Antigos Planos da Ordem
Romênia – 1889
Traumas, quando ocorridos em nossas vidas, criam cicatrizes que jamais podem ser removidas. Mancham fortemente a alma e o psicológico do ser humano, corrompendo-o de alguma forma. Regina, porém, não demonstrava sequelas visíveis causadas por tudo o que sofrera naquele porão da antiga capela; o que não significava que tudo não havia atingido a menina.
A escuridão transmitida naquele recinto fazia-se presente durante toda a parte de seus dias, como se jamais amanhecesse; o frio da tenebrosidade tomou lugar da sensação de calor da luz solar, e de seus feixes fracos e aconchegantes. O único feixe presente naquele âmbito fechado era o que adentrava por um minúsculo buraco que havia no teto de madeira no qual, consequentemente, acima, tornava-se o piso de madeira da antiga capela em que os antigos membros da ordem puniam seus infiéis.
– Regina, tu sabes por que estás aqui? – uma voz, até então, incapaz de decifrar pela jovem ecoou enquanto o mesmo avaliava-a. A jovem Mills respondeu que não com a cabeça, ao mesmo tempo em que tentava abrir seus olhos contra a luz da lanterna a fim de enxerga-lo.
Um recipiente com água foi dado em suas mãos, fazendo com que despejasse o líquido em sua boca, molhando sua garganta seca e saciando a sede. No entanto, mesmo que molhasse a garganta não seria o suficiente para deixa-la bem, pois o ar lhe faltava cada dia mais, e tudo o que conseguia aspirar era o incomodo cheiro de poeira acumulada.
– É chegada a hora de liberta-la, cara Regina... – dedilhou o rosto macio de sua cativa, observando sua beleza. O homem jamais quis lhe fazer mal, aliás, sempre vira a bela jovem frequentar as missas cobrindo seu rosto com um véu. Ela era irreconhecível, e incomparável era sua bondade. Sendo assim, durante os anos em que a mantiveram no porão da antiga capela, o mesmo tratava de não deixá-la definhar naquele lugar mesmo que tivesse que bater o pé com seus argumentos contra seus irmãos da ordem. – Antes, porém, gostaríamos de saber o que seus pais lhe disseram sobre a ordem.
– Ordem? – Regina olhou dentro dos olhos castanhos do padre, fazendo-o acreditar em sua feição desentendida. – Desculpe-me, mas meus pais jamais me contaram sobre ordem alguma. – uma série de recordações de conversas entre seus pais que escutara sem querer por de trás da parede vieram em sua mente. Às vezes era escutado aquele nome: Ordem do Dragão. No entanto, antes de perder os dois para a morte, nenhum de seus pais lhe disse o que significava aquele nome. – Manteve-me aqui por achar que eu sabia algo sobre essa tal ordem? Responda-me, por que ela é tão importante para ti?
O homem cujo usava vestes de padre, porém, escondia seu rosto num capuz engoliu em seco.
– Jamais quis lhe fazer mal, Senhorita Mills. – finalmente a jovem identificou a voz preocupada do padre que sempre esteve ao seu lado, assim como ao lado de seus pais. – Agora, por ora, te protegeremos até chegar a hora dos planos criados há séculos. Não podemos falhar desta vez... – analisou os lábios da moça, percebendo que faltava apenas a cicatriz para assemelhar-se inteiramente à Lana. Ergueu a cabeça da jovem enquanto, com a outra mão, segurava sua navalha que sempre levava consigo. – No momento certo, tu irás fazer tua parte do plano.
– Não irei ajuda-lo em quaisquer planos que seja. – vociferou.
– Agora tenho a absoluta certeza de que seus pais não lhe contaram sobre a ordem... Acho que para poupa-la de saber o que tu és. – ainda segurando a cabeça de Regina, ergueu a navalha, que refletiu junto ao feixe de luz, revelando o rosto do homem. – Regina, tu irás nos ajudar sem ao menos perceber. O plano foi escrito, e tua face é a prova de que tudo está prestes a acontecer.
