Capítulo 7
Havia se passado quatro dias desde o passeio do Jungkook e nada do Suga dar as caras novamente. Jungkook queria muito poder vê-lo outra vez, sabe que a ajuda de quem já passou por isso era mais eficiente do que a de quem nem sabe exatamente como ele está enfrentando tudo isso.
Ele aguardava pacientemente que o alfa resolvesse aparecer, mas só no quinto dia ele tocou a campainha da casa de JK.
— Você apareceu! — JK diz aliviado ao vê-lo depois de atender a porta.
— Eu disse que apareceria quando fosse a hora certa! — diz encostado na entrada na pequena varanda.
Ele usava uma roupa despojada, calça jeans com alguns rasgos ao longo das pernas, uma camisa branca de uma banda de rock que JK não conhecia, e uma jaqueta também jeans com all stars nos pés.
— Eu estou em um processo complicado, e se você se propõe a me ajudar, não acha que isso deveria ser feito o quanto antes?
— Você, assim como eu, é um alfa extremamente dominante. Acha mesmo que eu me colocaria em risco vindo até aqui com você no auge do seu hut?— Suga levanta a questão.
Jungkook sabia que ele estava certo, se algo desse errado, Suga estaria em apuros.
— Entendi. Então por onde começamos?
— Pelo seu ômega.
— Meu ômega? — JK ficou perdido.
— Se você está assim ainda, deve estar com um ômega muito fraco, que não supre suas necessidades. — Suga diz simples.
JK pensa por alguns instantes, só então lhe diz a verdade.
— Na verdade...eu não tenho um ômega. — ele desvia o olhar de Suga, e fecha apronta atrás si, indo até a escada da varanda e se senta.
— Como assim você não tem um ômega? — Suga pergunta incrédulo. — Como passa seus huts?
— Geralmente sozinho e trancado no porão. — ele ainda evita encara-lo.
— É por isso que você ainda está tão atrasado. — Suga senta ao lado de JK na escada. — Como consegue suportar tudo sozinho?
— Te garanto que é com muita dificuldade. — JK responde pensativo.
— Imagino que sim. — Suga se compadece. — Lembro bem como foi o meu primeiro hut, tinha dias que eu literalmente queria morrer por não saber como lidar com aquilo.
— Quando aconteceu?
— Eu tinha 13 anos, não tinha mais os meus pais, e minha tia era uma beta. Não tinha ideia do que fazer. — ele encara o horizonte recordando de seu próprio inferno. — Eu fiquei dois dias na rua, sem comer, tomar um banho, e desesperado por um ômega. Era uma situação decadente.
— Como conseguiu se controlar? — JK fica curioso.
— Eu estava sujo, faminto, e em bairro de fama degradante. Uma ômega que trabalhava como garota de programa me acolheu. Ela já tinha seus cliente fixos, que costumavam passar os huts com ela, então não precisava mais trabalhar na rua. Naquela semana ela havia ficado dias com um alfa e estava voltando pra casa quando me viu caído em um beco, todo molhado da febre, e tremia feito vara verde.
— Caramba.
— Pós é. Ela me levou pra casa, me deu um banho, me colocou roupas limpas e preparou algo para eu comer. Eu não me importava com nada daquilo, tudo o que me deixava vidrado era o cheiro dela. Era como droga pra mim, por mais que ela evitasse de deixar escapar qualquer fração de feromônios.
— Então como ela conseguiu te ajudar naquele momento? — JK o encarava com receio.
— Do único jeito que poderia, e sabia que resolveria.
— Então vocês...?
— Sim! Nos dois dias seguintes, que foi o tempo que ainda durou o meu hut. Aquilo foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida naquele instante, a sensação de saciedade, satisfação, e claro, de me sentir completo. Era uma droga essa coisa de necessidade por um ômega, mas ela já sabia o que fazer, e seus feromônios eram fortes, intensos, tanto que no meu segundo hut não precisamos chegar a isso, só de estar com ela em casa já era o suficiente.
JK ficava pensando se com ele teria sido assim se tivesse cedido e encontrado um ômega dominante.
— O primeiro hut de um alfa extremamente dominante é o pior, e você só está nessa ainda porquê não fez o que deveria fazer. A essa altura já era pra estar estável.
— Eu não queria estar com um ômega assim, eu queria mais do que só isso, não ser visto como um animal cedendo aos instintos.
— Você é um animal! E ficar retardando isso só piora tudo pra você. Você quer estabilidade, mas não faz o que é preciso para obter.
— Não acho que tudo se resolva fazendo algo só por fazer. Tem que haver um propósito, uma razão. — JK diz triste.
— O fato de você obter a estabilidade, controle, não contam como boas razões?
