Capítulo 45
Já havia dois dias que Taehyung não aparecia em casa, e Hoseok estava para ter um treco de tanta preocupação.
Jimin não estava menos preocupado, sabia que tudo era culpa dele.
Quando se lembrava da última conversa que tiveram, ele sempre voltava a cair no choro.
Sojin e jihoon sabiam que havia algum problema entre eles, apesar de Jimin não falar sobre o assunto. Então decidiram que não levariam Min-hee de volta para casa por enquanto. Jimin não discordou da decisão de seus pais, sua cabeça não estava bem para cuidar da menina do jeito que ela precisava.
Em diferentes horas do dia ele saía e ia a lugares que imaginava que poderia encontrar Taehyung. Mas infelizmente não o achava.
Namjoon tentava acalmar os demais, sabia que Taehyung não queria ser encontrado e era o único que recebia mensagens periódicas do amigo. Principalmente de voz, e geralmente ao choro. Era um momento difícil para ele, e não poderiam fazer nada, a não ser esperar que ele se sentisse menos afetado e voltasse.
Em uma tarde, Namjoon foi visitar JK, que já se organizava para finalmente começar a faculdade no próximo semestre, que começaria em um mês.
Claro que não poderia faltar o tópico Jimin na conversa deles. E JK se mostrou bastante comovido com o que estava acontecendo com o Taehyung. Não tinha ideia de como estava sendo a interação de Jimin e Taehyung, mas o comportamento do beta indicava que nada estava indo bem. E ele sabia bem como era estar com o coração em pedaços. Ele mesmo passou por isso quando descobriu que Jimin estava com Tae, e que estava formando uma família com o beta. Os piores momentos da sua vida.
Em meio ao assunto, JK soltou para Namjoon a informação que de Taehyung estava em Mapo-Gu. Sua mãe o havia visto na cidade. Namjoon respirou aliviado ao saber que o amigo estava em casa.
Jimin não entrou em contato com JK nos últimos dias, não conseguia pensar nisso com tudo o que estava passando com Taehyung.
Na noite seguinte, Jimin ligou para sua mãe, precisava muito ouvir a voz de Min-hee, era a única pessoa que conseguia deixar seu coração mais calmo em meio a tanta turbulência.
O que o surpreendeu ao falar com ela, foi saber que Taehyung havia feito uma chamada de vídeo, e parecia muito feliz quando viu o penteado que a vovó havia feito em seus cabelos. Jimin caiu no choro silenciosamente com o entusiasmo da filha e quando ela falou que queria logo voltar para casa para que ele pudesse lhe levar a escola, e Taetae pudesse ler uma história antes dela dormir.
Jimin percebeu que ele tinha toda a felicidade do mundo com sua família, e jogou tudo ralo abaixo quando esteve com JK. Esses pensamentos lhe corroíam a alma.
Era quarta-feira de manhã, a campainha de Jimin tocou, e ele correu para atender. Não perdia a esperança de que fosse Taehyung. Mas se deparou com Jungkook, que lhe ofereceu o sorriso mais largo que pôde.
- Bom dia, Jimin-ssi!
- Jungkook!? - franziu as sobrancelhas. - O que está fazendo aqui?
- Eu precisava muito falar com você. Por isso vim.
- Jungkook, eu não estou com cabeça para falar sobre o passado agora, então, por favor...
- Eu não vim aqui para falar disso. - o ômega ficou confuso. - Eu vim falar sobre a Min-hee.
Jimin sentiu as pernas ficarem fracas e a cabeça latejar. Por mais que tivesse o direito de se recusar a falar sobre "eles", não podia negar a Jungkook uma conversa sobre sua filha.
Depois entrar, Jungkook se recusou a sentar, preferia ficar de pé, tinha uma leve impressão de que a conversa seria breve. Jimin parecia bem indisposto, apesar recebê-lo.
Jimin foi a cozinha para desligar o fogo, já que preparava algo para comer antes da chegada do alfa. Ao voltar para a sala, encontrou JK encarando muito atento o sofá. Ele ficou envergonhado, sabia bem do que estava se recordando.