– Padre... – balbuciou, sem encontrar palavras certas para pronunciar. –... Senhor Gold, tu me manteve presa aqui por todos esses anos? – numa velocidade impressionante a navalha encostou-se à boca da jovem, fazendo-a sentir o gosto de seu próprio sangue conforme o objeto rasgava profundamente a parte superior de seus lábios.
O grito esganiçado que saia de sua garganta não era incomodo ao Senhor Gold, tampouco aos outros membros que os aguardavam ao lado de fora daquela aterrorizante capela histórica. Pendurou um crucifixo ao pescoço da prisioneira, molhou o corte e pegou uma agulha e linha em seguida, a fim de iniciar seus procedimentos. A agulha perfurou a pele, ocasionando em outro grito de dor. Embora ainda sangrasse, o espete continuava a atravessar a pele diversas vezes, ligando a pele uma à outra até junta-las novamente, enquanto o liquido quente mesclava junto às lágrimas que caiam em seu rosto.
– Está perfeito. – cortou a linha, analisando o tamanho do corte feito na pele e pensando em como ficaria a cicatriz. Ela deveria ser perfeitamente idêntica à Lana.
O padre molhou seus dedos na bacia de água benta, respingando no rosto de Regina. Iniciou-se uma série de rezas em latim ao mesmo tempo em que gesticulava sua mão, fazendo um sinal da cruz no ar. Regina passara dois anos presa naquele local, e nunca descobriu o que era a ordem; decidindo descobrir o que era, e manter-se longe de todos eles.
– Amém! – exclamou o padre, desprendendo os pulsos dela. – Siga-me, cara Regina. – o homem iniciou seus passos até o meio daquele recinto, logo o som do ranger da escada de madeira fez-se presente. – Sabes que sem mim tu não conseguirás sair daqui. Vamos, siga-me!
Regina, ainda trêmula, levantou-se e seguiu os passos de Gold. Ao saírem do porão, caminharam por um pequeno corredor até chegar ao lugar – o mesmo em que Jennifer despertara durante sua transição – onde há quase quinhentos anos ocorriam missas. Morcegos passaram a usar a ermida a fim de repousar durante o dia, e os pombos faziam ninho e procriavam ali, no entanto, a visão da igreja ainda podia ser vislumbrada: os vitrais estilhaçados estavam empoeirados, mas ainda era possível ver quão belo era; os castiçais distribuídos em todos os cantos; e as estátuas perfeitamente moldadas. O único defeito a ser posto àquele local era a mesa provisória com objetos de tortura no qual estavam ali desde a morte de Jennifer.
– Não temas, querida. – Gold sorriu, levando-a por fim ao lado de fora.
Uma fileira com algumas pessoas aguardavam-vos, porém seus rostos não ficavam à vista, pois todos usavam um véu preto que escondia a face.
– Regina, na hora certa tu colocarás teu plano em prática. – repetiu. – Agora, tudo o que aconteceu aqui será esquecido. E se contar a alguém, nós iremos atrás de ti. – ameaçou-a. – Agora vá!
– Vós... – balbuciou trêmula, respirando fundo para conseguir dizer tudo de uma vez. – Vós achais que tudo o que fizeram foi em nome de Deus, mas digo-lhes que se este foi o objetivo, saibam que ele está muito decepcionado. – continuou, olhando para cada uma das pessoas anônimas. – Até um asno conseguiria perceber que acham que estão fazendo tudo em nome da igreja, aliás, trouxeram-me à capela; rezaram diversas vezes pela minha alma... Todos vocês estão arrodeados por trevas! – esbravejou, porém, ainda possuía parte do seu tom de voz doce. – No entanto, creio que há perdão para cada um; creio que...
– Creio que não sabes a verdade, Senhorita Mills. – uma das pessoas pronunciou-se, interrompendo-a. – Creio que não sabes que teus pais sabiam que tu estavas destinada a isso.
Impossível! – questionou-se sobre toda a sua vida. Seria capaz de seus pais entregarem a única filha para uma ordem no qual se julgavam deuses? – Teria, então, vivido toda a minha vida numa mentira?
