Capítulo 34
Havia se passado mais um mês e o comportamento de JK não tinha mudado em nada, ele ainda se mantinha afastado dos demais recrutas e até com Suga seu contato estava reduzido.
Em uma tarde de sexta, o sol estava forte e ainda assim, lá estava ele, treinando como se não estivesse sendo afetado pelo calor extremo. Sem camisa, seu peito estava todo suado, seus cabelos ensopados e todo o cós molhado de sua calça camuflada mostrava o quanto ele estava pegando pesado com aquele treinamento.
Debaixo de uma tenda Suga observava de longe as voltas que ele dava pelo acampamento. Corria rápido e toda vez que passava por onde ele estava, Suga revirava os olhos ao perceber seus cabelos pingando. Ele sugeriu pelo menos 3 vezes que JK parasse, tomasse um pouco d'água e descansasse um pouco daquele sol miserável. Em vão, JK parecia não dar ouvidos a Suga.
Não demorou muito para ele desencostar da mesa e descruzar os braços ao ver Jungkook parar e colocar as mãos nos joelhos, para em seguida cair desacordado no chão.
Do lado de fora do posto médico, Suga aguardava que JK acordasse. Não gostava nem um pouco de se sentir assim, mas estava muito preocupado com o amigo. Precisava tomar uma atitude antes que ele acabasse se matando. Por mais que evitasse criar qualquer tipo de apego, já tinha visto que era tarde demais, estava afeiçoado ao alfa tolo.
Jungkook passou pela porta de saída do posto médico 4 horas depois. Parecia bem e Suga se levantou de seu banquinho no qual fazia sua vigília desde que ele entrara ali. Não conseguiu ir embora e fazer suas atividade normalmente.
— Você está bem? — Suga se aproximou dele quando tomou rumo ao alojamento.
— Eu estou ótimo. — Suga bufou e revirou os olhos para a evasiva de JK.
— Depois do que acabou de passar você ainda vai dar uma de marrento e orgulhoso?
— Você é o que agora, minha babá?
Suga puxou JK pelo braço, colocou a mão em seu pescoço e o prensou contra a parede. Ele não pegou leve, não estava para brincadeira, apertou com força os dedos em volta de sua garganta deixando-o sem ar.
— Presta atenção seu moleque, você está tentando se matar por acaso? Porque eu posso fazer isso pra você, basta me dizer. — mas JK não estava levando a sério as atitudes de Suga, e ousou dar um sorriso cínico. Então Suga apertou ainda mais a mão no pescoço dele e JK foi obrigado a levar suas mãos até o braço dele, na tentativa de para-lo. — Você acha que eu estou brincando? Acha mesmo que tenho algo a perder? — pressionou seu corpo contra o dele. — Eu não tenho com quem me importar, ou quem se importe comigo, me livrar de você não será um peso pra mim.
JK tentou dizer Suga, para...por favor!? Mas nada saia, somente o movimento de seus lábios era possível ver. Suga o soltou e o viu escorrer pela parede e cair sentado no chão sugando desesperadamente o ar para os pulmões.
— Não seja imbecil, isso não fará a vida pegar leve com você. — Suga se vira para ir embora, mas JK consegue lhe chamar atenção.
— Você acha que eu me importo com tudo isso? Se eu passar mal ou adoecer acha que ainda será menos doloroso? — JK está sentado, encostado contra a parede e passando a mão pelo pescoço. — Você não sabe o quanto dói sentir as coisas e não poder fazer nada para muda-las.
— E desde quando você me conhece? — Suga se vira pra ele e o encara arrogante. — Desde quando sabe o que já passei nessa vida, o quanto sabe sobre as minhas dores pra ousar me dizer isso?
JK se lembrava a história que Suga havia lhe contado sobre sua ômega, mas pra ele não era a mesma coisa.
— Eu sei que você perdeu a Jihye, mas você sequer a amava.
Suga avançou sobre JK, o erguendo pela camisa, a rasgando no ato e lhe desferiu um soco na boca.
— NÃO OUSE FALAR NO NOME DELA! — JK caiu novamente, levando a mão até a boca. — VOCÊ NÃO É DIGNO DE FALAR SOBRE ELA, SEU EGOCÊNTRICO DE MERDA!
Ele pegou Jungkook outra vez, o colocou de pé, colou seu corpo no dele, e olhou no fundo de seus olhos.
— Você se colocou nessa situação por vontade própria, escolheu estar passando por isso. — os olhos de Suga estavam tomandos por lágrimas que há muito ele não se permitia mostrar a ninguém. — Então seja homem para arcar com as consequências. Enquanto você fica se fazendo se vítima por questões que optou não lidar, outras pessoa mundo afora enfrentam destinos que sequer podem evitar.
