Talvez Albus gostasse de Scorpius
O próximo passo (traumatizante passo) da vida de Albus era entender o que estava acontecendo consigo para ter sentido o perfume de Scorpius durante a aula teórica sobre a Amortentia.
Uma coisa que havia aprendido com o pai, era que para entender o presente, era preciso entender o passado. E agora Albus estava olhando cada uma das fotos que Scorpius lhe dera junto com a caixa de lembranças e também folheando o livro de poções no capítulo sobre a Amortentia.
O que havia acontecido durante todos esses anos para o cheiro de Scorpius ser o cheiro sentido por ele? Não podia ser algo de agora, tampouco podia ser algum sentimento pequeno, porque, para sentir qualquer coisa que fosse vindo daquela poção dos diabos, o sentimento tinha que estar aí a um tempo.
As fotos eram variadas entre os dois mostrando o primeiro boletim, um fazendo chifre no outro, jogando xadrez, comendo, fingindo uma briga e até mesmo uma foto deles vestidos como os pais para fazerem uma brincadeira no ano anterior. Não tinha como saber a resposta olhando para aquelas fotos e isso era irritante!
Mas havia a carta... Carta que Albus havia esquecido de ler e que Scorpius não comentou nada a respeito.
Um pouco receoso, Albus decidiu que nada do mundo podia fazê-lo cair mais do que já havia caído.
Prezado amigo
Eu sei que você está irritado e querendo me bater, não tiro a razão de você. Só quero que saiba de algumas coisas e que possa me perdoar.
Eu prezo pela nossa amizade, prezo por ela desde o dia em que embarcamos no Expresso pela primeira vez. E eu sei que eu errei, errei feio ao metê-lo nesta situação. Não sei o que aconteceu, só sei que eu não aguento ficar longe de você e que eu preciso da sua amizade, preciso que possamos jogar xadrez, ir a Hogsmeade juntos e conversarmos sobre as idiotices de James e sobre os nossos pais. Não posso perdê-lo.
Não sei se você se lembra direito das horas anteriores à transformação, mas nós jogamos xadrez e zoamos o James até perdemos a hora de nós deitarmos. Você começou a passar mal quando o relógio de cuco bateu meia noite e aí nós subimos. Os gritos começaram às duas da manhã e quando eu te vi, Merlin, Albie, eu não entendi o que estava acontecendo, mas de alguma forma eu soube que nada nunca mais seria o mesmo e que nenhum de nós dois olharia para o outro da mesma maneira daquele momento em diante. Eu não sei se eu estou pronto para nada nunca mais ser o mesmo, Albie.
Meu pai me enviou uma carta há dois dias atrás. Ele disse que eu tinha sido o responsável por você se transformar, que ele tinha estudado sobre a escolha e tinha completa certeza de que eu tinha causado isso. Que iria acontecer a transformação uma hora ou outra, mas, como eu escolhi você naquela noite, eu tinha o feito se transformar mais rápido do que seu corpo estava pronto. E eu peço perdão por isso, Albie. Não sei quando naquela noite eu te escolhi, só sei que eu estava feliz e você estava rindo tão alta e estrondosamente que talvez tenha sido demais para mim.
Embora eu não saiba o que eu sinto por você fora do alfa lúpus, porque ultimamente eu tenho o visto como uma parte à fora de mim, eu só quero estar ao seu lado. Só quero tomar o café da manhã com você, estudar com você, jogar xadrez com você e rir com você.
Por favor, Albie, permita que eu continue rindo junto a você.
Albus levantou o rosto da carta e soltou uma espécie de muxoxo. No fundo, bem no fundo, ele sabia o que sentia e não era apenas em relação àquela noite.
Talvez devesse se dar o benefício da dúvida e fazer um teste. Se o resultado fosse sim, então ele poderia dizer que era gay antes de se tornar ômega.
Alguns rótulos simplesmente não faziam sentido.
***
Albus se perguntava se para aceitar Scorpius, teria que fazer algo a mais. No livro que seus pais lhe enviaram não tinha nada a esse respeito, então talvez pudesse respirar em paz.
Adentrou os dormitórios masculinos sem se importar com os olhares dos sortudos alfas e betas e abriu a porta do antigo dormitório sem se importar em bater.
Scorpius estava deitado em posição fetal na cama, enquanto Avery, Nott e Travers pareciam tentar convencê-lo a se levantar e ir tomar um banho.
Scorpius se colocou sentado assim que o viu adentrar a porta e Nott jogou as mãos para o alto com a expressão de alguém que já estava de saco cheio.
–Albus.--Nott bufou.--Faz o favor de convencer o Malfoy a deixar de ser irritante!
É exatamente isso que Albus estava querendo fazer.
–Scorpius, preciso conversar com você.--Albus apontou para o corredor e acenou para os caras antes de descer e sair da comunal.
Sabia que não podia ficar sozinho com Scorpius ainda estando no cio, mas eles se não se afastariam até um corredor escuro e solitário. Albus apenas precisava de um lugar onde pudessem ter uma conversa sem olhares irritantes ao redor.
Parou cinco metros longe da entrada da Sonserina e fitou a Scorpius, que pareceu engolir em seco.
–O que foi, cara?--Scorpius perguntando, alternando o olhar entre direita, esquerda e os olhos de Albus.
