Capítulo 46
Taehyung saiu de casa no fim da tarde com o sol brilhando fraco no horizonte. Não que o fato do sol ter aparecido naquele dia fizesse muita diferença para um dia de inverno, mas ainda assim era bom poder vê-lo depois de dias tão nublados.
Parecia que até o clima estava de acordo com as tempestades que chegaram na vida dele nos últimos dias.
Ele caminhou devagar pela calçada coberta pela neve. Ele se recordava de como Jimin adorava sair enquanto nevava. O sorriso dele era tão lindo, que fazia o coração do beta sorri junto.
Naquela época a vida de Taehyung era fácil. Ele não havia exposto seus sentimentos ao então beta. Sabia que a presença de JK jamais lhe daria espaço para se aproximar o suficiente.
Ele não andou muito até chegar a uma pequena praça onde os amigos costumavam se reunir para jogar conversa fora e brincar com alguns dos brinquedos que eram destinados as crianças. Mas eles sempre foram os rebeldes do bairro, então não era uma faixa etária de idade que os impediam de utilizar o balanço ou a gangorra.
Taehyung subiu os poucos degraus da pequena casinha no alto do escorregador, sentou-se e permaneceu ali, recordando as lembranças de sua infância naquela cidade.
Só haviam se passado 5 anos desde que eles se conheceram, e nem havia sido da melhor maneira possível. Quem diria que uma disposta pelo balanço os levariam a viver tamanha desavença amorosa no futuro!?
Taehyung encostou a cabeça nos lastros de madeira da casinha e observava as nuvens sumirem no horizonte.
Apesar das boas lembranças, do semblante calmo e sereno, sua cabeça ainda estava um verdadeiro emaranhado e seu coração ainda despedaçava um pouco mais a cada dia.
Ele nem se deu conta quando sol finalmente se foi, dando espaço para uma noite cheia de estrelas no céu. Estava tão imerso em seus pensamentos que também não percebeu que havia esfriado ainda mais.
- O bom filho à casa torna? - os pensamentos do beta foram interrompido pela voz de Songyon que subia devagar os degraus da escada.
- Songyon!? - ela sorriu para ele, dando dois tapinhas leves em sua perna ao chegar ao topo, indicando ele lhe desse espaço para entrar.
- Você é mesmo um cara forte. - Taehyung se afastou para que ela entrasse na casinha. - Ou é covarde demais para descer daqui e correr para casa. - ele baixou a cabeça e sorriu.
- Acho que um pouco dos dois.
Ela o encarou por alguns instantes, e então puxou conversa.
- E aí...- ele suspirou. - acha que a cidade mudou muito desde que nos mudamos daqui? - ele a observou curioso.
- A cidade?
- Sim. - ele sorriu sem graça. - Não era a pergunta que você espera, não é?
- Realmente não.
- Eu não vou perguntar como você está. - ela observou algumas pessoas que passavam apressadas na calçada há alguns metros dali. - É uma pergunta inútil. E a probabilidade de você mentir é grande. Sei que não quer falar sobre esse assunto, e que está se escondendo de todo mundo por isso.
- Não é que eu não queria falar sobre esse assunto. É só que...eu já sei tudo o que vão me dizer. Então me afastar é a melhor forma de desligar o botão de repeat. Entende?
- Claro que entendo. - disse animada.
Era estranho lidar com aquele comportamento de Songyon, mas Tae gostava muito de não ter mais uma pessoa lhe encarando complacente, ou triste.
- Na verdade eu compreendo tudo. Todos os lados.
- Compreende?
- Sim.
- Achei que você não ia falar sobre esse assunto. - observou o mais alto.
- Eu que pensei que você não falaria sobre ele. Mas como você mesmo disse, não está se negando falar sobre ele. O que é muito bom.
- Então vamos lá. - ele se virou agora ela, a encarou curioso. - Me diga o que você compreende.
- Eu não sou a primeira pessoa que algum de vocês procuram para poder desabafar, o que me torna, de certa forma, uma excluída do grupo...
- Você não é uma excluída...- ela o encarou inquisitiva. - Ok, prossiga.
- As coisas que eu fico sabendo, são sempre por terceiros, ou porque estou no lugar certo, na hora certa. - brincou com as palavras, fazendo Tae sorrir. - Mas pelo que entendi da conversa do Nam com o Hobi, Jungkook passou por algumas coisas que o fizeram tomar as decisões erradas. Jimin por sua vez, encontrou em você uma espécie de "step" enquanto JK não estava.
- Não foi assim que as coisas aconteceram, Jimin não agiu assim.
