Amizade
Romênia — 1456 — Castelo de Bran
— Eu te amo, meu amor... — sussurrou, pegando as delicadas mãos de Lana, enquanto olhavam as estrelas da mais alta torre do castelo. —... Eu sempre volto para ti.
— Por favor, Jen, não vá! — pediu Lana com lágrimas nos olhos.
Jennifer havia acabado de dar a notícia de que se ausentaria novamente para outra batalha contra seus maiores inimigos: os turcos. O Centro-Sudeste da Europa havia sido invadido com vasta força, consequentemente, invadindo a Romênia e ameaçando toda a Cristandade, a qual a Ordem defendia. O exército inimigo havia se erguido com grande potência, e, provavelmente, armavam ciladas para o exército de Jennifer, ou, como mais conhecida, Draculea.
— Meu amor, eu tenho que nos proteger... — dedilhou cada traço esculpido à face de Lana. — Sabes que lutarei e vencerei cada batalha sempre que pensar em ti e em Alice. — disse selando um beijo estalado sobre as costas das mãos de sua esposa. — Meus pais estão em viagem, mas Killian estará aqui para protegê-las... Os meus tesouros mais preciosos.
— Dessa vez é diferente, Jen! — surtou, desvencilhando o toque de ambas. — Eu tenho um mal pressentimento sobre esta batalha...
Lana abaixou a cabeça, afastando-se da beirada dos balaústres da janela, abraçando o próprio corpo contra o frio daquela sombria noite estrelada.
— Algo de ruim acontecerá, eu sinto... — levou a mão ao peito, sentindo o aperto em seu coração pedindo para que a loura ficasse. — Eu não conseguiria viver sem ti. — afirmou olhando diretamente aos orbes esverdeados. — Não há vida sem ti, meu amor.
Jennifer caminhou em sua direção, abraçando-a com força, e deitando-se sobre o corpo de sua adorada esposa.
— Há Alice... — respondeu enrolando os dedos entre os cabelos negros.
Lana riu radiante, mostrando seus alinhados dentes ao formar um belo sorriso.
— Alice... Nossa preciosa pérola. — distraiu-se falando sobre a filha que tinham. — Lembra-me a ti, sabes? No entanto, digo sério quando falo que não conseguiria encontrar a vida sem ti. És meu verdadeiro amor, Jennifer. — sentiu os lábios de Jennifer depositando diversos beijos em seu rosto, fazendo-a soltar uma gargalhada e por uma de suas mãos no rosto. — Meu deus! Deixe-me dizer o quanto te amo!
— Podes dizer enquanto aproveitamos nossa última noite... — sussurrou em seu ouvido.
— Jen, meu amor... — chamou preocupada, com a voz embargada.
A preocupação em perder seu amor era tamanha, que, ao ver Jennifer partir com os soldados, parte de seu coração iria junto. O pressentimento ruim e todas as informações sobre invasões apenas ajudavam a se preocupar ainda mais.
Ao perceber que sua esposa lhe falaria algo a mais sobre a batalha, a loura imediatamente sentou-se na cama.
— E a Ordem? Onde estarão? — indagou.
— Não te preocupes, meu amor, Robin Losckely Mills está em uma cidade vizinha. Ele não te machucará em minha ausência... — respondeu, lembrando-se que não sabia a data que o homem retornaria, podendo, então, pegá-las de surpresa a qualquer momento. —... De qualquer forma, Killian não sairá de teu lado. Alguns outros membros me acompanharão. O restante estará na nova igreja da cidade.
— Deixe-os aqui! — pediu, deixando Jennifer confusa. Lana possuía um enorme medo pelos membros da ordem, então por que estava lhe pedindo para que todos ficassem? — Eles poderão tentar algo contra ti.
— Quer que eu os deixe aonde? — perguntou.
— Aqui na Romênia, mas, por favor, não os leve contigo. — pediu, abraçando-a. A chance de a Ordem armar algo contra Jennifer em uma batalha era enorme, ambas sabiam disso. No entanto, era possível tentarem algo contra Lana se permanecessem na cidade. — Sei que não quer que eles me machuquem... Killian está aqui, tu mesma dissestes. Eu escolheria mil vezes mantê-la protegida, meu amor.
— Lana, nenhum deles me fará mal, aliás, são poucos contra mim e um exército enorme ao meu favor. Agora, por favor, não te preocupes, pois não suporto vê-la assim...
— Estarei aqui te esperando... — disse e lhe deu um selinho. — Volte assim que terminar a batalha, por favor.
— Eu te amo, Lana Parrilla. — respondeu, colocando-a sentada em seu colo, em seguida, beijando-a.
— Eu te amo.
Jennifer permaneceu calada por um tempo, desejando poder ficar junto a família, desejando não se ausentar. Despertou apenas ao sentir Lana empurra-la contra a cama, permanecendo sentada em seu colo.
— Tu és perfeita, Lana. És tudo o que sempre desejei. — declarou, segurando uma das mãos da morena, enquanto, com a outra, dedilhava a cicatriz sexy nos lábios de Lana.
— Vamos aproveitar a nossa última noite... — Lana sussurrou, e Jennifer assentiu ainda dedilhando a cicatriz.
A morena fechou os olhos ao sentir o quente toque provocante sobre sua pele, como se lhe pedisse um beijo. Não suportando a ausência de seus lábios, Jennifer puxou-a pelas curtas madeixas negras, beijando-a. Era maravilhosa a sensação de contemplar aquela visão. Os fios negros desgrenhados caindo sobre seu rosto, o sorriso malicioso que lhe dava toda a vez que estava excitada, a luz dos candelabros refletidas em suas órbitas castanhas.
Cada vez que Lana transcorria seus dedos sobre as coxas de Jen, observava a loura arquear as costas por debaixo do pano da longa roupa de dormir. Os cachos dourados bagunçados sobre a cama, os orbes escuros, aparentando um par de esmeraldas. A cada piscar de seus olhos, poderia jurar que tudo não passava de um sonho. Jennifer Morrison era seu sonho. Era sua proteção. Era seu amor. Mais um fechar de olhos, e sentiu as mãos fortes de Jennifer apertarem seus seios por cima da roupa.
As luzes fracas pairavam sobre elas. A brisa frígida adentrava ao quarto, fazendo-as ficarem embaixo dos lençóis de seda branco, aquecendo-se com o esquentar do pano e com o calor de seus corpos.
— Mamães! — ouviram Alice chamar, e, em seguida a porta do quarto se abrir.
Com a aparição inesperada da pequena, Lana deu um salto para trás, caindo da cama. Quando Killian surgiu, logo atrás da filha, deparou-se com Lana gargalhando no chão, enquanto Jennifer cobria parte de seu corpo com o lençol de seda.
— Suas mamães querem aproveitar a última noite, minha pequena. — disse Killian escondendo a risada.
— E eu quero mimi com as mamães. — respondeu Alice, pulando no meio da cama.
— Minha pequenina, sua mamãe irá se ausentar para lutar amanhã. Ela precisa descansar com sua outra mamãe. — Killian explicava, sem sair da porta do quarto.
— Mas eu quelo mimi com elas!
— Podes ir dormir, Killian. — respondeu Lana, levantando-se do chão. Deitou-se do outro lado da cama, enlaçando Alice num forte abraço. — Não vejo problema algum em nossa pequenina dormir conosco hoje.
— Tens certeza?
— Absoluta. — agora Jennifer respondeu. — Hoje queremos dormir juntas, abraçadas. — Killian assentiu e sorriu. — Boa noite, Senhor Jones.
— Boa noite! — respondeu antes de ameaçar fechar a porta do quarto. Virou a atenção para o quarto escuro, emocionando-se em ter encontrado uma ótima família para sua filha.
Logo, fechou a porta, deixando Alice sentindo o amoroso abraço de Lana e Jennifer, protegendo-a de todo o mal que havia lá fora.
Romênia — 1891
Há uma década e meia, Ruby Luccas jamais imaginaria que as lendas sobre o sanguinário Drácula foram inacreditavelmente alteradas, tampouco que conheceria a verdadeira pessoa a quem as lendas se referiam. Nunca passara em sua mente que Drácula, na verdade, era uma belíssima mulher proibida de amar novamente; separada cruelmente de sua esposa, e condenada a viver eternamente apenas com recordações.
