Jamais Vu
Ele ficou preso naquele olhar por muito tempo. Não reparou em mais nada depois que os olhos dela se encontraram com os seus. Havia um mundo de coisas não ditas entre os dois ali, se encarando, mas ele não sabia nem por onde começar quando precisasse falar. Não tinham se apresentado formalmente, não sabiam quase nada um sobre o outro, mal haviam se descoberto no show que ela havia ido. Mesmo assim sentia como se a conhecesse ha anos. Realmente não precisava de muita coisa para definir o que sabia que sentia desde o momento que ela o tratou como se não fosse famoso.
Talvez fosse essa inocência dela em não reconhecê-lo quando ele estava pronto para pagar pelo seu silêncio. Talvez fosse a olhar sem julgamento. Talvez fosse a dificuldade de conversarem frente a frente. Ele não sabia exatamente o que era, mas sabia muito bem que era tudo isso junto que definia o que sentia por ela. E então ela deu um passo em sua direção, depois outro e depois outro até que ficou perto o suficiente para ele perceber a maquiagem borrada pelas lágrimas antes de abraçá-lo. Nada o preparou para as palavras dela. Ou o abraço.
— Sinto muito te fazer esperar tanto... - sussurrou contra as tranças do cabelo dela, finalmente retribuindo o abraço apertado que ela lhe dava. Passou os braços pela cintura dela e a puxou contra si, aproveitando aquele momento único. Esperou que ela dissesse mais alguma coisa. Tinham tanto o que conversar. Mas ela ficou quieta. Tentou afastar o rosto um pouco para ver o que havia acontecido e então ela se afastou abruptamente.
— Meu Deus, eu preciso de um café. Quase dormi. - falou soltando um bocejo. — Vem, vamos entrar. Preciso desse café logo.
Yoongi olhou para os lados confuso. Alguma coisa havia acontecido entre o abraço e aquele convite e ele não tinha percebido. Procurou o carro, mas Hoseok tinha ido embora com Nari, sabe-se lá para onde e não havia sinal de que voltaria tão cedo. E ela estava levando-o para dentro do apartamento. Sem nem conversarem direito, se explicarem por toda a confusão envolvendo um sósia, o show em Seul e todos os incidentes aleatórios envolvendo os dois. Quando deu por si estavam num corredor de apartamentos simples, andando devagar para não acordarem os vizinhos. Greta ia a frente, sem soltar sua mão, guiando-o entre as várias portas do segundo andar, até parar na penúltima.
— Antes de entrar, precisamos ser o mais silenciosos o possível. A minha filha está dormindo e acho que ela me odeia, então fique quietinho, ok? - Greta cochichou. Não parecia falar nada com nada, mas ele apenas concordou com a cabeça. Então a garotinha com quem ela havia cantado Cypher no outro dia era filha dela? Começou a se sentir desconfortável, com medo de um possível pai da filha dela ainda fazer parte de sua vida. Não deveria ter se deixado levar.
Greta entrou na frente depois de digitar a senha da porta e tirou os sapatos e o casaco, revelando as costas tatuadas que a blusa deixava a mostra. Yoongi ficou levemente sem ar com aquela visão, indeciso se continuava seguindo-a ou não. O apartamento era pequeno e estava parcialmente no escuro, provavelmente por conta do horário. Enquanto ele ainda tentava se decidir, Greta ligou uma cafeteira pequena e o cheiro de café brasileiro logo inundou o ambiente todo.
— Entre logo! - chamou indo de novo até ele e sorrindo convidativa. Não parecia haver nenhum resquício de timidez ou insegurança em nada do que ela fazia. Sentiu os dedos dela fechando em seu pulso, puxando-o para dentro. — Não esqueça os sapatos. — pediu. Yoongi obedeceu prontamente, com medo que ela soltasse sua mão se ele desistisse. E então ele viu as garrafinhas de soju vazia na mesinha de centro da sala pequena que era separada da cozinha apenas por uma poltrona.
— Sente-se aqui. Isso. — ela continuou agindo como se estivesse tudo na maior normalidade e eles fossem as pessoas mais íntimas do mundo. Sentou-se ao lado dele, olhando-o de perto, como havia tentado na primeira vez que se encontraram. — Você é ele, não é? Suga?
De perto assim, ele conseguia ver o próprio reflexo nos olhos castanhos da brasileira. A pouca luminosidade fazia com que tudo ficasse mais sugestivo. Tinha medo de fazer qualquer coisa depois de ter percebido que ela estava assim por conta da bebida. Não parecia bêbada, no entanto, mas tinha medo de não ser exatamente ela ali naquele momento. Concordou brevemente com a cabeça, soltando um som rouco pela garganta, sem realmente dizer nada.
