First Love
– E aí, gênio, o que a gente faz agora? – perguntou Jin para Hoseok.
Os quatro mais velhos do grupo estavam parados em frente ao barracão que abrigava o Porão. E o lugar estava claramente fechado naquele dia. Não havia ninguém na rua, nem mesmo sinal de que ia abrir mais tarde. Hoseok fez a única coisa que queria fazer desde que todos decidiram sair de Seul e ir para Daegu, mandou uma mensagem para Nari avisando que estavam na cidade.
Enquanto ele e Jin debatiam o que fariam, com direito ao mais velho reclamando que aquela ideia tinha sido péssima e agora estavam presos ali e Hobi rezando para que Nari respondesse logo, Yoongi e Namjoon observavam a fachada do barracão. Havia um letreiro elegante – apagado – com o nome do lugar e uma placa com os dias da semana e o horário de funcionamento do lugar.
– Então é aqui que acontecem as rinhas de rap que falou? – perguntou Namjoon com as mãos na cintura, olhando para cima e balançando a cabeça positivamente. Gostava muito do que estava vendo.
– Isso. – respondeu o outro ajeitando a máscara preta que usava e olhando para os lados. Os quatro parados ali definitivamente chamavam a atenção. Era uma sorte estar fechado e a rua deserta.
– E foi aqui que conheceu a garota por quem se apaixonou. – não era exatamente uma pergunta.
– Foi. – respondeu automaticamente. – Não! Quer dizer... Aish! – gemeu vencido.
– Eu ouvi você e o Hobi conversando sobre ela e a amiga outro dia, desculpa. – finalmente desviou o olhar da fachada do Porão e encarou o irmão um tempo.
– Tá puto comigo?
– Nem um pouco. – respondeu com um pequeno sorriso que marcou as covinhas por alguns segundos. – Eu queria mesmo vir. Não me importo que nos use como desculpa. – completou com simplicidade, enfiando as mãos nos bolsos da calça e voltando a olhar ao redor. – Ele já não vai ficar muito feliz quando cair a ficha. – apontou Jin com a cabeça, ainda debatendo com Hoseok sobre o que fariam agora que o lugar estava fechado e aquela era a única brecha que tinham na agenda naquela semana.
– Ele está certo. O que vamos fazer agora que a minha desculpa já era? – perguntou olhando dos dois para Namjoon.
– O lugar está fechado, mas deve ter alguém que administra... provavelmente estão trabalhando...
– Não está pensando em...
– Arrumar outra oportunidade? Por que não? – perguntou sorrindo de novo. – E isso ainda pode te ajudar com a mina lá... Não é ela que vem sempre nesse lugar?
– Bem, foi esse lugar que ela mencionou quando me confundiu com o outro cara... – comentou. De fato, se lembrava claramente dela ficar mencionando "te vejo no sábado" muitas vezes quando acreditou que ele fosse August. Talvez o lugar abrisse somente nos fins de semana? – Imagino que sim... Mas não entendo como...
– E o Hobi gosta da amiga dela, não é?
– Gosta, mas...
– É só combinar com ela. O Hobi avisa que vamos estar aqui e ela dá um jeito de vir com a amiga. Simples.
A simplicidade daquele plano pegou Yoongi desprevenido. Tinha passado por tanta coisa todas as vezes que havia tentando contato com a moça que agora que tinha um plano simples e sólido, além da ajuda de Namjoon, começava a duvidar. Se soubesse que ele ia ficar ao seu lado, teria pedido ajuda bem antes.
– O que vai fazer?
– Arrumar um evento para nós. Ser famoso deve ter alguma vantagem no fim das contas, não é?
***
– MICHA, VAMOS EMBORA A-GO-RA!!!
Nari ainda olhava para a tela do celular sem acreditar que ele realmente estava na cidade. E não estava sozinho. E ela presa ali de babá de Micha e JiYoung. A garota mal se deu ao trabalho de olhar para trás ao ouvir o grito da tia, continuou seu caminho seguindo a mãe e seu acompanhante com alguma distância.
– O que vai fazer, Micha? – perguntou o menino a seguindo de perto. Vez ou outra ele olhava por cima do ombro para conferir se Nari os seguia ainda.
– É meio óbvio, não é? – respondeu a menina se escondendo atrás de uma árvore ao perceber que a mãe foi ficando para trás na caminhada dela com o falso-Suga. – Vou atrapalhar o que quer que esteja acontecendo entre a minha mãe e aquele seboso metido a rapper.