Regina pôde sentir o olhar de seus rivais contra si, no entanto nenhum moveu para ataca-la. Seus rostos continuavam cobertos por um véu negro, mostrando apenas a cor de suas peles por conta dos feixes solares que ultrapassavam a renda. A jovem, então, chegou à conclusão de que ela certamente era importante para todos aqueles – pelo menos por ora – decidindo adentrar a mata.
Romênia – 1891
Por mais que a presença daquele homem não fosse bem-vinda, Emma sempre soube que ele retornaria. Ele retornaria quantas vezes fossem necessárias mesmo que lhe custasse a vida. Seus instintos lhe apontavam o lado ruim de cada pessoa, e sentia que aquele homem não era confiável desde o dia em que fora libertada do caixão.
– Boa noite, Senhorita Morrison... – seus olhos azuis escuros retratavam o pedido de um acordo, ao mesmo tempo em que combinavam perfeitamente com seus cabelos louros. – Achastes mesmo que retornariam à Romênia sem que eu soubesse? – levantou-se, revelando seu rosto que se escondia na penumbra.
O homem permaneceu com sua postura extremamente impecável, assim como de todos os outros ambiciosos. O que o diferenciava era o fato de conhecer a história da vampira; o fato de manter-se sempre em alerta à presença do demônio da noite.
– Já conheceste Lana dessa nova Romênia? – perguntou já sabendo a resposta. Seus dedos tamborilavam ao cabo de sua bengala de apoio. – Antes, digo-lhe que ela está longe de seu alcance, Jennifer. – continuou. Ele não iria contar tudo o que sabe sobre Regina ou sobre as poucas coisas que descobrira com relação à ordem, porém via a obrigação de alerta-la. – Sei que já desconfias que a antiga ordem a qual te condenou, assim como assassinou e forjou o falso suicídio de Lana, esteja presente aos redores por todo este tempo... Sabes que eles sabem quem a moça é. Sabes que eles esperam que tu vás atrás de seu antigo amor, não sabes?
– Como sabes que Lana me deixara uma carta? – perguntou, fechando suas próprias mãos com todas as suas forças a fim de controlar toda a sua raiva. Tocar naquele assunto feria como se tudo fosse recentemente, embora realmente fosse recente para a loira.
– Eu lhe disse que sou fascinado pela lenda de Drácula... – respondeu, divertindo-se. – Achas que um simples pesquisador encontraria tão facilmente o antigo local em que enterraram alguém que desejavam que jamais fosse libertado? – perguntou com seus olhares fixos e atentos para a reação de Jen às suas próximas perguntas. – Ou achas que é mera coincidência a semelhança das duas mulheres? Perguntou-se o que aconteceu com sua pequena filha?
– Diga-me imediatamente o que queres! – vociferou, transportando-se numa velocidade inumana ao homem que a desafiara. – Minha filha manteve-se segura! – rosnou, levantando a gola do terno que o sujeito trajava, pressionando-o contra a parede. – Eu garanti de que ela estivesse bem!
– Como podes ter certeza disso? – mantinha-se calmo, com seu sorriso em escárnio moldado em seus lábios. – A criança não podia se manter a salvo por toda a vida, não é? Pense comigo, Jennifer. Após a suposta morte de Drácula, ou seja, após te prenderem naquele caixão, o que achas que aconteceu com a pequena menina? – Swan por fim soltou o homem, fazendo com que o mesmo ajeitasse seu terno e desse um sorriso vitorioso. No entanto, as órbitas esverdeadas viraram para a janela, observando a lua, perguntando-se se deveria crer nas palavras de Whale.
Por todos os séculos que passara trancada no esquife feito exclusivamente para que não conseguisse sair, os únicos momentos em que a dor física não lhe feria eram quando sua mente vagava à pergunta que perturbava seus pensamentos até os dias de hoje. Sua pele gélida sentia a prata queimando sua carne que definhava cada dia mais, ao mesmo tempo em que sua mente permitia que fizesse inúmeras perguntas: o que realmente acontecera com Lana? Como deveria estar sua pequenina? Há quanto tempo mantinha-se aprisionada naquele tormento?
