Capítulo 55
Jungkook entrou na cafeteria e de cara avistou Taehyung sentado em uma mesa próximo às janelas. Ele parecia distante apesar de seus dedos estarem brancos de tanto que apertava a caneca entres as mãos.
Taehyung ainda não sabia ao certo o que pensar sobre o que acontecido entre Songyon e ele. Ele já havia pedido para que a ômega tratasse aquilo como algo que nunca havia acontecido, mas agora ele se lembrava e tinha certeza de que ela não esqueceria aquilo tão rápido.
Para ele, ao mesmo tempo que aquilo era um total absurdo dele ter feito, também era inevitavelmente prazeroso de se lembrar.
Desde aquela manhã, em seu banheiro, ele se pegava suspirando incrédulo ao relembrar de seu corpo pressionando o dela contra aquela parede.
Porém, o que o deixava ainda mais absorto, era relembrar de seus momentos antes de pegar no sono. O jeito como as mãos dela o tocava de forma calma e carinhosa.
Enquanto ele cheirava seus cabelos, uma de suas mão deslizava entre seu braço e ombro e a outra estava sem sua nuca. Fazia muito tempo que ele não dormia tão bem.
Suspirou melancólico.
- Taehyung!? - JK se aproximou de sua mesa, já com uma caneca na mão. - Tudo bem se eu...
- Senta aí! - gesticulou indiferente.
- Você está bem? - JK deu um gole em sua bebida quente.
- Estou ótimo. - evitou de encará-lo.
- Se você achar que não é um bom momento...
- Diga o que você quer, Jungkook. - finalmente olhou em seus olhos, com uma seriedade assustadora em seu rosto. JK suspirou alto.
- Eu te chamei aqui porquê...preciso da sua ajuda.
- Da minha ajuda? Com o quê?
- Jimin e eu estamos finalmente nos acertando, mas só você pode me ajudar com algo específico. - seu tom também sério.
- Você só pode estar louco se acha que depois de tudo o que você fez o Jimin passar, eu ainda te ajudaria a ficar bem com ele. - foi sarcástico.
- Eu não preciso da sua ajuda com o Jimin. - Taehyung arqueou as sobrancelhas. - Preciso da sua ajuda com a Min-hee!
Nisso Taehyung não tinha como culpa-lo por não ter estado ao lado da filha, de certa forma. Apesar de JK ter ido embora, durante todo esse tempo em que não esteve por perto, ele foi privado de tal informação.
- Eu não sei como posso te ajudar com isso. E você não precisaria da minha ajuda se tivesse ficado com o Jimin, não teria perdido tudo o que perdeu nesses três anos.
- Escuta, Taehyung, eu sei que você tem suas reservas comigo pelas minhas atitudes do passado...
- Pode ter certeza que são mais do que reservas!
- No entanto, eu prezava pela felicidade do Jimin acima de qualquer coisa. - suspirou pesaroso. - Quando eu pensei que ele havia construído uma relação com você, não achei justo tirar dele essa possibilidade.
- Ainda assim você simplesmente chegou e o engravidou!
- Até aquele momento eu não sabia que vocês tinham algum tipo de ligação. Só soube depois. Então uni o útil ao agradável. Eu já estava confirmado no meu serviço militar, e sei que ele estaria feliz ao seu lado.
- Não tente puxar o meu saco!
- Não estou! Eu sei que se você tivesse uma oportunidade, o faria feliz em cada segundo de sua vida.
Taehyung encarou a caneca entre as próprias mãos. Parecia que até mesmo JK sabia que ele moveria céus e terra para fazer o ômega feliz.
- Infelizmente eu não cheguei tão fundo no coração dele. Já havia alguém lá, e eu não fui capaz de sequer, substituí-lo. - olhou-o nos olhos.
- E é assim que estamos em relação a Min-hee. Eu não consegui tocar na parte mais importante dos sentimentos dela. Não sei se por ela estar tão acostumada contigo ou por simplesmente não me conhecer. Mas eu estou disposto a tudo o que estiver ao meu alcance, para ter pelo menos a afeição dela.
- E por isso está pedindo a minha ajuda?
- Por você ser um homem que age corretamente, é que estou pedindo a sua ajuda.
Nisso Jungkook tinha razão, independentemente de como as coisas aconteceram, Taehyung sempre agiu conforme suas convicções, sempre fez a coisa certa.
