Capítulo 24 - O Diário
O corpo imóvel de Reina começou a tremer e ela ficou nervosa. Não um nervosa por estar diante de pessoas tão nobres, mas um nervosa de medo. Pois tais emissários eram ligados também a igreja da Espanha e tinham o poder de condenar quem assim desejassem!
— E-ela está ocupada! — A mulher cruzou os braços, fingindo estar confiante e sorriu. — Perdão, mas Alícia Saramago, a Sereia não está conosco nesse momento.
— Aonde ela está então? — O homem todo vestido de vermelho e azul escuro insistiu, subindo na borda branca do navio real e encarando-os sem piscar.
— E-em uma missão! — Naive se pronunciou, tentando ser firme, mas dava para perceber que ele estava tão nervoso quanto a companheira cigana.
— Mas não temos missão nenhuma a vocês piratas!... — O emissário falou irritado, e os pirats sentiram vontade de espancar um certo emissário até a morte e depois o jogá-lo para os tubarões.
— Claro que não nos mandou em nenhuma missão, mas temos os nossos próprios negócios! — Dagger diz a primeira coisa que em à sua mente.
Já o segundo emissário, Jericó, em pé e com os braços cruzados, estalou a língua.
— Não acredito em vocês, piratas imundos! — Ele berrou, irritado.
Quando menos esperavam, Dagger voltou a se mexer. Seu pequeno bote havia saído em direção a ilha mais próxima e alguém estava o guiando para longe, na tentativa de fugir dos emissários do rei.
Reina sorriu vitoriosa, Naive entendeu o momento perfeitamente!
Sem entender nada, os emissários do rei da Espanha estranharam entre si o que estava acontecendo.
— Alícia precisa voltar imediatamente para Espanha e receber a herança do falecido marido! — Jericó comunicou. — Por mim, isso jamais aconteceria. Pois ela o traiu vivendo com o seu assassino e...
— Aquele nobre dos infernos tentou matá-la primeiro e ele teve apenas o que mereceu ao cruzar o caminho de nosso capitão.
— Tanto faz isso. Pois é a palavra de um pirata contra a de um duque e...
— E o seu rei já deu a sentença. Saramago agiu em legitima defesa e Alícia antes de tudo é uma legítima Saramago também. Além disso, aquele duque miserável confessou tudo diante de várias testemunhas antes de ter a garganta cortada. Explicou Dagger sorrindo.
— Jericó, eles estão indo embora. — Ariel avisou vendo uma silhueta cada vez mais ficando distante dos dois navios, apoiando sua mão ao horizonte.
— O que? Mas o que deu neles? — Jericó talvez fosse o mais puto dali.
— Eles uma hora ou outra terão que retornar a este navio, então... — Disse Ariel sorrindo e cruza os braços, virando as costas. — Vou dormir um pouco. Avise aos dois que não vamos embora enquanto não nos falarmos pessoalmente, são ordens reais!
— Droga! — Naive leva o braço para trás, pegando impulso, e o joga para a frente se esticando até alcançar o segundo bote.
— Naive, o que você vai fazer? — Reina questiona e o pirata sorri genuinamente.
— Procurar os dois fujões, oras bola! Está na hora dos dois agirem como adultos e não como duas crianças assustadas. Além disso, como padrinho deles devo aconselhar ou espancar os dois, pra mim tanto faz!
Quando perceberam, Naive já havia sido levado para a pequena ilha desconhecida apoiado por Dante que tentou ver para onde aqueles dois irresponsáveis teriam ido, mas havia uma distância consideravelmente grande os separando.
— Incrível, então esse é o nosso Capitã Saramago aprontando das suas como sempre. — Oto sorriu, orgulhoso de ter conhecido o rei dos piratas, Zein Saramago.
— Não incentiva Oto! — Ariel dá um tapa na cabeça do mais jovem dos emissários.
Alícia não conseguiu entender o que aconteceu lá em cima entre os dois navios e suas tripulações, apenas pelos gritos vindos deles, ele apenas pôde presumir que os emissários não foram embora e eles precisaram fugir; dado a velocidade que o navio Sereia Azul se encontrava agora.
Mais calma, o capitão Zein entrou em seu quarto com uma caneca de café e um livro para relaxar. Maldição, como era possível tantas coincidências assim? Como os emissários os encontraram?!
Zein se jogou na cadeira perto de sua mesa bagunçada e abriu seu livro com o intuito de esquecer tantas bobagens. Principalmente sobre a grnade teimosia de Alícia agora.
— TE ACHEI!! — O grito veio da porta e Zein deu um pulo de sua cadeira, derrubando alguns pingos de café no chão e em sua blusa escura. — Oi, emissário Ariel! Como conseguiu permissão para vir em meu navio? Perguntou desconfiado.
— Quem disse que eu preciso de permissão? Sabe muito bem quem eu sou na realidade.