– Diga-me, o que fazes aqui? – era notório o incomodo em seu tom de voz, apenas demostrando o quanto aquilo ainda a afetava. – Não viestes apenas me dar as boas-vindas, não é, Doutor Whale?
– Sabes que eu, além de pesquisador, sou professor de medicina. – continuou. – Qualquer experiência alcançada é lucro, então eu pensei... Por que não usa-la como cobaia em um de meus estudos? – contou-lhe meias verdades. – Jennifer, qual a sensação de sentir o calor do sol em sua pele, ou como deve ser presenciar um pouco o dia a dia da moça que certamente há de conquistar seu coração? Meus testes dando certo, eu conseguirei fazer com que tu andaste temporariamente à luz do sol. – o homem era habilidoso e persuasivo mesmo sabendo que Jen vivera muito para saber quem mentia ou não. Porém, aquela havia sido sua maior obra de encenação, além de ter certa convicção de que seus estudos poderiam dar certo, nem que por dez minutos. E era aquela pequena certeza que fez Emma aceitar seu pequeno acordo.
O homem colocava-se a desafiar a amabilidade da loira, sabendo que a mesma não se opunha contra ele. Arriscava a sorte apenas por achar que a mulher iria se controlar apenas por querer se manter longe dos olhares da população e da imprensa, assim como ele também sabia até mais que a própria Jennifer, tornando-se alguém mais útil que Ruby.
– Emm, como pôde aceitar um acordo com este homem? – desacreditada, Ruby repreendeu a decisão da amiga, pois ambas estavam cientes de que o doutor não lhes contara tudo.
– Não acredito inteiramente em suas palavras, Doutor, porém consigo enxergar em seus olhos a quase inexistente fé. – respondeu, olhando profundamente à imensidão azul de seus olhos, deixando-o tão pálido que poderia jurar que vira uma assombração. Um sorriso discreto, porém, perverso delineou seus lábios ao mesmo tempo em que suas órbitas verdes tencionavam-se ao pescoço do homem. – Estou dando um único voto de confiança, e espero que não me desaponte. – o louro, então, engoliu em seco, pela primeira vez temendo à criatura sombria da noite. – Responda-me, Whale, como pretendes me ajudar?
Estremeceu, guiando-se pouco para trás, esbarrando em alguns objetos expostos acima da escrivaninha de madeira.
– Um soro. – balbuciou, respondendo num tom misto de afirmação e pergunta.
Como um soro há de ajudar? – Jennifer perguntou-se internamente, assim como Ruby. A calada tomou conta daquele âmbito, fazendo com que Whale se visse obrigado a explica-las.
– E... Eu acho que sou capaz de, com meu conhecimento, conseguir criar um soro capaz de permiti-la andar temporariamente na luz do sol. – tentou explicar, tropeçando as palavras ao pronuncia-las. – Tenho um laboratório em minha universidade, onde eu possa criar o soro com segurança sem que o deixe cair em mãos erradas.
– Está confiante de que conseguirás, Doutor. – virou-se de costas, direcionando-se à poltrona que havia naquele cômodo, no qual era uma sala afastada o suficiente para que Ruby e Emma tivessem suas conversas sobre seus planos para com a ordem. – Sabes-te que, não aceitarei falhas em teu soro. Drácula, ou melhor, Jennifer não há de aceitar erros ou tentativas de enganar-me. Jamais aceitei isso! Espero que estejamos de acordo que, se de alguma maneira, descobrir que tu és um traidor ou que teu soro não tem sucesso, irei fazer algo que deveria ter feito há tempo.
– Irei surpreendê-la, Senhorita. – estendeu sua mão para dar-lhe um aperto de mãos a fim de despedir-se, porém não recebeu o afeto em troca.