- Tudo bem! - JK abriu um largo sorriso. - Mas pode ter certeza que não é por você que farei isso. É pelo Jimin! Sei que ele ficaria mais feliz com vocês dois se dando bem. - fez uma pausa. - E pela Min-hee...que por mais que ainda não tenha ciência, sei que no futuro será importante para ela ter o pai dela a seu lado.
- Ótimo! - JK sentiu-se aliviado internamente.
- Então...- Tae pegou o celular do bolso do casaco e olhava atentamente alguma coisa. - sugiro que comece comprando esses ingressos. - colocou o celular na mesa e empurrou para JK que olhou curioso. - Compre 3. Já que está pedindo minha ajuda, você vai arcar com as despesas. - disse sínico.
- Apenas 3? Porque não 4? - perguntou ainda olhando para o celular.
- Por que é para ser um momento no qual você vai interagir com ela, o Jimin não precisa ir. Sem falar que ele seria distração para Hee, e claro, pra você também.
JK não disse nada, deu apenas um sorriso tímido, pois Taehyung estava certo.
Na volta para casa, Taehyung estava chegando em seu condomínio quando avistou Songyon na calçada, ao lado de alguém que ele não conhecia.
Em um dia qualquer, ele esperaria os poucos passos que ainda os distanciaram e a cumprimentaria. Mas hoje, ele estava envergonhado demais para tal "formalidade".
Entrou às pressas no condomínio e se escondeu atrás de uma das pilastras. Era vergonhoso de ver a atitude dele.
Porém, nem ele sabia ao certo o porquê da vergonha. Se era pelo que havia acontecido na noite de natal, ou se pelo que fez mais cedo em seu banheiro. Como se ela pudesse realmente saber o que houve lá.
Ele a temia como se ela pudesse ler seus pensamentos, o que era ridículo.
Depois de se certificar que ela não o tinha visto e que havia ido embora, ele subiu para casa.
JHope acordou e Yoongi não estava na suíte. Ele esperou por pelo menos 1 hora e nada do alfa retornar. Decidiu descer e comer algo no restaurante. Não queria permanecer sozinho naquela enorme cobertura.
Chegou ao restaurante, fez seu pedido e não demorou nada para esvaziar seu prato.
Pegou o telefone e enviou outra mensagem para Yoongi, que não havia visualizado as que ele enviara antes.
- Onde você está? Porque não me responde? - Hobi já estava ficando preocupado.
- Ora, ora...- JHope desviou o olhar de seu telefone para a mulher que se aproximou. - Você não é o ômega que estava acompanhado meu sobrinho noite passada? - a mulher puxou a cadeira e se sentou de frente para ele.
- Hã...sim. Mas...eu não a conheço.
- De fato que não. - ela se sentou ereta e colocou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos e apoiando o queixo sobre eles. - O que não me surpreende. Yoongi é sempre muito reservado e não são todos os ômegas que ele trás aqui que são apresentados a família. - sorriu descarada.
- Entendi.- Hoseok baixou o olhar triste pelo peso do que aquelas palavras significavam. - Imagino que ele não tenha tido tempo para...
- Ah, não se preocupe com isso. Todo ano é assim. - ela pegou o guardanapo de linho sobre a mesa e o esticou sobre as pernas. Com muita classe, Hoseok observou. - Ele disse a você o que vem fazer aqui todo ano?
- Bem, não...mas ontem, quando chegamos...
- Oh, querido, não se preocupe, ele faz isso com todos. Sempre que está em seu período de hut ele vem até aqui com um ômega, lhe coloca na melhor suíte do hotel em troca de um bom sexo regrado a muita bebida e selvageria. É um animal, não tem como negar. Mas funciona melhor do que pagar por putas. Ela fingem demais. - falou com desdém. Hobi apenas piscava aturdido e engolia seco.
Será que é isso que ele quer de mim? Por isso não me conta nada de sua vida? Não, não! Ele disse que me amava, e que está vinculado a mim, então não tem como mentir. Certo?
- Sugiro que você evite atar com ele e acabar engravidando. Não seria o primeiro ômega a ser deixado para trás carregando um filho dele. - ela folheava o cardápio sem encarar o ômega a sua frente. - Inclusive uma delas foi encontrada morta, sob circunstâncias suspeitas. Ele já falou sobre isso com você? - finalmente o encarou e os olhos dele carregavam tristeza, incredulidade e medo.