- Pronto! Você já pode falar o que exatamente quer. - Jimin interrompe os devaneios de JK, evitando lhe encarar.
- A essa altura eu creio que você já esteja ciente de que eu sei sobre a Min-hee.
- Sim, eu sei. Mas diga logo o que quer, não estou com cabeça para conversas muito longas e recheada de coisas que eu já sei. - argumentou impaciente ao se sentar no sofá.
- Ok, direto ao assunto...- o alfa suspirou. - Eu quero vê-la. - isso sim tomou toda a atenção do ômega.
- Eu sabia que você chegaria a esse ponto em algum momento, mas não acredito que seja o momento certo pra isso.
- Jimin-ssi, eu sei que você está com alguns problemas no momento, e parte disso é culpa minha...
- Parte disso? - o encarou incrédulo - Você ainda tem coragem de assumir apenas parte da responsabilidade por tudo o que houve?
- Jimin-ssi, convenhamos que eu não te obriguei a nada...
- Sim, você me obrigou...- seus olhos começaram a arder e seu corpo a exalar feromônios.
- Jimin...- JK deu passo atrás. - Se acalme. - disse suavemente.
Jimin então percebeu que voltaria a perder o controle e nada poderia ser pior que aquilo no momento. Inspirou e expirou, se acalmando.
- Tudo sempre foi culpa sua Jungkook...- baixou a cabeça, lembrando de como tudo começou a desmoronar. - Você me obrigou a ficar longe de você, por duas vezes, e muito ressentimento se levantou em volta de todos esses passos que você deu adiante.
Não era a conversa que Jimin queria ter naquele momento, não estava bem para começar a mexer em toda aquela bagunça, mas infelizmente ela era a origem de tudo. E talvez tudo só fosse, de fato, resolvido quando toda a mágoa, rancor e ressentimento fosse dissolvido.
- Jimin-ssi...- JK arriscou se aproximar e ajoelhar em frente a Jimin quando viu uma lágrima pingar em seu colo. - eu sei que não posso concertar meus erros do passado, eles podem até ser imperdoáveis, e se servir de algum consolo, eu também sofri muito com minhas escolhas imaturas...
- Eu não consigo entender o porquê de você ter me deixado...
- Eu fui burro e infantil, Jimin-ssi...- colocou a mão no rosto de Jimin, secando suas lágrimas. - eu deveria ter conversado com você sobre meus medos, minhas angústias e temores. Eu jamais deveria ter te deixado. E sei que tudo pelo que eu passei não deve ter sido nem metade de tudo o que você sentiu...eu sinto muito...
- Doía tanto...eu me sentia tão sozinho...eu... - o ômega não conseguiu conter o choro pesado que reprimiu por tanto tempo em suas noites de choro silencioso. - Eu me sentia sozinho, abandonado...
- Jiminie...
- E ele estava aqui...sempre esteve...- o alfa engoliu seco. - ele não me deixou passar por nada disso sozinho...- fungou. - Por mais que eu estivesse sofrendo por um amor que preferiu não estar ao meu lado...
- Jimin-ssi...- negava com a cabeça.
- E por mais que meus sentimentos não fossem recíprocos, ele permaneceu aqui, cuidou de mim, cuidou de nós. - Jimin tinha o olhar distante, relembrando de cada carinho, cada abraço, cada momento de persistência do beta. - Ele nunca me deixou...até que não suportou mais os sentimentos que eu tenho por você.
O alfa não conseguia entender o que saia da boca dele, pois se conflitava muito com seu olhar.
- Eu odeio você Jungkook...eu me odeio...eu odeio tudo o que aconteceu, e odeio o Taehyung por ter sido tudo o que eu precisava e não ter podido retribuir...e-eu odeio sentir tudo isso...
Jungkook o abraçou forte, Jimin se agarrou a ele de forma desesperada. Era um peso enorme ter tantos sentimentos em um coração confuso, perdido.
Jimin amava Jungkook...
Jimin amava Taehyung...
Jimin se odiava por isso...
Jimin queria extinguir Jungkook de uma vez de seu coração, mas uma vida inteira de amor resguardado era difícil demais de esquecer.
