28 (feat. NiiHWA)
Ele chegou à mesa de comida no mesmo instante que a equipe auxiliar a abastecia com água, sucos e até café. A visão do café fez ele se lembrar – pela décima quinta vez só naquele dia – que não conseguia falar com Greta há quase um mês. O escândalo tinha gerado todo tipo de comoção mundo afora. Desde mensagens de apoio à vida amorosa dele e dos membros do grupo (principalmente dos fãs estrangeiros), até ameaças de morte porque supostamente ele e Hoseok tinham maculado uma das melhores duplas do grupo.
— Ahjumma, que tipo de café é esse? — perguntou ao pegar um copinho de papel cheio.
— É daquela cafeteria que vocês amam, querido. — respondeu a mulher ajeitando uma bandeja com frutas da estação.
— Que tipo de café você queria, hyung? — perguntou Jungkook parando ao seu lado e enchendo a boca com uvas verdes. Estava suado e respirando pesadamente por conta do último ensaio, mas parecia mais disposto do que nunca. E faminto.
— Brasileiro. — respondeu Jin, chegando logo em seguida, tão suado quanto.
Yoongi fechou a expressão e fingiu que não tinha ouvido a provocação do mais velho. Pegou uma tampa para seu copo de café e deu um longo gole, desejando mesmo que ele fosse brasileiro. Mais especificamente da mesma marca que havia tomado em Daegu.
— O que houve? — perguntou Taehyung do outro lado da mesa, percebendo a cara de poucos amigos do rapper. — Anda bem mais mal-humorado do que o normal, ultimamente. Tá tudo bem?
— Não é nada... — resmungou sem olhar diretamente nos olhos de ninguém e se afastando da mesa.
— Vocês brigaram? — Taehyung perguntou quando Hoseok chegou à mesa e pegou uma das garrafas de água que estavam mergulhadas num balde cheio de gelo. Namjoon e Jimin chegaram à mesa nesse momento.
— Não. — respondeu Hoseok com simplicidade.
— Por que vocês dois estão tão esquisitos, então?
— Não é nada. — respondeu o mais velho, já saindo de perto e seguindo Yoongi.
— Foram aquelas fotos... — sussurrou Jimin quando olharam para Namjoon ao seu lado.
Todos fizeram "oh" ao mesmo tempo, como se entendessem finalmente a informação subliminar naquele momento.
— Mas aquelas fotos são reais? Pensei que a empresa já tivesse resolvido... — argumentou Jungkook.
— É complicado... — Namjoon se serviu de café também, sem olhar diretamente nos olhos de nenhum deles. Não era ele quem ia falar sobre a vida particular dos outros dois. — Só os deixem em paz... logo eles melhoram. — completou já saindo de perto.
Taehyung ficou observando os três membros da rap line se afastando e sentiu como se o problema fosse dele também. De certa forma ele entendia como Hoseok e Yoongi estavam se sentindo diante de todas as medidas tomadas pela Big Hit.
Pegou um copo de café e deixou do jeito que sabia que Yoongi gostava e foi até ele. O rapper estava deitado no chão em frente ao espelho, os braços bem abertos e os olhos fechados, descansando até que precisassem ensaiar a próxima coreografia. Devagar o mais novo colocou o copo de café ao lado do outro e se deitou também. Ficaram assim, em silêncio muito tempo, apenas apreciando a companhia um do outro, numa conversa silenciosa sobre as dificuldades de ser idol e ter uma vida normal.
Dali, podiam ouvir a risada dos outros membros ainda à mesa de comida. Devagar, Taehyung ficou de lado e encarou Yoongi, se surpreendendo ao ver o outro de olhos abertos, encarando as vigas do teto, mas claramente com a mente a quilômetros daquela sala de dança.
— Sente falta dela? — perguntou sem se virar para o menino, ainda encarando o teto. Referia-se a Lola e sabia que ele entenderia.
— Todo dia. — respondeu com um suspiro.
— Elas são amigas, sabia?
— Lola e a... como é mesmo o nome dela?
— Gleta. Gleta-ssi. — respondeu com um sorriso triste. — Ela também é brasileira. Ficaram amigas no dia do Muster. — explicou.
— Entendo...
Voltaram a ficar em silêncio, cada um perdido nos próprios pensamentos. Ambos tristes com o jeito como algumas coisas tinham desenrolado em suas vidas.
— O que acontece agora? — perguntou Taehyung, ficando de costas e encarando o teto também.
— Não sei... — responde Yoongi depois de um longo suspiro.