- N-não. Que tipo de circunstâncias suspeitas? - suas mãos tremiam.
- Bom, Yoongi sempre foi um rebelde. Saiu de casa cedo e tentou se aventurar pelo mundo.- ela se recostou em sua cadeira e começou a gesticular com as mãos. - Aí você sabe como é né? Faz suas merdas e depois volta para casa com o "rabinho entre as pernas". - ela pegou seu celular dentro da bolsa o desbloqueou e colocou na mesa, empurrando-o para o ômega. - Só que isso vai além de uma simples merda.
Ômega grávida é encontrada morta em beco de bairro famoso pela prostituição.
Herdeiro de família poderosa foi visto frequentando sua residência durante semanas antes de sua morte, e depois desapareceu.
JHope piscou e lágrimas descerem por seu rosto. Ele não estava acreditando que aquilo poderia ser verdade.
- Ele já falou com você sobre a Jihye? - JHope não conseguia falar só negou com a cabeça.
- E-eu preciso ir. - o ômega se levantou. - Com licença! - fez uma leve reverência e saiu apressado de volta para a suíte.
A mulher sorriu satisfeita.
Na noite anterior, depois de ter sido dispensada pelo sobrinho, ela ficou de olhos bem atentos a mesa de Yoongi e seu sorriso ficava cada vez mais intenso a medida em que o via totalmente relaxado e sorridente com a presença do Hope. Logo, lhe veio a ideia de como ela conseguiria arrancar mais dinheiro de seu sobrinho.
Pela manhã, ela adentrou o lobby o hotel na intenção de subir até sua suite e ter uma conversa definitiva com o alfa, mas o encontrou saindo do elevador. Nada poderia ser melhor que aquilo.
Mas a conversa não saiu como ela esperava. Ameaça-lo de expor seu passado não o fez ficar mais maleável a seus objetivos, só o deixou ainda mais irritado, e quando ele a segurou firme pelo braço, seus dedos marcaram a pele dela e exalava um ódio mortal em seus olhos dizendo para que ela não se aproximasse do Hobi, ela também ficou furiosa.
Então ali estava ela, tirando dele todo e qualquer motivo para sorrir tão alegre no futuro.
- Se você vai me desprover da minha felicidade, eu devolverei na mesma moeda, Guinho! - murmurou baixinho com um sorriso maléfico nos lábios.
Hobi encarava a vista magnífica da cidade pela janela da suíte, com os braços envoltos no próprio corpo e a mente viajando por possíveis cenas assustadoras, nem ouviu o som das portas do elevador abrirem quando Yoongi chegou.
O alfa falou com ele, mas JHope não estava ali. Ele se aproximou e beijou seu pescoço, só assim o ômega reagiu e não foi do jeito que Yoongi esperava. Ele se afastou rápido e se virou para o alfa.
- Você está bem? - quando olhou atentamente para seu rosto ficou preocupado. - O que houve? Porque está chorando? - deu um passo em direção a ele mas o ômega recuou.
- Y-yoongi...quem é Jihye? - Suga ficou surpreso ao ouvir esse nome sair da boca dele.
- Onde você ouviu esse nome?
- O que aconteceu com ela?
- Eu não sei onde você ouviu esse nome, mas ela é só uma pessoa do meu passado. - tentou se aproximar de novo.
- Não! - Hobi apertou mais os braços no corpo. - Não se próximo, por favor.
- Hobi...você precisa se acalmar, está tremendo. - ele se virou para ir até o frigobar e pegar água para o ômega, mas seu corpo gelou com pergunta dele.
- Você...você a matou? - ele se voltou para o Hope e seu olhar estava apreensivo e angustiado.
- Não...e nós não vamos falar sobre o meu passado agora. Não é o momento pra isso.
- É por isso que você não quer me marcar? Tem medo que eu descubra o que aconteceu?
- Não há nada para você descobrir sobre isso.
- Você a matou porque ela estava esperando um filho seu? Foi por isso?
Você acha que aquele ômega ainda ficará ao seu lado quando descobrir o que você fez? Acha mesmo que ele te ama a ponto de ficar ao lado de um assassino?
- Foi ela, não foi? - os feromônios de Yoongi exalaram em um breu intenso. - Foi ela que encheu sua cabeça de mentiras e o colocou contra mim, não foi? - Hobi simplesmente baixou a cabeça sem coragem de responder. - Maldita! - sussurrou. - Maldita! - berrou em um ódio fervoroso que chegou a assustar Hoseok.