Ao conhecer Jennifer Morrison, Ruby Luccas obteve total consciência de que jamais teria um dia de descanso, mesmo que a vampira lhe concedesse uma folga. Retornar à Romênia requeria um trabalho noite e dia, camuflando-se entre os humanos, sem que a Ordem desconfiasse de que Jennifer Morrison estava de volta. Principalmente, de que o demônio da noite conquistara uma aliada.
E era exatamente isso que fazia naquele instante: caminhava entre a floresta, levando consigo o envelope escarlate que Emma pedira para encaminhar à Roni.
Seus passos mantinham-se largos, assim como sua postura impecavelmente reta, e o rosto coberto por sua capa longa e vermelha.
Deveria eu, apanhar algumas flores para Belle e Zelena? — perguntou-se entre sussurros, semicerrando os olhos em direção às árvores. — Qualquer cuidado é pouco, principalmente ao ser vista por estas redondezas. — som de passos foram dados ao seu redor, sendo assim, apanhou sob seus pés um galho de árvore e o ergueu em posição de ataque.
— Quem está aí? — gritou, sem obter resposta alguma. — Malditos membros da ordem... — esbravejou sussurrando e voltando para a sua caminhada.
O som fraco da solitária brisa fora substituído pelo barulho de fracos galhos se quebrando entre as folhas, fazendo-a sentir seu coração acelerar ao notar a presença humana atrás de si. Apertou as próprias mãos numa tentativa falha de se acalmar, enquanto fechava os olhos e respirava fundo ao repetir uma mesma pergunta em sua cabeça: Quem estava ali?
Pudera ser Gold, o padre, ou qualquer outro membro não revelado da Ordem Do Dragão. — respondeu-se mentalmente, preparando-se para virar e olhar cara a cara seu adversário. — Emma Swan sempre dissera quão ingênua sou, assim como dissera sobre como A Ordem era os olhos de Bucarest. Não me seria surpresa caso algum deles tenha descoberto todos os planos arquitetados por anos.
— Senhorita Luccas, — ao escutar aquela conhecida voz, Ruby suspirou aliviada. No entanto, tinha consciência de que teria que mentir para uma das pessoas que jamais quis esconder algo. — Mas que adorável surpresa!
— Zelena? — perguntou serenamente, num baixo e calmo tom de voz, virando-se para a mesma. Aliviou-se, embora estivesse claramente surpresa com a inesperada presença de Zelena. A ruiva, no entanto, fingiu-se de espantada ao esbarrar com a morena que lhe conquistara na biblioteca. — O que fazes por aqui?
Ruby não pôde deixar de sorrir quando seus olhos pousaram à combinação mais perfeita de olhos safiras e um médio cabelo ruivo. A claridade provocada pelo sol parecia deixá-la ainda mais bela, e seus cabelos num tom incrivelmente avermelhados, desenhados em belos e longos cachos.
— Pode parecer loucura, mas, tu que me conheces, sabes que sou fanática por lendas locais. Aventuro-me em leituras sobre o assunto, e acabo me esquecendo de viver um pouco. — Zelena respondeu sorrindo, porém, mentindo. Ruby não aparentava ser uma ameaça, e, sim, uma apaixonada. No entanto, seus segredos necessitavam por serem mantidos, e infelizmente não poderia dividi-los. — Minha prima costuma andar por essas matas. — explicou agitada, gesticulando as mãos, sentindo um suor de nervosismo sair de seus poros. — Ela disse que o amanhecer visto pela floresta é ainda mais impressionante. Achei incrível ver o sol acordar, e seus feixes solares passarem pelos espaços das folhas... — disparou, dando passos para frente. — E tu, o que fazes por aqui?
— Venha comigo! — segurou o braço de Zelena, não a dando outra opção, a não ser deixar-se guiar por Ruby. Caminharam por trilhas, passando por troncos de árvores pelo caminho, rasgando a orla de seus vestidos ao esbarrarem em alguns galhos. Finalmente pararam. — Olhe, Senhorita Mader... — apontou para o enorme campo florido, assim como Emma descrevera. — Venho aqui nessa manhã para apanhar alguns tipos de flores. Uma amiga me pediu esse favor, e pensei: por que não recolher algumas para Zelena e Belle?
— Para Belle também? — o sorriso não pôde ser contido, aproximando-se face a face de Ruby, que possuía um belo par de olhos verdes.
Negar-se aos sentimentos que nutria por aquela mulher seria um erro. Um erro que jamais se perdoaria caso o cometesse, mesmo sabendo que seus planos acabariam com o coração da jovem. O amor havia lhe pregado uma peça, que jamais pensou enfrentar.
— Oh, sim, Belle também é uma pessoa muito importante. Tu, Belle e minha amiga são as três pessoas que mais me importo em toda a vida. — ziguezagueando, seus olhos percorriam vagarosamente por cada canto traçado no rosto de Zelena. — Não imaginava que em uma semana que conheço vos, vós entrariam certeiramente em meu coração.
— Acredites, tu e Belle são as pessoas que mais amo em minha vida. Daria minha vida em troca da de vocês... — levou sua mão direita até o rosto de Ruby, sentindo seu corpo esquentar, e não evitar um sorriso apaixonado. — Só não as coloco em primeiro lugar, pois minha prima é a minha prioridade. — explicou embaraçada, respirando fundo em preocupação pelo estado da prima que tanto cuidara.
— Todas temos algum familiar para colocar em prioridade, Zel...
Embora Ruby Luccas não possuísse familiares de sangue, alegrava-se por encontrar alguém a quem pudesse chamar de família. Emma Swan tornou-se sua família, tornou-se a pessoa que ouvia seus choros, tornou-se a pessoa que a protegeria. Emma Swan era sua prioridade.
— Quem é tua prioridade, Ruby? — perguntou imediatamente sem pensar, aproximando seus corpos até sentir o calor emitido pela morena.
Aquele jogo de aproximação para conhecê-la estava saindo totalmente de seu controle, escorregando por entre suas mãos sem que conseguisse segurar, desde o momento em que começara a se apaixonar perdidamente por Luccas. E naquele momento em que necessitava da informação, estava contendo seus próprios desejos de beijar os lábios avermelhados que chamavam sua atenção.
— Em... — Ruby vacilou em dizer-lhe o nome, pois sabia os riscos que sua mestra e amiga corria. — Uma amiga de longa data, Senhorita Mader. Aprendi ao longo de minha vida que não precisamos de laços sanguíneos para considerar alguém parte de nossa família. Família é aquela que mesmo em seus momentos de falhas está ao seu lado, dando-lhe lições e conselhos. Muitas vezes alertas ou broncas. Família tenta te entender mesmo que seja difícil. — as órbitas cor de safiras encheram-se de lágrimas, lembrando-se de sua prima que estava passando por situações difíceis, e nesse momento ela se afastou. — Diga-me, de o que adianta uma família que te abandona justamente no momento em que precisas de ajuda.
— Estas tuas palavras chegaram como um soco em meu estômago. — respondeu-lhe desviando o olhar para o céu azul, a fim de evitar que Ruby percebesse suas lágrimas prestes a cair.
— Desculpe-me. — pôs o polegar no queixo de Zelena, fazendo-a olhar para seus olhos. — Sei que não faço a mínima ideia de o que tu tenhas feito para algum parente, mas deverias tentar se aproximar.
— Eu sou uma péssima prima! — coçou os olhos, enxugando a última lágrima que desceu pelo rosto. — Sei que minha prima se aproxima facilmente, aliás, ela sequer se afastou. No entanto, ultimamente eu tenho a abandonado justamente quando ela está passando pelo pior momento da vida dela. E adivinha? Ela está nesse estado por minha culpa...
A algazarra dos pássaros e o som corrente das águas do profundo rio amenizava aquele clima ruim que pairava sobre as duas. Zelena, então, sorriu em contemplação diante a visão sob seus olhos.
