Capítulo 6
Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor.
- Shakespeare.
☀
O dia está ensolarado e com uma leve ventania o deixando agradável, para a minha sorte. Observo as folhas dos coqueiros balançarem em uma dança silenciosa e sensual. Dos alto-falantes está saindo uma das canções do Vitor Kley, sei que já ouvi em algum lugar, mas nunca prestei atenção nessas coisas, até agora. Olho para Ruan que também me olha com os olhos brilhantes, voltando a atenção para a estrada à sua frente. Sorrio e volto a apreciar a vista da janela.
Meu pai me surpreendeu ao dizer que eu poderia sair com o Ruan no sábado, mas deveria voltar antes das 19:00 horas. Ele conversou comigo sobre como os homens podem ser persuasivos quando querem e que não era para eu fazer nada que não quisesse. Não foi uma conversa muito agradável de se ter, mas mostrou a preocupação e cuidado que ele tem comigo. Isso amenizou um pouco a situação.
Natália e Elena também conversaram comigo. As duas reforçaram o que o meu pai disse, mas Elena surtou, como sempre. Uma parte dela ficou imensamente feliz que eles deixaram eu sair com ele, mas o outro ficou extremamente preocupado. Em pensar que nesse exato momento ela está com Nicolas em alguma sorveteria, resolvendo os problemas que eles têm. Espero que tudo corra bem.
Quando Ruan chegou na minha casa para me buscar, foi engraçado, porque ele estava muito nervoso. Precisei usar todo o meu autocontrole para não rir da situação. Quando meu pai viu que ele estava de carro, mal acreditou. Em seguida pediu para ele mostrar a habilitação e a identidade, para ver se ele realmente tinha dezoito anos.
— No que você está pensando? — Ele pergunta, sem tirar os olhos da estrada, tamborilando os dedos no volante conforme o ritmo da música.
— Se dá para pular do carro caso você queira me matar ou me manter em cativeiro — brinco.
Ele ri. Uma risada gostosa e descontraída, que o deixa ainda mais bonito.
Observo bem as suas feições agora que tenho a chance. Os seus olhos são de um castanho claro, que se me encararem nesse exato momento ficarei encurralada. As maçãs do rosto são bem esculpidas e os lábios cheios na medida certa. Os óculos de sol que ele usa combinam perfeitamente com ele. Ruan é lindo.
— Não se preocupe, linda. Só quero que você conheça um lugar legal, tenho certeza que você vai gostar — ele garante e passa a língua umedecendo os lábios, olhando para mim e sorrindo em seguida.
Tento disfarçar o nervosismo que o meu corpo tomou, ignorando o fato de ele ter me chamado de linda. Isso não só acontece nos livros?
— Você gosta de praias?
— Amo praias. — Sorrio e tento imaginar se ele me levará a alguma, se sim, por que não me avisou antes? Não estou com roupa para isso.
— Eu também. A água salgada do mar me acalma em dias difíceis.
Sorrio, me acomodando melhor no banco do passageiro.
— Gosto do calor do sol e de ouvir o farfalhar das ondas.
— Uma das vantagens de morar em uma ilha. — Ele sorri e eu gargalho alto, olhando para frente.
— Sim, rodeado de milhares de praias.
— O melhor fato. O lado ruim é que se tiver um tsunami não temos nem para onde correr, só desaparecer do mapa mesmo.
Ele ri e eu também, balançando a cabeça.
Gosto de estar com ele, da companhia dele, dos sorrisos dele. Desde o dia em que dei o meu número para ele não paramos de trocar mensagens, mesmo depois que nos vimos no ponto de ônibus, no IFSC.
Na quarta eu o vi, quando Elena queria falar com ele e eu consegui impedir. A sem vergonha saiu impune, sem falar uma só palavra além de "oi". Eu por outro lado, tive que ficar a sós com ele, conversando e respondendo as perguntas dele. O que foi bom, porque eu percebi que ele é uma pessoa legal. Seria ainda mais se não fossem pelos amigos.