— C-como chegou aqui? — Alícia se levantou e virou-se de frente para o outro.
— Eu entrei escondido e os procurei! Queria ver vocês dois na verdade! — Respondeu sorrindo, simples. — e acham mesmo que iriam conseguir me enganar com toda aquela encenação, sério isso? Vestir dois de seus tripulantes com suas roupas fazendo o Felipe real irem atrás, quanta ingenuidade? De quem foi essa ideia idiota afinal? Indagou o emissário se sentando.
— M-mas... E os seus guardas pessoais e os outros emissários?
— Eles estão bem. Depois eu dou um jeito de ir até eles. Como devem saber sou especialista em fugir do palácio de meu pai. Além disso, trocar de lugar com meu primo é a parte mais fácil. Sorriu pegando uma caneca de café também.
Saramago suspirou forte e franziu o cenho.
Droga, não queria lidar com ele agora.
— Demorei para os encontrar, sabiam? — Ele sorriu vigiando inocência, contudo, sua expressão muda do nada para uma séria e brava ao ouvir as palavras de Saramago.
— Não! Não estou feliz em ver você! — Cruza os braços. — Porque príncipe Felipe II fugiu de novo para vir ao nosso encontro.
Alícia levanta as sobrancelhas, não só porque se ofendeu, mas também impressionado com o quão Zein é direto ao assunto.
— O que?
— Você foi embora sem falar conosco dá última vez, poxa garoto, pensei que havia ocorrido algo de ruim, sabia! E eu quero saber o motivo! Você nos usou, por acaso?
— Que? N-não, seu idiota! — Felipe II coloca a mão na cintura. — E não coloque a culpa toda em mim, você que não quis me treinar ao modo pirata ou melhor Saramago de ser!
— Sim, e não escondo isso! E seu pai colocaria a minha cabeça a prêmio caso eu aceitasse tamanha loucura.
Ok, o garoto perdeu no argumento.
— Olha, Zein Saraamgo. Eu não sei o que aconteceu com você, mas eu vou dizer logo. Eu gosto de você! Na verdade gosto dos dois como se fossem os meus irmãos mais velhos, por isso, consegui como o meu pai o rei da Espanha que ele através de um decreto devolvesse os títulos de nobreza de ambos, além de te colocar Zein Rodolfo Saramago como o novo governador da cidade recém nomeada cidade de Saramago, por isso apartir desse momento, o pirata Zein Saramago deixará de existir e o Don Saramago deverá voltar a sua propriedade e começar o seu governo.
Alícia avermelhou-se toda, ela não estava esperando por uma declaração assim.
— O-o que?! P-por que isso do nada?
— Só quero deixar claro, conversei com meu pai e ele me disse isso. Então, eu gosto da ideia e dos termos do decreto! Mas você foi embora sem se despedir e eu fiquei triste também, ou se esqueceu disso também. Meu caríssimo irmão Saramago, justo no meio do meu baile de dezoito anos. Queria saber o porquê. Vocês não gostam de mim, é isso?
Esse papo estava indo de 0 a 100 muito rápido, o que estava acontecendo?
Zein expirou para se acalmar e encarou o garoto com suas roupas de nobre espanhol.
— Felipe, o que você fez dessa vez. Eu sei que ir embora do nada não foi certo e reconheço isso. Eu só...
— Argh, por que travar logo agora? Felipe queria Zein Saramago não tivesse um ego tão grande nesses momentos. — Eu só fiquei sem coragem para os encarar depois do que aconteceu. De verdade, eu não sou bom nessas coisas, entende? Então, achei melhor que fosse uma surpresa e quando Reina me contou as novidades. Eu adorei, eu serei o padrinho com certeza! Afirmou o Príncipe feliz. — Por isso, já ordenei a nossa volta, além disso, todos os seus fiéis companheiros se assim desejarem podem também fixar moradia permanente em sua ilha ou cidade, tornando-se seus súditos. Não é maravilhoso?...
Zein, que não entendeu muita coisa do que ele disse, tombou a cabeça para trás.
— Príncipe Felipe II eu vou te...
— Não precisa me agradecer agora. Também ordenei que todos preparem uma grandiosa festa para comemorarmos tudo isso. Agora se me dão licença eu vou ver os outros agora. Estou com uma grande saudades... Disse saindo intempestivamente assim como entrou, saiu.
— Realmente o príncipe é uma furação em pessoa! Afirmou Alícia notando o quando Zein ficou paralisado diante dos acontecimentos. — Mas você gosta de mim ou não?
— Eu..., e o que isso importa agora, Alícia? Acabei de dizer que é melhor não ficarmos juntos! E você havia concordado para a segurança de nosso filho.
Alícia arregalou os olhos e descruzou os braços, sem uma reação certa.