— Tua prima ainda está em tal estado? — pressupôs dadas as palavras "ela está nesse estado por minha culpa". — Presumo, que não seja tarde demais para ajudá-la.
— Eu sou fraca, Ruby. — suspirou cabisbaixa, lamentando-se por saber o que sua prima passava.
— Zelena Mader, eu tenho total noção de que a conheço apenas por uma semana. Porém, sei que não és fraca. Uma sábia pessoa disse-me uma vez: Por que não lutais por aquilo que sabes que é o certo? Deixais que o tempo a tire de ti, simplesmente por medo ou fraqueza? — embora não soubesse, suas palavras tocavam fortemente o coração de Zelena. Não negava que as palavras que Emma Swan lhe dizia eram boas lições para a vida. — A vida passa diante de nossos olhos, Senhorita. Diversas vezes não sabemos aproveitar, e quando percebemos perdemos algum ente querido... Sabes que quando chegar esse dia, restarão apenas lembranças. Se há chance de correr atrás, por que foges? A mesma pessoa disse-me que há muito perdeu; sentiu o tempo passar e o tudo escapar por entre as mãos, perdendo o controle de toda a perfeição que parecia ter na vida.
As últimas frases conseguiram chamar a atenção da ruiva, deixando-a séria por alguns segundos, mas, logo, despertando-se com o balançar de sua própria cabeça.
— Por vezes parece mais fácil fugir. — respondeu-lhe, engolindo em seco as verdadeiras palavras pronunciadas por Ruby. — Embora, fugir nunca seja a solução... — suspirou, dando um sorriso no final. — Tens o dom de dizer palavras de reflexão, Ruby. — seu olhar caiu como a noite e perdurou sobre os carnudos lábios da morena.
As aprendi com minha amiga. — poderia ter respondido, no entanto, a voz entalou em sua garganta, impedindo-a de falar dada a visão em sua frente. — As aprendi para ajudar Emma Swan a não fugir de seus sentimentos, ou de o que mais almeja. — de boca entreaberta, não tirava a visão dos olhares de Zelena para seus lábios.
Zelena sorriu, dando passos lentos e silenciosos para dentro do campo. A extensão gigantesca era cercada por árvores, formando a floresta. Havia um jardim com flores exóticas, de todos os tipos que se pode imaginar, e, do outro lado, o campo era inteiramente de girassóis, presenteando-as com a belíssima visão de uma pequena margem do Rio Arges, com suas águas cintilando a luz do sol. Famoso Rio, em que disseram que Lana se jogara e, consequentemente, morrera afogada.
Inspirou a essência pura emanada pelas flores, como se inspirasse o bálsamo de um perfume importado. Entretanto, o aroma daqueles campos não poderia ser comparado a quaisquer perfumes caríssimos. Era glorioso, formando a junção perfeita à vista magnânima da antiga construção, conhecida como Castelo de Bran, ou Castelo do Drácula.
— Muito obrigada, Senhorita Mader. — respondeu após um longo suspiro apaixonado, tendo total certeza de que a visão de Zelena a frente do campo fora a mais bela que já vira em toda a vida.
— Agradeces por qual motivo, Ruby? — virou-se para a morena estendendo a mão para guiá-la até os campos verdejantes, acompanhados por inúmeros tipos de flores.
Ruby segurou a barra de seu longo vestido e, em seguida, acompanhada por um sorriso, tocou suas mãos as de Zelena, deixando-se guiar para mais perto.
— Oras, por acompanhar-me até aqui. — respondeu, mantendo o olhar fixo aos da ruiva.
— Não há de quê, Senhorita Luccas. — Deslizou os dedos sobre as costas das mãos de Ruby, fazendo-a perguntar-se se, de alguma forma, Zelena poderia sentir algo por ela. — Acompanhá-la é como um presente, que deixa-me contente de alguma forma. Sem mencionar que eu poderia ouvi-la dizer tuas sábias palavras sobre a vida. — tocou a face alva de Ruby, acariciando-a, assim como acariciava os cabelos castanhos. — Eu amo estar em tua companhia, não te esqueças disso.
Luccas entreabriu os lábios, como se estivesse em transe, absorvendo tudo o que estava acontecendo naquele momento. Sentia seu corpo queimar como brasas ao perceber que as órbitas cor de safiras pendiam sobre ela. Sentia a própria respiração elevar-se a cada toque de Zelena sobre seu rosto.
Sem mais pensar, numa velocidade impressionante, puxou-a para mais perto até seus corpos se aproximarem. Esmurrou-se mentalmente "Estou agindo rápido demais", porém, para sua surpresa, Zelena agarrou sua nuca, puxando-lhe os cabelos e levando-a para um beijo.
(...)
"Talvez eu apareça para te fazer companhia na praça." Aquelas eram as palavras que povoaram os pensamentos de Regina desde que, uma semana atrás, encontrou com Emma Swan pela última vez. Lembrava-se perfeitamente do tom extremadamente empolgante provocado por sua fala; de cada detalhe esculpido na face alva da loura; de cada lágrima e de cada expressão, que denunciava alguma barreira que tinha sobre ela.
Os passos que os pedestres davam, ao caminhar pela praça, faziam com que Regina abrisse os olhos, em esperança de que a loura de olhos incrivelmente verdes estivesse a se juntar para fazê-la companhia. Porém, durante uma semana, em nenhuma das vezes foi ela.
— Gina... — Ivy chamou com certa preocupação carregada em sua voz, abafada pelos gritos contagiantes de crianças, percebendo a decepção no olhar da morena. A jovem Belfrey sentiu seus olhos queimarem e sua garganta apertar, retratados pela visão que tomara conta de seus olhos: a bela mulher, encurvada sentada no banco da praça. — Hey, Regina, estás pensativa... Pensastes outra vez em alguém a qual te decepcionou? — como sua tentativa anterior, ela foi ignorada. — Tu nem percebeste que me ausentei durante alguns minutos. Trouxe-lhe pipoca, tuas favoritas.
Estendeu a mão, entregando-lhe um pequeno saquinho de pipoca, e arremessando algumas contra Regina, que soltara um sorriso sem mostrar os dentes.
— Uma semana, Ivy. — Regina sussurrou sem piscar os olhos, com sua atenção voltada às aves se banhando no chafariz. — Pergunto-me se ela se recorda de nosso beijo... Emma Swan pediu para que eu a esperasse na praça, pois um dia teria o prazer de me fazer companhia. No entanto, completam-se uma semana desde que a vi pela última vez. Nenhum recado, muito menos um esbarrão pelas ruas. Ela simplesmente sumiu.
— Regina, minha amiga, esqueça-te dessa mulher, por favor. Tais devaneios funestos hão de matar-te internamente; essa moça há de matá-la. Não adiantas dizer que estou louca, pois é o que ela está fazendo. Olhe para ti mesma, estás a pouco de morrer por paixão. — dedilhou o rosto macio de Regina, erguendo o queixo da mesma com as costas das mãos, afastando os cabelos do rosto da jovem Mills. Aquele ângulo permitia que seus olhos negros estupefizessem as avelãs. — Tu mal conheces Emma; tu mesma dissestes que sente as trevas que a cercam. Por favor, tu disseste que ela sumiu, e eu não quero vê-la sofrer nunca mais.
Regina poderia esquecer de tal pessoa? Deduzia-se que nunca. Deduzia-se que, enquanto o ar soprasse em suas narinas e entrasse em seus pulmões, em momento algum seria capaz de esquecê-la. O genuíno sentimento intensificado em seu coração, conforme os dias se passavam, fazendo-a se sentir cada vez mais ligada à misteriosa Emma Swan. Deduzia-se que mesmo que quisesse, seria impossível esquecer-se de seu rosto perfeitamente delineado, moldurado por longas ondas cor de ouro. E caso conseguisse, lembrar-se-ia dele em seus sonhos.
Ivy enrolava os dedos, modelando cachos aos longos cabelos negros de Regina. Seus olhos vagavam a cada detalhe esculpido perfeitamente à face da cópia perfeita de Lana — assim intitulada pelos membros da Ordem —, descendo o olhar até a cicatriz moldada em seus lábios.