Lucas me disse na quinta que Ruan tem fama de ser pegador, que já saiu com pelo menos metade das meninas do 2° e 3° ano e só nunca mostrou interesse pelas garotas do 1° por serem muito mais novas. Ele não parece ser esse garoto que me disseram. O fato de ser bonito deve atrair a maioria das meninas, isso é fato, mas beleza não é tudo.
De qualquer forma, caso ele pense que eu serei mais uma das garotas que ele pega e joga fora, está enganado. Elena diz que eu sou ingênua, mas não sou burra. Nisso ela está meio certa. Não é que eu seja ingênua, eu só não quero ver a maldade nas pessoas, não gosto de enxergar esse lado delas e não vejo problemas em ser assim.
— Chegamos.
Ruan puxa o freio de mão e olho pela janela.
As ondas ferozes quebrando na beira da praia, apostando corrida uma atrás da outra, encantam-me, assim como o sol brilhando fortemente no intenso céu azul.
Descemos do carro e fecho a porta, colocando a bolsa sobre meu ombro. Encaro a paisagem, encantada, deslumbrada e impressionada.
— Gostou?
— Tá brincando? — Pergunto, ainda sem fôlego pela paisagem impressionante à minha frente. — Essa praia é linda.
— Sim, ela é.
Fecho os olhos e deixo o cheiro de maresia invadir os meus sentidos, assim como o calor do sol e o barulho das ondas se desmanchando.
— Essa é a praia da Joaquina — ele conta, fazendo-me abrir os olhos.
— Mas essa não é uma das praias mais lotadas?
Observo alguns surfistas, turistas e pranchas na areia. Tem algumas pessoas, mas não chega nem perto do que Lucas disse que era.
— O outro lado dela é, mas as mais lotadas são as do norte, tipo jurerê — ele explica.
Concordo com a cabeça e caminhamos até a areia. Tiro as minhas sapatilhas e enterro os meus pés na areia morna, suspirando.
— Essa parte é mais para o surf.
— Estou percebendo.
Observo alguns surfistas que já estão na água, esperando para pegar a sua onda. Uma garota se equilibra na prancha e faz uma manobra radical, caindo em seguida, deixando-me boquiaberta.
— Eu sempre quis aprender a surfar.
— Sério?
— Sim.
Volto a observar os surfistas, até que algo me vem à mente: por que ele me trouxe até uma praia cheia de surfistas? Será que ele...
— Ruan! — Ouço alguém dizer com euforia, respondendo a pergunta que ficou incompleta na minha mente.
— Pedro! — Ele o cumprimenta com um aperto de mão, seguido de um abraço.
O rapaz moreno e todo molhado que está com uma prancha azul, com detalhes brancos de ondas, debaixo do braço sorri.
— Veio pegar uma onda? — Ele pergunta e só agora parece me notar. O tal Pedro me olha de cima a baixo e eu fico sem graça.
— Talvez.
— E a lindinha aqui, é a sua namorada?
Estava prestes a falar que eu não era lindinha e muito menos a namorada do Ruan, quando ele mesmo disse o que eu menos esperava.
— Sim. Laura, esse é o Pedro. Pedro, essa é a Laura. — Ele nos apresenta e eu ainda estou incrédula por ele ter me apresentado como namorada dele, por quanto tempo eu dormi?
— É um prazer, Laura. — Pedro diz e estende a mão que eu aperto, sorrindo. — Parece até mentira que o garanhão se prendeu a alguém.
— Algumas coisas mudam.
Ruan dá de ombros.
— Sim, mudam mesmo.
Pedro dá risada, olhando-nos estranho e tenho a certeza de que ele não engoliu essa desculpa. Uma das garotas presentes acena para Ruan, que acena de volta e Pedro me encara, em seguida dá uma risada fraca.