- Não interrompa meu monólogo até que eu conclua. - advertiu. Ele ergueu as mãos em rendição. - Continuando...ele usou você como step, - frisou a palavra o encarando semicerrado. - porque você o sufocou. - Tae pensou em argumentar, mas não se atreveu depois de vê-la arquear as sobrancelhas. - Ele precisava ter passado aquela fase sozinho, se erguido por si só. Estaria mais forte da segunda vez se tivesse aprendido a andar com as próprias pernas da primeira vez. E você...- suspirou - está nessa enrrascada por pura dependência emocional.
- Não dá pra dizer que você realmente saiba do que está falando.
- É mesmo? Em que ponto? - a ômega quis saber.
- Eu não "sufoquei" o Jimin em momento algum. Eu só estive ao lado dele quando ele precisou. E que história é essa de dependência emocional? - ficou intrigado.
- Ok...então me diz uma coisa, quando foi que o Jimin derramou uma lágrima sozinho?
- Essa pergunta é ridícula! Eu não tenho como responder isso. - disse agitado.
- Tudo bem. Então me diz sobre você, quando foi a última vez que você fez algo que não envolvesse o Jimin? E eu não me refiro aos momentos em que vocês tiveram algum conflito. Pergunto de quando vocês estavam bem.
- Eu...não sei...difícil lembrar agora.
- Taehyung...você realmente ama o Jimin?
- Que pergunta é essa? Acha que eu estou fingindo tudo isso? Acha que estou péssimo assim porque quero? Como você pode pensar que eu faria uma atuação desse tipo? Quem você pensa que eu sou? - se irritou. - Você acha que é fácil lidar com tudo isso depois de ter alcançado a chance de poder estar com o Jimin do jeito que eu sempre quis?
Songyon não disse nada, e apesar de Taehyung se mostrar bem irritado e ter elevado a voz, seu semblante calmo e sereno não mudou. Ela sabia que seria complicado para ele lidar com os próprios erros.
Por mais que hajam mais de dois envolvidos em toda essa bagunça, realmente só as pessoas que estavam de fora conseguia apontar os erros que cada um cometeu. E Songyon era uma delas. Não tinha medo de dizer o que era preciso, não tinha medo de dizer as verdades que precisariam ser digeridas.
Sem dúvida alguma ela diria tudo o que Jimin precisava ouvir, mas todos em volta o tratavam como um bonequinho de porcelana, prestes a se quebrar a qualquer momento. Mas sabia que tinha espaço para uma conversa como essa com Taehyung. Não podia dizer o mesmo de JK. Nem sabia mais se o conhecia de alguma forma.
Já Taehyung, foi o primeiro a cruzar seu caminho depois dos acontecimentos. E ela sempre teve mais abertura com ele para conversar sobre as coisas relacionadas a Jimin. Ele mesmo poderia ser bem boca aberta quando estava em um conflito interno. Mas obviamente ele não esperava por essas palavras.
- Não se ponha em lugar de vítima, Taehyung. - ele a encarou incrédulo. - Nenhum de vocês é vítima. Todos são culpados. Nem mesmo o Jungkook seria o vilão dessa história. O erro dele não justifica os de vocês.
- Você tem noção do que está dizendo?
- Mais do que você imagina. A partir do momento em que você assumir sua parcela de culpa em tudo isso, mais da metade desse peso desaparecerá das suas costas.
- Não...- se levantou. - Você só pode estar ficando louca.
- Você ainda vai perceber que eu só digo isso para abrir seus olhos.
- Abrir meu olhos...? - negou com cabeça. - Você vem até aqui, diz que compreende o que eu estou passando e agora me vem com isso? Eu achei que você fosse minha amiga...
- Eu sou sua amiga!
- Não, você não é!
Taehyung andou agachado até a porta da casinha, e sem se dar ao trabalho de descer cada degrau, pulou dali até em baixo. Deixando encrustado na neve duas fundas pegadas.
Lá de cima Songyon observou ele caminhar irritado até a calçada.
- Vai levar mais tempo do que eu pensei para ele deixar de ser tão cabeça dura. - revirou os olhos e suspirou frustrada.
A ômega pegou o celular e enviou uma mensagem a Hoseok, avisando que ele estava na cidade, para que o ômega ficasse menos preocupado.
π
No outro dia, logo pela manhã, Jimin se arrumou e foi para a casa de seus pais. Já tinha se dado conta de que não adiantaria nada ficar em casa esperando que Taehyung aparecesse. Se era um tempo sozinho que ele queria, Jimin então não procuraria por ele.
Já não chorava mais ao lembrar da última conversa que tiveram, mas ainda doía lembrar.
