Lalisa passou seu fim de semana ocupada, no fim ela precisou adiantar seu trabalho para as aulas já que estará ocupada por algum tempo, logo não podendo ficar com Jennie na cabana durante as noites. Ela a avisou no jantar, antes de entrarem no refeitório, a garota mexeu os ombros em pouco caso e pareceu chateada, mas algo mais a incomodava além daquilo, Lisa fez uma nota mental de perguntar a ela outro dia.

   Era segunda de manhã, como acordou atrasada, ela correu para o refeitório já toda arrumada e com suas coisas só para poder pegar uma xícara com café quentinho. Ela estava a caminho de sua sala quando sentiu o celular vibrar, prendeu as coisas entre o braço e a lateral de seu corpo, mantendo a xícara numa mão e o celular na outra.

— Lalisa Manoban?

— Ei!

— Sou eu, o advogado que estará a seu favor. —Lis engoliu em seco. — Já temos uma data.

— Hum, y-yeah... para quando?

— Quarta-feira... agora. — Lalisa suspirou. — Hoseok te avisou?

— Do que?

    O advogado ficou calado e Lalisa fez esforço para abrir a porta de sua sala com a mão que segurava a xícara, ela costuma ser estabanada e deu sorte de não derrubar nada. Já tinha os alunos em sua sala.

— Sr Parker, eu preciso desligar, tudo bem? Estou em horário de trabalho, mas obrigado por avisar. — bateu à porta e desligou o celular, enfiando no bolso. — Bom dia, turma.

   Recebeu um coro de bom dia e deixou suas coisas na mesa, ela ia começar a falar, mas a porta foi aberta pelos dois atrasados.

— Licença. — murmurou o primeiro ao entrar.

   Lalisa deixou sua xícara cair no chão e se partir em pedaços, derramando café. Mas ela estava paralisada olhando para o último garoto que entrou, com um sorriso cínico nos lábios como se não tivesse feito nada de errado. O barulho chiou no ouvido dos alfas, Jennie se levantou assim que seus olhos seguiram os de Lis.

— O que está fazendo aqui? — Jen falou, vendo Jiwon sorrir debochadamente pra ela.

— Não é óbvio? Vim assistir a aula da nossa querida professora. — respondeu, Laliz se encolheu com sua voz.

— Professora? — Yoongi chamou, se levantando para a acudir ao perceber que ela não estava bem.

   Lisa piscou os olhos azuis em direção a Yoongi, e então ela correu, simplesmente abandonou a sala batendo à porta ao sair, deixando suas coisas para trás e seus pés a guiando para fora daquele lugar.

   Jennie viu Lisa correr assustada da sala, e avançou sobre Jiwon, a briga se iniciou com ela o batendo contra a parede e dirigindo socos em seu rosto, ela sentiu alguém o puxar para longe dela, mas não tinha acabado ainda. Jiwon tocou na sua ômega, a machucou, e ele precisa pagar!

— VOCÊ NUNCA MAIS DEVERIA ESTAR NA PRESENÇA DELA! — berrou Jennie, agora sentindo outras pessoas tentando o afastar, Jiwon rosnou, o rosto derramando sangue do nariz e boca, mas mesmo assim iria avançar em Jennie ao vê-la imobilizada, mas o restante dos meninos o prenderam contra a parede. — VOCÊ É NOJENTO! VOCÊ E TODOS OS OUTROS QUE MACHUCAM ÔMEGAS, ELES NÃO MERECEM PASSAR POR ESSAS MERDAS QUE ALFAS COMO VOCÊ FAZ CONTRA ELES!

— FODA-SE, ÔMEGAS SÓ EXISTEM PARA NOS SATISFAZER!

   Todos, sem exceção, olharam indignados para Jiwon, que esperou que alguém concordasse com ele, mas todos o encaravam com expressões de nojo.

— Ah, por favor. Vocês sem dúvida tentariam algo com a professora Manoban se tivessem oportunidade. — respondeu, o sangue de seu lábio escorrendo e sujando seu uniforme.

— Eu nunca machucaria um ômega ou beta, Jiwon. — Michael falou, sua voz saindo em desapontamento. — E sabe, eu esperava mais de você.

— Porra, até você Michael? — perguntou, tentando se soltar mas os meninos o mantiveram.

— Jiwon, você era meu melhor amigo, e eu tentava ver o seu lado bom, mas acho que ele não existe. — Michael falou magoado, Jiwon ergueu o queixo o encarando com superioridade.

— Você sem dúvidas foderia Lalisa se pudesse. — tentou usar o mesmo argumento, mas isso só irritou Jennie, que tentou avançar contra ele, mas continuaram a segurando.