— Preciso ir, mas nos vemos por aí, Ruan.
— Bom te ver, cara.
Ruan sorri e passa um braço ao redor do meu ombro.
Observo ele se afastar e chegar até os amigos que estão com as pranchas debaixo do braço, preparando-se para surfar. As ondas estão violentas, mas a maré ainda não está alta. Sempre tive vontade de surfar, mas tenho medo de praia aberta, nunca se sabe o que o oceano reserva para nós.
Ruan me encara e sorri, ele aponta com a cabeça para uma mini cabana que tem ali. Na verdade, se parece mais com um quiosque desabitado. Fico meio apreensiva de o seguir, mas vou mesmo assim.
Ao entrar no lugar, vejo algumas pranchas e me surpreendo ao ver que está tudo arrumadinho. De fora você pensa que é algum quiosque que foi esquecido, onde se guardam tralhas e que dentro terá poeira e lixo — ou que é um matadouro, como Lena diria —. Quando entra, se depara com tudo organizado e limpo.
O interior do lugar é todo branco, luminoso e extremamente organizado. Nas paredes há diversas prateleiras com troféus, medalhas e fotos. No lado esquerdo estão alguns armários, no lado direito há algumas pranchas e lugares para guardar outras. No centro do lugar minúsculo, há um sofá que está coberto com um pano. Nos fundos há um balcão e consigo ver um frigobar também.
Caminho até as prateleiras com os troféus e fotos e coloco a minha bolsa no sofá. A maioria dos troféus são de campeonatos, assim como as medalhas. Pego uma das fotos e vejo que Ruan está nessa, encaro-o surpresa.
— É, eu sou surfista. — Ele sorri e se aproxima com uma latinha de coca na mão. Ele me oferece, mas eu rejeito. — Esse lugar aqui é onde eu e a minha equipe nos reunimos.
— Isso é incrível — murmuro, incapaz de desviar o olhar da foto.
Ruan está com uma roupa de surfista que marca bem o seu abdômen definido. O seu uniforme está um preto fosco por causa da água e ele está sorrindo, com a prancha debaixo do braço e mais quatro pessoas ao seu lado. Eles estão todos na beira do mar, alguns meio agachados e outros em pé. Parecem felizes.
— Sim, é — ele concorda e encara os troféus com orgulho brilhando em seus olhos castanhos. — Essa foto foi do campeonato do ano passado. Ficamos em 1° lugar, pela primeira vez na vida.
— Deve ser uma sensação maravilhosa.
Sorrio e ele me encara, seus olhos parecem enxergar os meus segredos mais obscuros e eu fico fascinada com isso.
— E é mesmo.
Ele desvia o olhar e me recupero do que quer que tenha acontecido e pergunto:
— E então, por que me trouxe aqui? — Ele sorri com a minha pergunta, um sorriso perverso. Ruan caminha até as pranchas e revela:
— Para nos divertirmos.
Ligo um ponto a outro e ele ri. Devo estar em pânico.
— Você disse que ama praias, queria saber surfar, eu sou surfista. Bem, junte o útil ao agradável.
— Não vim vestida para isso — lembro, abrindo um sorriso de canto a canto por me safar dessa vez.
— Isso não é problema — ele garante e vai até um dos armários, tirando uma roupa feminina de surf que parece ser toda colada.
— A dona dessa roupa não vai achar ruim?
Estou apavorada e ansiosa com a ideia de ficar em pé em uma prancha, Olho no relógio de pulso que estou usando e vejo que ainda são 14h20. Tempo temos.
— A Jenni é tranquila, relaxa. Mas, e aí? Preparada para aprender a surfar? — Ruan pergunta, com intensidade na voz e no olhar.
Quando se trata de Ruan, tudo é intenso e acho que eu gosto disso. Com um sorriso de canto a canto e o medo crescendo em meu âmago, faço que sim com a cabeça.
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