Os olhos de Yoongi estavam negros, sua raiva o estava dominando.
Haviam anos que seus tios não o deixava com um ódio tão mortal daquele jeito. Mas virar seu ômega contra ele, o desestruturava.
Ele caminhou rápido em direção a Hobi e o agarrou.
- Yoongi, o que está fazendo? - questionou assutado.
O corpo do ômega ficou fraco, os feromônios do alfa era algo ruim no estado em que ele estava, e isso fazia mal ao Hope.
- Você quer a verdade? - seus olhos ficaram vermelhos. - Então eu lhe darei a verdade!
Yoongi puxou a gola da camisa de Hobi e expôs seu pescoço. O ômega pressionava seu peito com as mãos na tentativa de afasta-lo.
- Yoongi, por favor, não faz isso! - implorou.
Tudo o que Hobi mais queria era ser marcado por seu alfa na noite anterior, mas agora estava assustado com o que acabaria descobrindo, estava com medo de acabar preso a alguém que fosse perigoso.
- A primeira pessoa que aparece na sua frente e diz coisas horríveis contra mim e você simplesmente acredita? Então darei a você o que tanto me pediu ontem, e acabaremos de uma vez com as chances de qualquer um te fazer duvidar de mim de novo.
- Por favor, não...
Yoongi se aproximou de seu pescoço e Hobi inalou involuntariamente seus malditos feromônios. Suas pernas cederam e ele desmaiou nos braços do alfa.
JHope acordou e não viu Yoongi no quarto. Quando saiu de lá e chegou na sala, levou as duas mãos à boca.
A suíte estava toda revirada, haviam utensílios de vidro e espelhos quebrados, assim como a mesinha de centro da pequena sala e a tv acima da lareira.
Yoongi estava jogado no sofá e a mão sobre o braço do móvel sangrava com alguns pedaços de vidro ainda fincados sob a pele entre seus dedos. A outra segurava um copo de bebida, a qual ele bebia vagarosamente.
Apesar dele ter extravasado toda sua raiva naquele cômodo, Hobi se sentia bem. Rapidamente levou a mão até o pescoço, se certificando se havia ou não sido marcado. Ele estava inteiro.
Hobi voltou ao quarto e foi até o banheiro, pegou uma pequena maleta de primeiros socorros e voltou à sala.
Sem dizer nada ele se aproximou do alfa e se sentou sobre os calcanhares abrindo a maleta que trouxe consigo.
Ele não sabia ao certo o que pensar sobre tudo àquela altura, mas detestava vê-lo ferido.
Yoongi apenas observava os movimentos de Hoseok.
- Você está bem? - o alfa rompeu o silêncio.
- Estou.
- Eu não queria fazer aquilo com você. Já sabia que feromônios negativos não eram bons para os ômegas, mas não tinha ideia de o quanto. - se explicou.
- Não se preocupe com isso. - pegou a mão ferida dele.
- Você não precisa cuidar disso. - puxou de volta a mão. - Algo tão superficial não vai me matar. E eu mereço isso.
- Será que você pode ficar quieto? - o encarou com firmeza e pegou novamente sua mão. O alfa cedeu.
Hoseok retirou os caquinhos de vidro de sua mão, limpou cuidadosamente o lugar e fez um curativo.
- Pronto! Espero que melhore logo.
- Obrigado.
- De nada. - Hobi guardou as coisas e fechou a malinha. Mas quando ia se levantar, Yoongi pegou em sua mão.
- Quero que venha a um lugar comigo. - o ômega o encarou em dúvida.
- Se eu disser que não você terá outro acesso de raiva?
- O quê? - seu olhar era triste. - Não! Eu jamais faria algum mal a você! - Hobi ponderou suas palavras e então lhe deu uma resposta.
- Tudo bem! - suspirou e o alfa ofegou aliviado.
- Pegue seu casaco. - levantou-se e caminhou até a entrada, pegando as chaves do carro. - Pegue touca e luvas. Está frio lá fora.
JHope olhava curioso pela janela do carro, queria saber onde estavam indo, mas das duas vezes que havia perguntado a Yoongi, só recebeu o silêncio como resposta.