(Cause soulmates never die)
(Porque almas gêmeas nunca morrem)
(Soulmates never die)
(Almas gêmeas nunca morrem)
(Never die)
(Nunca morrem)
Os finos lençóis de seda encontravam-se úmidos devido ao suor que causou durante a noite. Tanto o suor que brilhava em sua face, quanto às olheiras indicava sua péssima noite de sono. E, mesmo que estivesse se acostumado com seus pesadelos rotineiros, nunca passava a sensação de pânico em seu interior; a sensação de que estava com seus pulsos acorrentados outra vez, num lugar fechado onde ao menos conseguisse respirar.
– Gina... – disse preocupada, abrindo as cortinas para que a luz solar adentrasse pelas janelas. – Outro pesadelo? – aproximou-se de sua amiga, que estava sentada à penteadeira observando seu próprio reflexo. – Diga-me qual foi o pesadelo? – dedilhou o rosto macio de Regina, enquanto colocava os poucos fios que se grudaram ao suor para trás.
– O mesmo de sempre. – sussurrou, encostando sua cabeça à mesinha da penteadeira, deixando seu choro um pouco mais audível.
– Sempre tens um pesadelo. Um único pesadelo, minha amiga. – levantou a cabeça da jovem, enxugando as lágrimas. – O que aconteceste contigo para ter tantos pesadelos repentinos?
Após seu período naquela capela, Regina jamais contou a ninguém sobre o que acontecera. Aquelas pessoas haviam lhe dito claramente que, caso dissesse a alguém, iriam atrás dela. A jovem poderia simplesmente desabafar, dizer todos seus conflitos internos, pois sempre soube que Ivy era de confiança; sempre soube que Ivy estaria ali ao seu lado. No entanto, sentia que de qualquer forma eles saberiam de sua traição. Regina sabia que se revelasse tudo o que aconteceu, ninguém acreditaria que um padre seria capaz de tamanha atrocidade.
– Ivy... – Regina, então, levantou sua cabeça e secou suas lágrimas, que mancharam seu rosto. Decidiu levar sua mente à desconhecida que aparecera duas noites seguidas. –... Eu conheci uma pessoa. – sussurrou controlando o sorriso, ganhando toda a atenção de sua amiga. – Uma pessoa completamente diferente de todas as outras que eu já conheci, Ivy. Eu... – suspirou, lembrando-se das órbitas verdes. – Eu senti como se pudesse confiar, embora, ao mesmo tempo algo me alertasse para que manter-se certa distância.
– Regina Mills! Tu estás apaixonada? – acariciou o rosto de sua amiga, entreolhando ora para as órbitas âmbar, ora para os lábios ressecados. – Diga-me onde e como o conheceu...
– Céus! Ivy, eu não estou apaixonada! – exclamou, perguntando-se o porquê Emma Swan não saía de seus pensamentos. Questionando-se de tudo o que aprendera em sua vida. – E... Não é ele, Ivy.
Ivy engoliu em seco, respirando fundo para não demonstrar sua decepção. Por dois longos anos, desde que sua mãe trouxera Regina para morar na pensão, sentiu um afeto enorme pela companheira. Alimentou uma ilusão de que partilhariam suas vidas juntas até seus últimos dias, no entanto sempre achara que sua melhor amiga gostava de homens. Aliás, a mesma nunca demonstrara não gostar.
– Ela me confundiu com outra pessoa. – lembrou-se do quão feliz ficou a loira ao pensar que era sua falecida esposa. Lembrou-se, também da sensação de seu corpo arrepiando apenas ao sentir um mínimo toque. – Parece que ela é viúva, ou que perdeu um grande amor. Eu senti o seu sofrimento apenas com um olhar, Ivy. E... Embora pareça que as trevas a cerca, seus olhos exalam confiança. Era como se eu pudesse confiar totalmente nela.
– Tu... Gostas de mulheres, e nunca me contaste? – tentando disfarçar a voz embargada, virou o rosto. Lembrava-se da primeira vez que viu Regina, desacordada em seus braços. Lembrava-se de como cuidou com toda sua dedicação para cuidar da jovem; de como tratou os pontos no qual haviam feito em péssimas condições em sua boca.