Jimin queria amar Taehyung da forma que amava JK, dar a ele tudo o que tanto queria, fazer dele o único em sua vida, mas não conseguia.
Jimin chorou, chorou ainda mais ao sentir o coração de JK batendo junto ao seu.
Jungkook sabia que nada seria fácil, mas estar com Jimin daquela forma, vê-lo tão vulnerável e aos prantos de forma tão intensa, com o corpo soluçando envolto em seus braços, fez seu coração se partir outra vez.
Jungkook não disse mais nada, abraçou forte seu Jimin-ssi, afagou suas costas, e deixou que ele se desfizesse de toda sua dor através das lágrimas que ensopavam sua camisa.
No fim das contas, Jungkook conseguiu convencer Jimin a se deitar um pouco. Os últimos dias haviam sido exaustivos para para o ômega, e suas noites mal dormidas refletiam em seu corpo cansado e fraco.
Levou Jimin até sua cama, o cobriu e ficou ao seu lado, ajoelhado ao lado da cama, sem soltar sua mão.
- Eu sinto muito Jimin-ssi, por tudo o que fiz você passar. - sussurrava contra o dorso da mão do ômega. - Sinto muito por cada lágrima que fiz você derramar...- agora era ele quem chorava em silêncio. - Eu prometo que nunca mais farei você se sentir assim novamente. Prometo que farei a coisa certa para que você seja feliz.
Jungkook ligou para Hobi, pediu que ele fosse até o apartamento de Jimin, não queria deixá-lo sozinho. Ligou também para Yoongi, pediu que o alfa lhe trouxesse o carro e a mochila que havia deixado preparada em casa antes de sair.
Suga fez o que JK pediu, pegou sua mochila e saiu de casa. Fez também o favor de passar no prédio em que Hobi morava, e o levou até a casa de Jimin, já que iriam para o mesmo lugar, o ômega chegaria mais rápido com a carona do que se fosse de ônibus ou pegasse por um táxi.
- Você está bem? - tentou puxar conversa com o ômega a seu lado.
- Sim. - respondeu simples.
Mas Hobi não estava. Toda aquela situação o estava deixando instável. Odiava o que o irmão estava passando e não saber onde ele estava e se estava bem. Sabia que Taehyung era impulsivo, e provavelmente estaria se embriagando demais e se alimentando de menos. Aquilo também o irritava.
Chegaram ao apartamento de Jimin em alguns minutos, e Yoongi se sentia estranho ao lado de Hobi. Sentia-se inquieto, incomodado.
Poderia ser pelo fato de não ter seu ego inflado por deixá-lo desconcertado ou corado, mas não era nada daquilo. Ele não entendia o porquê, mas o olhar triste de Hobi lhe deixava frustrado. Poderia jurar que estava até irritado.
Jungkook deixou um beijo na testa de Jimin, que dormia serenamente. Sabia que não precisava instruir Hobi em como cuidar de Jimin e insistir que ele descansasse e comesse quando acordar. JHope era o melhor entre eles quando se tratava de cuidar de algum amigo que estivesse precisando de ajuda.
Apesar do ômega se sentir chateado pela forma como as coisas estavam fluindo entre ele e seu irmão, ele não misturava esse tipo de sentimento quando estava claro que Jimin também estava mal pelo que fez com o Tae.
Suga entregou a chave do carro a JK, trocaram algumas palavras e o tatuado partiu para sua jornada de uma semana de volta ao sítio da família.
Suga, de alguma forma, achou que deveria ficar um pouco mais, e fazer companhia ao ômega. Ainda sentia-se estranhamente agoniado em vê-lo tão cabisbaixo.
- Eu pensei que você iria com ele.
- Não. Nesse período eu prefiro me manter bem longe dele. Assim como ele prefere ficar longe de todo mundo. - Hobi o encarou em dúvida. - O hut dele está chegando. - concluiu.
- Ah...interessante.
- O que há de interessante nisso?
- Não é muito comum ver alfas não sucumbirem aos seus instintos e se atrelar a um ômega para satisfação própria.