Eles saíram da avenida principal e entraram em algumas ruas muito estreitas. Longas vielas se estendiam morro acima e o ômega se atentava nas pequenas casinhas multicoloridas que traçavam longos caminhos indefinidos por ali, até que Yoongi parou o carro.
- Chegamos! - puxou o freio de mão, desligou o carro e tirou a chave do contato, descendo imediatamente do veículo.
O ômega desceu devagar e olhava para todos os lados desconfiado. Não sabia que tipo de pessoa poderia ter escondida nos estreitos becos escuros. Suga o esperava à frente do carro. Quando Hobi se aproximou ele iniciou a caminhada.
Caminharam por cerca de 2 minutos por um dos milhares de becos estreitos e Yoongi tirou um chaveiro contendo duas chaves do bolso. Abriu um pequeno portão velho enferrujado e a menos de um metro, enfiou a outra chave na porta. Entrou e acendeu as luzes que estavam muito velhas e mal iluminava o cômodo.
- Entra! - pediu assim que se virou e o viu ainda do lado de fora.
- Que...lugar é esse? - Hobi deu passos hesitantes para dentro.
A casa era bem velha e tudo ali estava igualmente necessitando ser trocado e reformado.
Na pia a torneira pingava e tinha marcas de ferrugem, o fogão estava oxidado assim como a pequena geladeira. No chão o carpete estava encardido e a casa cheirava a mofo.
Ele chegou a uma porta que dava acesso a outro cômodo. Era o único quarto que havia na casa. Não havia uma cama, só dois lugares arrumados com grossos edredons e travesseiros. Hobi entrou no cômodo que não havia janelas e o papel de parede estava amarelado e sujo.
Yoongi chegou na porta do quarto, recostou nela e o observou encarar cada detalhe da casa.
- Era aqui que ela morava. - se virou para o alfa. - Essa era a casa da Jihye. - Hobi abriu a boca para falar alguma coisa, mas preferiu se manter calado. Yoongi prosseguiu. - Eu comprei a casa quando tomei posse da minha herança, e pedi que a deixassem do jeito que era quando ela estava viva.
- Porque?
- Por que eu gostava de vir aqui às vezes. Gostava de como eu me sentia quando passava por aquela porta. - ele colocou uma perna sobre a outra e enfiou as mãos nos bolso do casaco. - Eu não a matei, Hoseok! Eu gostava dela. - o ômega engoliu seco. - Claro que eu estava apavorado com a ideia de ser pai há poucas semanas de completar 14 anos. Mas não faria mal algum a ela.
- 14 anos? - questionou surpreso.
- Meu primeiro hut foi precoce. E ela me salvou quando eu não sabia para onde ir ou o que fazer.
- Mas você era só um menino. Ela abusou de você!
- Ela também era só uma garota, e já tinha que que se prostituir para poder sobreviver. - sua mente imergiu nas lembranças. - Infelizmente ela era boa no fazia. E eu só me vi descontrolado no meu primeiro hut. Depois disso eu não precisei mais tocar nela para esse tipo de coisa, só de estar aqui com ela, sentir seus feromônios já eram mais que suficientes. - suspirou pesaroso. - Nós dividíamos a casa, o quarto, às vezes a mesma cama nos dias mais frios...compartilhávamos a mesma vida. Foi natural que eu sentisse algum tipo de afeto por ela.
Hoseok viu quando seu semblante mudou completamente e ele baixou a cabeça, ainda perdido em lembranças.
- Ela estava no final da primeira estação, eu não tinha um tostão furado no bolso porquê eram meus tios que controlavam meu dinheiro, então ela continuou com seu trabalho como prostituta para guardar algum dinheiro para as despesas nos próximos meses e quando a criança nascesse. Enquanto a mim, - sorriu amargo. - só era cobrado que não deixasse de estudar. - um bolo se formou em sua garganta. Era difícil para ele compartilhar seus sentimentos e ditar aqueles acontecimentos. - Eu pedi que ela não saísse de casa naquela noite...- Hobi viu uma lágrima pingar de seus olhos em seu casaco. - Mas eu devia tê-la impedido de ir.
Hobi queria correr e abraça-lo, mas ainda queria ouvir o resto de toda aquela história, pois sabia que para ele voltar a falar do assunto seria muito difícil.