Depois que entrou no quarto de Taehyung na última noite em que se viram, Jimin foi questionado sobre seus sentimentos por ele. O ômega foi sincero, disse que havia passado a enxerga-lo de outra forma, que passou a nutrir sentimentos por ele além da amizade. Taehyung o beijou, e Jimin não o evitou. Queria mesmo que eles pudessem tentar. Porém, Taehyung queria certezas que Jimin não poderia lhe dar. Ao ser questionado sobre sobre seus sentimentos pelo alfa, Jimin não omitiu nada. O beta ainda chegou a relevar, mas quando lhe foi pedido que se mantivesse afastado de JK, que evitasse todo e qualquer contato que não fosse em prol de Min-hee, Jimin se recusou.
- Taehyung, você não pode me dizer com quem eu posso ou não interagir...
- Você ainda o ama, não é? O ama e não quer se distanciar dele nem por nós. Não é?
- Sim, Taehyung, eu o amo. E mesmo depois desse tempo, esse amor não diminuiu uma única fração.
- Entre ele e eu, você escolheria a mim em?
- Taehyung...
- Responda, Jimin!
- Não faz isso, Tae...
- Em algum momento você escolheria a mim?
Jimin não respondeu. Ele não sabia dizer se escolheria Taehyung, mas não podia afirmar que escolheria Jungkook também.
A falta de resposta de Jimin só deixou o beta ainda mais magoado. Jimin dizia ter sentimentos por ele agora, mas entre JK e ele, suas chances ainda eram mínimas.
Não tinha ideia de que na verdade, as chances de Jungkook não eram mais as mesmas.
Jimin passou um tempo com seus pais pela manhã, conversou com eles sobre o que estava acontecendo, e lhes contou que JK havia voltado, e que ele era o pai de Min-hee.
Jihoon ficou surpreso, já Seojin, quase caiu da cadeira quando soube.
Eles tinham ciência do afeto que tinham um pelo outro, mas não imaginavam que os sentimentos eram além do que se podia ver. Muito menos que eles haviam se envolvido dessa forma ao ponto do Jeon ser o pai da menina.
Na verdade, depois que JK foi embora com seus 14 anos, os Parks não tiveram muita notícia sobre ele. Mesmo Seojin tendo contato direto com a mãe de JK, as notícias eram mínimas.
Logo, seus pais questionaram lhe questionaram se os Jeon sabiam da paternidade do Jungkook, Jimin lhes disse que provavelmente saberão através do próprio alfa.
Jihoon e Seojin se encararam por um bom tempo, sabiam que chegaria o momento em que Min-hee teria de conhecer seu pai e a família paterna, mas acharam que ela teria mais idade para compreender tudo antes da vida da menina ser agitada de tal forma.
Estavam mais temerosos por ela ser tão apegada a Taehyung, e agora o filho estar tão distante do beta. Não seria fácil para a pequena lidar com essa separação.
Mas Jimin estava convicto, independente de como ficasse sua situação com Taehyung, ele não pretendia separar a menina dele. Sabia que seria demais para Tae, e principalmente para Min-hee. Ele detestaria bagunçar os sentimentos da filha por causa de seus erros.
Pouco antes do almoço, Jimin pegou Min-hee na escolinha, almoçaram juntos, e assistiram um pouco de tv.
No meio do desenho favorito de Min-hee, Seojin chegou na sala, seu olhar era triste para Jimin, mas para Min-hee, ela exibiu um sorriso largo.
- Jimin, filho, Taehyung quer fazer uma chamada de vídeo com a Min-hee. - comunicou junto ao ouvido do ômega.
- Tudo bem. - se ajeitou no sofá, com um sorriso tímido nos lábios.
- Você participará da chamada com ela? - Jimin pensou por alguns instantes.
- Não. - respondeu triste. - Ele não quer falar comigo ainda, então vou lhe dar o espaço que quer.
- Entendi. - disse ao filho. - Min-hee, minha princesinha, tem alguém que quer falar com você. - sentou no sofá, ao lado da neta.
Jimin se levantou do sofá, ele sentou mais afastado. Preferia não ver ou ouvir a voz do Taehyung, sabia que acabaria chorando, no entanto, os pulinhos alegres que Hee deu ao ser informada sobre a ligação de Taehyung, o deixou tão feliz, que ele apenas se afastou.
- Cadê, cadê...eu quelo ver Taetae! - a menina se jogou no colo da avó.
- Temos que esperar ele mudar a chamada de voz para vídeo.
- Oi, Mini-hee! - o beta disse animado do outro lado da chamada. Jimin quase não conseguiu segurar as lágrimas.
- Taetae! - Hee beijou a tela do celular. Tae fez o mesmo de lá.
- Como você está princesinha?
