Capítulo 21
— Pessoal — era a voz de Thomas e ele parecia esbanjar simpatia em seu tom. — O restaurante está bastante movimentado — constatou o óbvio, e Mariana se virou para o lado a fim de fitá-lo. Eu apenas ignorei o fato, já que estava de costas para ele e não me daria ao trabalho de virar para encará-lo. — Então, vocês se importariam se Augusto e eu nos juntássemos a vocês?
O ar se tornou rarefeito, e nossas posturas se tornaram tensas. Nós quatro nos entreolhamos, sentindo o clima pesado. Quem teria a coragem de dizer não para o chefe?
Fernanda tinha motivos óbvios para não querer Augusto por perto em sua hora de almoço, e esperei que ela fizesse alguma coisa, mas isso não aconteceu.
Cutuquei o braço dela e ela ergueu a cabeça, inquirindo com o gesto.
"Não" Balbuciei balançando a cabeça em uma negativa para ela.
"Eu?" Ela murmurou apontando para si mesma, parecendo ofendida com a proposta.
"Fala!" insisti.
"Não. Fala você" respondeu, elevando um pouco o sussurro.
"Fala você" eu já estava bem mais extravagante e desesperada do que deveria.
— Claro que não... — foi Fred quem respondeu, abrindo um sorriso amigável para Thomas. — Senta aí!
Oh meu Deus, não! Fê e eu o condenamos em silêncio com um carranca, mas o pobre coitado sequer tinha noção da besteira que acabara de cometer.
Ergui o olhar pela primeira vez a tempo de vez Augusto puxar a cadeira vazia que estava ao lado da de Fernanda, e quando ele se sentou, ela arrastou a dela para trás, e em silêncio, mas completamente revoltada, apenas abandonou o assento e sentou-se na cabeceira da mesa ao meu lado.
Mas isso não foi tudo. Para o meu total e completo azar, Thomas tomou o lugar que era da Fernanda AO MEU LADO e se sentou.
Suspirei, apreensiva pelo clima que se estabelecia dentro de mim, pronta para descontar isso tudo em Fernanda.
— Sua traíra! — disparei, entre os dentes para ela, num tom baixo o bastante para que somente ela pudesse me ouvir.
— O que você esperava? — ela parecia tão contrariada quanto eu, inclinando-se para o meu lado, próximo do meu ouvido, a fim de responder no mesmo tom. — Eu não vou ficar do lado desse cretino.
— E eu? — inquiri com rompante, me inclinando sobre a cintura para mais perto dela — Eu posso ficar do lado desse babaca, não é?
Fernanda não respondeu, ela recostou-se na cadeira e deu de ombros. Eu quis voar em seu pescoço. Amiga bastarda.
Thomas chamou minha atenção ao se acomodou na cadeira e suspirou, dando uma pequena cotovelada em meu braço.
— Isso vai ser interessante... — Thomas soltou, despretensiosamente.
— O que você disse? — indaguei incrédula. A menos que estivesse surda, eu não teria escutado, quer dizer, havia muito barulho em volta, mas ele estava ao meu lado.
Thomas ergueu sua cabeça e virou-a na minha direção. Seus olhos tão nublados quanto o céu lá fora carregavam um brilho sombrio e indecifrável.
— Nada. — Ele respondeu, arqueando a sobrancelha ao pegar o cardápio.
Não tinha condição nenhuma de lidar com Thomas. A minha cabeça estava tão cheia de problemas, e ele era a última pessoa que eu gostaria de ver hoje. Me recusava a pensar na forma em que ele havia me encurralado na última sexta-feira, porque isso me deixava ainda mais irritada.
Thomas conseguia ser um completo idiota toda vez que estava na minha presença. Ele sempre arranjava um jeito de me humilhar, ou de soltar alguma palavra atravessada, mas neste momento, não estava disposta a aceitar isso, pois sabia tão bem quanto ele, o que havia sido dito. Ele estava jogando comigo e sentar nessa droga de mesa estava sendo uma das suas partidas sórdidas. Thomas estava fazendo de tudo para me infernizar, e eu já estava farta disso. Talvez estivesse caindo em mais uma de suas investidas, mas estava farta em tentar deixar "isso para lá". Não estava funcionando. Thomas não parecia respeitar o meu espaço. Na verdade, o babaca não dava a mínima para as minhas barreiras e chutava todos os meus limites. Queria riscar uma linha de milhares de quilômetros entre mim e ele.
Distância dele. Será que era pedir demais?
