram com aqueles ensinamentos. — Aos meus dezesseis anos, após minha saída dos domínios inimigos, usei todo o meu fôlego para lutar em nome da Ordem que toda minha família servia. Treinaram-me para ser invencível, para comandar, e foi exatamente o que fiz. Por isso o nome de Drácula, que significa filho do Dragão... Eles me criaram. Eles que criaram como maior soldado, e, em seguida, como um demônio.
Tornou-se evidente quão surpresa a morena havia ficado com todas aquelas informações, que ainda estavam sendo processadas em sua mente, uma vez que suas linhas de expressões denotavam como estava confusa. Durante uma década pensou que todos aqueles que pertenciam à irmandade sempre foram perversos, o que não fazia sentido algum Jennifer se envolver com os mesmos. E, a partir da conversa que acabara de ter com a loura, tudo ficara ainda mais claro em sua mente... Morrison entrou para a irmandade com a nobre missão de proteger os evangelhos, de lutar em nome da igreja, mas a liderança mudou junto com o caráter de muitos, tornando-os impiedosos. Sendo assim, tudo o que a loura acabara de contar mostrava que nem ela fazia ideia que os antigos companheiros se tornariam pessoas tão impiedosas.
— Respondendo a tua principal pergunta, quando aceitei servi-los a única coisa de que eu precisava era da fidelidade. Entretanto, antes de todo o ocorrido entre minha família, as leis já haviam sido alteradas para que apenas descendentes servissem à Ordem do Dragão.
O assunto visivelmente havia chegado ao fim, principalmente quando a audição da vampira captou som de passos sobre o assoalho do primeiro andar, e, em seguida, os saltos ecoantes ao subir pelas escadas. Seu aroma não enganara ninguém, ou, pelo menos, nenhum vampiro. Era Roni, trazendo consigo seu eflúvio extremamente enlouquecedor, no qual a loura ainda lutava contra.
— Tens certeza de que não estarei a importunar a Senhorita Swan? — as palavras inseguras da jovem eram escutadas por Emma como se não houvessem paredes e escadas separando-as. — Swan e Luccas podem estar conversando algo importante.
— Minha jovem, aquiete-se. — Granny pediu calmamente, o que sempre deixava a loura impressionada, pois parecia que a graciosidade e calma nunca deixavam aquela idosa. — Sabes que Emma e Ruby são como irmãs e têm o resto do dia de todas as tardes para conversarem.
— Tens certeza? — um mínimo silêncio fez-se presente, o que fez a loura crer que Granny havia assentido.
— Sem mencionar que a Senhorita Swan gosta bastante de ti, minha jovem! — a idosa exclamou como se tivesse certeza de suas palavras. A vampira, então, perguntou-se se havia deixado tão evidente seus sentimentos pela morena, o que era bastante perigoso. Tinha consciência de que sempre existiu pessoas que seu amor era acusado como anormal, aliás conhecera muitas outras que lutaram por seu amor proibido, e um exemplo era sua história com Lana. Entretanto, seu maior temor era que tudo colocasse a vida de Roni em risco. — Conheço Emma faz pouquíssimo tempo. Ela me contratou para trabalhar em sua antiga casa, antes de retornar para cá. Nesse pouco tempo, acredite, nunca a vi tão contente.
— Achas que é por minha causa? — Roni balbuciou entre sussurros, aparentando não querer que ninguém ouvisse.
— Oh, minha jovem, eu sou velha, mas não sou cega! Sei que também sentes o mesmo pela Emma, senão tu não estarias tão nervosa e sorridente. — era compreensível o temor da morena sobre as pessoas saberem de seus sentimentos, aliás, até a vampira temia. No passado, pessoas eram apedrejadas apenas por amar, outras queimadas ou afogadas; no presente em que viviam, internavam-nas em hospitais ou em conventos. A única pessoa que conhecera e viveu feliz com seu amor foi a guardiã, seu braço direito em batalhas. — Mas não te preocupes, pois não contarei a ninguém sobre teus sentimentos. Jamais tenha vergonha de quem tu és. Amar é um privilégio, mesmo que as pessoas não aceitem a pessoa que está em teu coração. A propósito, apenas tu podes aceitar a pessoa que está em teu peito, tomando conta de todos teus sentimentos... Peço-te, apenas, que jamais parta o coração de minha Emma, tudo bem?
— Jamais partiria o coração de Emma. — Roni aparentemente cessou aquela conversa com tais palavras, que poderiam tirar o fôlego da loura.
— Eu sei, minha jovem. Estou apenas reforçando.
Emma Swan sentou-se imediatamente sobre a cama, engatinhando até a beirada ao perceber que sua amada estava a passos de seu quarto. Ela sabia que, provavelmente, a morena carregava um sorriso tranquilizador em seus lábios e que estava sendo acompanhada por Granny, que era muito gentil com a jovem.
Seu velho coração frio aqueceu-se ao perceber que Granny acabara de pôr uma de suas mãos na maçaneta, girando-a levemente até abrir a porta; até seus olhos se encontrarem com a mais bela visão que poderia ter.