- Com saudade do Taetae! - sorriu exibindo os pequenos dentinhos. Jimin colocou a mão na boca, e agora não conseguiu evitar de chorar em silêncio.
- Eu também estou com saudade de você, Mini-hee!
- Quando Taetae volta? - a menina se acomodou no colo da avó.
- Eu ainda não sei, mas eu prometo que a primeira coisa que eu farei é ver você.
- Taetae vai tlazer um plesente 'pa Mini-hee? - um sorriso alto do beta pôde ser ouvido pelo cômodo.
- Claro que sim!
- Espela...- Hee pegou o celular da mão de Seojin, e desceu de seu colo.- Agola eu quelo desse! - apontou para a imagem pausada na tv. Ela indicava que dessa vez queria uma pelúcia do Olaf.
- Eu prometo que levarei o que você quiser, contanto que... - a menina arqueou as sobrancelhas. - Você esteja se alimentando direitinho.
- Hee comi tudinho. Olha...- ela levantou a camiseta rosa que usava, e mostrou a Taehyung sua barriguinha. - já 'ta cheinha.
- Muito bem!
- Mimi fez comidinha pla Hee hoje. - revelou animada.
- Oh, Jimin esteve aí com você? - a pequena de pés ágeis correu até Jimin.
- Mimi 'ta aqui com Hee. - abraçou Jimin e deitou sua cabeça no peito dele. - Mimi 'da bejo 'pa Taetae! - ambos ficaram desconcertados, mas forçaram um sorriso.
- Ah...oi, Tae! - deu um aceno com a mão.
- Oi, Jimin-ah. - engoliu seco.
- Mimi, diz 'pa Taetae 'vim logo! - encarou Jimin com os olhinhos brilhando. - 'Tamos com saudade, 'né?
- Sim...- Jimin encarou a imagem de Tae na tela. - Estamos com muita saudade. Taetae faz muita falta. - os olhos do beta marejaram, e ele virou o rosto para esconder o efeito que aquelas palavras lhe causavam.
Ele respirou fundo, franziu os lábios e passou a mão pelos cabelos, ganhando tempo para se recompor.
- Taetae volta logo, eu prometo. - Jimin sabia que essas palavras não eram direcionadas a ele. - E você, mocinha, tem que se comportar bem, estudar bastante e ser uma boa menina com Mimi e seus avós. Me promete?
- Eu plometo Taetae!
- Muito bem. Então nos veremos em breve.
- 'Ta bom.
- Um beijo, bonequinha. - ela beijou outra vez a tela do celular. Ele repetiu.
- Bejo de Mimi! - colocou o celular em frente ao rosto de Jimin. E o ômega timidamente beijou a tela. Taehyung mexeu a gola da camisa sem jeito.
- Taetae, bejo 'pa Mimi! - Taehyung suspirou e mandou um beijo para Jimin.
- Eu preciso ir agora.
- Por favor, fique bem. - Jimin pediu.
- É o que eu estou tentando. - baixou o olhar. Era difícil encarar Jimin, mesmo que por uma tela de celular.
- Bejo de Jinjin! - Hee correu até Seojin.
Jimin levantou a cabeça e soltou o ar que nem sabia que estava prendendo. Fechou os olhos e suspirou.
π
- Matando a saudade do seu amigo arenoso? - Suga entrou no seleiro e encontrou JK recostado junto a uma mesa, com os braços cruzados, encanado o saco de areia que costumava treinar antes de ir para o exército.
- O que faz aqui? Quando chegou? - desviou sua atenção para o alfa que se aproximava.
- Há alguns minutos. Aí vi o seleiro aberto, e tive certeza que você estaria aqui. - JK levantou uma sobrancelha. - Sem falar que seus feromônios não permitem que você se esconda de ninguém agora. - o alfa baixou a cabeça e sorriu. - E você está perdendo o jeito, antigamente, só de eu me aproximar desse jeito de você, calmante, já corria o risco de morrer. - provocou.
- Eu estava com a cabeça longe.
- Percebi. E deixou a guarda baixa. Que tipo de soldado é você?
- É melhor você calar essa boca! - deu um abraço no amigo.
- Ah, agora sim eu estou com medo. - sorriu.
JK manteve o braço sobre o ombro de Suga, e eles caminharam em direção a residência.
JK abriu a geladeira e jogou para Yoongi uma latinha de refrigerante, que o alfa pegou com habilidade no ar.
- Não lembro de você ter me dito o que veio fazer aqui. - JK iniciou.
- Eu não consigo mais ficar longe de você. - brincou. - E eu gosto do campo. A cidade é muito barulhenta e às vezes pode ser sufocante.
- Sei...- JK o encarou desconfiado.