- Se isso é interessante, então você acha apropriado que ele passe a vida toda esperando pelo seu amigo ômega?
- A vida toda? - riu triste. - Não é como se ele fosse realmente esperar pelo Jimin.
- Ele tem esperado.
- Está falando sério que...- Suga arqueou uma sobrancelha. - Nenhum outro ômega? - Suga negou. - Nunca?
- Eu não sei o que tem de tão especial nesse ômega, mas o Jungkook nunca sequer pensou em se relacionar com outra pessoa. Mesmo quando soube que ele estava grávido e pensava que o filho fosse do seu irmão. - suspirou frustrado. - Por mais que soubesse que o Jimin estava seguindo em frente, sendo feliz, ele nunca pensou e seguir também. Era triste.
- Eu acho isso lindo. - divagou ao encostar a cabeça no armário da cozinha.
- Lindo?
- Sim. Eles se amam desde que eu os conheço. Eles não falavam sobre isso com ninguém, era tão óbvio para todos nós, que não era necessário que eles falassem. Sabe? - Yoongi ficou ainda mais curioso, mas não disse nada, deixou que ele continuasse. - Eles estavam sempre juntos, cada olhar parecia saber exatamente o que o que o outro precisava, cada momento que dividiam pareciam ser o primeiro, o jeito como o olhar brilhava quando falavam um do outro quando estavam distante....sempre foi tudo muito recíproco. E mesmo que o JK tenha ido embora, e Jimin tenha se arrastado por anos carregando esse sentimento de abandono, o amor deles nunca morreu.
- E o seu irmão? Onde entra em tudo isso?
- Taehyung tinha uma paixonite por Jimin, sabia que nunca seria realmente algo concreto se relacionar com ele, mas depois que JK foi embora, Taehyung se aproximou cada vez mais de Jimin. Ele ele se perdeu nesse sentimento, entende? Ele sabe até hoje que o coração do Jimin pertence ao Jungkook, e está fazendo birra como uma criança. E por mais que o Jimin o mantivesse sempre próximo, nunca escondeu dele o que sentia por JK. Mas ele esperava que isso mudasse. Mas nunca aconteceu.
- Sentimentos podem ser devastadores, por isso não julgo quem prefere se manter longe deles. - Suga tentou não dar a entender que falava de si mesmo.
- Podem ser sim, mas eles estão nisso tudo por não saberem dialogar um com o outro. - Suga encostou no balcão da cozinha, cruzou os braços e prestava bastante atenção no que Hobi dizia. - O Nam com o Jin, por exemplo, tinham tudo para dar errado. Ambos são alfas, e sua natureza lhes guiaria com facilidade pra longe um do outro. Mas Nam sabia bem o que queria, e não deixou que as palavras não ditas por Jin, os colocassem em um caminho doloroso. Foi paciente e objetivo, e hoje desfrutam de um amor que muitos de nós invejam apenas de olhar. - suspirou encantado.
- Você parece se indentificar com esse tipo de coisa. - jogou a isca.
- Eu...não acho que ainda terei essa sorte. - Suga o encarou intrigado. - Há algum tempo eu saí com um alfa. - sorriu fraco. - Ele era muito atencioso, respeitoso, educado e paciente. Um alfa perfeito...- o alfa levou a mão a boca, escondendo a forma como mordia o próprio lábio. Sentia-se desconfortável ouvindo aquilo. - Mas ele não era o meu alfa. - arfou triste.
- Não era o seu alfa? - bufou e saiu de sua posição, virando-se para o balcão, tentando não se mostrar incomodado. - Soa estranho um ômega falar dessa forma. - tentou desconversar.
- Não me importo com esse tipo de rótulo. Eu posso parecer estranho, mas ainda espero que um dia ele apareça, mesmo com minhas esperanças tão diminutas.
Suga não queria olhar para Hobi e se mostrar interessado em como ele vislumbra sua vida no futuro, mas era inevitável para o alfa manter seus olhos longe do ômega sonhador.