— Senhorita Luccas... — a morena pronunciou-se timidamente, cumprimentando-a à distância. — Senhorita Swan. — finalmente a encarou diretamente, embora distante. — Bom, desculpem-me entrar sem avisar. Granny disse que eu poderia subir, e me trouxe até aqui.
A visão da loura sem seus ternos não passara em despercebido pela jovem morena de olhos cores de avelãs, que a apreciava minuciosamente, subindo o olhar até as órbitas esverdeadas. Patenteava as madeixas douradas recebendo o brilho da luz matinal e seu corpo feminino combinando perfeitamente com aquele vestido, embora já estivesse acostumada com a presença de uma loura de terno ao seu lado. Apaixonou-se por ela; pela mulher que sempre trajava terno.
— Roni, tens total permissão para me visitar. — repreendeu o temor que a morena sentia. — Granny está autorizada a deixá-la entrar, assim como minha fiel amiga Ruby.
— Emma deixou claro para todas nós de que tu podes entrar aqui. Quem seríamos para contrariá-la? — Luccas perguntou retoricamente.
A loura levantou-se impecavelmente do macio colchão, em seguida, espalmando o leve tecido de seu vestido para que o ajeitasse. De cabeça baixa, erguendo-a vagarosamente, ela sorria circunspecta por sentir o poder do olhar castanho sobre si, despindo-a com os olhos. Alegrou-se por perceber que sua amada gostara se suas vestimentas, finalmente fixando seus olhares.
— Primeira vez que te vejo de vestido!
Emma Swan riu com um entusiasmo jamais sentido antes. Sentir-se assim, maravilhosamente bem, era indescritível.
— Gostaste?
— Emma, eu realmente adorei! — exclamou umedecendo os lábios, sentindo-se inteiramente hipnotizada pela loura. — Este vestido ficou muito bem em ti.
A vampira sorriu em agradecimento, virando o olhar para a amiga. Vagarosamente se aproximou da mesma, pôs-se de perto do ouvido dela e sussurrou:
— Senhorita Luccas, tentes continuar tuas buscas sobre os descendentes da Ordem. Mais especificamente a família Mills, pois estes são quem mais devem pagar.
Ruby Luccas franziu o cenho, embora não estivesse surpresa com tal pedido, mas esperava que diante àquela situação tudo fosse esquecido temporariamente. A única descendente de Robin Locksley Mills viva nos dias de hoje era a amável jovem que estava diante de seus olhos; a jovem que havia dado à vampira um motivo para viver, que lhe entregou a felicidade outra vez... Sentia-se aflita por saber o que haveria de acontecer brevemente: em algum momento Roni revelaria seu nome para a vampira, que possui um ódio mortal especialmente pelos Mills.
Ela tremia apenas de pensar na possibilidade de Swan deixar de lado todo seu amor para com a jovem, e matá-la por vingança de tudo o que fizeram consigo, com Lana e com sua família.
— Irei ver o que posso fazer, Senhorita Swan... — balbuciou com a voz quase inaudível, assistindo-a se retirar junto a Roni.
Os passos pesados dados sobre as folhas e galhos secos distribuídos pela floresta faziam com que os mesmos se quebrassem, fazendo um leve som. Ela estava descuidada e com os pensamentos embaralhados, voltando-se sempre para o mesmo rosto. O de Alice.
A vampira antiga não havia nada de monstruoso, nem em sua personalidade. Se a mesma fosse um ser demoníaco e ruim não teria recebido ajuda da mesma, tampouco compaixão. Analisou mentalmente, após tais pensamentos, chegando à conclusão de que ela que fora o monstro. Havia de ter seres sobrenaturais bons, assim como a lourinha que a ajudara duas noites atrás, e mesmo assim em sua humanidade os caçou junto com sua prima... Matou-os.
— Estás impossível, Robin! — Zelena exclamou em exaustão de tanto segui-la. Aparentemente a maldição do lobo trouxe de brinde a alta disposição para sua prima. — Espere-me!
A arqueira loura andava sempre rapidamente, com uma de suas mãos praticamente preparada para usar sua flecha caso alguém as atacasse. Buscara por pistas de onde aquela lourinha poderia estar, e já havia procurado por quase toda a floresta.
— Parastes para pensar que esta tal Alice pode não viver aqui, na floresta?
— Ela tem que estar em algum lugar, Zel. — disse esperançosa, afim de voltar as buscas pelo lugar em que se conheceram. — Ela não foi fruto de minha mente, não pode ter sido...
— Robin, eu... — sibilou antes de terminar a frase. — Sabes que tivestes alucinações. É possível que, para não se sentir só, tenhas alucinado com uma boa vampira. Sem mencionar que a mesma não deixou nada para trás... Sem mencionar que é estranho tu não ter a matado, uma vez que lobos são fatais aos vampiros.
— Eu sei que ela não era alucinação, prima. Alice me parece ter mais de três séculos por todo o conhecimento que ela tem, Zel. Uma vampira de três séculos não se deixaria ser morta facilmente por uma lobisomem novata. — finalmente virou-se para segurar as mãos da prima, ajudando-a a andar mais depressa. — Eu irei encontrá-la. Irei ter certeza de que não a matei naquela noite...
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