— Eu nunca faria isso! — Michael falou, agora um pouco mais irritado pela acusação.

— Eu faria, sem arrependimentos. — encarou Jennie, sorrindo cínico. — Eu foderia Lalisa Manoban até ela não aguentar mais. — Jennie arranjou forças de dentro dela e se soltou dos garotos, indo contra Jiwon, o mesmo arfou com o golpe, mas os meninos voltaram a afastá-la.

— ME SOLTEM, EU PRECISO ACABAR COM ELE! — gritou Jen, ofegante e encarando Jiwon furiosa, que sorriu debochado, sangue em seus dentes.

— Eu faria isso com cada ômega que eu achasse atraente... inclusive aquele amigo dela, Kim Taehyung o nome? Yeah, bom escritor. — debochou, e dessa vez quem decidiu avançar sobre ele foi Yoongi, que imediatamente foi contido por Hoseok, que acabara de entrar na sala inconformado com a zona que estava acontecendo.

— MAS QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — sua voz de alfa fez os garotos estremecerem, Hoseok é mais velho e sua voz amedronta até mesmo os alfas, os garotos do primeiro ano que estavam no corredor olhando curiosos pela briga, colocaram as mãos no ouvido pelo incomodo que lhes foi causado.

   Hoseok lembrou-se que a voz é terrível para ômegas, então imediatamente olhou para a mesa do professor para saber se ela estava ali e pedir desculpas, mas não a encontrou, seus olhos pararam nos cacos da xícara e o café derramado não muito longe deles.

— Onde está a Miss Manoban? — perguntou, a voz ainda saindo irritada.

— Ela viu Jiwon e parece ter surtado. — Calum respondeu ao perceber que ninguém disse nada, Hoseok olhou para ele esperando ele continuar. — E correu, provavelmente com medo.

   Hoseok suspirou, olhou para Jiwon e viu que ele estava sagrando, depois olhou pare Jennie, e viu suas mãos com sangue e machucadas.

— Vão para enfermaria, as aulas da Srt. Manoban estão suspensas até ela voltar. — Hoseok olhou para Yoongi. — Acompanhe Jennie para que ela não faça outra loucura.

   Jennie se soltou dos garotos, soltando um riso em deboche encarando Hoseok.

— Não preciso ir a enfermaria, eu vou atrás de Lalisa, ela está assustada, e a última coisa que ela merece é ver ela. — disse, olhando rapidamente para Jiwon.

   Como ninguém disse nada, simplesmente saiu, e correu pelo corredor, trombando nos curiosos e tentado achar Lisa pelo seu cheiro.

   Laliz estava frustrada, com medo e confusa. Ela acabara de falar com seu advogado, o que Jiwon estava fazendo lá? Não era justo! Não era justo com ela, as pessoas que lhe machucaram ou magoaram surgirem em sua vida tempos depois, como se nunca tivessem lhe feito mal.

   Quando ela percebeu, estava escorada numa árvore qualquer, próximo do campo de futebol. Ela olhou para cima, recuperando o fôlego, suas pernas fraquejaram quando ela tentou andar para se apoiar na árvore da frente, caindo na grama úmida. Suas mãos alçaram o solo, ela soltou um suspiro de dor ao perceber que machucou o pulso, mas estava cansada de tudo, e preferiu deitar na grama e olhar para cima, os olhos lagrimejados e tão confusa.

   Ela não esperava que reagiria assim ao vê-lo. Mas o que poderia fazer? Lalisa tem medo.

  Ela em algum momento se escorou na árvore e tentou organizar seus pensamentos, limpando as poucas lágrimas que se permitiu derramar. Decidiu que ligaria ao seu advogado, e que ficaria afastada do internato até quarta, e o evento poderia esperar mais alguns dias.

— Por que ele está aqui? — sua voz saiu chorosa, ela não havia falado desde quando correu de sua sala.

— Os pais dele fizeram de tudo para ele voltar, estava perdendo aulas demais. — o advogado disse. — E o professor particular que contrataram não estava sendo o suficiente.

— Por que ninguém me avisou?

— Eu não sei, esperava que o diretor e os professores te contassem. — Lalisa suspirou.

— Estou indo pra casa das minhas irmãs. Nós nos vemos na quarta, então? — perguntou, começando a levantar, um pouco tonto.

— Tudo bem, quer que eu avise o diretor?

— Não, obrigado.

   Ao desligar a chamada, Lis caminhou para a entrada do colégio, mas não foi em direção a ele, estava com o celular na mão, pronta para ligar para Tae e pedir que pudesse vir buscá-la.