- Por mais que meus amigos e irmão estejam enfrentando situações dolorosas agora, eu ainda imagino uma vida ao lado de alguém. - seu olhar estava distante, o ômega sonhava de olhos abertos e sorriso no rosto. - Deve ser maravilhoso ter alguém sempre ao seu lado nos momentos bons ou ruins. Ter alguém esperando por você em casa a noite, ter a certeza de um abraço com amor, de carinhos ilimitados, de um lar aconchegante. Imagina só como deve ser ter a certeza de um amor, de ter alguém que lhe arrancará os melhores sorrisos, as mais inimagináveis alegrias...que construirá uma família ao seu lado. Que estará contigo até o fim...
Yoongi ouvia as palavras de Hobi como se fosse uma melodia. Ele detestava admitir, mas lá no fundo, em um lugar em que ele não visitava há muito tempo, seu coração guardava secretamente esses mesmos desejos.
Com a infância que teve, privado de qualquer carinho fraterno, e depois de perder a ômega que carregava seu filho, ele passou a ter certeza que esse tipo de desejo era apenas ilusão. E detestava se frustrar com desilusões.
Ele não achava que era bobo as outras pessoas desejarem isso, cada um tinha que lidar com suas próprias decepções no final das contas. Até encontrou pessoas pelo caminho que realmente puderam começar de novo e se dizerem felizes. Mas toda vez que ele começava a puxar esses desejos do fundo do coração onde ele escondia, as coisas pareciam lhe mostrar que ele deveria mantê-los ainda mais fundo.
O jeito como o olhos de Hoseok brilhavam quando ele sonhava assim, fez o coração do alfa bater descompassado.
Ele sentiu como se precisasse segurar a mão do ômega e lhe dizer que tudo o que ele almejava se realizaria. Pior, queria poder ser ele a realizar tudo aquilo.
- Eu...- baixou a cabeça e fechou os olhos com força. - Desculpe, eu preciso ir...- virou-se sem encarar o ômega outra vez.
Pegou seu casaco no cabideiro, calçou rápido seus sapatos próximo a porta e saiu sem falar mais nada.
- Ok...- Hobi ficou confuso. - Será que...a conversa estava chata pra ele? - pensou.
Suga sabia que sentia uma atração por Hoseok, nada diferente de qualquer outro ômega com feromônios como os dele. No entanto, não entendia o porquê de seu corpo agir como se sentisse falta do toque dele, se nunca chegaram a tal.
Não tem como sentir falta de algo que nunca se teve!
Mas Yoongi sentia falta de ter alguém ao seu lado, alguém que quisesse dividir com ele suas alegrias e tristeza, que ainda quisesse estar ao seu lado depois que a droga do hut passasse, e seus feromônios não fossem a única coisa que os mantivessem dividindo a cama.
Encarou seu reflexo no espelho do elevador. Olhos marejados, mãos trêmulas, lágrima rolando por sua face.
- Porra! São só palavras de um ômega iludido. Eu estou bem assim, é a vida certa pra mim.
Estava errado. Yoongi, com seus 24 anos, passou os últimos 10 assim sozinho.
Ele se empenhou em ajudar os alfas que padeciam na mesma situação que ele, que não compreendia os próprios instintos. E quando seu trabalho terminava, eles sempre iam embora, viver suas vidas, se vincular ou marcar algum ômega e ter suas famílias, serem felizes. E Yoongi sempre ficava para trás. Durante todo esse tempo, ele foi o único que não evoluiu.
Se esgueirava por diversas camas diferentes quando seu hut chegava, esquentava diversos corpos sob o seu quando o pico dos feromônios lhe atingia, entretanto, nos dias em que o inverno era mais rigoroso, e seu hut não vinha, ele sentia frio. Debaixo de diversas cobertas, seu corpo ainda tremia. Não havia ninguém para aquecer o que realmente precisava sentir-se aquecido: seu solitário coração.
Não havia alguém para afagar seu rosto, para poder colocar-lhe entre seus braços, olha-lo com um carinho que só pertencia a si.
