Armadilhas (Parte 1)
Londres — 1891, um mês e uma semana atrás.
— Separem-se em duplas! — Zelena ordenou, inclinando-se para ajeitar uma adaga presa em sua bota. — Mantenham-se alertas, pois hoje os lobisomens estão por aqui.
Seus cabelos ruivos esvoaçavam em resultado ao vento frio carregado naquela névoa, que impedia suas perfeitas visões. A neblina havia aumentado, o vapor de água na atmosfera fazia com que tudo a sua volta ficasse turvo, dificultando a visão a não ser pelas tochas que alguns caçadores seguravam. A ruiva verificava suas armas em seu corpete de couro, tendo certeza de que tudo estava certo.
Deu um salto quando um dos homens chegou ao seu lado, sem que ela percebesse por conta da nébula.
— Mostrem-nos que precisamos de vós. — o homem de nariz aparentemente torto disse, com o ar desafiador. Zelena o reconhecia; era o homem que vivia a dizer quão errado era uma mulher caçar. — Ouvi dizer que és a melhor lutadora e tua prima a melhor arqueira, foi esse o motivo de lhes dar uma chance. Esperamos que não nos atrapalhe, pois caso o faça iremos deixá-las.
— Não quer dizer que por sermos mulheres é sinônimo de que somos inúteis. — a ruiva respondeu com a expressão impaciente, terminando de pegar as balas de prata e colocando em sua roupa. — Agora, me dê licença. — disse antes de se retirar, trombando um de seus ombros no homem.
Deu passos pesados e enfurecidos até chegar ao lado de sua prima, que estava sentada na grama e com as pernas abertas, fazendo-a se lembrar que se os pais da loura estivessem ali ordenariam que ela mantivesse modos. Robin trocava as flechas de sua aljava, de flechas normais para as de pontas de prata, embora fosse notória a expressão contrária da loura.
— Tu serás minha dupla, Robin. — Zelena deu uma piscadela ao seu lado sentindo a adrenalina daquele momento. Todos os caçadores estavam a procura daquele lobo por bastante tempo, e estavam decididos em matá-lo naquela noite. — Mataremos o último lobo desse mês e depois retornaremos a matar os Nosferatus, enquanto não encontramos a mulher que é conhecida como Drácula.
— E quando encontrarmos Drácula, toda essa caça acabará? — Robin indagou.
— A caça de vampiros sim. — suspirou, sentando-se no meio do campo verde. — Matando Drácula todos os outros morrem, exceto os lobisomens e as bruxas. Embora as feiticeiras não sejam ameaças para a humanidade no momento, então não as caçamos. Sem mencionar que quase não se existe bruxas nos dias de hoje, pois quase todas foram exterminadas nos séculos passados.
— Zel, não fazes ideia do quão perigoso é caçar lobisomens numa noite de névoa! — Robin esbravejou trincando os dentes e olhando para os orbes de safiras da ruiva. A arqueira havia sido treinada por caçadores e sabia exatamente quando era bom para caçar ou não, mas, após a morte de todos de sua família, sua prima se juntou a um grupo de outros caçadores. Caçadores os quais Robin julgava não saberem quando era uma noite de caça. — Nossa família jamais caçaria numa noite assim... Observe! Mal dá para enxergar metros a nossa frente.
A ruiva nada respondeu, apenas abaixou a cabeça. Ela viu seus pais morrerem por vampiros em sua frente e aquilo acabou com seu interior, fez com que Zelena criasse uma sede de vingança por todos os seres sobrenaturais. Entretanto, Robin estava correta. A arqueira era a melhor no que fazia e sabia exatamente do que estava falando.
— Escute-me, Zel, tu não precisas desses homens para caçar os seres que matou teus pais... — a arqueira pediu calmamente, mesmo sabendo que estar ali era uma tolice. A verdade era que não deixaria sua prima na companhia de bárbaros que poderiam deixá-la para trás na primeira oportunidade. — Conseguiríamos matar quantos quisermos, apenas nós duas. Sou boa em ataques à distância e tu em corpo a corpo.