— Thomas, por acaso eu sou um tipo de piada para você? — questionei com rispidez. — O que você está fazendo aqui?
Thomas ergueu um pouco os ombros, os olhos ainda percorriam o cardápio quando os tirou para direcioná-los a mim.
— Isso não parece meio óbvio? — indagou, provocativamente, a voz constante e com um punhado de ironia. — Tentando almoçar, você não está vendo?
Enviesei o meu olhar para ele, pois desejei pegar aquele deboche explicito e fazê-lo engolir junto com a sua maldita língua afiada. Senti uma onda de ressentimento e amargura tomar conta de mim. Eu sabia que ele estava fazendo isso para me provocar, mas esperava que a essa altura, conseguisse pelo menos colocar algum limite entre mim e ele.
— Eu tinha me esquecido de como você consegue ser desagradável. — Soltei, com os olhos apertados, encarando-o com desprezo.
Os músculos da sua mandíbula estavam contraídos. Eu sabia que ele tinha uma resposta na ponta da língua. Mas quem se importava? Se ele fosse grosseiro, eu também seria. Ele tinha de parar de estar em todos os lugares em que eu frequentava. Isso estava começando a se tornar irritante. Que direito ele tinha de sentar à minha mesa, ao meu lado, e ainda ser hostil?
— Sabe, Nina. Francamente eu gostaria muito de saber em que momento eu fui tão desagradável? Quando estava embaixo ou por cima de você?
O sangue do meu corpo esvaiu. Uma mistura de quente e frio irrompeu minhas pernas e braços, alojando-se como uma frente fria no estômago. O meu queixo foi parar nos joelhos. Digeri com ácido o que ele havia dito, fechando o guardanapo que estava perto da minha mão no punho. Olhei ao redor, esperando que nenhum dos meus amigos tivesse ouvido isso, mas todos já tinham voltado para suas conversas dispersivas demais para notarem a nossa discussão fervorosa.
— Vai pro inferno. Você é um babaca! — exclamei com agressividade, jogando o guardanapo sobre a mesa com força. Dessa vez eu não me importei se alguém tivesse me ouvido — isso nunca mudou.
— E não vai mudar. Você também continua sendo a mesma garota decepcionante de sempre. — Revidou antes que eu pudesse me afastar o suficiente para não ouvi-lo.
Eu?
Decepcionante?
Senti vontade de voltar e deixar uma bofetada em seu rosto, mas presumi que não valesse a pena. A fome me abandonou, e eu saí do restaurante, a passos firmes e apressados para atravessar o cruzamento.
Demorou um tempo para que todos os meus nervosos voltassem ao normal, e quando isso aconteceu, submergi no trabalho, tentando não pensar no quanto Thomas conseguia ser estúpido.
Depois das quatro, recebi uma mensagem do Samuca. Ele passaria para me buscar às seis horas. Fred tinha cumprido com o seu horário e as cinco ele já estava me desejando "até amanhã". Lor e Mari passaram para me oferecer uma carona, mas tive de recusar.
Seis e meia e Samuca não tinha aparecido, talvez ele tivesse esquecido, ou então, alguma coisa o impediu de chegar aqui a tempo. Já tinha tentado ligar quatro vezes, mas todas estavam sendo direcionadas para a caixa de mensagem.
Eu já estava começando a ficar preocupada.
Olhei para através da janela. A noite havia se instalado num negrume massivo e a chuva não tinha cessado. O tilintar do elevador ressoou e eu virei o rosto a tempo de ver Thomas sair de lá, caminhando em direção a minha sala.
Merda!
Meu coração disparou com o desespero de vê-lo se aproximar. Eu não poderia lidar com outra discussão.
Não com Thomas.
— Não acha que está meio tarde? — foi a primeira coisa que ele disse ao abrir a porta. — O que você ainda está fazendo aqui?
Alguma coisa revirou dentro de mim para lhe dizer que não era de sua conta, mas e contive e não me dei ao esforço de ouvi-lo. Então, simplesmente me levantei da cadeira com urgência, e comecei a organizar as minhas coisas. Passei a bolsa pelo ombro, e caminhei em direção à porta, o estômago se revirou quando Thomas me impediu de atravessá-la ao entrar com seu corpo largo em meio do caminho.
Tentei ignorar e passar por um lado, mas ele me impediu, fazendo o mesmo quando fui para o outro.
Fulminei-o em silêncio, reprovando a atitude e suspirei, parando próximo a ele.