Jungkook sente o coração apertar ao constatar nos olhos de Suga uma agonia desesperada que ele jamais tinha visto dentro de alguém antes. Ao mesmo tempo que seus olhos eram límpidos como a água de uma cachoeira, que evidenciava a clareza de sentimentos puros, eram também turvos como a água de um poço, escondendo as dores que jamais gostaria de mostrar a alguém.
Suga não era uma pessoa fria, isenta de sentimentos arrebatadores como tanto queria mostrar, apenas os mascarava, guardava para si, pois sabia que lidar com eles poderia ser devastador. Ele conseguia até passar a maior parte do tempo fingindo não se importar com as pessoas, tentando se manter afastado delas, mas ali estava ele, agindo de tal forma, puxando JK para longe da borda de um poço que e ele encarava afoito, sabendo bem como é estar lá em baixo. E Suga não queria isso para Jungkook.
JK encarava profundamente os olhos tristes de Suga, estava complacente consigo, com o que conseguia ver dentro deles. Suga soltou sua camisa, a esticou em seu corpo para que não parecesse tão amassada, deixou dois tapas no peito de JK, ato que o fez se assustar, e se afastou.
— Recomponha-se, você ainda tem um longo caminho pra seguir.
Ele seguiu para o alojamento, e passava freneticamente as mãos pelo rosto se livrando das lágrimas traiçoeiras.
π
— Jimin-ah, Jimin-ah...— Taehyung se aproxima rápido do leito de Jimin. — O que aconteceu?
— Calma Taehyung, eu estou bem.
— Sua mãe me ligou preocupada por quê não conseguia falar com você...
— Não diga a ela que estou no hospital, não há motivos para tanto alarde. — Jimin sentou-se na maca, e pegou apreensivo na mão de Tae. — Sabe como ela é.
— Jimin-ah, eu acho que você deve estar com problemas sérios, não é normal ir parar no hospital 3 vezes no período de 1 mês.
— Você também não deveria se preocupar tanto...
— Park Jimin!? — o médico entra no consultório.
— Sim! — Jimin se mantém ereto sentado a maca.
— Fizemos alguns exames iniciais, já que não era a primeira vez que você deu entrada aqui e...— o médico encara o prontuário dele. — Eu...— ele pigarreia. — tomei a liberdade lhe encaminhar para um especialista.
— Especialista!? — Tae se mostra apreensivo apertando a mão de Jimin na sua.
— Sim! Mas não se preocupem, não há nada grave com o Sr Park. É só para entendermos o porquê dessas contantes visitas a emergência.
O médico sabia o porquê de Jimin estar procurando tanto pelo atendimento médico, mas não queria se precipitar em um diagnóstico, preferia investigar mais a fundo para dar traquilidade ao Park.
— Tudo bem, Dr! — Jimin suspira aliviado.
— Marquei uma consulta para amanhã pela manhã, sei que pode ser muito em cima da hora, mas era o dia e horário que o Dr Kang tinha disponível. Depois disso só seria possível em dois meses. — o médico se aproxima e entrega o encaminhamento médico para Jimin.
Taehyung, curioso, dá uma breve olhada no papel na mão de Jimin. Não vê nada de mais ali, mas fica pensativo quando lê abaixo, no final da folha, escrito: Kang Jung-Suk, médico geneticista.
— Você já está de alta, pode ir para casa quando quiser. — ele sorri sem mostrar os dentes.
Na volta pra casa Taehyung estava calado, nem ele entendia as perguntas que passavam na própria cabeça. Mas era estranho o médico recomendar uma consulta com um geneticista. O que realmente havia de erado com Jimin?
No apartamento do menor, Tae fez plantão. Ficou com ele o resto da tarde, lhe preparou uma refeição, assistiram tv, e quando Jimin estava caindo de sono e se arrastou até a cama, Taehyung permaneceu na sala, voltando a seus pensamentos de mais cedo.
Ele foi até a porta do quarto, recostou no batente, cruzou os braços e observou o sono sereno do amigo.
Não entendia o porquê, mas não estava com uma sensação boa de toda aquela situação. Estava ansioso e ao mesmo tempo nervoso.
Isso não está me cheirando bem. — pensou ao passar os dedos pelo queixo, sem desviar o olhar de Jimin.
No dia seguinte eles compareceram ao consultório do Dr Kang. Taehyung fez questão de ir com Jimin, ele só frisou o que havia prometido a ele há algumas semanas atrás, sobre estar sempre ao seu lado e ele tinha certeza que aquele era um momento para não deixa-lo só.