Já Zein, se sentiu culpado por ter dito aquilo tão insensivelmente daquele jeito. Ele não estava fazendo aquilo por querer, ele gostava dela, não teria ficado com ela se não gostasse, porém tentou a afastar pelo bem do bebê. Não podia deixar com que sua criança ficasse em perigo por causa do pai inconsequente dela, certo?
— Mentira.
A voz de Alícia cortou o silêncio no quarto e Zein baixou uma sobrancelha.
— Ah...?
— Você está mentindo, Saramago! Eu vejo na sua cara! — Alícia riu. — Você é idiota ou o que?
— Vai continuar a me desafiar Sereia?
Alícia não podia acreditar. Aquele imbecil estava tentando enganá-la de novo. Os anos haviam passado e ambos ainda não haviam deixado aquela estranha rivalidade e competição para trás, também ambos eram Saramago.
— Zein, tem alguma coisa te incomodando? Eu fiz alguma coisa errada? Disse alguma coisa? Eu realmente não sei se te fiz algo, mas se fiz... Me desculpa, está bem?
O capitão dos piratas estava imóvel e vidrado nela, aquelas palavras ficaram girando em torno de sua mente e então, ele desabou.
Os olhos escuros aos poucos iam se enchendo de lágrimas e a boca tremia sem parar. O líquido deslizou sobre suas bochechas e ele se jogou no chão.
— Eh? Zein? O que foi? — Alícia correu até ele e segurou seus ombros. — O que aconteceu? Eu fiz alguma coisa de novo?
— N-não... Você não fez nada errado. — Ele continuou dizendo, baixinho. — Quem deve pedir desculpas sou eu. Eu acreditei que fugindo a estaria protegendo, mas na verdade, eu estava com medo e não liguei para os seus sentimentos! Eu queria te ver e te contar tudo, mas escondi por pura covardia.
— Ah? Escondeu o que?
Zein colocou a mão na nuca dela e o puxou para um beijo sem cerimônias, Alícia logo retribuiu e também não conseguiu segurar seu sorriso. Pois estava feliz.
As bocas se separaram e o mais ela abraçou o Saramago, deixando-o sem ar com tanta força que apertava o homem que sempre amou,
Os dois ficaram assim por alguns minutos imóveis e presos em um abraço tão prazeroso.
Alícia não entendia disso, nem de longe. Ela não sabia lidar com sentimentos e só os jogava para fora, mas não sabia lidar quando outra pessoa fazia o mesmo. E ainda tinha o fato de que nunca viu Zein Saramago, o rei dos piratas chorando e frágil daquele jeito.
Ela não podia fazer nada além de abraçá-lo e esperar ele se acalmar.
Aos poucos, Zein se afastou e olhou nos olhos vermelhos de sua sereia, sorrindo compreensivamente para ela.
— Alícia... Você me perdoa por tudo que eu fiz contra você no passado?
— Uhum. — Ela limpou as lágrimas. — Estou bem. Obrigado. e nunca consegui te odiar na verdade, o meu amor sempre foi maior.
— Certo... — Zein se levantou e ajudou ela a fazer o mesmo. — Você quer que eu chame seus parentes para a nossa união na ilha? Eles vão e... — Ele se interrompeu e olhou por todos os cantos do quarto, procurando alguma coisa.
— O que foi? — Alícia pergunta.
— Eu só senti uma coisa.
— Sentiu uma coisa? Tipo? Continuou perguntando e o atiçando devagar.
— Não sei, só... — Ela moveu uma de suas mãos localizada no ombro dele e a desceu, passando pelo peito, tronco e parou em cima do abdômen não tão definido como da última vez que o tocou ali.
Alícia arregalou os olhos e se arrepiou quando a mão gelada levantou sua blusa e pousou sobre sua barriga.
Ele havia... Sentido o bebê...?
— Aqui. — Diz ele, focado somente na barriga dela.
Alícia acompanhou cada reação alheia em silêncio, a fim de saber qual seria a reação dele ao descobrir os primeiros movimentos do bebê.
Zein encarou a barriga mais um pouco e deslizou sua palma sobre ela, sentindo a pele quente e macia por baixo do pano. Enfim, ele tirou a mão dali e olhou em direção reta, encarando o pescoço da sua doce amante.
— Alícia... Eu já ia te pedir em casamento... Mas...Ela o interrompeu, não o deixando terminar a frase com mais um abraço, sem nada a dizer, só mais um abraço apertado para demonstrar o quanto estava contente!
Adrian agora sabia que Felipe II havia protegido o seu ancestral como pode, até mesmo passando por cima de algumas leis da época. E que Zein e Felipe se amavam como dois irmãos, tanto que nessa vida Felipe havia voltado realmente como o seu irmão Diogo. Mas por que ambos não se davam bem como na outra vida anterior?
Pensou com uma certa tristeza em sua alma e voltou a ler os escritos deixados...
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