— Estou aqui, ao teu lado, para todo o sempre. — aproximou-se vagarosamente de Regina, até sentir a respiração da amiga, que em momento algum olhou em seus olhos. — Nunca irei sumir, Regina Mills.
— Qual foi a primeira impressão que te causei quando me viu pela primeira vez? — indagou Regina, reprimindo os olhos para não demostrar decepção.
— Bem... — estava balbuciando, entregando seu conflito em dizer todos os sentimentos, ou silenciar-se até Regina Mills esquecer a loura da cartola, cujo nome é Emma Swan. — Eu não sei muito bem o que te responder, — tentou manter a voz firme, buscando minuciosamente o que dizer, sacodindo de leve a cabeça. — Para dizer-lhe a verdade, não há o que se responder quando se trata de te conhecer. — respondeu serenamente, cutucando as próprias unhas, sinal de inquietação.
Ela era uma pessoa de bons sentimentos, porém, nascidos pela pessoa errada, que possui seu verdadeiro amor por mais de quatro séculos. Entretanto, era impossível não se apaixonar, amar, desejar Regina Mills. A contagiante sonhadora, cuja mente vaga em livros.
— Lembro-me de vê-la pela primeira vez. Estavas encurvada, enrolada num cobertor tremendo de frio após ser encontrada na beira da estrada de terra... Qualquer um ficaria sensível por ti, tratando-lhe como alguém digna de pena. Entretanto, eu, indubitavelmente, senti-me sensibilizada com a forma que fora encontrada e tudo o que pôde ter ocorrido contigo. Porém, enxerguei além da aparentemente frágil menina recém encontrada... Esta foi a primeira impressão que me causou. Tu demonstraste força aos meus olhos, Regina. Alguém a quem se deve lutar para tê-la ao lado.
— Tu dizes isso apenas por me ter como amiga! — Regina mirou seu olhar para as órbitas negras de Ivy, aceitando uma pipoca do pacote e colocando-a rapidamente em sua própria boca.
— Para dizer a verdade, não. — ajeitou-se de forma confortável no banco da praça, estupefazendo o pequeno sorriso de canto, destacando a sexy cicatriz em seus lábios. — És incrivelmente encantadora, Regina. De todas as formas. Tanto em beleza, quanto em inteligência.
— Obrigada, Ivy. — sussurrou, encarando-a.
Ivy entreabriu os lábios, aproximando-se mais, sentindo seu corpo tremer com o nervosismo que se apossava de seu interior. Nunca esteve com a face tão próxima a de Regina. Aquele poderia ter sido o primeiro passo para um possível beijo, se não fosse pelo abraço inesperado que Regina dera, afundando a face em seus ombros.
Seus olhos encheram-se de lágrimas, enquanto apertava Regina em seus braços. Gina não a amava, por que? Até quando seus olhos seriam de Emma Swan? Ela, porém, não ousou deixar seus prantos caírem.
Como deixá-la ir? — pensou, olhando para o rosto de Regina apoiado em seu tórax. — Impossível! — absorveu o choro para não alarmar a amiga, pressionando os lábios um contra o outro.
Regina manteve-se em silêncio, sentindo os dedos de Ivy acariciarem seus longos cabelos negros. Manteve-se num mundo em que havia apenas ela e Ivy, e, em seus pensamentos, Emma Swan. Por que nunca a viu durante o dia? Por que ela sumiu? De o que ela tinha tanto medo?
— Roni... — o mundo em seus pensamentos foi quebrado ao ouvir o soar daquela voz, e Ivy ergueu a cabeça, encarando a jovem de olhos verdes e cabelos negros. — Ou melhor, Regina Mills.
Diante de todos seus sentimentos e dúvidas sobre sua loura, que se comportava de forma extremamente cavalheira; diante de todos seus pedidos por vê-la, a última voz que imaginou ouvir fora a de Ruby Luccas. Neste caso, a senhorita Luccas certamente representava Emma Swan, trazendo-lhe notícias de o que pudera ter sucedido.
— Quem és tu? — Ivy perguntou desnorteada, arqueando as sobrancelhas e evitando manter sua boca aberta em total descrença. Perguntava-se incrédula se aquela poderia ser a bela mulher que conquistara sua amiga. — És Emma Swan?
— Para lhe dizer a verdade, sou melhor amiga de Emma Swan. — Ruby respondeu sorridente, com sinceridade em sua expressão contente. — Chamo-me Ruby Luccas, e essa se chama Zelena Mader. — disse, apontando para uma alta moça ruiva ao seu lado.
— É um prazer conhecê-las. — Ivy sorriu amargamente, virando a atenção para Regina, que as olhava distraidamente. — Regina está um pouco pensativa ultimamente. Aliás, chamo-me Ivy Belfrey.
— É um prazer em conhecê-la, Senhorita Belfrey. — estendendo a mão, cumprimentou-a percebendo a feição de poucos amigos que a acompanhava. — És melhor amiga de Regina?
— Sim, eu sou a melhor amiga de Regina. — respondeu com feição de poucos amigos, em confirmar que aquela moça era conhecida de Emma Swan. — É perceptível quanto minha amiga conhecera pessoas novas nos últimos dias. Mantenho-me aliviada por vê-la imensamente feliz durante esse meio período. — discretamente, apertou os próprios punhos, contentando-se de o fato que Mills, indubitavelmente, estava mais feliz.
— Regina está contente com a companhia de Swan, pressuponho. — Ivy apenas sorriu forçadamente e confirmou com a gesticulação da cabeça.
Apenas o balsamo emitido rigorosamente das primorosas e ajaezadas flores, formando o buquê exuberante, emergiu pelas narinas de Regina Mills. Ameno e brando, eram estas as definições de tal perfume. O mesmo, inquestionavelmente, havia sido pedido pela loura de terno que tanto tomava conta de seus pensamentos e sonhos. As colorações vivas das flores lembravam precisamente de os olhos esverdeados de Emma Swan, assim como o eflúvio doce memorava a prazerosa essência de seus cachos dourados.
Emma Swan, sua indescritível dama da noite, aclamada por uma doçura e beleza sem igual, enviara a melhor amiga para entregar aquelas flores. Por quê?
— Senhorita Luccas, Ruby Luccas! — de sobressalto, Regina se levantou e ergueu a cabeça animadamente, expondo seus olhos castanhos brilhantes como um raio solar. — É um prazer encontrá-la aqui. — sorriu tímica, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— O prazer é todo meu, Senhorita Mills. — seu olhar alterou-se para as flores do buquê, lembrando-se de que Emma a enviara ali para entrega-las à Roni. — Regina, eu não estou aqui por coincidência. Eu vim ao seu encontro para entregá-las. — direcionou o buquê para Regina, que sorriu ao mesmo tempo em que recebia a entrega. — São para ti, assim como este bilhete. Sabes de quem são...
A face entristecida de Regina, automaticamente tornou-se mais leve, indicando a felicidade que subira em seu peito.
— São... De... Emma Swan. — sussurrou para Ruby, como se fosse um palpite.
Ruby assentiu, dando-lhe um largo sorriso ao constatar que o par de olhos castanhos brilhavam como a lua brilha durante a noite. Aquele brilho intenso no olhar, assemelhava-se ao brilho notório que Emma possuía em seu olhar todas as vezes que mencionava a incrível Roni.
Com cuidado, porém, imensamente ansiosa para saber o que a loura misteriosa escrevera para si, Regina abrira cuidadosamente o envelope de cor escarlate. Um aroma campista, fora o que notou ao desdobrar a carta.
"Roni, minha cara, despertei-me de quaisquer pensamentos sombrios que pairavam sob minha mente. Lembrei-me de teu olhar e tuas palavras, lembrei-me de seu doce aroma. O doce sabor de teus lábios... Lembrei-me de como é ter alguém a quem eu queira dar o mundo.
Despertei-me, dando-me conta de que sinto uma das melhores sensações... Uma sensação fantástica, assim como o canto dos pássaros em primaveras, ou como sentir a brisa salina do oceano tocando em nosso rosto.
Trago-lhe estas flores por Ruby para que jamais esqueças de que prometi a ti uma companhia na praça. E espero poder juntar-me a ti em breve,
Emma Swan."