— Gosta dela?
— Bastante.
— Sente falta?
— Até quando não quero... — respondeu.
— Mas...?
— Mas não sei como me aproximar de novo. Toda vez que eu tento é como se a empresa soubesse, porque não consigo nem pegar o celular sem que me interrompam. — desabafou o rapper.
— Logo eles se cansam. — Taehyung se virou para Yoongi e sorriu gentilmente. O sorriso fez com que o mais velho se lembrasse de Micha e sentisse mais saudade ainda de Daegu. — Foi assim comigo também...
— E o que você fez? — perguntou Yoongi. Já sabia a resposta. Lola já tinha lhe contado o que havia acontecido. Finalmente encarou Taehyung e os olhos dele estavam marejados de água, triste de repente. — Não... comigo não vai ser assim. — completou o rapper, sentando-se finalmente e tomando uma decisão. — Não passei por tudo isso para desistir agora.
***
Por mais que sua vida tivesse se transformado radicalmente agora que estava "sob a asa" da família Kang, como dizia Nari, Greta não conseguia se adaptar a Seul. Estava parada em frente ao portão gigantesco da nova escola de Micha — bancada por Kang Na Young — esperando a filha sair e avaliando se valia a pena ter aceitado o plano maluco de mudarem de Daegu.
Micha parecia tão infeliz quanto, andando cabisbaixa até o portão. Quando já estava a poucos metros, viu que Greta a esperava e fingiu um sorriso animado, correndo em sua direção. Não queria preocupar a mãe mais do que sabia que ela já estava preocupada, então apenas fingiu empolgação. Não tinha muito o que contar sobre a escola nova. Os colegas de classe já tinham seus grupinhos e, assim como acontecia em Daegu, ela era diferente demais para ser aceita de cara. Na outra cidade ela tinha, pelo menos, os amigos da igreja. Agora nem isso. Mesmo assim jogou o cabelo para o lado, enquanto corria até Greta, fingindo que estava tudo bem.
— O que vamos comer hoje? — perguntou, abraçando-a pela cintura e mostrando todos os dentes no sorriso forçado.
Greta acariciou o cabelo longo de Micha e sorriu de volta. Conhecia aquela expressão, era a mesma usada quando a menina mentia sobre alguma coisa, mas não disse nada. Fingiu apenas que também estava animada. A única coisa boa, afinal de contas, era poder ir buscar Micha todos os dias.
— O que quer comer?
— Hambúrguer!
— De novo?! Já comemos isso antes de ontem. Outra coisa.
— Tteokbokki*!
Quando já estavam sentadas num restaurante pequeno, perto da estação de metrô mais próxima ao prédio onde moravam com Nari ha um mês, Micha finalmente desfez os sorrisos forçados. Observava a mãe com atenção. Não havia mais olheira ou sinal de sono, mas também não era mais tão comum ver a mãe rindo e jogando a cabeça para trás quando isso acontecia. As tranças tinham dado lugar ao cabelo cacheado e com o laranja renovado, quase como se ela quisesse ser reconhecida de longe. Os brincos grandes deram lugar a brincos mais discretos e o rosto sem maquiagem, agora estava quase sempre impecável. A busca por emprego continuava, então apesar de ter voltado ao cabelo natural, ele estava preso num coque baixo e laranja.
— Mãe?
— Hmmm?
Micha ficou quieta. Sentia falta da antiga Greta, a que apesar de todas as preocupações, ainda sorria com ela. A menina observou que o prato da mãe continuava intocado e ela sempre olhava para os lados, como se esperasse encontrar algo perdido.
— Até quando vamos ficar em Seul?
— Não sei, filha... — respondeu deixando o olhar perdido na vasilha de arroz branco que esfriava a sua frente. Continuava odiando Seul, mas Daegu agora era praticamente impossível por conta da atenção em sua direção.
Podia ser anônima, mas não foi difícil para os jornalistas descobrirem que ela havia apresentado o show naquela fatídica noite. Sua imagem não podia ser associada à notícia nenhuma, mas isso não os impedia se seguirem-na e descobrirem tudo sobre sua vida na esperança de Yoongi voltar a aparecer.
Depois de uma semana olhando por cima do ombro sempre que saía de casa, Greta decidiu acatar a sugestão da mãe de Nari e aceitar o convite para viverem juntas em Seul. Tinham se livrado dos jornalistas com facilidade ali, mas agora havia essa situação de ser sustentada por Kang Nayoung, viver numa cidade que odiava, continuar desempregada e ter trancado a faculdade - de novo. Fora o fato de que amava um cara impossível de ser amado. Estavam muito mais próximos, mas sem poderem se ver. Talvez fosse a hora de pensar em voltar para casa.