Agachou no canto do cubículo, passando as mãos pelo rosto tentando se livrar da prova que evidenciava sua longa solidão. Ele detestava chorar, achava que só o fato de permitir que as lágrimas botassem em seus olhos, fariam as outras pessoas trata-lo como um coitado. E ele não suportava esse tipo de tratamento.
- Porra, merda...caralho! - xingava na tentativa de fazer a raiva tomar lugar da autopiedade.
Levantou-se rápido quando as portas se abriram, correu até a calçada e pegou o primeiro táxi que conseguiu.
Chegou em casa e tirou o casaco pesado, jogando-o em algum lugar que ele sequer fazia questão de saber. Foi para o quarto, tirou suas roupas e foi para o banho.
Suspirou aliviado quando a água quente molhou seus cabelos.
Havia muito tempo que ele não se sentia daquela forma, se questionando os porquês de tudo ao longo de sua vida.
Apoiou o braço na parede, colocou a cabeça sobre ele e chorou.
- Porra, eu não preciso de nada disso! Por que caralhos eu estou assim? - soluçou. - E daí que ele é lindo, que por mais fundo que estejam guardados esses desejos, eles sejam tão compatíveis com os dele...- ergueu a cabeça debaixo do chuveiro. - E daí...merda! Não importa se eu desejei muito conhecê-lo por não conseguir resistir aos seus feromônios, não importa se a boca dele pareça ter o melhor beijo desse mundo, não importa...eu nem o conheço, no final das contas...- sentou-se no piso frio, com a água quente caindo sobre suas costas.
Suga não queria admitir para si mesmo que Hoseok poderia significar mais do que só uma atração entre alfa e ômega.
Não admitia que na primeira vez que o viu, por mais que houvesse sido atraído fisicamente por ele, seu coração não parava de disparar toda vez que lembrava de seu rosto. Não admitia que sentiu seu corpo responder automaticamente ao toque dele quando se cumprimentaram ao se conhecer.
Por mais que tentasse negar de todas as formas, cada vez que o alfa pegava aquela pelúcia, ao longo dos últimos dois anos, na justificativa de que só se atraía pelos feromônios, ele não só ansiava por conhecer o dono daquele aroma, ele já estava nutrindo um sentimento, um apego por alguém que não conhecia. E até então estava tudo bem. Para ele era melhor continuar com a ilusão.
Saiu do banho, colocou uma roupa e deitou-se. Queria esquecer daquele momento de vulnerabilidade. Ele não era assim.
Seu corpo estava relaxado, ele fechou os olhos e tentou dormir. Era impossível. Hoseok não deixava.
- Maldição! - praguejou alto.
Yoongi achava patético essa ideia de destino juntando pessoas, de amores reencarnados, amor a primeira e todo esse conto de fadas que muitos apaixonados acreditavam.
Ele sabia que o amor era mais real do que qualquer coisa que se pode tocar, mas não o fantasiava de tal modo.
- Não existe amor à primeira vista.
Para Suga até podeira ser uma bobagem as pessoas afirmarem que se apaixonaram a primeira vista, e não acredita que tenha acontecido consigo quando viu Hoseok pela primeira vez.
Mas ele estava apaixonado pelo ômega. O que ele não havia se dado conta ainda, era que havia sucumbido a esse sentimento ao longo de 2 dois anos. O que ele tinha agora, eram apenas as feições do ômega para dar rosto a pessoa que presenciava seus sonhos de todas as noites.
Hoseok preparava sua cama para dormir, o dia havia sido de muitas preocupações e sua cabeça ainda pesava por não saber onde o irmão estava.
Ouviu o celular vibrar sobre a mesinha de cabeceira, conferiu a notificação e havia uma mensagem de Songyon. Sentou-se e abriu o aplicativo de mensagens.
Não fiquei mais tão preocupado, ele está em casa. E está bem!
Songyon frequentemente viajava para Mapo-Gu para ver seus pais, e com o recesso de fim de semestre, ela havia viajado junto com Junghyun. Em um de seus passeios noturnos com a amiga, ela encontrou Taehyung no lugar que sempre se refugiava quando as coisas não estavam indo bem pra ele.