— Vamos, homens! — a caçadora ruiva escutou o ordenar dos caçadores.
— Tudo bem. — ela assentiu para sua prima, que sorriu aliviada por saber que não iriam se expor ao perigo outra vez. — Essa será nossa última noite de caça com esses homens... Depois dela iremos voltar à caça da família, e já que resta de caçadores apenas nós duas seremos apenas eu e tu. Irás aguentar essa última noite de caça com eles?
Robin deu uma risada baixa, andando lado a lado de sua prima e lhe dando um soco no ombro.
— Mais é claro que hei de aguentar! — disse corajosamente, ajeitando a aljava que carregava e colocando o capuz de sua capa.
A luz cheia sobre suas cabeças parecia mais um balão resplandecente, porém, que naquela noite não iluminada as trevas claramente. A névoa atrapalhava até mesmo a visão atenta da arqueira, que semicerrava os olhos em busca de forçar a vista para que enxergasse algo.
Sons de passos ligeiros sobre as gramas, quebrando pequenos galhos secos indicavam que havia algo por perto. O medo durante aquele momento em que nada enxergavam era inevitável até mesmo para duas caçadoras experientes. Ambas sentiram um frio subir em suas espinhas, como se o âmago das duas as alertasse do perigo eminente ali.
— Irei dar uma olhada por aqui. — Zel declarou, dando alguns passos apenas e estreitando o olhar para as altas árvores em sua volta.
A arqueira dava seus passos cautelosos atrás de algumas pegadas, porém, sem se distanciar de sua prima. Sabia com toda certeza que sua prima não estava mais de quinze metros de distância, pois de alguma forma sentia a presença dela entre a névoa. A loura se abaixou e tirou sua luva para tocar em uma das pegadas, numa tentativa de saber quanto tempo o lobo poderia ter passado por ali, e deduziu que o monstro estava ciente da presença de caçadores por aquelas redondezas.
Estamos... Estamos numa armadilha! — Robin pensou, assustando-se e se levantando bruscamente procurando sua prima ao seu redor, entretanto a névoa não estava ajudando. O lobo estava por ali, espreitando-os, e todos eles caíram em sua armadilha.
De repente, os passos apressados voltaram. Seus orbes verdes se atentaram aos movimentos dentre a mata, que eram mais velozes que ela pudesse acompanhar. Poderia jurar ter visto um lobo gigante de pelos tão escuros quanto a noite, tão escuros que se destacavam entre a névoa branca, e uma velocidade maior que a de carruagens.
A arqueira girou calcanhares, iniciando seu caminhar ligeiro até sua prima.
— O lobo! — alertou-os, fazendo com que Zelena se assustasse com os gritos e, sem pensar duas vezes, pegasse uma arma e seguisse os gritos. Seu interior culpou-a por um possível ataque de lobo contra Robin... Além do mais, a arqueira só estava na caça àquela noite por sua culpa.
Sentia a morte diante de seus olhos. Era aquela a sensação que percorria por todas as suas veias e todos os tecidos de seu corpo; era a sensação que fizera seu coração acelerar numa velocidade que fazia com que o ar lhe faltasse e seu corpo ameaçasse fraquejar. Havia visto diversas mortes causadas por lobisomens, e todas eram mortes horríveis: intestinos e tripas saindo do corpo das vítimas, todas com metade dos corpos devorados.
— Robin! Venha até mim!
— Merda! — espraguejou mudando o curso que estava levando, depois de escutar a voz de sua prima há pouca distância.
Levou a mão até sua aljava para puxar uma de suas flechas, já sabendo que algo estava a seguindo. Entretanto, antes que pudesse se virar para atirar, o lobo foi mais rápido.
— Ahhh! — deixou escapar o grito com todas as forças após sentir seu corpo caindo contra a grama fresca e os dentes grossos do lobo encravarem em seu ombro. Sentira vividamente a dor extrema, que era pior que imaginava, de sua pele rasgar e os dentes mastigarem sua carne.