***
— Por que tem que ser eu? — perguntou Hoseok sem vontade nenhuma de participar de uma reunião no meio da semana. Ultimamente seu humor não era dos melhores e ter que fingir que estava tudo bem era cansativo às vezes. Tipo hoje.
— Porque é um patrocínio importante e Kang-depyunim* enfatizou que é um patrocínio solo. Vai ser ótimo para sua próxima mixtape.
Olhou para o relógio de pulso de novo. O tal depyunim estava atrasado e ele queria ir logo para casa. Olhou para a cidade pela janela ampla da sala de reuniões, reservada naquele horário para seu encontro com o tal patrocinador. Ninguém tinha contado, no entanto, que tipo de produto essa empresa vendia, dizia apenas que queria patrocinar seu novo trabalho, independente do que fosse. Mesmo que ele quisesse produzir chaveiros de um dólar, essa pessoa patrocinaria. Mas primeiro precisava de uma reunião juntos, ou o contrato já era.
Pegou o celular com a intenção de jogar num site de busca o nome do tal presidente, mas só sabia o sobrenome e mais nada. Haviam inúmeros Kang só em Seul, imagine se fosse contar a Coreia toda. Voltou a bloquear o celular e o jogou sobre a mesa, afundando as mãos no cabelo e soltando um suspiro. Agora até mesmo a ideia de usar a internet o lembrava dela. Queria vê-la e sabia que a recíproca era verdadeira, mas agora não havia lugar nenhum onde pudesse ir sem ser seguido por fotógrafos. Não podia se arriscar.
— Hoseok-ssi?
— Hmm. — resmungou ainda com a cabeça abaixada, cansado.
— Podemos começar a reunião? — perguntou alguém. Ele levantou a cabeça e deu de cara com uma moça loira, de óculos de sol e máscara. Quem em sã consciência vai a uma reunião de óculos de sol? Do lado de dentro de um prédio?
— Você é Kang-depyunim? — perguntou sem jeito. Ele esperava um homem. E mais velho.
A moça fechou a porta devagar e a trancou em seguida. Olhou pelos vidros da sala e fechou todas as persianas, fazendo com que as pessoas do outro lado parassem para olhar. Hobi cruzou os braços, confuso, e se recostou na cadeira, observando-a em silêncio.
— Que tipo de reunião...? — perguntou depois dela verificar mais uma vez a porta e as persianas. Esperava que mais gente chegasse - estava acostumado com esse tipo de reunião sempre cheio - mas as atitudes da moça o fizeram se questionar se tinha sido uma boa idéia concordar.
— O tipo que eu não posso me arriscar. — a moça respondeu. Deu a volta na mesa com rapidez e se jogou no colo dele sem aviso. — Senti tanto a sua falta!! — Hoseok ficou em choque, congelado na cadeira enquanto ela o abraçava.
— Mas o que...?
— Espera. — e então ela tirou os óculos e a máscara e sorriu. — Oi.
Os olhos dele foram do sorriso para o cabelo e depois para os olhos dela. Se antes tinha ficado em choque por ela ter trancado a sala e fechado todas as persianas, agora estava em choque com o cabelo diferente e as lentes de contato colorida. Kang Nari balançou o cabelo e sorriu de novo.
— Não pareço uma idol? Gostou?
Ao invés de responder, ele a abraçou apertado, afundando o rosto em seu colo e absorvendo os cheiros familiares dos perfumes e cremes que havia aprendido a amar tanto quanto amava aquela mulher. Sentiu os braços dela ao redor de seu pescoço e a mão fazendo carinho devagar em seu cabelo.
— Como...? — perguntou ainda com o rosto afundado nela.
— O que?
— Como fez isso? — perguntou levantando a cabeça e a encarando. A visão o deixou sem ar de novo. Definitivamente gostava do cabelo mais claro, mas ele dispensava as lente coloridas. Não combinavam com ela.
— Sou sua patrocinadora agora. Vamos ter várias dessas reuniões se assinar meu contrato. Fui promovida. — respondeu passando a mão no rosto dele delicadamente. — Eu sempre vou dar um jeito de te achar. — sussurrou beijando-o finalmente.
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Nota da autora: a fic ta completa, vou postando aos poucos os capítulos que faltam.
Bjos
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