- Se eu não a tivesse deixado ir, ela ainda estaria aqui, viva, e cuidando do nosso filho! - Hobi não conseguiu conter as lágrimas. - Eu poderia ter dado a ela uma vida digna agora, não lhe deixaria faltar nada...meu filho estaria entrando para o fundamental II e eu já estaria fazendo planos com ele sobre a faculdade que ele gostaria de ir e o curso que ele poderia fazer...- soluçou alto. Hobi correu para abraça-lo, não suportava vê-lo daquele jeito. - Sim, eu a matei...- se garrou forte ao ômega. - Eu devia ter feito mais do que apenas pedir que ela não saísse, eu devia tê-la impedido!
- Não é culpa sua! Você não tinha como saber o que ia acontecer.
- Eu sinto tanta raiva quando dizem que a culpa da morte dela é minha, mas eu sei que é verdade. Sei que eu poderia ter evitado que ela se fosse daquele jeito.
Hobi se afastou dele e segurou seu rosto com as duas mãos olhando em seus olhos.
- Não fala isso! Por favor...
- Os olhos dela estavam brancos, a pele extremamente pálida enquanto seu corpo boiava em uma poça de sangue...meu filho também estava ali...- seu coração explodiu em uma agonia indescritível. - E eu não podia salva-los, não podia traze-los de volta!
As pernas do alfa cederam e ambos foram ao chão. JHope o agarrava com tanta força enquanto seu corpo debatia em meio aos soluços.
Apenas o som do choro de Yoongi podia ser ouvido naquela casa. Hobi colocou a cabeça dele contra seu peito e tentava acalma-lo. Parecia não dar resultado algum.
Em longos 11 anos Yoongi remoia essa época triste de sua vida sem nunca se permitir chorar pelo que houve. Mas hoje, depois de pensar que poderia perder o amor da sua, era como ver a desgraça bater à sua porta outra vez. Ele já havia sofrido por tantas coisas na vida, que perder seu ômega seria demais para conseguir suportar continuar vivendo.
Ele tinha seu lado frio, mas na verdade, a vida lhe ensinara a ser mais resistente. Porém, não haveria resistência que o fizesse sobreviver em um mundo no qual Jung Hoseok não fizesse parte de sua vida. Ele não conseguia mais.
- Eu não consigo...não consigo mais! Foi doloroso perder meus pais, a Jihye, o meu filho e alguns amigos que fiz ao longo desses anos...se você me deixar, eu vou compreender...mas não vou suportar. Eu não consigo mais ser tão forte.
- Yoongi...- o ômega chorava junto com ele.
- Eu não quero marcar você para que não sinta como é ser tocado pela minha dor...você é puro, sua alma brilha e é inocente...por isso foi tão fácil que ela conseguisse dizer tais coisas e te virasse contra mim...
- Me desculpa por isso...- voltou a segurar o rosto dele com as mãos e implorava olhando em seus olhos. - Por favor, me perdoe por ter sido tão ingênuo dessa forma.
- Eu amo tanto você, que...
- Eu também te amo! E nunca mais farei isso, nunca mais duvidarei de você! Por favor, me perdoa?
- Por favor...- soluçou mais uma vez. - não me deixa, Hobi!?
- Nunca! Eu nunca deixarei você! Eu te amo! - o beijou.
Na volta para o hotel Hoseok dirigiu, Yoongi não tinha condições para isso.
Ao chegarem na suíte foram direto para o quarto. Yoongi não disse mais uma única palavra. Se deitou e Hobi deitou a seu lado, o abraçando forte, mantendo-o seguro.
O alfa pegou no sono em poucos minutos. Hoseok não conseguia se conformar que havia deixado que as palavras de outra pessoa o tenha feito colocar Yoongi em tal situação.
No entanto, agora, mais do que antes, ele queria ser marcado. Tinha total convicção de que Yoongi precisava se livrar de toda essa dor. Se não pudesse extingui-la, pelo menos a dividiria. E ele queria muito tirar todo esse fardo do coração do seu alfa.
Na manhã seguinte Hobi observava Yoongi ainda dormindo. Parecia tão calmo e sereno, que o coração do ômega sentia um certo alívio. Mas sabia também que quando ele acordasse ainda veria seu olhar triste e perdido. Pressentia isso no fundo de seu coração.
O telefone da suíte tocou e a recepcionista lhe informou que havia alguém que desejava subir. Hobi estava tão inerte que nem perguntou quem era e pediu que deixasse subir. Achou que pudesse ser alguém importante para Yoongi.