Se não morresse por ser devorada, morreria pela perda excessiva de sangue, daquilo ela não tinha dúvidas. O sangue escorria pela mordida, molhando o solo e, consequentemente, sua face. Tentara olhar a figura por cima do ombro, a figura monstruosa de uma besta, que havia acabado com seu ombro esquerdo. Sentira sua visão embaçar, mas, antes que pudesse dizer que morreria devorada, ouvira alguns disparos de arma contra o lobo.
Bam! Bam! Bang! Bang! — o primeiro disparo que identificara foi a da garrucha, uma arma de cano curto semelhante a pistola, a qual sabia que era a de Zelena. Em seguida, escutara os disparos de alguns bacamartes de amurada, que eram armas de grandes calibres, que os caçadores usavam e não pareciam se importar caso acabassem a acertando.
— Robin! — sentiu as mãos da ruiva segurarem seu corpo, que mal havia percebido a ausência do lobo após os disparos. Seus olhos ameaçavam se fechar, enquanto a expressão de espanto tomava conta da face de Zelena. — Robin, por favor, fique comigo... Não durma, tudo bem? Alguém! Ajudem-me a levá-la ao médico!
Os olhos se abriram vagarosamente, trazendo-a de volta após dias desacordada; despertando-a das trevas que habitavam em seu subconsciente, fazendo-a ter diversos pesadelos com seus ossos se quebrando e com lobos gigantes. Portanto, a arqueira não havia saído totalmente do inferno que estava sua mente.
Por horas sentira seu corpo tremer sob os cobertores feitos de peles de animais, sentia o corpo convulsionar, sentia o corpo queimar como uma doença que se alastrava sem parar. E, durante tudo isso, era notória a presença de sua mãe, Fiona, observando-a no canto do quarto enquanto acariciava o enorme cachorro da casa, que rosnava incessantemente para a loura.
— Mãe... — sussurrou sem forças, erguendo o braço para que sua mãe segurasse sua mão, mas a mais velha não o fez. — Mamãe...
O soar dos passos de Fiona fez-se presente. A morena se dirigia até a janela, observando a enorme lua brilhar no infinito céu escuro, enquanto a loura permanecia sem entender o motivo da distância de sua própria mãe. E, finalmente, ao levar os dedos até o ombro que foi mordido, pudera sentir as linhas de costuras fechando a pele.
— Não! — gritou com todas suas forças ao tomar consciência de que havia sido mordida por um lobisomem e não morrera. — Não pode ser... — sussurrava, dedilhando as costuras. Entendera que era por aquele motivo que sua mãe não queria sua presença, por isso seu cachorro não reconhecia a própria dona. — Mamãe, eu... Sou eu, a tua filha única.
Levou a mão até a cabeça, por sentir uma tontura e, em seguida, avistar um enorme lobo negro na porta de seu quarto. Seus olhos se atentaram à figura, que a encarava e fazia com que ela se encolhesse de medo sob os cobertores.
— Minha filha está morta... — virou seu olhar, dessa vez, para sua mãe. Observou as lágrimas deslizando pelo rosto e suas vestes negras, denotando seu luto. — Minha filha única. — piscou os olhos várias vezes em descrença, até que Fiona se virou para ela, encarando-a. — Minha filhinha morreu quando aquele lobisomem a atacou! Tu não és mais nada minha.
— Estás errada! — respondeu com seus olhos marejados, lembrando-se como sua mãe sempre a amou. Aquela dor era, sem dúvidas, a maior que havia sentido em toda a sua vida. — Eu sou Robin West Skovbye, tua única filha e a melhor arqueira da região. Sou filha de um caçador e uma feiticeira... Fui ensinada a caçar e lutar.
— Minha filha ainda estaria viva se tivesse largado a vida de caçadora e se casado com aquele rapaz, mas não... Achaste que irias conseguir ser invencível! Achaste que serias a melhor em espadas e arcos e flechas, mas lembre-se, Robin, mulheres não nasceram para essas coisas. Tu estás como prova do que digo. — seu olhar de desgosto queimava sob a pele da loba, que ouvia atentamente todas aquelas broncas. — Homens não se atraem por mulheres machos, que acham que podem se virar sozinhas.
