Eight (Prod. Feat. Suga of BTS)
Ela esperava sozinha a vez que o grupo onde estava pudesse entrar para o fanmeeting*. Os grupos eram divididos em vinte pessoas por vez para entrar num salão onde o grupo estaria disposto numa longa mesa, para receber presentes e conversar com os fãs. Por exatos dois minutos cada membro. Era a primeira vez que ela ia a um desses.
Tudo o que sabia sobre esse tipo de evento Micha descobriu por meio da televisão ou de posts em fóruns online sobre o BTS. Graças a sua nova vida na casa da mãe de tia Nari — e à tia propriamente dito — agora ela estava numa fila com fãs de todas as idades. Era verdade que a maioria ali era bem mais velha que ela, mesmo assim estavam todas no mesmo patamar, segurando presentes e cartazes. Não entendeu o motivo de sua sacola ter sido verificada por três pessoas diferentes, mas agradeceu ao próprio bom senso de não ter embrulhado nada antes de colocar seus presentes ali. Eram coisas simples, como cartas, colagens e chaveiros que ela mesma havia feito com as meninas durante suas tardes na igreja quando ainda morava em Daegu. Estava ali representando todas elas.
Nari esperava a distância, conversando ao telefone e olhando sempre por cima do ombro com medo de alguém reconhecê-la como a pessoa na foto de J-Hope. Mas estava tão diferente com o cabelo loiro e os óculos de sol que a menina duvidou que alguém olharia duas vezes para aquela mulher encostada num carro. Era a única adulta a não entrar na fila, então nem mesmo os seguranças deram atenção maior do que ela precisava. Quando viu que a menina a encarava ela sorriu e acenou, fazendo sinal de que estava tudo bem.
Não demorou muito para o grupo dela ser chamado. Teve a sacola revistada mais uma vez antes de poder entrar finalmente. Ajeitou o cabelo cacheado e a faixa que usava como tiara antes de prestar atenção ao lugar. O salão era tão grande quanto uma quadra de basquete e ao centro estava uma mesa grande com os sete sentados lado a lado. O grupo antes do dela se despedia quando as primeiras meninas da fila começaram sua peregrinação.
O primeiro da fila era Jin e ao lado dele vinham Namjoon, Yoongi, Hoseok, Jimin, Taehyung e finalmente Jungkook. Sentiu que seu coração ia explodir a qualquer momento de empolgação. Apesar de já ter abraçado — num evento solo — os quatro mais velhos, seria sua primeira vez vendo os outros três e ela nunca se acostumaria com essa proximidade provocada pelo destino.
Abaixou a cabeça nervosa e soltou o ar devagarinho quando a menina a sua frente apertou a mão de Jin. Ele foi extremamente gentil e solícito com ela, mas bastou um olhar para o lado para reconhecer Micha e seu sorriso se ampliar imediatamente.
— MICHA-SSI! — exclamou quando chegou sua vez. Sentiu a mão dele ir da sua para o cabelo e o coração instantaneamente se encheu de amor. — Como você está? O que veio fazer em Seul? Veio só por causa do fanmeeting?
Micha riu com a ansiedade e as perguntas e lembrou de si mesma fazendo isso com Greta e Nari sempre que se empolgava.
— Agora eu moro aqui, oppa. — respondeu.
Ao lado dele Namjoon já sorria também, esperando os minutos dela com Jin acabarem para ele poder cumprimentá-la. Deixou o chaveiro de Jin a frente dele e foi em direção ao líder do grupo. Podia sentir a tensão saindo de seu corpo conforme respondia às perguntas dele sobre sua saúde, o rosto doendo por não conseguir desmanchar o sorriso apenas por rever as covinhas de RM de perto. Acabou parada ali mais do que os dois minutos permitidos porque logo Jin e Yoongi se intrometeram na conversa, interessados no pós-operatório dela tanto quanto o líder.
Sentiu a mão de uma moça tocando suas costas e gentilmente a guiando para Suga depois dela finalmente deixar o chaveiro para seu dono. Sorriu para o rapper e sentiu os olhos arderem porque era de quem ela mais sentia falta.
— Oi, Pequena! Como estão as coisas? — perguntou. Ela percebeu os olhos vermelhos de quem dormia pouco, mas não perguntou sobre isso. Deixou que ele entrelaçasse os dedos aos dela enquanto se aproximava para conversarem mais de perto sem que ninguém desconfiasse do assunto.
— Está tudo bem. Moramos aqui, agora, com a tia Nari. — respondeu. Sorriu ao ver o sorriso de Hoseok se ampliar ao lado. — Mas não sei por quanto tempo, oppa. — completou num sussurro. Discretamente ela empurrou um envelope na direção dele e fez sinal de que era segredo.
A moça da equipe voltou a colocar a mão delicadamente em suas costas e ela foi para Hoseok e seguiu assim até chegar a Jungkook. Os mais novos a trataram como se também a conhecessem desde sempre, apenas porque os outros tinham contado sobre sua internação e sobre a apresentação em Daegu. Assim como fez para Suga, Micha empurrou uma cartinha para Jungkook e sentiu o rosto arder de vergonha, porque não era dela.