— Emma Swan não esqueceu de mim. — suspirou, deixando uma lágrima de felicidade rolar em seu rosto.
— Pudera ela esquecer-te? — perguntou Ruby. — Emma Swan pensa em ti até em sonhos mais profundos, Regina.
Regina Mills pressionou a carta contra seu próprio peito, como se daquela forma pudesse abraçar sua loura de terno.
— Ela havia sumido por uma semana.
Ao bater papo, ambas se esqueceram da presença de suas companheiras, que agora conversavam aleatoriamente, completamente distante do assunto de Ruby e Regina.
— Espero que entenda, Senhorita Mills, Emma Swan não estava em um período bom. Esta semana esteve muito ocupada, embora ansiasse em encontrá-la aqui, e estava também ausente em seus pensamentos sobre o próprio passado.
— Emma Swan pensa tão intensamente no passado como se ele fosse o presente. Dita palavras incríveis sobre superação e sobre a vida... No entanto, entrega-se aos sentimentos de algo que já passou. De fato, é impossível desligar-se por inteiro, mas no caso dela... Sinto que o passado de Swan a persegue mais que gostaria.
— Senhorita Mills, não fazes ideia de como o passado de Emma a atormenta até os dias de hoje. — pigarreou, controlando-se para não falar demais. — Ela passou por coisas que ninguém jamais passou. Sofreu, foi traída, humilhada, perdeu o direito de viver com os pais e com a própria filha. Sem mencionar que a esposa a quem tanto amava foi morta brutalmente. — disse com a voz pesada, entristecendo-se e perguntando-se como alguém aguentaria aquilo tudo.
— Lana? — perguntou curiosa, de vez em quando dedilhando as pétalas das flores de seu buquê.
Ruby assentiu.
— Ela lhe contou sobre a falecida esposa?
— Não muito. — deu um sorriso entristecido. Era evidente como aquele assunto mexia com Emma Swan. — No entanto, acreditas que na noite em que nos esbarramos pela primeira vez, ela me confundiu com Lana? Chamou-me pelo nome, e pude notar a decepção ao respondê-la que era engano.
— Tento imaginar a cena. — soltou uma risadinha. — Emma contou-me animada sobre ter encontrado uma Lana aqui em Romênia. Devo confessar que são idênticas... Cada traço. — Regina parou para pensar em alguns segundos, perguntando-se se Emma gostava dela apenas por acha-la muito semelhante à Lana. — Não digas que lhe contei, pois sei que Emma te contará mais sobre Lana e a filha. Na noite em que te conheceu, contou-me que por alguns segundos realmente achou que era algo da própria mente pregando peças... Pois seria impossível que fosse Lana. Ela percebe que não és a mesma esposa que perdera há anos... Sabes que ela fica cada dia mais fascinada por tua personalidade, pela pessoa incrível que tu és.
— Percebo que Emma ainda sofre muito pela perda, que, aliás, foi imensa.
— Perder o primeiro amor é algo que nunca cicatriza, Senhoria Mills. — segurou a mão de Regina, dando-lhe confiança. — Contudo, Swan está disposta a dar novos passos. Peço apenas que jamais ouça o que as pessoas possam te dizer, pois após a morte de Lana, Emma nunca esteve tão feliz como agora. — para finalizar, Ruby deu um beijo na testa de Regina. — Preciso ir, antes que meu encontro acabe e eu não tenha feito o que queria.
Ruby Luccas se afastou de Regina Mills, aproximando-se de Zelena para que ambas seguissem sozinhas. Estava satisfeita pela breve conversa que teve com a jovem, pois sentiu que as esperanças de "Roni" aos poucos estavam se esvaindo... E aquela breve conversa foi o suficiente para ajudar as duas.
— Até, Senhorita Luccas! — Regina gritou sorridente, aproximando a face do buquê para sentir o aroma das flores outra vez.
O final do entardecer chegara tão rapidamente quanto flashes de luz, dando-se, então, fim às aulas de medicina da universidade local.
"— És chegado o grande dia em que o professor anunciará o ajudante."
Era perceptível o murmúrio entre a enorme quantidade de alunos sentados em suas carteiras a frente do professor, embora sua mente não estivesse naquela classe. Suas mãos tremiam enquanto direcionavam um lenço ao alto de sua cabeça, afim de enxugar as gotículas de suor que lhe escorriam pela face.
Neguei-me durante semanas temendo que minhas conclusões estivessem corretas. Drácula sempre foi meu fascínio, meu vício... Cheguei a passar noites em claro por vários anos até descobrir toda a história por trás do "Soldado Romeno". E agora temo que, em minha traição, eu perca a vida que luto para ter de volta. — considerou Whale, seus pensamentos sempre voltados à Jennifer e à cura.
— Presados alunos, creio que todos ansiavam pela chegada desse dia. O dia que finalmente o melhor de vocês terá a experiência de atuar na área da medicina. Ajudando-me em soros, remédios e a salvar pessoas. — Whale anunciou animoso, aliviado por sua escolha que teria muita função para ajudá-lo.
— Em quanto tempo iremos exercer funções em hospitais? — um aluno, provavelmente convicto de que seria o escolhido, perguntou.
— A pessoa escolhida poderá trabalhar em hospitais apenas quando estiver preparado. — respondeu duro, andando vagarosamente em círculos pela sala. — Pela primeira vez, em todos os meus anos dando aula, passei por uma dura decisão para escolher qual aluno seria meu ajudante. Sendo assim, abri uma exceção e decidi chamar dois ajudantes!
Os alunos se agitaram, formando um burburinho irritante naquele local.
— Henry? — o professor chamou, procurando até encontrar o jovem de cabelos castanhos sentado num assento no fundo. — És um excelente aluno, além de ser de extrema pontualidade. Por essas e outras qualidades, escolho a ti para ser um de meus ajudantes.
Henry se alegrou, levantando-se e indo a frente da classe.
— A segunda pessoa, embora possua insegurança em si mesma, tem demonstrado grande paixão e competência por salvar vidas. E creio eu que Regina Mills será capaz de salvar muitas pessoas. — sorriu olhando em direção a morena, que ficou surpresa ao ser chamada. — És a segunda ajudante.
Regina olhou para todos a sua volta. Percebera o alarmante olhar curioso de cada um presente ali, exceto por Whale e Henry que continuavam sorridentes a sua espera.
— Eu? — gaguejou.
— Sim, Senhorita Mills. És uma das mais competentes de toda essa classe. — respondeu o professor.
— "... Percebo em teu olhar o quão grande é seu fascínio pela profissão que vens a exercer. Paixão, Roni! Paixão é o segredo para o sucesso, cara jovem... Pois, com a paixão, tu irás vencer qualquer temor que há de vir; tu irás subir até o alto de sua carreira." — aquelas palavras ocuparam sua cabeça, fazendo-a se levantar e não temer por aquele momento.
A cada passo dado, uma batida forte era sentida em seu peito, e um sorriso emergido em sua face. Olhares furiosos não a fizeram parar uma vez sequer, tampouco o burburinho entre alguns alunos. Cada passo que dava significava um prosseguimento para seu sonho... Sua paixão.
— Meus parabéns aos dois. — sussurrou o professor quando Regina chegou a frente.
O restante dos alunos se retirara, pois, o horário da aula havia chegado ao fim. O professor explicou aos dois em que seria necessária a ajuda, quais dias da semana teriam que comparecer ao laboratório para ajudá-lo e quando começariam a ter um curto horário no hospital da cidade. Em seguida, após tudo ser esclarecido, Henry se retirou, logo, Regina também se preparava para ir embora.
— Senhorita Mills. — Whale chamou, enquanto enxugava o suor de seu rosto com um lenço.
— O que houve? — perguntou-lhe ao perceber como o professor aparentava um pouco abatido. — O que estás sentindo? — desesperou-se.
— Senhorita Mills, — deu uma risada com o desespero da jovem. — eu não estou te chamando para verificar minha saúde. Quero apenas que siga-me até o laboratório. — iniciou pequenos passos até o laboratório, sabendo que a morena iria segui-lo.