— Mas eu posso e irei te provar! — gritou, trincando os dentes.
— Tu és fraca, Robin! — esbravejou enquanto mexia a sopa que estava sobre o criado mudo. Seu maior sonho foi o de ver Robin se casar com um homem para que lhe desse netos, mas ela havia sido sua maior decepção. — Se realmente fosses uma boa arqueira e lutadora, acho que não estarias aqui tendo alucinações e febre enquanto o veneno do lobisomem se alastra por todo teu corpo.
— Irás ouvir o povo dizer que sou uma boa arqueira, mamãe... — sibilou, sentindo como se toda sua vida estivesse acabado. Perdera sua liberdade ao se tornar uma amaldiçoada; perdera sua mãe.
— Tu eras minha filha, mas agora vejo apenas um monstro. — virou-se de costas, pronta para se retirar do quarto. — Cedi este quarto apenas por olhar para teu rosto e lembrar de minha filha, mas quando melhorar quero que vá embora e nunca mais volte!
Romênia — 1891, atualmente
Emma Swan saíra de sua residência às pressas, sentindo com total graça o aquecer do sol em sua pele. As manhãs haviam se tornado a melhor parte do dia, uma vez que agora poderia matar a saudade.
Seu bom humor fez com que desse um dia de folga para que Ruby pudesse ter mais alguns momentos com Zelena. Seu bom humor se baseava ao fato de que assinaria os documentos para a compra de seu lar, e, consequentemente, iniciaria sua mudança o mais rápido possível.
Da loura de cabelos trançados fazia seu trajeto, passando em frente à praça que Roni tanto amava. Os pássaros se alimentando dos grãos de alimentos no chão, a pequena fonte que jorrava água e as árvores... Sem sombra de dúvidas, era um ótimo lugar para se passar a manhã. E, no meio daquela praça, sua visão alcançou algo ainda mais belo que toda aquela praça no outro lado da rua.
Roni. — sussurrou alegremente, apertando os passos para chegar rápido até a morena.
A sensação de vislumbrar a figura da mulher que, por algum motivo, fazia com que seu coração voltasse a bater era melhor que a de estar sob a luz do sol. Andara às pressas, passando pelas pessoas que a olhavam torto apenas por julgarem seu modo de vestir, para que se aproximasse e sentisse seu corpo aparentar estar vivo outra vez.
— Roni? — chamou-a ao segurar em seu braço e sentir as sensações tão vividamente. Sentira o sol aquecer ainda mais sua pele, sentira o aroma doce das árvores e jurara ouvir seu próprio coração bater. Perguntava-se diariamente por qual motivo Roni a fazia se sentir assim, tão viva, tão longe de sua maldição.
A morena virou-se, confirmando para os olhos da vampira que era realmente a pessoa que procurava. Jamais confundiria aquela mulher com alguma outra. Seus traços eram únicos, perfeitos. Desde o nariz fino, até a cicatriz em seus lábios. Seus olhares haviam se encontrado pela primeira vez após uma semana, com um brilho vibrante que evidenciava seus sentimentos.
— Senhorita Swan, passaste na praça sem que eu te apresentasse. — pronunciou-se com seus lábios abertos, num sorriso incontrolável. — O que fazes aqui?
— Em minha defesa, estava te esperando para conhecer a praça, embora tenha acabado apreciando-a nesse exato momento. — estreitou o olhar para os homens e mulheres, que encaravam-nas, fazendo com que começasse a dar alguns passos para se afastarem. — Te vi e não poderia deixar de ao menos te abraçar. — confessou.
— Abriu mão do meu pedido para que passasse um momento comigo? — Roni indagou, olhando-a de cenho franzido.