— Eu sabia! Nunca deveria ter te confundido com ele. — ela falou dando aquele sorriso de novo. Ficou quieta, olhando-o de perto e analisando todos os traços de seu rosto. Viu os olhos dela fazerem o mesmo trajeto que o da filha dias antes. Foram dos olhos dele para o cabelo, do cabelo para os olhos de novo, depois para os lábios e ficaram presos ali. O coração do rapper batia tão acelerado em seu peito que ele seria capaz de compor uma letra ali mesmo se quisesse. Quando desviou os olhos dos dela e encarou o sorriso de Greta, ela apenas se aproximou e o abraçou de novo.
— Obrigada. - murmurou. E caiu no sono.
* * *
— Acha que eles vão ficar bem? - perguntou Hoseok depois de dobrar mais uma esquina seguindo as instruções de Nari.
— Vão. São dois adultos, donos de si mesmo e com muitos assuntos pendentes. — respondeu ela. — Vire aqui. - completou indicando mais um quarteirão.
— Aonde estamos indo?
— Para meu lugar secreto. — respondeu sorrindo misteriosamente. Mas quando mais ele dirigia por Daegu, mais claro ficava que estavam indo para um lugar próximo a saída da cidade. As propriedades começavam a ficar espaçadas e os parques ficavam mais evidentes conforme avançavam. Segundo o GPS, estavam se aproximando da montanha Palgongsan, um ponto turístico muito conhecido de Daegu, mas quase vazio naquele horário por conta do fim do expediente no parque de mesmo nome.
Pararam alguns minutos depois, no meio de uma mata densa de onde podiam ver uma parte da cidade e ainda se manterem escondido dos olhos curiosos. Hoseok não tinha ideia de onde estavam. Se não fosse o GPS, diria que tinham saído da cidade.
— Que lugar é esse? - perguntou ele reparando que eram os únicos ali. A luz dos faróis era a única coisa que iluminava as árvores ao redor deles, mas Nari desligou o carro antes dele dizer qualquer outra coisa. — Vai me sequestrar? - brincou quando a única luz ao redor deles ficou sendo a da lua.
— Só por alguns minutos. - sussurrou ela. Hobi ficou sério de repente, entendendo finalmente o que estava acontecendo. — Senti sua falta. - a ouviu dizer antes de sentir ela se movimentando no banco do passageiro até conseguir sentar no colo dele.
— Se eu soubesse que conheceria os melhores pontos turísticos da cidade assim, teria vindo bem antes. — estava sussurrando, não sabia bem o por quê. Sentiu o hálito quente de Nari contra seu rosto, respirando com um pouco mais de dificuldade por conta de toda a movimentação para finalmente ficarem naquela posição.
— Pode vir quando quiser, Daegu é enorme. - murmurou, colocando os braços ao redor do pescoço dele.
Ele conseguiu sentir os seios pequenos dela roçando em seu peito sob a blusa delicada que usava. A luminosidade e as árvores ao redor dava àquele momento um ar etéreo e ele o prolongou o máximo que pôde. Podia ver os olhos dela bem de perto, com as pupilas dilatadas pela excitação. A boca dela estava naquele formato em oh que ele tanto amava, esperando que ele fizesse o primeiro movimento. Mas ele ficou ali, a observando de perto, atento aos mínimos detalhes daquela mulher de atitude. Mesmo com a baixa luminosidade, conseguia ver as dobrinhas de riso ao redor dos olhos, uma pintinha minúscula em baixo do olho direito, o cabelo caindo ao redor do rosto numa cascata escura e lisa.
— O que foi? Fui muito rápida? - perguntou ela insegura. Sentia o coração dele contra seu corpo, batendo tão rápido quanto o dela, mas ele continuou parado apenas observando-a de perto.
— Não. Estou apenas admirando. Não é sempre que tem uma mulher de atitude sentada no meu colo. — respondeu com um sorriso fechado, revelando uma dobrinha na bochecha que ela não havia reparado ainda.
— Eu espero ser a única mulher a sentar nesse seu colo, Jung Hoseok!
Ele deu uma gargalhada alta, inundando o carro com aquele som e fazendo com que Nari risse junto. Ele aproveitou a distração dela para passar um dos braços ao redor da cintura dela ao mesmo tempo que o banco do motorista se inclinava completamente para trás, fazendo com que ela soltasse um gritinho de susto e se agarrasse a ele com força. O cabelo dela começou a fazer cócegas no rosto dele, mas não se importou. Assim que ela se recuperou do susto ele puxou o rosto dela delicadamente contra o seu, até que os lábios finalmente se tocassem num beijo quente e demorado.
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Nota da autora: Passamos do meio da história finalmente!! agora a ladeira começa, segurem os cintos, crianças.
Boa leitura.
Bjs <3
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