– Como? – perguntou num sussurro se escondendo atrás da árvore junto com ela, os dois de olho no casal a frente que entrava no restaurante finalmente. – Não vão nos deixar entrar no... não é o restaurante do irmão do Suga?
Ao invés de responder, Micha correu até uma caçamba grande de lixo e esperou por JiYoung. Nari vinha bufando atrás, digitando no celular e sem prestar muita atenção em toda a estratégia das crianças para permanecerem escondidas. Ela não se importava mais em se esconder, ia acabar com aquela perseguição em breve.
– É sim! – exclamou JiYoung depois deles ficarem bastante tempo em silêncio assistindo o casal rindo e conversando lá dentro. Tinham se sentado perto de uma janela ampla e Greta agora estava sem a jaqueta, mostrando que havia se arrumado para impressionar. Micha fez uma careta revirando os olhos, ainda sem responder ao garoto. – E se o Suga estiver lá dentro?
– Ele está em Seul. Se estivesse em Daegu a gente saberia. – argumentou ela sem olhar para ele.
– Micha, vamos embora. Chega dessa perseguição sem sentido. – Nari parou ao lado da caçamba. Bastava Greta olhar pela janela e veria a moça ali. Mas a moça não tirou os olhos de seu acompanhante.
– Sai daí, ela vai te ver! – resmungou Micha fazendo sinal com a mão para que ela se juntasse às duas crianças em seu esconderijo.
– Que seja. Eu preciso ir. – falou. Olhou para a amiga e August lá dentro e eles pareciam dispostos a se esforçarem para que o encontro fosse no mínimo bom. – Precisamos ir. É urgente.
– O que é mais urgente que aquilo? – protestou a menina, apontando para a mãe.
– O Yoongi está em Daegu.
– Mentirosa.
– E ele não veio sozinho. – continuou Nari fingindo que não tinha ouvido aquele desrespeito.
– Não acredito que não vai me ajudar, tia Nari! – a menina apelou. A moça fechou os olhos, tentando fingir que não tinha visto os olhos castanhos de Micha assumirem aquele ar inocente que só crianças fofas como ela conseguiam.
– É justamente porque quero te ajudar que precisamos ir. Por favor, me obedeça só dessa vez. – pediu.
– Como sabe que o Suga está em Daegu, ahjumma? – perguntou JiYoung tentando evitar que as duas brigassem.
– Porque eu estou saindo com o J-Hope e ele me mandou mensagem dizendo que estão em Daegu. – respondeu com simplicidade. Não tinha porque esconder isso dos dois. Não quando ia levá-los consigo para se encontrar com os meninos do BTS. Num gesto teatral ela desbloqueou o celular e virou para Micha e JiYoung verem a mensagem de Hoseok. Havia uma nova mensagem.
"Os hyungs estão comigo. O Porão está fechado. O que eu faço? Podemos nos ver?"
O queixo de Micha e JiYoung caíram ao mesmo tempo lendo aquilo. A menina finalmente olhou para a tia, impressionada e empolgada. Mas seu orgulho ainda falava mais alto e ela tentou blefar.
– Quem garante que é real?
– Jang Mi Cha, não me obrigue a ser dura com você. Não duvide. – Nari finalmente ficou brava.
Micha ficou muda. Era a primeira vez que alguém além da avó paterna usava seu nome completo em coreano. Nunca imaginou que tia Nari soubesse daquele nome porque imaginou que a mãe tivesse contado apenas do nome brasileiro. Mas ali estava ela, as mãos na cintura, o olhar duro, ainda sem se esconder, chamando-a pelo nome completo. Em coreano.
– Vou poder conhecer o J-Hope? – perguntou a menina num sussurro.
– Não!
Micha e Nari se viraram ao mesmo tempo e deram de cara com Greta de braços cruzados, parada atrás da amiga. Tinha tido a impressão de ter visto Nari do lado de fora. Mal havia se acomodado e aberto o cardápio que haviam recebido e viu a moça furiosa do lado de fora. De onde estava ela tinha visto apenas Nari brigando com a lixeira, mas bastava lembrar que ela era responsável por Micha naquela noite para entender com quem ela estava brigando.
– Não gostou de nada, Noonim?