Jungkook começou a percorrer a cozinha abrindo os armários e colocando sobre a mesa alguns itens para que ambos pudessem fazer um lanche.
- Eu estou com problemas. - Suga disse encarando a latinha nas mãos.
- Que tipo de problema? - não deu muita importância. Ouviu o alfa suspirar pesaroso.
- Eu estou vinculado a um ômega.
JK parou imediatamente o que estava fazendo e o encarou atentamente. Aquelas eram palavras que ele não imaginava ouvir tão cedo da boca do amigo.
- Como...quer dizer...quando isso aconteceu?
- Ontem a noite. - baixou a cabeça triste.
- Você foi bem rápido, hein. Mal saí e você já estava fazendo festinha no apartamento. - disse brincalhão. Mas percebeu que Suga não estava mais no clima.
- Eu não sei o que fazer agora. - JK se aproximou devagar, se prostou a seu lado e colocou uma mão em seu ombro. - Isso não podia ter acontecido. E eu não posso voltar lá.
- Ei...- JK ficou de frente a ele, tomou sua atenção e colocou a outra mão também em seu outro ombro. - Não faça isso. Você sabe que só vai só piorar as coisas pra vocês dois.
- Eu não...- Suga suspirou cansado, e JK notou seus olhos marejados. - Essa vida não é pra mim, Jungkook. Eu não posso fazer isso...
- Não, não, não. Me escuta...- JK encarou seus olhos. - Você melhor do que ninguém sabe tudo o que eu passei fazendo as escolhas erradas. Posso ser a pior pessoa para lhe dar um conselho agora...
- Com certeza você é! - debochou.
- Mas o meu passado, minha trajetória, é o melhor exemplo para você não fazer esse tipo de coisa. - JK viu uma lágrima despencar do olhar triste do alfa. - Eu sei que você tenta a todo custo fugir da felicidade, eu não entendo o porquê, você deve ter suas razões, mas todo esse esforço foi em vão. E você sabe disso agora.
- Eu não sei como lidar com isso.
- Você precisa voltar, sentar e conversar sobre isso com esse ômega. Não cometa os mesmo erros que eu.
- E se eu não for o que ele precisa...? - passou a mão pelo rosto secando as lágrimas. - Você precisava ver como ele sonha com um alfa que eu não posso ser. - as lágrimas rolaram agora pelo outro lado de seu rosto. - Ele parece ser tão incrível...tão maravilhoso e cheio de vida e sonhos...e o que eu sou? Um alfa com um passado nebuloso e vazio de sentimentos. Não tem como isso dar certo.
- Olha, Yoongi...a única coisa que eu sei é que, mesmo que você se classifique dessa forma, você não é assim. Basta olhar para tudo o que você já fez por tantos outros alfas. Você os guiou para encontrar a própria felicidade. É a pessoa mais altruísta que eu conheço. Abdicou por muito tempo da própria felicidade em prol de tantos outros que estavam perdidos e confusos nesse mundo. Não tem um coração vazio, disso eu tenho certeza.
- Não muda o fato de eu não ser o que ele deseja.
- Você pode não ser o que ele quer, mas sim o que ele precisa. Se ele te ama, vai aceitar você do jeito que você é.
- Mas eu nem sei se ele sente alguma coisa por mim.
- Merda! - JK puxou Suga e o abraçou forte.
- Jungkook...eu estou com medo. Eu nunca senti um medo como esse na minha vida! - chorou envolto nos braços do amigo.
- Eu sei...estar em uma posição como essa pode ser realmente assustador.
Yoongi não quis comer. Depois de desabafar suas angústia com JK, sua cabeça estava longe, e o Jeon apenas o deixou ficar assim, preso em seus próprios pensamentos. Por fim adormeceu no sofá da sala.
Sentado à mesa, JK observava o amigo com o rosto avermelhado pelo choro, dormir tranquilamente.
Eles mal tinham chegado a Seul, e a vida de ambos já tinham virado de ponta cabeça.
Na verdade a do Jeon já não era a mesma desde que saiu de casa pela primeira vez. Ainda assim, parece que seu mundo só demoronou mais depois de sua volta.
Afundou-se na cadeira e colocou sua cabeça apoiada no recosto dela, com os olhos fixos no teto, porém, observando sua trajetória de erros irreparáveis que começou há muito tempo atrás.
- Não podemos mais nos permitir sermos fracos, Yoongi. Temos que lutar por aquilo que dá vida a nossas almas. - sussurrou para o alfa que ainda dormia.
π
No meio da tarde Taehyung saiu de casa, precisava ir ao mercado. Não sabia ao certo quantos dias ainda ficaria em casa, mas a dispensa já estava esvaziando, e ele não queria que seus pais voltassem de viajem e a encontrasse pendente.