– Eu não gosto de mulheres. Eu apenas fiquei intrigada com a moça. – tentou aproximar-se de sua amiga, mas sentiu que a mesma não queria olhar em seus olhos naquele instante.
– Regina, se tu gostas ou não, eu não tenho nada com isso. – respondeu ríspida, virando seu olhar para a companheira. Tudo o que deveria importar era ver a felicidade estampada em sua face, contudo era difícil imagina-la com outra mulher. – Eu... Eu estou muito feliz por saber que encontraste alguém. Só não fazia ideia de que essa era sua preferência. – interrompeu sua própria fala para não dizer mais do que deveria.
Nem Regina sabia. Ainda mal conhecia a mulher a ponto de poder afirmar que estava apaixonada, mas não era tola de fingir que nada sentia pela mesma.
– Agora vista uma roupa, pois lhe farei companhia até a biblioteca. – retirou-se, então, de seus aposentos a fim de tomar um ar fresco e libertar sua mente de todas suas decepções.
(...)
O sino da biblioteca soou ao adentrar junto de sua amiga. Respirou fundo, sentindo o cheiro dos livros e de papelaria – tais coisas que ela adorava. A jovem Mills deu seus passos para adentrar mais a fundo na biblioteca, deixando Ivy Belfrey para trás.
– Belle! – cumprimentou a bibliotecária que tentava ajudar uma moça ruiva em suas leituras.
– Regina... – sorriu. Estava acostumada a ver aquele rosto em sua biblioteca, aliás, ela era uma consumidora frequente daquele recinto. – Já terminou de ler Romeu e Julieta?
– Claro! – exclamou, direcionando-se a prateleira em que o livro pertencia, colocando-o no lugar. – E estou retornando a fim de encontrar um livro em que eu possa ler para a faculdade.
A mulher ruiva, por mais que permanecesse calada, prestava muito bem a atenção na conversa das duas. Zelena Mader era uma moça de alta sociedade, herdeira da fortuna de seus pais e completamente obcecada por livros e lendas antigas.
– Fique a vontade. – dirigiu a palavra à Regina, ao mesmo tempo em que buscava na prateleira o livro que a ruiva estava procurando. Era tão difícil alguém querer ajuda para encontrar livros em que citavam contos, lendas ou histórias antigas, que mal recordava em qual fileira o livro ficava. – Aqui está! Lendas sobre nosferatu e lobos... Eu tinha bastante livro nesse gênero, mas poucas pessoas procuram sobre, então a maioria está no estoque.
– Irei lê-lo. – respondeu séria. – Queria também sobre religiões antigas da Romênia. E... Outro dia, poderias mostrar os outros livros?
– Com toda certeza, Senhorita Mader. – percebeu a presença de Regina ainda ali, então, aproximou-se da mesma junto com a ruiva. – Esqueci-me de apresentar-lhes... Zelena, esta é Regina Mills. Regina, esta é Zelena Mader.
– Prazer em conhecê-la, Senhorita Mader. – estendeu a mão gentilmente, cumprimentando a desconhecida.
– Regina... – sussurrou, recordando de sua face em algumas folhas de livros sobre Drácula que lera para espairecer. A esposa que se suicidara... A tão adorada face que o maior demônio da noite mais almeja. E aquilo apenas a enchia com mais e mais perguntas, chegando à conclusão de que Romênia de fato era o lugar perfeito para fanáticos em lendas. – Prazer em conhecê-la, Regina Mills.
Outra vez o sino da porta tocou, indicando a entrada de Ruby Luccas. Por mais que tivesse concordado a se juntar à vingança por Lana, a jovem jamais imaginara ficar tão ansiosa por saber mais sobre a antiga vida de Jennifer. Havia despertado ainda cedo, despedindo-se de sua mestra, e agora estava na biblioteca novamente. E assim seria por muitos outros dias.
– Senhorita Luccas... – a mesma bibliotecária que havia a atendido no dia anterior cumprimentou a jovem. No entanto, dessa vez ela estava atendendo uma jovem ruiva, que a encarou minuciosamente. As órbitas verdes de Ruby chocaram-se aos orbes cor de safira que embelezavam ainda mais a face de Zelena, fazendo-as permanecer num silêncio temporário. – Em que posso ajuda-la? – ainda ao longe, Belle perguntou enquanto anotava todos os livros que haviam sido pegos naquela manhã.