– Não é isso, eu... preciso ir. Sinto muito. – respondeu antes de se levantar com a bolsa e a jaqueta nas mãos, deixando Min Su ali sem maiores explicações.
Tinha suspeitado corretamente, era a própria filha que estava escondida atrás da caçamba de lixo. Arqueou a sobrancelha, os olhos indo de Micha para Thomas e dele para Nari. A moça imediatamente empalideceu, arrependida de ter seguido a ideia maluca de Micha de irem atrás dela e de August.
– Greta, eu posso explicar.
– Não precisa, Nari. – ela mal olhou para a amiga. Encarou Micha furiosa, tendo certeza que aquilo tinha sido ideia dela e que, por mais que Nari fosse a adulta, ela tinha de alguma forma conseguido convencê-la de seguirem os dois depois que deixaram o apartamento.
– Mãe, eu..
– Estou muito decepcionada com você, Michelle. – respondeu antes que ela continuasse. – E ainda por cima trouxe o Thomas com você!
– Ahjumma, a gente pode explicar e...
– Fique feliz que não vou contar para sua mãe que andou a cidade inteira seguindo dois adultos, JiYoung! – respondeu usando o nome coreano dele pela primeira vez. O menino pareceu encolher no mesmo lugar.
– Greta, eu cuido disso. Volte para o seu encontro. – tentou argumentar Nari.
– Já falei que não precisa. Vá encontrar o J-Hope. Amanhã conversamos. – falou sem realmente olhar nos olhos da amiga. – Vamos, Michelle.
***
A cabeça de Greta doía como se estivesse sendo martelada de dentro para fora. Sentia o cérebro latejar no que provavelmente seria uma das piores enxaquecas que teria naquele ano. Fechou os olhos, massageando a lateral do rosto com uma mão enquanto a outra segurava um copinho cheio de soju. Estava sentada sozinha na sala do pequeno apartamento, bebendo para poder conseguir esquecer tudo o que havia acontecido nos últimos dias.
Infelizmente quanto mais ela pensava, menos parecia possível que fosse esquecer. Havia tido uma briga enorme com Micha assim que chegaram em casa. Pensar nisso fez com que a cabeça latejasse mais um poucos, mas não iam conseguir fugir daquela briga por muito mais tempo.
– Posso saber o que estava fazendo na rua a essa hora, Michelle?
– O que você viu naquele cara, mãe? Por que resolveu arrumar um namorado justo agora?!
– Responda a minha pergunta, Micha.
– Eu queria ver o que ia acontecer! – respondeu. – Eu não gosto dele, não gosto de como olha para você, não gosto de como ele fica imitando o Suga, não...
– Não é você que tem que gostar de nada, Micha! Isso é coisa de adulto!
– Por que? Por acaso está precisando tanto assim de sexo?! – gritou a menina com lágrimas nos olhos.
O tapa veio antes que qualquer uma das duas se desse conta. Greta nunca tinha levantado a mão para a menina, nunca tinha precisado nem colocá-la de castigo. E agora tinha acabado de dar um tapa no braço da menina. O segundo e o terceiro foram na bunda.
– VOCÊ ME RESPEITE QUE EU AINDA SOU SUA MÃE! – gritou parando a mão no ar antes do quarto tapa.
A cabeça latejou de novo, dessa vez de arrependimento. Não devia ter perdido o controle. Não devia ter batido. Era contra esse tipo de coisa, principalmente porque tinha levado muitas chineladas quando criança antes do pai morrer. Abaixou a cabeça e virou o copinho de soju.
Micha tinha se enfiado no quarto depois dos tapas e não saiu mais. Greta ficou ali, se sentindo culpada por tudo. Pelos tapas, por ter se atrevido a achar que podia voltar a sair com um homem, por ter colocado tanta responsabilidade em cima de Nari, por ter confiado que a filha ia lhe obedecer. Tomou outra dose de soju.
– Tudo isso porque se apaixonou por um idol. Idiota. – resmungou sentindo os olhos arderem. Pela primeira vez em muitos anos, desejou estar no Brasil e não na Coreia. Teria a mãe e as irmãs por perto. Micha teria os primos. E ela não se iludiria com um cara inalcançável. Nem com seu sósia.
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Nota da autora: a Mariana me convenceu a postar antes hehehe sexta continua normal, se Deus quiser.
Beijos <3
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