Não que tenha comido muito nos últimos dias, mas o fato de preparar algo que ele acabara não comendo causou esse efeito.
Chegou ao carro, e quando colocou a mão na maçaneta, viu Songyon se aproximando. A ômega passeava com o cachorro da família. Parecia bem sorridente e despreocupada.
Não dava para negar que Taehyung havia ficado desgostoso com a última conversa que tiveram. Toda via, as palavras dela o fez pensar em muita coisa, mas no fim, só o deixou mais irritado do que resoluto.
- Taehyung-ah! - ela acenou quando o viu. Ele devolveu apenas um menear com a mão. - Mais um passeio no fim do dia? - parou na calçada em frente ao carro dele.
- Não exatamente. - respondeu simples.
- Hm...entendi. - ela compreendeu que ele não estava muito afim de conversar. O cãozinho a puxou pela guia, querendo retomar o passeio. - Até mais então. - forçou um sorriso e voltou a caminhar.
- Songyon!? - ela se virou pra ele. - Eu estive pensando no que você me disse ontem.
- Seria estranho se não pensasse. - brincou. - Mas fico feliz que aquela conversa tenha lhe ajudado. - ele voltou à calçada e parou de frente a ela. - Não precisa me agradecer.
- Eu não...ia te agradecer. Só pretendia me desculpar por ter me excedido, apesar de você ter sido um tanto...rude.
- Rude? - questionou surpresa. - Não acho que fui rude com você. Apenas disse o que achei que você precisava ouvir.
- Mas pra mim você foi rude e desrespeitosa. Tratou meus sentimentos como se não fossem nada, e ainda insinuou que eu pudesse estar mentindo sobre o meu amor pelo Jimin e o quanto toda essa situação está me afetando. - insistiu.
- Eu não fiz isso! - o encarou incrédula. - Não seja exagerado! Não jogue pra cima mim a responsabilidade por você entender errado as coisas.
- Aish! - se irritou outra vez. - Por que está se comportando desse jeito?
- Pelo simples fato de você estar sendo teimoso e cabeça dura! Não percebe o quanto está cego, e agora me culpa por falsas conclusões. - rebateu.
- E o que você entende desse tipo de sentimento ou sobre relacionamentos? Nunca teve sequer um namorado!
- Yah! - elevou a voz. - Não é necessariamente preciso ter experiência com relacionamentos para saber como resolver um conflito emocional. - o beta colocou as mãos na cintura, baixou a cabeça, visivelmente mais irritado.
- Agora eu consigo entender porquê ainda está solteira. - a encarou com olhos furiosos. - Você não entende nada sobre isso, e age como uma sabe-tudo. Ninguém gosta de garotas assim, e você ainda terá sorte se virar uma solteirona morando com uma dúzia de gatos!
O queixo de Songyon caiu e seus olhos arregalaram de tão chocada que ficou com aquelas palavras. Se aproximou mais dele, e lhe deu um tapa no rosto.
Ele também não estava acreditando em toda aquela situação. Passou a mão pela face, sentindo-a arder. Ela engoliu seco e respirou fundo, empertigando-se. Ficaram mudos por alguns instantes, um encarando o outro. O cachorro sentou e soltou um latido.
- Pronto? Já voltou a realidade? - a ômega piscou algumas vezes.
- Isso foi...
- Necessário! Você estava se excendedo outra vez e creio que se continuasse ficaria bem mais complicado pedir desculpas depois. - ele ponderou as palavras dela. - Acho que é melhor encerrarmos essa conversa por aqui.
- Songyon...
- Bom passeio pra você, Taehyung! - forçou um sorriso e puxou a guia do cãozinho que já estava impaciente para voltar ao passeio.
Taehyung a viu se afastar e dar alguns passos apressados, puxando a guia do cachorro, que começou a correr e ela o acompanhou, tagarelando como se nada daquilo tivesse acontecido.
Era para evitar esse tipo de situação que Taehyung se afastava das pessoas quando não estava em seu melhor estado de espírito. Ele ficava muito propenso a se alterar e dizer coisas que sempre se arrependia depois.
Suspirou longamente.
- Droga, Songyon! - murmurou frustrado.
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Naquela noite, Yoongi estava sentado na escada da frente da casa dos Jeon. Observava os galhos de uma árvore não muito longe balançar no ritmo inconstante do vento. Hoseok estava em 100% dos pensamentos do alfa.
Ele encostou a cabeça no corrimão da escada, balançava freneticamente a perna, e seus braços inquietos colocavam e tiravam as mãos do bolso do casaco.