JHope colocou a mão no peito e suspirou aliviado. Seus olhos chegaram a marejar com o peso da preocupação se esvaindo parcialmente.
- Taehyung seu idiota, eu vou matar você por me fazer passar por isso. - cochichou sozinho.
Enviou uma mensagem para Songyon agradecendo por tê-lo avisado, e pedindo que ela ficasse de olho nele sempre que pudesse.
A campainha tocou, e JHope foi atender. Às vezes se perguntava o que Jin faria da vida se ele não fosse seu vizinho. Pelo menos agora se sente mais disposto. Seu irmão estava bem, e isso certamente não duraria muito, pois ele se certificaria de mata-lo quando voltasse.
Abriu a porta e não esperava receber aquela visita de forma alguma.
- Yoongi!?
O alfa puxou um pouco a porta, entrou e a fechou evitando a entrada do vento frio que soprava lá fora.
- Aconteceu alguma coisa? - Hobi não entendia porque ele estava tão calado e tinha um jeito tão misterioso.
- Jungkook está bem?
- Presta bastante atenção...- ele aproximou mais o corpo do ômega, fazendo-o encostar na parede fria ao lado da porta. - Eu não estou apaixonado por você...- o ômega franziu as sobrancelhas. Não estava entendendo nada.
- O quê?
- E nunca vou me apaixonar. Você entende bem o que eu estou dizendo? - olhava fixamente nos olhos do mais baixo.
- E-eu não entendo por que está me dizendo isso. O que...
- Me diga que entendeu o que eu disse!?
- S-sim...eu entendi. - piscava aturdido.
- Ótimo!
Suga colocou uma mão na nuca de Hobi, se aproximou lentamente e tocou seus lábios com os dele.
Hobi não sabia como reagir, e não era pra menos. Suga por acaso tinha um parafuso a menos? Como podia chegar assim, dizer essas coisas e depois simplesmente beijá-lo?
Yoongi se afastou e Hobi permanecia do mesmo jeito, não havia se mexido um único centímetro.
- O que foi isso? - estava visivelmente surpreso. Queria entender as atitudes do alfa.
- Nada. Eu só...- sentia-se confuso. Hoseok arqueou as sobrancelhas.- Não foi o suficiente.
- Não foi o suficiente!?
Suga colocou a outra não na cintura de Hobi, e o puxou pela nuca, o beijando outra vez.
Dessa vez sua língua pedia passagem para adentrar a boca do outro. JHope não entendeu o porquê, mas sua boca cedeu a invasão do outro.
Fechou os olhos, e passou a sentir o jeito como alfa lhe tomava para si. Sentia as mãos dele em sua nuca e em suas costas, pressionando seu corpo contra o dele.
Ele abriu os olhos outra vez, queria se certificar de que era realmente Yoongi que estava ali. Nunca havia sido beijado de forma ardente. Voltou a fechar os olhos, mas Yoongi encerrou o beijo.
- Só...mais um pouquinho...- puxou Yoongi pelo sobretudo juntando novamente suas bocas.
Yoongi não protestou, queria mais daquilo do que imaginava. Ele queria um beijo, só um beijo, mas não tinha ideia do perigo que aquilo era pra si.
Hobi colocou as mãos no ombro dele e levantou os pés, Yoongi se curvou um pouco em direção a ele, o prendeu mais contra seu corpo envolvendo seu braço na cintura do ômega. A proximidade do corpo do alfa fez Hobi se arrepiar da cabeça aos pés. Sentia uma ansiedade brotar em sua barriga e o coração bater acelerado. Quando Suga beijou seu rosto, e traçou um caminho até seu pescoço, Hoseok apertou suas mãos na roupa do maior.
- Yoongi...- sussurrou
- Por favor, não sussurre meu nome dessa forma...- respirava afoito. - E pare de exalar feromônios, você está me deixando em uma situação complicada.
- Eu não consigo...- puxou-o de volta para beijá-lo outra vez.
Ao mesmo tempo que havia calmaria, tranquilidade e carinho, havia também necessidade, urgência e desespero naquele beijo.