— Eu estou cansada, Thomas — confessei, com a voz firme. — Será que você pode me dar licença.
A postura de Thomas estava ereta e ele me examinou por um bom tempo com os olhos obscuros. Eu não sabia o que ele estava pensando, muito menos qual era sua intenção aqui, mas tinha plena consciência de que estar tão próximo dele era errado. A minha garganta se apertou, e como resposta recuei um passo.
— Você quer uma carona? — ele perguntou, virando o corpo de lado ao abrir caminho.
Carona?
Quis rir, mas o meu rosto se converteu numa carranca ríspida, e simplesmente comecei a andar rapidamente até o elevador.
Eu só queria espaço, e não percebera o quanto o ar se tornava rarefeito quando compartilhávamos o mesmo ambiente. Sua presença me causava desconforto, e com isso, não me sentia bem comigo mesma quando ele estava por perto. Thomas me fazia sentir, que de algum jeito, estava errada. Ao mesmo tempo em que o olhava e me lembrava do passado, os sentimentos que nutria também vinham para a superfície. Me recusava a sentir isso, e não ser capaz de controlar essa situação era desesperador. Eu não queria me lembrar disso, porque esse Thomas era uma versão completamente deturpada da que conhecera. Esse me provocava de um jeito sujo, buscava formas de me humilhar, e eu não tinha a menor ideia de como lidar com isso.
— Não seja ridículo, Thomas. Primeiro você é um babaca comigo e agora você quer ser o que? Educado? — indaguei com sarcasmo, pressionando o botão do elevador sucessivas vezes.
Ainda tinha esperanças de que ele pudesse chegar mais rápido a fim de me livrar de Thomas, mas à medida que ouvia seus passos mais próximos, mais as minhas costas ardiam sob seu olhar fulminante.
— Está chovendo muito, você acha mesmo que eu te deixaria ir sozinha embaixo desse temporal? — Ele contra argumentou com rispidez.
Girei nos calcanhares em direção a ele. Desde quando ele se importava comigo, até poucas horas atrás, tudo o que ele fez foi me insultar. "Francamente eu gostaria muito de saber em que momento eu fui tão desagradável? Quando estava embaixo ou por cima de você?". Isso reverberou dentro de mim como uma chama lambendo e transformando em brasa todo o meu sistema nervoso.
— E você acha que isso é motivo o bastante para eu entrar no mesmo carro que você? — cuspi quando a porta metálica se abriu. — Eu prefiro andar sob uma chuva de canivetes a dividir dois metros quadrados com você.
Era verdade. Eu queria que Thomas ficasse longe. Ele já tinha passado do limite.
Entrei no elevador e suspirei, apertando para o térreo. Ele tentou dar um passo para se colocar dentro do compartimento, mas eu impedi, erguendo o braço com brusquidão.
— Fica longe de mim, Sr. Roriz! — ordenei, entre os dentes, sem paciência alguma enquanto a porta se fechava diante de mim. — Vá pelas escadas.
— Nina, quando você vai parar com... — a porta se fechou totalmente, isolando-me da voz dele.
Soltei a respiração que não percebi que estava prendendo.
Ah caramba!
Os meus dedos mergulharam nos cabelos. Apoiei-me na parede fria do elevador, respirando ruidosamente quando os números começaram a decrescer do cinco ao um.
Eu só conseguia pensar que Thomas precisava ficar longe de mim e da minha vida, mas não estava funcionando.
A conversa que tivera com Fernanda me veio a mente. Me afastar estava instigando-o a me perseguir e Thomas estava fazendo isso da mesma forma que Augusto. Isso não podia continuar.
Pedir demissão. Foi a primeira coisa que pensei. Eu não estava acreditando que precisaria chegar a isso, pois tinha dado muito duro para conseguir a vaga, mas Thomas não estava me dando alternativas. Me recusava a acreditar que ele passava tanto tempo se dedicando a tramar coisas para me atormentar, mas era impossível não cogitar porque ele me encurralava, provocava, insultava e agora, me perseguia.
Eu não sabia o que fazer, mas esperava que Samuca estivesse lá embaixo quando as portas do elevador se abrissem. Por isso, peguei meu celular outra vez e tentei realizar outra chamada.
Nada. Engoli a seco. Direto para a caixa postal.
A minha garganta se apertou. Esse silêncio estava começando a me deixar atormentada. A porta se abriu, e eu caminhei pelo saguão com pressa até a porta de saída. O meu estômago se revirando como se houvessem minhocas por ali. O desespero se fazendo presente em cada passo que eu dava de um lado para o outro.