Ele pensou na conversa que teve com Jungkook, e se ele resolvesse se afastar acabaria em um emaranhado de sentimentos como o que JK estava passando, e certamente estaria entrando em um desespero interno agoniante, decidiu então que voltaria e conversaria com o Hope.
Sentiu as mãos tremer ao tomar a essa decisão.
- Merda, por que parece tão difícil assim conversar com um ômega? - murmurou.
- Porque esse pode ser o seu ômega. Aquele ao qual você passará o resto da vida junto, e um erro agora, pode acabar com a sua vida!
- Bem, o Jungkook parece bem agora. Claro, não foi fácil no começo, mas agora está tudo bem.
- Você acha mesmo que ele parece bem? Olhe só pra ele, se arrastando de um lado para o outro atrás de alguém que pode não querer mais nada com ele.
- Ainda assim parece suportável. Já enfrentei coisa pior.
- Realmente, as superações foram muitas. Mas para pra pensar um pouco, tem cerca de 24h que você se vinculou, e já está ficando louco, discutindo esse assunto consigo mesmo. Imagina só o que vem pela frente?!
- Maldição! - levantou rápido e voltou para dentro.
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- Sobre o que você queria falar comigo? Parecia ser bem importante. - Jin dispara assim que entra e Hobi fecha a porta.
- Desculpe, eu não queria preocupar você. - disse cabisbaixo.
- Está tudo bem com o Taehyung? - apressou-se em perguntar.
- Ele está bem. Está em casa. Em Mapo-Gu. - passou pelo corredor e entrou no quarto, se jogando na cama.
- Uau, ele é mesmo bem esperto. Tá aí um lugar em que ninguém pensaria em procurá-lo. - o alfa o seguiu. - O que há com você?
- Jin...- sentou-se e ergueu a mão para que o mais alto a pegasse. Ele se aproximou, sentou ao lado de Hobi e o encarou confuso. - Eu o encontrei. - Jin levantou as sobrancelhas em dúvida. - Aquele que fez meus olhos brilharem, meu coração disparar, meu corpo arrepiar, que me fez querer tudo em um único beijo...o meu alfa.
- Isso é ótimo! - animou-se. - Era tudo o que você sempre quis. - ainda via tristeza nos olhos do amigo. - Mas por que você não parece feliz com isso?
- Porque...- ele baixou o olhar. Não queria chorar por algo tão "bobo". - ele não me quer.
- Como assim "ele não te quer"? - espantou-se.
- Ele disse que não estava apaixonado por mim, e que não se apaixonaria. - seus olhos marejaram. Lembrar disso era entristecedor para Hobi, mas repetir essas palavras em voz alta, era como colocar as mãos envolta de seu coração e apertar com força.
- E como ele consegue definir por quem se apaixona ou não? Esse tipo de coisa a gente não...- parou de repente. - Hobi...você se apaixonou por uma "alfa de hut"? - questionou surpreso.
- Não. Quer dizer, eu não sei que tipo de alfa ele é.
Os chamados "alfas de hut" eram aqueles que só se envolviam com ômegas em seus períodos de hut, não se vinculavam ou marcavam qualquer ômega. Nunca permaneciam em uma mesma cidade por muito tempo justamente para evitar o maior contato com algum ômega e acabarem se vinculando.
Haviam também os "alfas de vínculo" e os "alfas de marca".
"Alfas de vínculo" eram basicamente como o Hoseok. Esperavam encontrar alguém por quem se apaixonariam e constituiriam família. Não muito diferentes -no quesito sentimental- dos betas.
Já os "alfas de marca" geralmente vinham de famílias de puro sangue ou muito ricas. Não haviam sentimentos envolvidos, eram feitos acordos entre suas famílias e um alfa marcava o ômega, tornando-os inseparáveis e mantendo a linhagem ou status.
Yoongi vinha de uma família formada por um "alfa de marca". Seus pais tiveram suas vidas traçadas por seus avós, e assim se casaram. A diferença era que, Min Geung-Tae só aceitou esse casamento por pressão de seus pais, mas nunca se arrependeu disso, pois se apaixonou perdidamente por Know Yeo-Jin, e Yoongi foi o bebê mais desejado e amado desse mundo.
Eles só não sabiam que haviam muitos olhos em cima de tudo o que aquela criança herdaria sendo filho único de um primogênito de uma família tão importante.
Muita inveja e ganância tiravam os pais de Yoongi de sua vida, e ele foi obrigado a viver com seus tios que não se importavam com nada além do dinheiro que eles controlavam tendo a tutela do pequeno.
Yoongi com seus 8 anos teve o mundo virado de ponta cabeça com a morte de seus pais. Passou de um lar cheio de amor, carinho e ternura, para um onde só recebia indiferença, desprezo e repulsa. Então quando completou seus 13 anos, completamente perdido em seu primeiro hut - já que seu tio não era um alfa extremamente dominante, e ele não tinha contato com ninguém que pudesse ajudá-lo - saiu de casa e acabou em um beco largado a própria sorte.