— Talvez, mas ainda acho que consigo obter tudo isso sem precisar de um ômega.
— Mas está recorrendo a um alfa para obter isso. Essa é a sua solução?
JK não diz nada a princípio, mas sabe que as palavras de Suga são claras e objetivas. Porém, ele ainda se mantém convicto em seus princípios.
— Tudo bem, digamos que você só venha a fazer o que é necessário quando encontrar um ômega que realmente queira criar um vínculo. Já pensou em como pode ser difícil e doloroso certas situações com essa pessoa? Ainda mais se ela for alguém que nunca esteve com um alfa dominante antes?
— O que quer dizer com isso? — JK fica preocupado.
— Quanto mais você espera para iniciar esse processo para copular com um ômega, mais difícil fica você não atar com a pessoa.
— Atar? Fazemos isso no primeiro hut?
— Suas chances ficam cada vez mais altas conforme você evita de copular. E se já não é fácil para o ômega atar com um alfa já experiente, imagina com quem não tem ideia de como evitar isso?
— Você atou no seu primeiro hut? — JK o encara com olhos arregalados, totalmente surpreso com as coisas que estava descobrindo na conversa.
No geral, os alfas atavam em ômegas apenas se eles tivessem um vínculo. Ele tinha ciência que esse processo não era dos mais confortáveis para um ômega, mas era algo bem tolerável.
— Infelizmente para aquela ômega, sim!
— Caramba! — JK fica chocado.
— Para nós, extremamente dominantes, não existe isso de só atar com um ômega que se tem vínculo. Nós somos superiores a isso, e atamos quando nossos feromônios estão descontrolados, é quase um mecanismo de defesa que vem no nosso gene, para manter a nossa hierarquia. Por isso digo pra você que se atrasar o processo, ele só piora as coisas pra você.
— Então você foi pai aos 13 anos? — JK pergunta abismado.
— Não! — ele olha para o chão com o semblante triste. — Mas teria sido se não a tivessem assassinado.
— Minha nossa!
— Ela nunca havia estado com um alfa extremamente dominante em seu primeiro hut antes, não sabia que as coisas aconteceriam dessa forma, mas depois de feito, não tinha como voltar atrás. Quando ela morreu, estava no final de sua primeira estação.
A gestação de um ômega durava duas estações(cerca de 6 meses), e o desenvolvimento do bebê era muito rápido. Essas coisas ainda era um padrão até para filhotes de alfas extremamente dominantes. Então era de conhecimento comum, e JK estava por dentro do assunto, as escolas passavam a lhes ensinar isso quando eles faziam o ECG.
— Deve ter sido um processo difícil pra você assimilar. — JK se compadece.
— Foi sim. Apesar de não ter vínculo com ela, eu passei a gostar muito dela. Isso seria inevitável, ela era uma pessoa maravilhosa. Mas eu não tinha estrutura alguma para ser pai, pois era só um menino, e não consegui sequer tirar ela daquela vida antes de morrer nas mãos de um dos seus clientes.
Os olhos marejados de Suga denunciam bem como toda a história de sua vida o abalava emocionalmente. Jungkook lhe atribuía o título de bad boy pela forma como costumava se expressar, e a cara de poucos amigos que exibia como um lobo solitário, mas ali, dava pra perceber como a vida dele tinha sido difícil desde o início.
— Eu sinto muito.
— Com o tempo você vai perceber que a vida é traiçoeira, e está sempre a espreita para lhe dar uma rasteira. Procure estar pronto quando chegar a sua vez. — Suga se levanta e coloca as mãos no bolso da jaqueta.
— E como eu poderia fazer isso? — JK também se levanta.
— Comece praticando com seus feromônios. Já ajudaria muito.
— Eu já tenho tentado isso com meu pai, e não sei se tem dado muito certo.
— Você precisa fazer isso sozinho.
— Você não vai me ajudar?
— Está louco? Nunca!
— E como farei isso?
Suga se aproxima dele e diz próximo ao seu ouvido.
— Você tem que fazer quando estiver sozinho, à vontade. Tente no banho. — Suga sugere.
— Por que?
— Ahh, minha nossa! — Suga fica impaciente. — Você não vai querer bater uma na frente de outras pessoas. Ou vai?
Jungkook arregala os olhos e sente as bochechas queimarem.
— Eu não tinha ideia de que...
— Pois bem, procure controlar o quanto você libera de feromônios nesse momento, assim não vai acabar com um ômega quando chegar a hora.
— Entendi.
— Ótimo! — Suga desce os degraus da escada.
— Aonde você vai?
— Deixar você sozinho para praticar. — diz enquanto caminha pelo gramado. — E sugiro que comece antes do seu próximo hut chegar.
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