Thomas, idiota. Tinha saído direto do inferno para me importunar aqui no meu trabalho.
Parei sob o alpendre que me mantinha protegida da chuva, e cruzei os braços quando a corrente fria de ar arrepiou a minha pele. Talvez ele estivesse chegando, pensei ao percorrer com o olhar toda a extensão da rua.
Nenhum taxi, a constatação me afligiu. A noite já tinha se estabelecido e os postes de energia iluminavam em lugares estratégicos. A rua estava deserta e bons milímetros de água corriam e escoavam pelos bueiros.
Parei de andar de um lado para o outro, assim que o carro de Thomas surgiu da saída do estacionamento, e ele manobrou próximo ao meio fio, abaixando o vidro ao parar a poucos quatro metros de mim.
— Entra aqui — disse. — Eu te dou uma carona.
Virei-me de costas, evitando encará-lo e foquei no celular outra vez, verificando se Samuca tinha se quer recebido as minhas mensagens.
Nada, sem respostas. O carro de Thomas ainda estava parado próximo ao meio fio e eu não quis me virar para chama-lo. Eu precisava chamar um uber, mas ele me interrompeu antes que pudesse abrir o aplicativo.
— Qual é o seu problema? — ele interrogou, elevando o tom de voz. — Desde quando você passou a ser esse ser humano tão complicado?
Eu sou complicada? Me indignei com a acusação.
Inclinei a cabeça, fitando por alguns instantes os acabamentos do alpendre e respirei fundo, liberando o ar em forma de nuvens espeças que se dissipavam no ar.
A minha vida estava bastante simples e pragmática até o dia em que ele decidiu comprar a Revista em que eu trabalhava. Eu tinha estragado tudo, porque bastou uma mentira, que na verdade não era exatamente uma mentira, para que tudo ao meu redor se tornasse um pesadelo; o meu maior tormento. Isso estava me atropelando.
A minha carreira estava em risco, porque estava prestes a chegar em casa e escrever uma carta de demissão. Eu cogitava nunca mais pisar na Parilla pelo simples fato de Thomas ser o proprietário. O meu relacionamento estava em risco, porque todas as vezes que tentava ser honesta, alguma coisa dava errado, e eu era o ser humano complicado?
Eu bufei. O que ele estava falando era ridículo. Não era eu quem estava humilhando uma funcionária, muito menos a acuando, nem perseguindo pelo simples fato de ela ser sua ex-namorada, e como se isso não fosse o suficiente, depois, lhe oferecia uma carona cordial, como se nada tivesse acontecido.
Eu só queria que ele fosse pro inferno.
— No momento em que você se tornou tão impertinente. — Revidei, com aspereza e indignação.
O complicado dessa história toda era ele.
Ele sorriu de lado e mesmo com o insulto, parecia ainda mais confiante quando gesticulou uma negativa lenta e jogou a cabeça para trás no banco, encostando-a ali por alguns segundos.
Devolvi o celular para a bolsa, cruzando os braços e apertando-os dentro do casaco. Estava frio e dei uma última olhada no tempo. A chuva caia a pingos grossos e insistentes com força a minha frente, mas realmente estava desposta a encará-la para me livrar dele.
Algumas pessoas realmente estavam dispostas a se arriscarem para se livrar de alguns idiotas. Era o meu caso. Thomas poderia até ter sido o meu namorado. Nós não tínhamos de fato colocado um fim na relação, e por bastante tempo, acreditei que daríamos certo. Por outro lado, a vida não foi muito gentil com a gente. Ele era um cara incrível, e eu me apaixonara perdidamente por ele. Mas eu não sabia em que momento da vida de Thomas isso tinha mudado, porque deixou de ser assim para se transformar num ser totalmente degenerado.
Saí no tempo, inclinando o corpo para frente e contraindo os braços diante do peito enquanto era bombardeada pela chuva, que parecia não dar trégua. A friagem arrepiando-me enquanto começava a penetrar as minhas roupas. Menos de dez passos e os meus cabelos já estavam ensopados.
— Como você é teimosa. — Ele resmungou, acelerando o carro para acompanhar meus passos. — Nina — persistiu, a última vogal se prolongando na pronúncia denunciava a sua total falta de paciência.
Bufei e continuei a andar, tentando soar indiferente.