As órbitas castanhas observavam atentamente o corredor estreito no canto da sala, levando-os até uma porta de madeira, onde ficava o laboratório. Uma mesa para fazer as pesquisas, instrumentos cirúrgicos, soros. Tudo aquilo era fascinante para Regina, no entanto, não tirava o fato de o professor não estar se sentindo bem.
Finalmente a cura. — pensou Whale.
— Estás doente, professor. — insistiu. — Sabes disso.
— Não deixas nada passar, Senhorita Mills. — respondeu de costas para a morena, enquanto finalizava um soro. — Percebes o motivo de tê-la escolhido? Além de ser alguém de extrema importância para um de meus soros, és bastante atenta. Foi a única que percebeu que estou doente. — respirou fundo, em seguida, tossiu algumas vezes.
— Sou importante para um de teus soros? — perguntou curiosa. Não fazia sentido ser a única que pudesse fazer um simples soro. — O que tens?
— Um tumor. — respondeu simplesmente. As órbitas azuis não tiravam o foco do soro, que estava sendo preparado, para Emma Swan. — Não te preocupes, cara Regina, estou tomando conta disso. E respondendo uma de tuas perguntas, este soro é totalmente diferente de qualquer outro.
— Estás morrendo e me pedes para não me preocupar! — exclamou desesperada. — Não há cura para tumores, professor...
— Talvez exista uma, Senhorita Mills. — finalmente se virou para Regina, que se surpreendeu ao perceber uma seringa nas mãos do doutor.
A expressão de dúvida não passou por despercebido, pois a morena arqueou as sobrancelhas e ameaçou fazer uma pergunta. Procurava o jeito certo de perguntar, pois não havia cura para um tumor, e mesmo assim o professor dizia que poderia haver. Se realmente houvesse, por que esconder de todos?
— Preciso de um frasco com teu sangue, Senhorita Mills. — cambaleou, sentando-se num banco próximo a morena. — Este soro que estou fazendo precisa de um sangue. Sangue de alguém saudável... — mentiu, fazendo-a pensar em aceitar tirar um pouco do próprio sangue. Aquela deveria ser sua última tentativa para sucesso com o soro que Emma tanto desejava, e, assim, talvez conseguisse a cura para sua doença. —... O meu não funciona. Mas o teu seria perfeito.
— Isso irá curá-lo? — perguntou arqueando a sobrancelha, sentindo uma dúvida enorme sobre aquele pedido.
— Talvez, Senhorita Mills... — respondeu entregando para a morena a seringa. — O sangue é a vida.
Castelo de Bran — Anoitecer
A noite do lobo chegara tão rapidamente quanto o forte vento, que soprava insistente no alto das árvores, fazendo assobios, que se tornavam aterrorizantes por estar poucos metros diante à colossal construção do antigo Castelo do Drácula, ou melhor, Jennifer Morrison.
Os antigos diziam em lendas, que circundavam as crenças até aqueles anos, acreditando que Drácula ainda habitava por de trás das paredes do castelo. Até os homens mais valentes se recusaram a aproximar-se, pois uma certeza eles tinham: jamais retornariam vivos. Portanto, embora Jennifer não estivesse realmente naquele Castelo, seu passado não ficou para trás, permanecendo durante séculos rodeado pelas árvores da floresta.
Em frente ao descomunal Castelo, no início da trilha pela floresta, logo após a enorme caminhada pela ponte de madeira, fora construído uma lápide para cada pessoa perdida daquela família. Jen criara uma lápide para sua adorada esposa, assim como criara uma lápide vazia com o nome de "minha pequenina". E, com o passar das décadas após a noite da morte de Lana, Alice retornou e criou uma terceira lápide com o nome de sua mãe loura.
Na lápide — a qual Jennifer usara para sua esposa —, escrita o nome "Lana Parrilla", uma rosa negra, em significado pelo eterno luto, era posta sobre a terra escura.
— Mamãe... — suspirou a mulher de médios cabelos louros, desenhado por volumosas ondas, formando alguns cachos.
Uma solitária lágrima rolou em sua face gélida e pálida, descendo até pingar sobre a rosa deixada na lápide. A lua não atingira o céu ainda, no entanto a escuridão já tomara conta daquela parte da floresta, trazendo os morcegos a sobrevoar as árvores. E, em breve, os lobos a circundarem não apenas a floresta, mas também a cidade.
— Alice, meu amor, não achas melhor entrarmos? — seu pai, Killian, sugeriu encostado sobre um tronco de árvore, após ainda lamentar-se por jamais encontrarem Jennifer. — Os lobos estão vindo... Sabes que lobisomens matam vampiros facilmente.
— A lua ainda não atingiu o céu, papai. — afirmou Alice, sentindo uma essência trilhar o ar, e adentrar em suas narinas. — À vista disso, não há perigo, por enquanto.
— Meu amor, — Killian aproximou-se vagarosamente, abraçando sua filha com todas as forças. — Não tardes, por favor. És minha preciosa filha e única memória de nossa vida. Portanto, caso se depare com um lobisomem, volte voando... Ou melhor, não cruze com um lobisomem.
— Estás me apertando, papai! — exclamou abafando uma risada, ambos desvencilhando do abraço e olhando nos olhos um do outro. — Eu não tardarei. Prometo-te!
— Lembra-me tua mãe... — pronunciou-se, dedilhando o rosto da jovem. Todos os dias olhava para sua filha e contemplava a doce menina que teve, agora não tão menina assim, visto que Alice fora transformada em vampira aos vinte e quatro anos.
— Qual delas?
— As três! — respondeu-lhe imediatamente, abrindo um sorriso fraco. Lana e Jennifer estariam muito orgulhosas de Alice. — As ondas rebeldes de teu cabelo são exatamente como as de tua mãe que lhe dera a luz. — explicou, enchendo-se de memórias de uma mãe quase desconhecida para a menina.
Entristecia-se em demasia, pois a mãe biológica jamais teve a oportunidade de conhecê-la, assim como quase não falava sobre Gothel para a filha. E as únicas mães que conhecera, foi-lhes tirada muito cedo de seus braços.
— Mas a cor dourada de teus cabelos... Não são como os ruivos de Gothel. — continuou, sorrindo junto com a jovem, já sabendo da resposta a seguir. — São dourados como a luz do sol, assim como as madeixas de Jennifer. Teus olhos azuis são as únicas características idênticas às minhas, pois até tua bondade e personalidade assemelham-se à Lana.
— Não sou como a mamãe Lana. — respondeu, voltando a olhar para a floresta ao sentir que a trilha de aroma sanguíneo pausara ali perto. — Não pareço com ela... — soltou uma forte lufada de ar. Todos os dias carregava traços de sua família que perdera, exceto os de sua mãe morena. — Lana era uma pessoa incrivelmente pura. Sabes que não recordo de tudo, mas há certas lembranças que habitam em minha mente até os dias de hoje. Eu exterminei uma Ordem inteira sem resquício algum de piedade... Alimentei-me do sangue dos pequenos herdeiros em suas camas durante a noite. Tirei a vida de todos os culpados e até de inocentes. — Killian se calou, atentando-se às palavras proferidas por sua filha. Alice estava correta. Ela não era mais uma criancinha pura, tampouco tão bondosa como antes, contudo ainda possuía personalidades semelhantes às de Lana. — Podes dizer-me que vinguei a morte de minhas mães, mas eu me diverti com o sofrimento de cada um deles, papai. E até os dias de hoje eu acabo com a vida de muitas pessoas... Então, definitivamente, eu não sou parecida com minha mãe.
— Alice, lembras-te que tuas mães possuíam um amor incondicional por ti. — a menina se calou, assentindo à afirmação que seu pai fizera. — Pensas que ambas não fizeram tudo para tê-la? Jennifer tirava a vida de milhares de homens em batalhas, minha querida, garantindo a vitória para que tu e tua mãe estivessem seguras. E quando tua mãe fora amaldiçoada à vida eterna e necessidade do sangue humano, ela alimentou-se... Não penses que ela não matou e não gostou! Tua mãe bebia o sangue dos soldados no campo de batalha. Homens temiam Jennifer Morrison, e tentaram matá-la inúmeras vezes; até mesmo o nosso povo. E jamais penses que eu nunca tirei uma vida... Na noite em que fomos atacados e Lana morrera, eu tive que fazer coisas horríveis para te salvar. Pessoas boas fazem de tudo por quem se ama.