E mesmo que tenha conhecido Jihye, e ela tenha sido o mais próximo de afeto e carinho que ele tenha recebido em anos, ela ainda não era seu porto seguro, e ele se viu sozinho novamente.
Dadas a essas circunstâncias desagradáveis na vida do alfa, ele tinha certeza absoluta que a felicidade não era algo que ele poderia ter um dia. E agora se via outra vez perdido entre estender a mão e alcança-la, ou recuar e sofrer as consequências.
- Então você não o conhece há muito tempo? - Jin ficou intrigado.
- Não. Quer dizer, nenhum de nós o conhece. - pensou por um instante. - Quer dizer, talvez o Jungkook o conhecça bem, eu acho.
- Espera aí...você está falando daquele alfa mal humorado que veio para Seul com o JK?
- Ele não é mal humorado, ele só não é muito de conversar. Eu acho.
- O quê? Ele me dá arrepios só em desviar o olhar em minha direção.
- Você mal esteve com ele.
- Agora você já sabe o motivo. Ele me assustou logo na primeira vez em que o vi aqui. O jeito como ele te encarava enquato estava sentado no sofá, parecia que queria te comer com os...- Jin fez uma pausa. - Minha nossa, ele queria mesmo te comer, e não só com os olhos! - levou a mão à boca depois de chegar a conclusão.
- Jin!? - o repreendeu.
- Ah, mas agora você vai ter que me contar como foi que tudo aconteceu.
- Na verdade não aconteceu muita coisa.
- Ok, então me conta só a mais importante. - sentou-se recostado na cabeceira e puxou Hobi para junto de si. - Precisa me deixar por dentro dessa fofoca.
- Não é uma fofoca se sou eu que estou te contado.
- Enfim, esqueça esses detalhes e conta logo.
- Bem...hoje a tarde, nós conversamos um pouco e...
- Sobre o quê?
- Ah, sobre relacionamentos.
- Então ele estava querendo saber se você está interessado em um relacionamento? - Jin voltou a ficar animado.
- Não. Foi bem aleatório, na verdade.
- Credo. - fechou a cara. - Então continua.
- Estávamos no meio do assunto, quer dizer, eu estava, ele não falou muita coisa. E de repente ele pegou o casaco e foi embora. - o alfa ouvia tudo com atenção. - Mas a noite, quando estava me preparando para dormir ele voltou a aqui. E foi aí que ele me disse aquelas coisas.
- Simples assim?
- Sim. E depois do que disse ele me beijou.
- Ele é realmente um cara estranho. - Hobi não disse nada.
Era difícil para Hoseok assimilar essas duas realidades: a que o alfa não queria nada com ele e a de que o mesmo havia lhe despertado uma certeza de futuro e felicidade.
- Foi tão diferente o jeito como ele me beijou. Na verdade, foi diferente o jeito como eu senti o seu beijo. - divagava. - No início parecia algo bem comum, como já havia sido com outros alfas que já beijei. Mas depois...a suavidade de seus lábios nos meus, o toque macio de suas mãos em minha pele, o meu coração pulando dentro do peito, o arrepio me tomando por completo. Era tudo tão simples e irreal ao mesmo tempo. - suspirou. - As minhas mãos ansiavam por tocar a sua pele, sentir o calor calor dele. O jeito como sua língua invadia a minha boca...- Jin o observou de canto de olho. O ômega encarava algum lugar além dele cômodo. - como minhas mãos passavam leves pelo peito dele e a forma como me puxava contra ele e me fazia sentir seu p...
- Ok! - Jin o interrompeu. - Acho que não preciso de tantos detalhes assim. - abanou as mãos sobre a cabeça do ômega, dispersando seus feromônios que começaram a exalar. - Pelo que me contou, ele parece ser bem experiente nesse quesito.
- Não sei o que fazer,Jin.
- Infelizmente devo sugerir que você o esqueça. - puxou Hobi e o envolveu entre seus braços, apoiando a cabeça dele em seu peito. - Se ele foi tão incisivo nas palavras dele, e se comportou assim contigo, obviamente é um alfa de hut, e você só sairia com o coração partido se mergulhasse mais em qualquer tipo de envolvimento com ele. - o ômega suspirou triste.
- Você está certo. Eu não posso me deixar levar por esses sentimentos primários. Seria doloroso demais arcar com as consequências.
Hobi nem havia começado a se relacionar com Yoongi, e já sentia como se seu coração tivesse se partido de alguma forma.
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