— Lalisa? — ergueu o rosto e viu Steve, que acabara de sair daquele carro preto enorme. — Eu vim hoje pois não sabia qual era o dia específico... aconteceu algo?

   Seus olhos deviam estar vermelhos assim como seu nariz, fora que sua expressão demonstrava tristeza.

— Steve, pode me tirar daqui? — pediu, se aproximando dele.

— Alguém machucou você?

— Não importa, só por favor, me tira daqui? — pediu mais uma vez, e Steve preocupado abriu a porta do carro, pedindo para ele entrar.

   Lisa deitou a cabeça no vídeo do carro, fechando os olhos e suspirando ao sentir o carro em movimento.

— Lalisa! — chamou Jennie, que saíra do internato, mas Lisa não a ouviu, os vidros do carro abafaram o som. — Lis!

   A alfa correu até a onde acabava os terrenos do colégio, mas o carro estava longe demais. Ela suspirou frustrada, suas mãos ardendo, ela teve uma briga bem feia com Jiwon, metade da sala precisou segurar Jennie para que ela não não enchesse Kim de socos.

   Jennie sentou na grama. E seu coração apertou... Lalisa procurou outra pessoa para a consolar?

— Ah, Lis... — um suspiro triste saiu de seus lábios, ela observou o carro sumir, suas mãos ardendo enquanto tentava limpar o rastro de sangue na camisa do uniforme. — Por favor, volta...

***

   Lalisa murmurou para Steve o endereço que pediu para deixá-la. Ela agradeceu assim que pararam, mal dando tempo de ouvi-lo responder e saiu do carro apressado. Aoki não insistiu quando perguntou o que aconteceu e Lisa não respondeu, a ômega correu afobada em direção à porta, batendo varias vezes seguidas até ser atendida por Félicité, que a encarou confusa.

— Lis? — ela a abraçou com força, afundando o rosto em seu pescoço, e imediatamente se sentindo um pouco mais relaxada. Ela a abraçou de volta com carinho. — Doce, o que aconteceu?

— E-Eu preciso c-contar algo. — ela murmurou, sentindo os toques gentis em suas costas. — Algo muito sério que aconteceu comigo, e preciso dos seus conselhos.

— Ah, Lis. Me diga, tentarei ajudá-la. — ela a puxou gentilmente para dentro, fechando a porta com o pé, ouvindo-a bater fortemente. — Venha, você precisa de uma água com açúcar.

   Ela percebeu que a casa estava silenciosa, Charlotte e as gêmeas não estavam.

   Quando Lis bebeu toda aquela água doce, respirou profundamente e a encarou, finalmente contou tudo. Desde os assédios pequenos de alguns alunos, até a merda que aconteceu com Jiwon, pediu desculpas por não ter contado antes, mas disse que se sentiu envergonhada. E agora estava confusa, sobre o que fazer com a sua profissão e os problemas acumulados, ela contou estar com medo de voltar, e de estar cara a cara com Kim novamente na quarta, e pediu para ela acompanhá-la. E é claro que ela foi compreensível, disse que ela não tinha culpa de nada e que estará lá com ela, dando todo o apoio que precisar.

— E sobre a sua carreira... talvez você deva sair de lá. — ela murmurou, Lisa mexeu a cabeça em negação, secando as lágrimas que escorriam de suas bochechas. 

— Não, eu não vou desistir.

— Tudo bem, mas pense, é perigoso. — ela a puxou para a abraçar mais uma vez, estavam sentadas no sofá. — E Jennie, como está?

— Oh, Jennie... — Lisa abriu os olhos no mesmo instante, ela nem mesmo se despediu da garota, ela não a vira desde quando saiu da sala. — Ela... deve estar bem.

— Acho que você deveria tomar um longo banho e descansar no seu quarto, em algumas horas irei buscar as meninas na escola, se estiver mais disposta, pode vir comigo se quiser. — ela mexeu nos cabelos dela, acariciando e sorrindo tentando a animar, Lisa concordou com um pequeno sorriso.

   Ela levantou, e o peso em sua consciência lhe martelou em todo o banho, ela deveria ter falado com Jennie, mas estava assustada e não queria voltar para lá. Espera de coração que Jennie entenda.

   Assim que entrou em seu quarto, ela sorriu, lembrando dos momentos que teve com Jennie ali. Se aconchegou em sua cama, e desejou tê-la naquele instante, para a abraçar e dizer que tudo ficará bem no final, mas terá de se contentar com apenas pensamentos e lembranças, por enquanto.

Continua...