Hobi sentiu, sentiu o que tanto procurava durante todo aquele tempo. Seu coração estava disparado, suas pernas bambas e suas mãos tremiam no ombro do alfa.
Encontrou o seu alfa.
Ele deslizou as mãos pelos braços fortes do maior, queria senti-lo com as próprias mãos, sentir o calor de sua pele sob os dedos. Adentrou o sobretudo e passou as mãos por sua cintura, alcançando o limite da veste. Mas ao colocar suas mãos por baixo dela, sentiu Suga puxar seus braços.
- Não! - disse contra sua boca. - Não me toque desse jeito...
- Por que não? Eu quero sentir você. - beijou o pescoço do alfa de forma inexperiente. - Por favor...
Os beijos desengonçados do ômega arrepiaram seu corpo, e suas mãos afrouxaram no braço do menor. Hobi as deslizou de volta para dentro do casaco, e quando ele as desceu um pouco para movê-las por baixo de sua camisa e sentir o calor de seu corpo, elas encontraram uma rigidez que fez Hoseok paralisar por um instante.
Ai meu Deus, o que eu devo fazer em uma situação dessa? - pensava aturdido. Nunca havia chegado tão longe assim com alguém antes, sentia-se perdido. - E se a gente...for mais longe, como tenho que...fazer?
Teorias, conversas e vídeos na internet não eram a mesma coisa que estar diante de uma alfa excitado. Hobi arregalou os olhos. Suga sentiu suas mãos tremerem quando passaram exitantes por seu abdômen.
Ele voltou a puxa-las, mas dessa vez colocou Hoseok encostado na parede, segurou-o pelos pulsos, colocando-os presos acima de sua cabeça. Sua mão grande manteve os dois pulsos de Hobi junto, ainda presos, e a outra puxou sua cintura, pressionando-se contra o ômega, que gemeu abafado em sua boca ao sentir a ereção dele em seu abdômen.
- Porra, como pode ser tão difícil assim resistir a você? - Suga murmurou antes de beijá-lo de novo.
Hobi tentou soltar as mãos, queria toca-lo, queria senti-lo, mas não era forte o suficiente.
- Me desculpe por isso. - Suga ofegou com a testa contra a de Hobi.
- Como assim, me desculpe por isso? - Hobi questionou ainda se esforçando para manter o ar em seus pulmões.
Suga selou seus lábios no dele, o soltou, virou-se, abriu a porta e foi embora.
Hobi praticamente caiu no chão depois do contato subitamente interrompido. Suas pernas não tinham firmeza, seu coração batia tão rápido dentro do peito que se assemelhava ao de um cavalo de corrida, suas mãos ainda tremiam e seu corpo implorava para ter de volta tudo o que lhe era dado algum instantes atrás.
- Yoon... Yoongi! - respirava com dificuldade.
Yoongi andou apressado pelo longo corredor do edifício, entrou no elevador e não olhou para trás.
- Mas que merda eu fui fazer lá? - enfiou os dedos no cabelo e apertou os olhos.
Estava agoniado, não pretendia deixar as coisas irem tão longe assim.
Ele quis ir lá, vê-lo, sentir sua presença, beijá-lo. Precisava sentir, nem que fosse uma única vez, o gosto de seu beijo. Mas se excedeu, e quase perdeu o controle de uma vida inteira.
Encarou os próprios olhos no espelho, e só então percebeu que ainda exalava feromônios.
- Mas que...- seus olhos arregalaram com o contorno ciano cintilante que seu corpo emitia. - Não, não, não... - apavorou-se. - Não! Tem que ficar cinza, vamos lá! - exalou mais. - Vamos lá! - berrou.
Mas nada de seus feromônios mudarem de cor. Por mais que tentasse, aquela cor vivida e alegre permanecia.
- Por favor...- apoiou-se com as mãos no espelho. - Isso não pode acontecer...- baixou a cabeça.
Era tarde demais para Yoongi.
Ele evitou tanto que acontecesse, mas não poderia se esconder de seu destino a vida toda. Por mais que negasse a si mesmo os sentimentos que tinha pelo ômega, agora não poderia mais fugir deles.
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