–Eu li a sua carta.
Scorpius meneou a cabeça, sem entender onde Albus queria chegar.
–Achei estranho que não tivesse comentado a respeito.
–Ela me permitiu enxergar algumas coisas.--Albus deixou escapar, ele próprio engolindo em seco.--Me fez querer testar uma coisa.
Scorpius piscou de maneira nervosa.
–Testar o que, exatamente?
Albus soltou o ar que mantinha preso nos pulmões e quase desejou ter sido menos ansioso e conversado com Scorpius melhor quando fosse de manhã e não estivesse mais no cio.
–Amanha, quando meu cio tiver acabado, eu vou beijar você.
Scorpius arregalou os olhos e deu um passo tão largo para trás, que acabou se batendo contra a parede.
–Você vai o quê?!--Scorpius gritou e gritou para valer, porque passos foram ouvidos.
Ainda não era o horário de recolher ou era?
–Eu te explico melhor amanhã, cara!
Albus correu de volta à comunal e, Scorpius, que parecia o verdadeiro retrato da confusão e insatisfação, foi correndo atrás.
–Você não pode jogar uma dessas para cima de mim e esperar que eu durma bem!--Scorpius queixou-se antes de eles entrarem.
–Eu só preciso saber o que eu sinto.--Albus sussurrou, deixando Scorpius sozinho e subindo até os dormitórios.
Ele queria ter conversado melhor com Scorpius e explicado a situação. Queria ter falado sobre a carta e sobre a relação como amigos deles, mas não deu tão certo quanto deveria ter dado. Se Scorpius não ia dormir, Albus também não dormiria pelo tamanho do nervosismo que sentia.
Não acreditava que beijaria seu melhor amigo desde os 11 anos para comprovar um sentimento escondido.
***
Albus levantou às cinco e meia da manhã sem qualquer sintoma do cio e desceu até a comunal às seis horas. Calculara que dormira apenas três horas, tamanho era o seu desespero.
A comunal ainda estava vazia quando a adentrou, ou, pelo menos, vazia de outros alunos, porque Scorpius estava deitado no sofá tirando um cochilo inquieto. Seu rosto se contraia como se ele estivesse afundado em um sonho ruim.
Ele abriu os olhos assim que Albus se aproximou, mesmo sem qualquer barulho.
–Albus!--Scorpius se colocou sentado num desespero visível. Estava com mais olheiras do que o normal.--Não me faça esperar até depois das aulas.
Verdade seja dita, Albus já havia superado a vergonha de tudo o que havia de novo na sua vida. Scorpius era uma vergonha ambulante e Albus apenas podia aceitar antes da situação ficar pior.
–Vem comigo, Scorpius.
Albus andou até a saída, disposto a levar Scorpius até o pátio, porém mudou de ideia quando chegou no corredor aberto e o frio o fez se encolher. Estava nevando.
–Não era para nevar antes do jogo de Quadribol!--Queixou-se Scorpius, aproximando-se de Albus de forma instintiva e o envolvendo em uma espécie de abraço.
Albus quase não conseguiu fazer Scorpius se afastar.
–Vamos para a biblioteca.--Albus pediu, andando a frente de Scorpius, que cada vez mais se aproximava e tentava envolve-lo num casulo quentinho e estranhamente reconfortante.
Albus esperava que depois do beijo, Scorpius voltasse ao normal.
A bibliotecária estranhou quando os viu entrar tão cedo pela manhã, mas não fez nenhum comentário. Albus levou Scorpius até um corredor afastado e suspirou de forma tímida. Nunca havia beijado antes e isso era um pouco vergonhoso.
Scorpius o olhava com expectativa, o que não era exatamente o que Albus esperava ver nos olhos do amigo. Queria um pouco de medo, talvez assim não temesse acabar contra a estante.
–Eu não te expliquei direito ontem.--Albus tentou pensar no seu melhor monologo.--Espero ter uma resposta depois desse beijo e também espero que você volte a agir feito uma pessoa normal. Quero o velho Scorpius de volta.
–Resposta?--Scorpius pareceu engolir em seco.
–Do que eu sinto a seu respeito.--Albus respirou fundo.--Fica parado, por favor. Mãos nos bolsos, de preferência. E fecha os olhos.
Scorpius fez exatamente o que ele pediu e Albus nunca sentiu tanta insegurança na vida quanto naquele momento.
Aproximou-se com cautela e tocou nos lábios alheios de forma gentil. Malfoy tremeu, querendo tirar as mãos dos bolsos, mas Albus o segurou, pressionando os lábios num selinho longo e estranho.
Afastou-se por um pequeno instante, prestando atenção na maneira como Scorpius parecia se segurar para não tomar o controle.
Tudo bem, não era ruim.
Albus aproximou-se novamente, dessa vez selando os lábios de forma que não acabasse tão rápido. Scorpius abriu a boca de leve e, disposto a tentar, Albus aprofundou o ósculo de forma que Malfoy caiu contra a prateleira e ela tremeu, produzindo um barulho alto o suficiente para atrair a bibliotecária.
Albus olhou desesperado para Scorpius e, pela primeira vez, viu que os olhos de Malfoy estavam tão normais quanto antes de toda aquela merda começar.
E talvez Albus gostasse de Scorpius.
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