Pouco antes de chamar Jimin para sua sala o Dr Kang releu o email enviado por seu antigo colega de faculdade.
Oi Kang, quanto tempo se passou desde nosso último contato? 2,3 anos?
Sei que ainda insiste em suas teorias genéticas, e que aguarda ansiosamente que um dia tenha uma oportunidade de fazer suas próprias descobertas.
Pensando nisso eu encaminhei um paciente a você, sabendo que seus recursos — e sede por mais descobertas — pudesse ajudar o jovem, e nos ajudar também, a entender o que ele realmente é.
Boa sorte!
Ele recostou na cadeira, colocou o cotovelo sobre a mesa e apoiou o queixo na mão, analisando o conteúdo do email.
Ele então pegou o telefone e disse para sua secretária que pedisse para o paciente entrar. Colocou o telefone de volta e abriu o email seguinte com o prontuário e exames no nome de Park Jimin.
O Dr Kang não fez perguntas diferentes das já feitas a Jimin nas vezes em que procurou o hospital, no entanto, além dos mesmos exames ele também optou por uma punção lombar, o que deixou os dois amigos bem perdidos ao ser citada.
Quando o Dr Kang explicou que seria coletada uma quantidade de Líquor de sua espinha dorsal, para examinar a composição do líquido cerebrospinal, ambos se entreolharam deixando evidente a preocupação.
Se não havia nada de tão incomum assim com Jimin, para que fazer um exame tão complexo?
Essa pergunta ficou martelando na cabeça de Taehyung, mas ele continuou ouvindo as explicações do médico antes de começar a questionar.
O Dr Kang informou que ele não precisaria fazer se não quisesse, pois entendia que ele não havia ido preparado para algo tão invasivo. Mas as chances de tirarem todas as dúvidas a respeito do que realmente estava acontecendo com o corpo de Jimin dependia especificamente daquele exame.
— Então o Sr sabe o que o Jimin tem? — Taehyung interrompeu antes do Jimin dar um parecer sobre tudo o que foi explicado.
— Eu tenho uma hipótese, mas preferia ter um diagnóstico certo antes especular qualquer coisa.
— Então esse exame daria 100% de certeza em um diagnóstico? — Jimin questionou o médico com as sobrancelhas arqueadas.
— Pelo menos 98% é certo.
— Quais os efeitos colaterais?
— Bom, se você seguir todas as orientações médicas, o máximo que você sentiria é dor de cabeça. — explica o médico girando uma canetas entre os dedos.
— Tudo bem. Vamos fazer!
— Jimin!? — Taehyung se virou pra ele descrente dele aceitar assim de cara. — Você não vai nem pensar sobre isso?
— O que mais eu poderia pensar, Tae? Não quero ficar só com as hipóteses e acabar tendo que voltar outras vezes ao hospital.
Pensando dessa forma Taehyung via coerência, mas ainda assim estava reticente. Não parecia algo muito simples.
— Então posso pedir para prepararem o centro cirúrgico? — o médico quis saber, interrompendo a ligação visual entre os dois.
— Sim Dr! — Jimin disse firme. — Eu farei o exame.
O médico levantou-se de sua cadeira, rumando a porta, então se voltou para os dois e questionou.
— A propósito... — ele apontou para Tae. — Taehyung, certo?
— Sim.
— Você é alfa ou beta?
— Beta.
— Hum... — ele girou a maçaneta, abriu a porta e saiu.
Por mais habilidosos que os alfas fossem, eles não podiam exercer a medicina, isso estava restrito ao betas, pois as questões de feromônios e Huts não influenciavam em seus discernimentos.
Quarenta e sete minutos depois, o centro cirúrgico estava pronto, Jimin trocado adequadamente e Taehyung permanecia apreensivo, mas não saía do lado dele. Ele caminhou ao lado da maca de jimin até a porta do centro, sempre segurando a sua mão, lhe dando apoio, mesmo que ele estivesse sendo um covarde medroso por seu amigo precisar de tal exposição para um diagnóstico.
Taehyung sentiu as mãos gelarem depois de deixar um ultimo beijo na testa e no dorso da mão de Jimin. Então viu Jimin sumir porta adentro.
Eu estarei aqui quando você voltar, estarei ao seu lado depois disso tudo e te apoiarei independente do que o resultado desse exame diga. Você sempre terá a mim, mochi. Sempre!
— Eu amo você! — cochichou sozinho no corredor, com as mãos no bolso do moleton e ainda encarando o movimento de vai e vem das portas do centro cirúrgico.
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