Mas ao sair do quarto se deparou com a sala ainda revirada. Se esqueceu que não havia avisado a recepção que precisavam de uma arrumadeira. Não que ela pudesse resolver toda aquela bagunça, mas tinha certeza que eles sabiam bem como cuidar de tudo.
Começou a recolher parte dos móveis destruídos antes que a pessoa chegasse e ele avisasse ao alfa.
Empilhando as partes quebradas da mesinha de centro e das cadeiras da mesa de jantar, ele ouviu o som das portas do elevador abrirem. Olhou para trás e ficou rapidamente de pé.
- O que está fazendo aqui? - questionou rude.
- Onde está o Yoongi? - se aproximou rápido do ômega. - O que você disse a ele? Porque nossas contas bancárias estão zeradas? - a mulher perguntava grosseiramente.
- Contenha-se Sra! - disse sério. - Eu não sei do que está falando e seria bom que falasse baixo, Yoongi está dormindo e sei que sua visita não faria bem a ele. Então sugiro que vá embora.
- Eu não vou embora até saber o que ele fez com o meu dinheiro! - Hobi sorriu sarcástico.
- Seu dinheiro? Esse dinheiro não lhe pertence!
- Então agora o ômega com carinha de sonso já está mostrando suas garras? - foi desdenhosa. - Não demorou nada para você mostrar seu real interesse, não é?
- Eu não tenho interesse algum no que ele possui. Eu o amo e isso me basta. A única pessoa interesseira nessa suíte é a Sra!
- Não ouse falar assim comigo seu bastardo insignificante!
- Bastardo insignificante? - o ômega lhe devolvia as palavras no mesmo tom. - Acho que a insignificância estabelecida aqui lhe pertence.
- Me escute bem, ômega...- disse com nojo, se aproximou mais e segurou o rosto de Hobi apertando suas bochechas com força. Hoseok se assustou e por um momento o medo lhe atingiu. - seja lá o que tenha dito ou feito com ele, desfaça! Ou você...
- Ou ele o quê? - Yoongi saiu do quarto mal humorado em ter que ver aquela mulher logo nas primeiras horas de seu dia.
- Guinho! - sorriu descarada pra ele.
- Tire suas mãos do meu ômega! - a mulher baixou rápido sua mão. - E eu já disse para você não me chamar assim. - disse irritado.
- Tudo bem, meu querido sobrinho! Vamos esquecer todo esse impasse. - se virou completamente para ele e abriu seu melhor sorriso.
- Eu não sou seu querido sobrinho. Nunca passei de uma mera carteira que vocês lembravam de usar quando precisavam de dinheiro. Então não seja hipócrita, isso faz você parecer mais velha do que já é. - caminhou até Hoseok, colocou sua mão no ombro dele e o puxou para junto de si.
Era perceptível o quanto a mulher ficou irritada por ser chamada indiretamente de velha. Hobi baixou a cabeça e escondeu o sorriso tímido.
- É melhor você ir embora. Agora! - sugeriu. A mulher respirou fundo e ignorou sua sugestão.
- Yoongi...hoje viemos tomar nosso café da manhã no restaurante do hotel, porquê você sabe que aqui tem o melhor restaurante da cidade, mas fomos impedidos de entrar. E quando, educadamente nos retiramos e optamos por outro 4 estrelas, nossos cartões simplesmente não foram aceitos. - ela empinou a cabeça com um ar de superioridade. - Então poderia me dizer o que aconteceu?
- Muito simples, a partir de agora vocês não receberão um único won sequer de mim. Então sugiro que comece a trabalhar para manter sua boa vida.
- Trabalhar? - ela arregalou os olhos incrédula.
- É assim que as pessoas costumam ganhar dinheiro.
- Mas eu...- suspirou. - eu nunca trabalhei na minha vida, Yoongi, você sabe disso. Como eu poderia começar a fazer isso a essa altura? - tentou sorrir, mas falhou.
- Pessoas na sua idade costumam ainda estar ativas. - enfatizou pois sabia que isso a irritava e divertia Hobi vê-la tão fora de si por um motivo torpe. - Já não posso ter muita certeza se você tem alguma capacidade para isso.
- Você não pode fazer isso, Yoongi!
- Já está feito! Agora você pode ir embora.
- Você está fazendo isso com sua família por causa de um ômega?