Alice rendeu-se ao silêncio, refletindo pouco de o que seu pai lhe dissera. Lana sempre dizia que faria de tudo para protegê-la, e talvez fora este o motivo de sua morte: para salvá-la. Jennifer lutava nas mais sangrentas batalhas, numa luta desenfreada contra os Turcos. E sempre que retornara ao Castelo, era visível suas armaduras respingadas de sangue e o suor molhando sua face... Jennifer sempre voltara vitoriosa, exceto naquela noite. Por quê?
Exceto na noite em que acordara com seu pai lhe chamando espavorido.
— Penses em minhas palavras, Alice. Tuas mães não gostariam de vê-la entristecida aos cantos, prendendo-se no Castelo em que vivemos. — Killian abaixou a cabeça, virando-se para tomar caminho à ponte do Castelo de Bran. — Tampouco não gostariam de vê-la culpando-se por todos os acontecimentos dos últimos quatrocentos anos.
O homem de cabelos negros e lisos, em combinatórios aos seus olhos extremamente azuis, suspirou e olhou para a jovem loura, que sentia suas presas afiarem ao inalar o aroma que saía da floresta.
Alice deveria aceitar ir embora de Romênia. Sem dúvidas Lana e Jen habitaram em nossos corações e pensamentos, mas nossa pequena deveria começar uma vida. — pensou Killian ao navegar sob o silêncio que pairou até a jovem chamar por seu nome outra vez.
— Tens razão, meu sábio pai! — o homem virou o olhar para a loura, que sorriu. Concordava com tais palavras, nas quais sempre lhe dizia: "desprenda-te de tua vida passada, e recomece uma nova. Eu posso lhe ajudar." — Eu tenho que me desprender de parte da minha antiga vida, exceto desse Castelo. Ele sempre será o meu lar... E sempre estarei a lamentar a perda de minhas mães, assim como o senhor continua a lamentar a morte das minhas três queridas mães. No entanto, prometo-te viver como uma nova Alice, não mais como Tilly. Prometo-te recomeçar.
— E eu lhe ajudarei em o que for preciso nessa tua nova vida. — foi tudo o que Killian disse antes de continuar a atravessar a ponte. — Estarei a te esperar, Alice!
Alice fora deixada à sós, em companhia dos morcegos que voavam e das corujas que chirriavam. A brisa, que viera por entre as árvores da floresta, continuava a trazer consigo um aroma irresistível, ao mesmo tempo em que bagunçava seus cabelos louros.
O som das batidas de um coração forte lhe chamou a atenção, fazendo-a dar uma caminhada de alguns longos minutos, até chegar numa clareira, onde o som e o aroma humano se esvaíram.
As órbitas azuis se direcionaram ao céu negro — como os cabelos de sua mãe —, à procura da lua cheia, que começara a se encontrar dentre as nuvens. No entanto, os gotejos de chuvas, que caíam, indicavam que a lua se esconderia temporariamente.
Pudera ser um lobo? Contudo, o que um lobisomem poderia estar fazendo próximo ao Castelo de Bran?
Ao desviar o olhar do céu nublado, por perceber que os lobos em breve estariam à solta, Alice pensou em voltar para a companhia de seu pai. Prometera a ele que retornaria sem tardar, antes que os lobos surgissem. No entanto, ao virar-se para retornar ao Castelo, deparou-se com uma jovem de capuz, camuflada dentre as sombras que as árvores causavam na escuridão do anoitecer, apontando uma flecha a centímetros de sua cabeça.
— Quem és tu? — a arqueira loura perguntou, trincando os dentes. Alice ousou mover-se ao cogitar correr o mais rápido que podia, aliás, vampiros que se alimentam de uma grande quantia de sangue tornam-se ainda mais poderosos. E Alice, além de ser uma vampira antiga, alimentava-se constantemente, de todos os que se aproximavam da região de seu Castelo. — Não ouse se mover!
— Eu que lhe pergunto! — Alice sorriu em uma expressão desafiadora, segurando a ponta da flecha, que mirava em sua cabeça, e a abaixou, fazendo-a ficar apontada para as folhas secas ao chão. — Estás em meu território, e achas que tens o direito de apontar uma flecha em minha cabeça e ordenar que eu lhe diga o meu nome?
— Teu território? — as órbitas verdes da arqueira fixaram-se às azuis da vampira. Ela zombara das palavras de Alice, que assistia a mulher se encostar em um tronco de árvore. — Desde que coloquei meus pés aqui, não encontro nada que afirme que esse território abandonado seja teu.
A arqueira mantinha-se encostada no tronco da árvore oca, cruzando seus braços como se pouco se importasse com a loura de capa vermelha. A desconhecida parecia se acomodar ainda mais, causando um som alto de correntes.
O estardalhaço que causara era provocado por correntes amarradas num tronco de árvore, certamente posto ali para amarrar um lobisomem em sua transição. Aquela arqueira era louca em arriscar estar no local de transição de um lobo.
Alice soltou um baixo riso pelo nariz, suspirando em descrença por tamanho abuso daquela garota.
— Chamo-me Alice... — rendeu-se, estendendo a mão para um cumprimento. —... E esse território é meu por direito. Por isso, eu serei educável a ponto de deixá-la, quem quer que tu sejas, dar meia volta e voltar para onde não deverias ter saído.
— Estou honrada em conhecê-la, Senhorita Alice. — a arqueira, em ironia, fez reverência e estendeu a mão para concluir o cumprimento.
Ambas se arrepiaram ao sentir o toque uma da outra; arrepiaram-se pela diferença de temperatura corporal de cada uma. A pele da vampira era gélida como a de um morto, e a da arqueira, por sua vez, era quente como o fogo.
— Chamo-me Robin... — continuou as palavras, escondendo o que sentira ao encostar na pele de Alice, que retirou o capuz vermelho de seu próprio rosto. —... Sinto em lhe dizer, mas não estou inclinada a obedecer a tuas ordens. Esse território não possui proprietário desde o século quinze, tanto que, reza a lenda, inúmeros monstros circundam o local.
— Pois bem, Nobin, aconselho-te a sair. — Alice iniciou passos largos até aproximar-se da arqueira, que estava encostada na árvore. — Tu mesma dissestes que monstros circundam o local, então porquê insistes em permanecer aqui? — seu olhar percorreu por toda a face da loura de olhos esverdeados, que prendeu a respiração por conta do nervosismo que se apossou de seu corpo. — Não seria por falta de aviso caso fosse atacada por um...
— Meu nome é Robin! — esbravejou, sentindo a raiva e o veneno do lobisomem percorrer em suas veias. Jamais pensara que pessoas em seu mesmo estado sentiam tanta raiva.
— Nobin, nova Robin! — explicou, mudando a expressão, que antes era impaciente, para um sorriso brincalhão. Robin, no entanto, possuía uma fisionomia confusa. — Em outras palavras, há muitos anos, conheci alguém com o mesmo nome. Robin. — enfatizou com amargura aquele nome. — Tu és manipuladora; és assassina?
A jovem arqueira meneou a cabeça, respondendo-lhe que não, e forçou um sorriso ao perceber que aquele nome fazia Alice lembrar a alguém perverso. O olhar de Robin entregara tudo. Nem de longe ela pudera ser comparada ao antigo Robin Locksley Mills, que tanto fizera mal à família de Alice.
— Não precisavas responder... — continuou Alice, aproximando-se outra vez, no entanto, calma e sorridente. — Vejo em teus olhos... — seu olhar fixou aos da arqueira, lembrando-se das órbitas verdes de sua mãe. Era como se estivesse olhando para Jennifer, pois sentia-se bem. Talvez tenha sido esse o motivo de não a matar. — Vejo tão claramente em teus olhos que tu és uma boa pessoa, ou estás lutando para continuar sendo, mesmo com o veneno do lobisomem em tuas veias.