— Sim, mesmo que esse momento seja curto, já que tenho uns papéis para assinar... — respondeu afobada, percebendo que não conseguia esconder toda sua ansiedade, coisa que conseguira esconder minutos atrás. Surpreendeu-se com o abraço que a morena deu, usando todas as forças que a mais nova tinha, na frente das pessoas.
— Estás ansiosa para algo? — perguntou, separando-se e levantando a cabeça para que olhasse a mais velha nos olhos.
— Hoje irei assinar alguns papéis para que eu possa começar minha mudança. — os orbes castanhos analisavam com atenção cada traço possuinte na loura, alegrando-se por vê-la contente. — E fecharei negócio com um novo cliente!
— Estás passando por várias mudanças... Isso é ótimo, sabe, não se manter parada. — respondeu com sinceridade, mesmo que aquela loura não fosse mais morar na cidade. — Irás se mudar quando?
— Após a assinatura dos papéis, poderei me mudar. Em contrapartida, irei empacotar as coisas ainda e conforme vá empacotando irei enviando para meu novo lar. — a morena mostrava-se orgulhosa de sua amada, mas, de alguma forma, sentia que não poderia mais ver Emma Swan livremente, tampouco teria mais esbarrões na cidade. — Mas, antes, estás me devendo uma ida ao teatro.
— Com certeza!
— Que tal hoje a noite?
— Ih, hoje tenho um jantar com Ivy. — respondeu pedindo desculpas. — Ela já organizou tudo e eu não gosto de desmarcar meus compromissos... Principalmente se for Ivy quem tenha organizado.
— Compreendo. — a vampira sorriu, lembrando-se que queria agradecer a jovem pela ótima amiga que ela era para Roni. — E como tens passado na universidade?
Enquanto davam passos sobre as ruas de calcário, a ligação entre seus olhares era implacável, inquebrável.
— Essa semana tive meus primeiros trabalhos extras na Universidade, assim como o Senhor Peter Jones... — disse, jogando suas longas madeixas para o lado, sem perceber o olhar da loura perambular por todas suas vestimentas. O vestido branco com pequenas camadas azuis tinha pequenos decotes, que às vezes recebia a atenção da vampira, que tentava vencer a necessidade de tocá-la. — Há alguns projetos em que ajudo Whale sozinha. Um deles é secreto, para algum tipo de cura, mas o restante... Tenho usado bastante o microscópio para estudar algumas células sanguíneas e feito algumas cirurgias experimentais. Em breve estarei ajudando em hospitais, Emma!
A mais nova soltou uma gargalhada contagiante, que fazia com que a loura desejasse internamente poder ouvir aquele doce som todos os dias de sua eternidade. A careta que a vampira fez ao ouvi-la dizer que fazia cirurgias experimentais foi o motivo para tanta gargalhada.
— Tens medo de sangue, E-mma? — Roni perguntou pausadamente com a voz rouca, fazendo com que a vampira arqueasse a sobrancelha e sentisse seu corpo estremecer ao ouvir seu nome ser pronunciado daquela forma.
A loura coçou a garganta, recompondo-se. Sentiu seu controle esvair-se e a vontade de dedilhar aquela cicatriz, de pegá-la em seus braços e beijar seus lábios; beijar cada canto do seu corpo oliva. Vagou seu olhar em cada fio de cabelo escuro da mais nova, cada linha de expressão e suspirou em total agradecimento aos céus. Roni tornou-se sua maior felicidade, o motivo para querer criar raízes e viver.
A mais nova sorriu ao ver o desconcerto da loura.
— Para lhe dizer a verdade, eu não tenho medo de sangue. Vejo-me em uma situação difícil quando estou perto de sangue. — soltou um sorriso abafado. — Gosto de sangue, mas fico... — procurava palavras certas para o que diria. Não poderia simplesmente dizer que se descontrolava e bebia sangue caso visse algum em sua frente. — Nervosa, eu acho. E tu, Roni, pressuponho que não te importas com sangue.
— Não me importo se for para salvar vidas. — respondeu-lhe sem pestanejar. Tais palavras fizeram com que a vampira refletisse. Se Roni descobrisse que ela tirava vidas, certamente se decepcionaria...
