Transformação
Quando acordou, sentiu-se ansioso e dolorido. Quando abriu os olhos, foi com uma dor de cabeça horrível que teve que encarar um teto branco. Por milésimos segundos, sentiu-se morto e temeu que estivesse no céu. Por uma pequena parcela de tempo, não escutou nada além de zumbidos.
–Oi.--A voz doce de Ginevra foi a primeira coisa que escutou.--Você está tão pálido.
–Albie, como está se sentindo?--Harry fez-se presente, sorrindo docemente para a figura sonolenta do filho.--O curador disse que você iria ficar desacordado por mais tempo.
–O qu...–Albus mal reconheceu a voz quando tentou falar e teve que forçá-la a sair.--O que eu estou fazendo no hospital?
–Não se lembra de nada?--Gina pareceu nervosa e segurou em sua mão com carinho, massageando-a com o dedão.--Você passou pela sua transformação.
Transformação.
Albus olhou para o pai para confirmar se a mãe havia mesmo dito aquilo e, quando Harry meneou a cabeça, foi como se o mundo inteiro de Albus tivesse atingido o chão.
Mas... Ele não se sentia um alfa.
–Você não está sentindo nada de diferente?--Harry perguntou, segurando a outra mão do filho.--Não está sentindo nada de diferente aí embaixo?
Albus arqueou uma sobrancelha e olhou para baixo de maneira instintiva. Se sentia... Se sentia...
–Se eu vim parar no St. Mungus,--Albus engoliu em seco, tremendo– então eu não sou alfa.--Ele respirou fundo e perguntou de forma baixa e assustada.--Sou ômega?
Gina e Harry menearam a cabeça ao mesmo tempo e só assim Albus sentiu algo diferente em seu corpo. Uma dor na barriga que o fez se remexer no colchão.
–Está com cólica, querido?--Gina soou preocupada e Albus quase desmaiou quando a estranheza da situação o fez lembrar da aula de anatomia do terceiro ano, quando aprenderam que homens ômegas menstruavam.
–Como eu não me lembro da transformação?--Albus perguntou de forma trêmula.--Quer dizer... Eu não lembro de vir parar aqui.
–A dor é tanta que o cérebro bloqueia, querido.--Gina massageou seu couro cabeludo.--Você gritou demais, os lençóis ficaram cheios de sangue. É até bom você não lembrar de nada, Albie.
–Eu tenho uma vagina?--Albus enfim conseguiu perguntar, mexendo as pernas de forma preocupada.
–Sim...–Harry respondeu.-- Mas seu pênis ainda está aí, assim como as suas bolas, mas menores.
–Espera.--Albus sentiu o rosto esquentar e corar.--Vocês viram?
–Não!--Gina negou, mas Albus não teve certeza se a mãe falava sério.--O curador falou.
–E agora você tem um útero...–Harry sorriu sem jeito.--É você quem vai gerar nossos netos.
A expressão de Albus murchou e ele enterrou o rosto contra o travesseiro, como se desejasse gritar.
Uma mão massageou as suas costas e Harry disse:
–Você vai se acostumar, filho. Mas não precisa ter filhos, se não quiser.
–Harry!--Gina pareceu bater no ombro do marido.--Precisamos conversar sobre o seu período menstrual e cios, filho.
Albus gemeu contra o travesseiro. Ele estava mesmo menstruando.
–Agora?--Perguntou de forma abafada.
–Pode ser depois, mas eu tô achando que você precisa trocar o absorvente...
Albus levantou o rosto e fitou a mãe antes de perguntar:
–A quanto tempo eu estou desacordado?
–Dois dias...
–E eu estou menstruando a quanto tempo?
–Mais ou menos um dia e meio.
–E quem estava trocando o absorvente antes de eu acordar?
–Eu...
Albus se sentou com dificuldade na cama e abriu os braços feito o Cristo Redentor.
–Você disse que não tinha visto lá embaixo!
A mulher levantou as mãos.
–Tudo bem, eu fui pega.--Gina sentou-se aos pés de Albus.-- Filho, eu sou a sua mãe e eu sei que você se sente tímido, mas eu só quis ajudar. Era eu trocar os absorventes ou as enfermeiras.
Albus voltou a se deitar. Aquilo só podia ser um pesadelo.
–Não precisa ficar vermelho, Albie. É normal.--Harry tentou ajudar, mas só fez Albus corar mais ainda. Não sabia o que era pior, estar menstruando ou o fato do pai ter escutado aquela conversa vergonhosa e de saber tudo o que estava rolando com o corpo dele.
–Quem sabe que eu sou ômega além de vocês e do pessoal que me atendeu?--Albus perguntou, tampando os olhos para ver se resolvia a quentura que sentia nas bochechas.
Gina e Harry se olharam de maneira nervosa e Albus arqueou as sobrancelhas de forma completamente assustada quando retirou o braço de cima dos olhos e viu como eles estavam agindo.
–Foi parar no Profeta Diário, querido.--Gina respondeu e, mais uma vez, foi como se o mundo de Albus fosse ao chão.--É que ômegas homens são raros e você, sendo nosso filho, acabou sendo uma novidade tentadora. Alguém de Hogwarts ou do hospital vazou a informação.
–De Hogwarts?--Albus soou assustado.--Como assim?
–A sua transformação começou em Hogwarts, Albie.--Harry massageou os cabelos revoltos do filho.--Você estava na enfermaria antes de descobrirmos que estava passando pela transformação. Foi um susto para os seus colegas de dormitório. Para o Scorpius muito mais. Ele te levou até a Ala Hospitalar.
Albus sentiu o ar lhe faltar. Ótimo, Malfoy era alfa lúpus e agora Albus não passava de um ômega. Aquilo só podia ser uma piada. Chamaria a atenção das pessoas quando voltasse, para piorar. E ele odiava chamar a atenção.
–Querido,--Gina deu tapinhas nas pernas de Albus, preparando-se para falar mais alguma coisa que Albus não desejava escutar ou temia ter que ouvir– espero que você não se sinta mal, mas nós conversamos ontem com o diretor e você não vai poder continuar dormindo nos dormitórios dos garotos.
–É o quê?!--Albus ficou cético.--Como assim?
–Agora você vai passar pelos cios e é perigoso isso acontecer com alfas por perto.
–Eu vou ter que ficar com as meninas?
–Sim.
–Mas e o Scorpius?--Albus não conseguiu impedir a pergunta de sair.
–Scorpius é alfa lúpus, Albie.--Harry falou.--É muito mais perigoso você dormir no mesmo ambiente que ele do que com qualquer outro alfa. Se entrar no cio e estiver com ele, se prepare que aí não tem o que o impeça de ser marcado e de ter um filho.
–Qualquer alfa faria isso.--Albus reclamou.
–A diferença é que as chances de um ômega engravidar com um alfa comum é de 80% enquanto com um alfa lúpus é de 100%. E lúpus são afoitos demais... Você é...–Harry olhou para Gina, que entendeu e foi ao socorro do marido.
–E você é menor aí embaixo do que uma garota, mais estreito...--Albus corou como nunca antes-- É mais fraquinho e pode se machucar com mais facilidade. É biologia, não sei explicar direito o porquê. Seu corpo agora é uma mistura de órgãos masculinos e femininos.
Albus tinha 16 anos, um absorvente cheio, um ego ferido, um rosto corado, uma boca aberta e um medo do cão de entrar em Hogwarts.
–Eu não quero pisar em Hogwarts!--Gritou e apertou a cabeça contra o travesseiro antes de soltar um grito que atingiu o corredor. A sua vida havia virado de cabeça para baixo em questão de dois dias.
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