A saliva desceu com certa dificuldade, rasgando a garganta de Robin. Pudera estar tão visível o nervosismo aflorado em sua pele, fazendo-a tremer e seu corpo esquentar como uma escaldante febre? Os fios louros claros de seus cabelos colavam em seu rosto suado, realçando o quão mal estava... Portanto lutou a todo momento para não demonstrar como aquilo consumia seu corpo.
Alice sabe identificar pessoas com veneno do lobisomem na veia, no entanto, é visível que a mesma não é uma amaldiçoada. Como? — Robin West perguntou-se, erguendo a cabeça e pressionando os próprios lábios.
— Como sabes que tenho o veneno do lobisomem em minhas veias? — perguntou, apontando a flecha rapidamente em direção à cabeça de Alice outra vez. — Sei que tu não tens a maldição em teu sangue, pois caso tivesse estarias em forma de lobo! — esbravejou, avançando até a vampira, que sorria de lado.
— Reconheço alguém em sua primeira noite de transição tanto para a maldição do sol, quanto para a da lua. — ao dar dois passos à frente, o som de pequenos galhos se quebrando fez-se presente. Alice a olhou com ternura, reconhecendo quão difícil era passar por uma maldição sozinha. — Permita-me... — pediu, vacilando em aproximar-se.
O chuvisco cessara, fazendo com que as nuvens dessem espaço para a lua se expor, explicando o motivo de tamanha dor que Robin sentia, indicando que em breve tornar-se-ia o monstro que sua própria prima caçava com tanto prazer. As folhas caídas ao chão eram arrastadas pela brisa da noite, enquanto os uivos de outros lobos ecoavam pela floresta.
— Meu amor, — ecoando nas profundezas de sua mente, a voz de seu pai fez-se presente. Suas pernas vacilaram ao cogitar em ajudar um lobisomem, o monstro que poderia matá-la com tanta facilidade. — Não tardes, por favor. És minha preciosa filha e única memória de nossa vida. Portanto, caso se depare com um lobisomem, volte voando... Ou melhor, não cruze com um lobisomem.
Por mais de quatro séculos em que vivera ao lado de seu pai e, às vezes, em companhia de seus avós, Alice jamais desobedeceu a qualquer um deles. Mesmo ao ter um filho durante sua humanidade, a palavra de seu pai sempre lhe foi importante, mas perguntava-se se daquela vez poderia ter uma exceção.
"Mesmo aquele de coração puro, que à noite faz as suas preces, pode tornar-se um lobo quando o acometo floresce e a lua do outono brilha."
— Desculpe-me, papai. — sussurrou Alice, convencendo-se de que não poderia deixar aquela mulher sozinha. Suas mães nunca deixariam alguém sozinho, e Robin a fazia se lembrar de sua mãe, Jennifer. — Eu não posso deixá-la... Simplesmente não consigo.
Tornar-se uma pessoa amaldiçoada é uma das mudanças mais difíceis que alguém poderia sofrer. Os vampiros que se transformam através da mordida, sentem o corpo e os órgãos queimarem, enquanto o veneno se espalha; os vampiros que se transformam através da ingestão do sangue, sentem a morte chegar lentamente, assim como Jennifer sentira — pelo menos, foi o que seus avós disseram quando Alice completou certa idade. Era impossível saber qual a pior forma de iniciar uma transição ao vampirismo.
Os lobisomens se transformam apenas através da mordida, ou simplesmente por vir de uma linhagem de lobos. Após serem atacados por um lobo em noite de lua cheia, a enorme mordida ensanguentada fica aberta sob cuidados médicos por três noites. A vítima passa por delírios e febre escaldante, tão quente que pudera ser comparado ao corpo dentro de uma panela quente, totalmente diferente da transição do vampiro, que o corpo gela como o de um morto. E em sua primeira lua cheia, a fera tarda, até o veneno ativar em seu sangue e seus ossos começarem a se quebrar, para transformar-se em algo que sempre fará parte de si mesmo. Um lobisomem.
Oof! — a arqueira soltou um grunhido de dor, deslizando lentamente o corpo até o chão.
— Shhh! — pediu silêncio, acelerando seus movimentos para segurar a loura fragilizada. — Estou aqui, Nobin, cabeça dura. — sussurrou, levantando a arqueira em seus braços e guiando a mesma até uma enorme árvore, que fosse forte o suficiente para aguentar as correntes que prenderiam a jovem. — Não te preocupes, pois não estás sozinha.
— Obrigada... — a rouquidão de sua voz denotava a falta de força, porém, que não a impediu de sorrir em gratidão para a vampira, que secava o suor da arqueira com o pano das próprias vestes. — Alice, tu precisas ir. Eu irei te machucar...
— Agora te preocupas comigo?
— Eu? N... Não! — em gaguejos Robin conseguira pronunciar as primeiras palavras. — Tu me avisaste sobre os monstros que rondam esse local, à vista disso, vejo-me na obrigação de querer tua segurança. No entanto, Senhorita Alice, pegou-me de surpresa ao se sensibilizar por meu estado.
— Achas que sou uma pessoa que deixa a outra em uma situação difícil? Principalmente tendo o conhecimento de como é a transição de pessoas amaldiçoadas como nós. — embora a junção de sua pergunta e de seu tom de voz aparentasse entristecida ou desacreditada, Alice não sentira repúdio pela loura sentada ao seu lado. — Não sei o que achas de minha pessoa. Talvez imagines que sou a louca, pirada Alice por tentar expulsa-la deste lugar! Eu posso ser um monstro, Nobin, entretanto, não poderia deixá-la sozinha encarar a desconhecida sensação de uma transição. — a vampira lhe sorriu fraco, vagando seus dedos, desenrolando as mechas louras e suadas de Robin.
— Não fales isto! — Robin repreendeu, puxando Alice para seus braços, num abraço fraco e amigável, com o restante de suas forças. — Eu penso que monstro algum faria isso que tu estás fazendo. Muito obrigada, Alice.
Alice segurou fortemente as mãos da outra loura, que se encontrava encostada na árvore, nas sombras das folhas, como se estivessem se escondendo da luz do luar. Os minutos mais longos que se passaram foi durante aquela noite, nos momentos em que Alice ouvia os grunhidos de dor escapando por entre os lábios ressecados de Robin, que sabia estar próxima à transformação.
À volta delas havia poucas árvores, havia pequenas gramíneas, formando uma clareira, em que a rubra luz do luar era exposta em abundância. Uma essência do perfume das flores apossava-se, adentrando em suas narinas. Há tempos a vampira não sentira esse aroma predominante, sendo trazido dos enormes campos de flores não muito distantes dali. Elas estavam muito próximas do território em que Alice adorava em sua infância: Os campos floridos que visitava com suas mães e seu pai.
— Por que confiastes em mim, Alice? — Robin quebrou o silêncio, perguntando-lhe algo que jamais pensaria que a moça pensaria em perguntar. — Dissestes que sabes que sou uma boa pessoa... Como?
— Tu que estás confiando em mim, pois estás fragilizada e sentada ao lado de uma desconhecida. — ela responde, fazendo um olhar sério.
— Não irás me fazer mal algum. — Robin retrucou, abrindo os olhos e segurando a respiração acelerada. Pudera ser efeito de sua transição, ou algum efeito que as órbitas azuis de Alice lhe causavam. — Se quisesses ferir-me, já terias feito! Vejas bem, Alice, preguei meus olhos por longos minutos e, mesmo assim, continuas a desemaranhar meus cabelos.
— Estás certa. — encostou a cabeça na árvore, soltando um longo e torturante suspiro. — Isso pode parecer loucura, mas... Teus olhos têm um brilho único e uma tonalidade como os de minha mãe, Jennifer. Sinto uma enorme falta das minhas mães, e olhar em teus olhos me faz pensar que estou olhando os dela.
As esmeraldas de Robin brilharam, lacrimejadas. Desde que vira àquela loura, seu par de olhos cintilaram, mas naquele momento seus olhos encheram-se de lágrimas.
— Não, Alice, não me parece loucura... — sussurrou em meio a um sorriso, enquanto segurava com força as mãos de Alice. — Parece a coisa mais sensata que ouvi o dia inteiro.
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