- Não. Estou fazendo isso porquê você ousou interferir na minha vida, tentando virar meu ômega contra mim. - lembrar daquilo ainda o deixava extremamente irritado.
- Você sabe que assim que ele conseguir colocar as mãos no seu dinheiro te deixará. - olhou com desprezo para Hobi.
- Não, ele não vai! - disse convicto. - Ele tem um coração bom e me ama pelo que eu sou!
- Você acha mesmo isso? Sua carência é tão grande assim para arriscar sua própria herança em uma ilusão como essa? - destilou seu veneno. - Ou você só está tentando se redimir pelo que fez com a Jihye?
Yoongi inalou o ar profundamente. Estava perdendo a paciência. Hobi começou a sentir seus feromônios exalarem.
- Você acha mesmo que pode mudar o passado? Acha que dando tudo para ele remove sua culpa de alguma forma, ou trás o seu filhinho de volta? Você só vai conseguir destruí-lo como fez com a Jihye, e se você não o fizer, eu farei!
Yoongi praticamente deu um pulo em cima da mulher e a agarrou pelo pescoço apertando firme enquanto seus feromônios se tornavam negros e seus olhos vibravam de raiva.
- Não se atreva a falar o nome dela e se você ousar se aproximar do Hoseok...- Hobi o segurou pelos braços tentando afasta-lo da mulher que esganiçava sob suas mãos fortes. - eu mato você!
- Yoongi, para, por favor! - o ômega tentava intervir.
- No dia em que a justiça determinou que meus avós eram idosos demais para cuidar de uma criança de 8 anos e me colocou nas mãos de vocês, foi o pior dia da minha vida! De lá pra cá minha vida se tornou um inferno!
- Yoongi...por favor...- Hobi já se desesperava.
- E você acha que tem o direito de me fazer sentir culpado por alguma coisa? - a mulher se debatia. - Mas a bem da verdade é que, consegue sentir a pressão de meus dedos em seu pescoço? O poder sobre vocês sempre esteve em minhas mãos. Só lamento ter descoberto isso muito tarde.
- Yoongi...- Hobi fica atrás da mulher, tentando chamar sua atenção. - olha pra mim, por favor!
- Eu nunca mais deixarei qualquer um de vocês cruzar meu caminho de novo.
- Yoongi! - o ômega gritou.
- Está ouvindo isso? - Suga desdenha ainda com os olhos fixos nos dela. - Meu ômega está implorando por sua vida! - sorri maldosamente.
- Guinho...- Hobi coloca seu rosto próximo ao dele e toca delicamanete seu pulso. Os olhos negros dele encontram os do ômega. - Não faz isso, meu amor.
Na manhã em que visitaram o túmulo dos pais de Yoongi, em meio as lembranças que o alfa compartilhou com o Hope, havia o apelido carinhoso que sua mãe costumava lhe chamar nos momentos em que estavam juntos. Eram os melhores da vida dele. Por isso odiava quando sua tia o chamava assim. Achava que ela não tinha o direito de usar as palavras tão afetuosas de sua mãe.
- Por favor...solte-a. Não vale a pena. Você não é esse tipo de pessoa. Eu sei disso! - Hobi cambaleou. Estava tonto pela intensidade dos feromônios do alfa. O Hope passou a mão por seu rosto, ainda resistindo. - Vamos pra casa, ser felizes juntos. Hum?
Os olhos de Hoseok piscaram fraco e seu corpo foi lentamente se afastando de Yoongi. Estava caindo.
- Hobi?! - Suga soltou rápido o pescoço da mulher e agarrou Hoseok antes que ele atingisse o chão.
A mulher, caída no chão inalou com desespero o ar, seu corpo se movia desajeitado em uma busca continua por oxigênio.
- Hobi, por favor, fala comigo! - implorava.
- Você conseguiu. - Hobi estava quase desacordado. - Você foi forte. - levantou a mão para tocar o rosto do alfa, ele a pegou rápido e colocou contra sua face molhada pelas lágrimas. - Eu prometo que nunca mais deixarei você se sentir assim. Todos os seus dias serão felizes a partir de hoje. - prometeu o ômega.
- Hobi...! - Yoongi o abraçou forte e chorou mais.
A mulher se levantou rápido assim que recuperou e fôlego, Yoongi e Hobi nem viram quando ela correu para o elevador e desapareceu da frente deles.
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