Com o decorrer dos séculos e com todos os acontecimentos, a linha de suas vidas, além de tudo, era diferente. Tornou-as tão opostas, embora fossem perfeitas uma pra outra; A vida lhes foi tirada, dando uma outra para a loura. Emma tornou-se as trevas, enquanto Roni sempre foi a luz. Emma foi condenada à imortalidade, enquanto Roni morreria algum dia. Emma tirava vidas, muitas vidas que Roni tentava salvar.
Ambas andejavam pelas ruas de Bucareste, conversando sobre variados assuntos enquanto analisavam as construções repetitivas, monótonas. Enormes casas, variadas em construções em tons claros e outras em tons escuros.
— Não achas que as pessoas deveriam ser mais criativas? — Roni questionou, fazendo biquinho e recebendo o olhar confuso de Emma. — Observe estas casas... Todas possuem um mesmo padrão e todos os mesmos tons.
— Sempre reparas em tudo! — Emma sorriu e observou a morena assentir.
— O mundo precisa de mais pessoas críticas. — retrucou erguendo o queixo. — De pessoas que analisam e questionam. Como por exemplo, por quê a sociedade condena alguns tipos de amor? — arqueou a sobrancelha e voltou o olhar para loura, como se esperasse alguma resposta.
— Por não aceitarem o diferente dos costumes.
— Também...
A vampira aliviou-se por longos minutos ao perceber que não chamavam mais a atenção do olhar das pessoas, uma vez que andavam em uma considerável distância. Aliviou-se até virar uma das ruas, próximas à Universidade onde a morena ficaria, e perceber homens com roupas religiosas e até alguns com roupas elegantes, dando-lhe a certeza de que haviam membros de boa postura na sociedade.
— As pessoas condenam as outras, por julgá-las por estarem desobedecendo algo que está na bíblia. Contudo, penses comigo, as pessoas julgam as outras apenas por pecados que elas não cometem. — enfatizou a palavra "pecados". — Usam o nome de Deus para justificar seus atos.
Roni argumentou, dando seu ponto de vista sobre o assunto, um assunto horrendo para as pessoas. Entretanto, para ela, amar não era um erro. Por mais que tivesse sido criada aos caminhos da igreja e soubesse que haviam coisas denominadas erradas nas escrituras, também sabia que ninguém vivia obedecendo todas elas. Muitos optavam pelo adultério, muitos por furtos; mas ela... Ela não escolheu nenhum desses. Ela simplesmente amou.
E amar não era um erro.
— E o que sentes em relação a nós duas? — foi a vez da vampira questionar.
— Sinto que vale a pena. — ela sussurrou timidamente, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Senhorita Swan, não sabes como faz meus dias melhores. Sinto ao teu lado que devo lutar por meus sonhos e mostrar que sou capaz... Sinto-me mais corajosa cada dia que se passa para enfrentar todos os olhares julgadores sobre mim. Eu... eu precisava conhecer alguém como eu. E, para dizer a verdade, conheci alguém muito melhor que eu. Tu és especial, Emma Swan. Ditas como queres se vestir, o que queres fazer e conseguiste sucesso em teus sonhos. Tens a maior empresa de vinhos sem precisar de homem algum. — ditou as palavras sem quebrar o olhar que possuía com a loura, que estava surpresa com todas aquelas pronuncias. — Se vale a pena amar alguém assim? Digo com todas as palavras, no mais profundo do meu coração, que vale a pena. E ainda acrescento o questionamento de quem não se interessaria por alguém como tu.
A loura sorriu, após pararem em frente à universidade, sentindo em seus orbes verdes as lágrimas de emoção. Roni possuía o mesmo pensamento que ela no dia em que levara Lana para seus pais conhecerem.
— De todos os meus sonhos, o único que me resta a realizá-lo é tê-la por todos os dias de tua vida. — Emma Swan afirmou, reverenciando-a e beijando as costas de suas mãos antes de vê-la entrar na universidade.
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