— Minha amiga Maria pediu que te entregasse isso, oppa. Ela ama o grupo, mas você é o favorito. — explicou. Jungkook sorriu e guardou a cartinha no bolso interno da jaqueta que usava.
— Diz a ela que agradeço muito e que vou guardar com muito carinho. — falou passando a mão de leve no cabelo cacheado de Micha e sorrindo quando ela se despediu.
Micha saiu se sentindo muito mais leve do que quando entrou e não era apenas por conta dos presentes que havia deixado lá dentro. Nari esperava dentro do carro ainda ao telefone quando a menina entrou, corada e com o cabelo bem mais armado do que quando tinham chegado.
— Deu tudo certo?
— Deu!
— Ele perguntou da sua mãe?
— Não diretamente, mas achei ele diferente de quando foi para Daegu...
— Até nisso eles são iguais, gente do céu! — desabafou Nari. — Tudo bem, meu amor. Você fez bem. Está com fome?
***
Yoongi andou pelo corredor que levava para os fundos do teatro onde havia acontecido o fanmeeting com a carta de Micha na mão. Tinha lido enquanto a equipe de produção definia como eles fariam para evitar os fotógrafos, jornalistas e fãs mais ousados. Ainda havia a sombra da foto em seu caminho, então evitava aparecer assim para que eles não tivessem material. Enquanto os outros saíram pela porta principal, ele ia pela lateral, onde sua van o esperaria.
Parou no corredor antes da porta e voltou a abrir a carta da menina. Assim que saísse dali teria que ter um plano e já colocá-lo em prática. Mas para isso precisava entender todas as implicações envolvendo as informações dadas pela menina naquele pequeno papel cor-de-rosa dobrado em formato de coração.
Querido Suga,
Tudo bem? Nunca escrevi uma carta antes, então me desculpe se ela não for exatamente do jeito que deveria ser. Entregar a carta durante o evento, junto com os presentes que fiz foi uma ideia da tia Nari. Aliás, você gostou do chaveirinho? Eu ia te entregar em Daegu, quando minha mãe ainda trabalhava na loja do tio Joong, mas depois tudo deu errado e só consegui agora. Acho que era para ser assim, porque consegui fazer as outras seis a tempo depois daquele dia.
Não sei até onde J-Hope-oppa te contou, mas agora eu moro com a tia Nari. Minha mãe também. E estamos morando em Seul! Entrei para uma escola nova, mas é difícil fazer amizade no começo. O que você faria?
Não sei quanto tempo vou ficar na escola nova. Ouvi minha mãe e tia Nari brigando outro dia e acho que vou morar com a minha avó em São Paulo. Por favor, me ajude! Eu não quero ir embora! Não quero ir para o Brasil. Não sei se vão gostar de mim, se vou gostar dos meus primos. E se eles forem mais chatos que o JiYoung? Acho que vou morrer se for. Eu sei que você gosta da minha mãe. E ela gosta de você também.
Ela acha que eu não percebo, mas as vezes quando vou dormir no quarto dela (agora tenho um quarto só para mim na casa da tia Nari) ela chora e diz seu nome bem baixinho. O que aconteceu entre vocês? Você me disse que gostava dela. Que ia tentar não magoar e tal. Então por que faz tanto tempo que não se falam? Por favor, me ajude, oppa! Não deixa ela me levar para o Brasil! Diz a ela que você a ama! Por favor!
Te amo.
Micha
Ps: Meu cabelo favorito é o preto, por favor, não mude tão cedo (a não ser que seja pro azul ou o verde). M.
Apertou o papel de carta na mão, sem saber como ajudaria a menina. Claro que não queria que Greta fosse embora para o Brasil, como a menina bem sabia, ele realmente a amava e isso dificultaria mais ainda seu plano. Não tinha passado por todos aqueles obstáculos para simplesmente abandoná-la depois da noite incrível que tiveram. Se recusava a deixar sua vida cair na mesmice de novo. Tinha que ter um jeito deles poderem ficar juntos sem que suas vidas fossem transformadas num inferno.
Ajeitou o chapéu de pescador, a máscara e os óculos de sol para evitar qualquer foto e entrou na van sem realmente ver o que acontecia do lado de fora do local. Esperava encontrar Taehyung sentado lá dentro, mas ao invés disso deu de cara com Greta. Usava uma boina branca idêntica a que Taehyung tinha usado no evento, combinado com uma jaqueta jeans que ele reconheceu ter sido feita por Lola, porque o garoto também tinha uma igual. Sentiu-se emocionado com a ajuda de ambos, mesmo que não estivessem mais juntos.
O motorista parou a van num beco, dois quarteirões dali e desceu, deixando-os sozinhos finalmente.
— Garanto apenas vinte minutos, Yoongi-ssi. — falou antes de ir em direção a um café próximo com a desculpa de que o rapper tinha pedido.
— Precisamos conversar. — falou a moça assim que o homem saiu.
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NOTA DA AUTORA: quase no fim. to triste.
VOCABULÁRIO: *Fanmeeting: encontro com os fãs.
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