Isso não podia estar acontecendo. Por que esse idiota tinha grudado em mim como um carrapato e agora, parecia uma infestação insuportável com a qual eu não tinha capacidade mental nenhuma para lidar.
— Será que você pode fingir que eu não existo, por favor? — eu praticamente implorei, sem ao menos me dar ao trabalho de olhar para o lado.
Eu não queria olhar para ele, porque sabia que encontraria a postura confiante e arrogante que sempre me irritava. Mas sabia que ele estava ali, o motor do carro estava funcionando. Os faróis estavam acesos e iluminavam um bom raio a frente. Se havia uma coisa que não tinha mudado em Thomas era a persistência, antes isso parecia ser bom, mas agora, essa qualidade tinha se tornado um defeito insuportável.
— Não vai dar. — Alegou em resposta, com um meio sorriso torto. Thomas estava realmente se divertindo com a situação. Eu quis desfazer aquele sorriso idiota que vi brincar em seus lábios de esguelha — Cadê o seu noivinho? Por que ele não vem buscar você?— inquiriu com desdém.
— Meu "noivinho"? — rebati exasperada, interrompendo o meu passo. Tive que conter a vontade de esganá-lo e continuei o caminho. Não era um trajeto muito curto. — Não é da sua conta!
Ele não parou de me seguir, da mesma forma que a chuva não estiava, e à medida que o tempo passava, mais isso estava me deixando aborrecida.
— Você vai casar com ele? — Thomas perguntou, causando-me surpresa.
— Desde quando isso é da sua conta? — inquiri. — Vai embora! — ordenei, num grito quando a situação passou a ser insustentável. Thomas não ficaria andando ao meu lado dentro de um carro. Isso era ridículo. De repente, até a chuva se tornou irritante — me deixe em paz.
— Por que você não conversa comigo? — ele insistia em me acompanhar com o carro. — Nós costumávamos conversar...
— "Nós costumávamos conversar" — repeti o que ele havia dito ao forçar a garganta para tornar a voz mais grave — isso foi há seis anos, Thomas. As coisas mudam. Você se tornou um otário que joga coisas que fizemos no passado na minha cara. "Quando estava embaixo ou por cima de você?" — repetir isso demonstrou o quanto aquilo tinha me afetado. — Você não tinha nada melhor para falar?
Eu não queria me lembrar dessas partes de quando estávamos juntos. Mas ele apenas bufou uma risada seca e balançou a cabeça numa negativa.
— Eu estava chateado, tá legal. Agi pelo calor do momento — justificou.
Thomas passou as mãos pelos cabelos já desgrenhados, mas ainda de um jeito bagunçado e bonito e suspirou. Ele estava buscando algumas gotas de paciência. Eu também estava passando por esse processo.
— Eu te dou uma carona. — insistiu — Uma carona, e eu vou te deixar em paz.
Respirei fundo e fechei os olhos, passando as mãos pelos cabelos ensopados.
— Você vai ficar gripada — argumentou, forçando um sorriso. — Vai, entra... — pediu, dessa vez com mais suavidade.
Parei por um momento e ponderei. Era tudo o que eu queria. Que ele me deixasse em paz.
— Você vai mesmo me deixar em paz? — indaguei fracamente.
Ele passou a mão pela nunca e coçou com o braço que estava apoiado na janela.
— Se é o que você realmente quer, então sim...
Eu balancei a cabeça em concordância antes de me pronunciar. Eu não estava hesitando em dizer a ele que realmente queria que ele me deixasse em paz. O problema era compartilhar um pequeno espaço com uma pessoa tão desprezível.
O que de tão ruim ele poderia fazer?
Thomas não me machucaria. Ou eu gostaria de acreditar que ele não teria coragem de fazê-lo? Eu não poderia colocar a minha mão no fogo por isso, até porque nós já tínhamos mudado muito até agora. Mas não quis pensar muito. Não era uma boa ideia. Nada disso era uma boa ideia.
— É o que eu quero. — Decretei, mas eu não dividiria o mesmo espaço pequeno com ele e simplesmente engoli a proposta como um bolo na garganta e voltei a andar o mais rápido que podia.
***
Olá, meus amores. Vocês estão bem? Tirando o calor, eu estou ótima.
Capítulo novo pintando na área. A Nina ta se vendo azul com o Thomas, né? Eu também estaria se fosse comigo.
E aí, o que vocês estão achando? como vão? como estão?
Sua opinião sobre o desfecho é muito importante e então: o que vc tem achado?
Um beijo de luz e até a próxima postagem na segunda <3
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