– Desta vez eu gostaria de lendas locais. – respondeu.
– És mesmo obcecada por lendas, não é? – perguntou em tom brincalhão, tirando um sorriso de todas as três. Belle era, sem dúvidas, uma pessoa extremamente simpática, o que lhe ajudava bastante na profissão de bibliotecária. – Desculpe-me a demora, é que estou ainda atendendo a senhorita Mader... Já te atendo, okay?
– Deixe que eu a ajudo, Belle. – Regina ofereceu a ajuda, recebendo a autorização da simpática bibliotecária. – Siga-me, por favor. – Ruby seguiu os passos da mulher, sem parar de se compara-la com o desenho de Lana no livro que lera. Lembrou-se de Emma mencionar uma mulher que desafiava todos seus raciocínios. Roni... Ruby precisava descobrir seu nome verdadeiro. Seguiu os passos de Roni até parar numa das últimas prateleiras, e observar a mulher se abaixar a fim de procurar o livro. – Este livro é muito bem escondido... Jamais parei para ler, e agora que vejo muitas pessoas se interessando começo a achar que estou perdendo algo incrível. – puxou o livro da prateleira, entregando-o para Ruby.
– É um maravilhoso livro para fanáticos por lendas, Senhorita...?
– Mills. – Regina respondeu inocentemente a pergunta de Ruby. – Regina Mills. – completou.
– Sou Ruby Luccas. – cumprimentou-a. Um sorriso formou vagarosamente em seus lábios, conseguindo esconder sua felicidade em poder saber o nome verdadeiro da mulher que tanto intrigou sua mestra.
Victoria Belfrey encontrava-se atenta e assustada com o rosto que avistara noite anterior com Regina. Desde sua infância sempre esteve ciente de qual seria sua missão e o quão difícil ela poderia ser. De fato, todas as escritas antigas em que profetizavam o retorno de Jennifer estavam certas, e agora deveria manter sua filha distante de tudo o que estava por vir.
Andava sobre o salto alto, caminhando pelas ruas asfaltadas, mantendo seus olhos atentos a cada canto. Mesmo sabendo da incapacidade que os vampiros tinham de andar na luz do sol, todos sabiam que lobos atacavam durante a noite, no entanto apenas os membros da ordem sabiam que os mesmos eram lobisomens: pessoas amaldiçoadas séculos atrás por outros membros, e até hoje esses condenados metamorfoseiam para um lobo durante as luas cheias, matando qualquer pessoa que encontra em seu caminho. E, por estar ciente de que também possuía amaldiçoados que podem andar na luz do dia, manteve-se discreta, adentrando aos becos até chegar num ponto de encontro.
Nos fundos do teatro havia uma porta em que levava até o local em que a Ordem do Dragão se reunia. E lá estava ela, adentrando a presença de todos eles.
– Lindo dia de sol! – exclamou sorridente, observando o olhar cortante de todos aqueles. Estremeceu e permaneceu estática pela presença deles, e Gold era o que mais lhe incomodava. Entreabriu a boca, mas palavra nenhuma saía.
– Senhora Belfrey, não temos o dia inteiro. – Gold chamou sua atenção. – Eu tenho que retornar à igreja o quanto antes.
– Bom... Desde minha infância estive destinada a cumprir todos os passos que minha família tem tomado há séculos. – pausou a fala, encarando os olhares interessados por aquele assunto. – Fiquei com a árdua tarefa de abrigar Regina, assim como não parecer ameaçadora. Vós sabeis que por esses dois últimos anos me dediquei a esta missão... No entanto, ela jamais mostrou quaisquer defeitos, quaisquer deslizes ou quaisquer paixões. Até agora. Como todos já esperávamos, ela cumpriu sua parte do plano, e, meus caros irmãos, Jennifer retornou à Romênia.
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