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Grudado às paredes


O dia 22 começou pior do que o dia 21. Albus acordou com uma dor tão avassaladora e deprimente, que teve que pedir ajuda a Zabine para tomar o supressor. A garota, pela primeira vez, não fez qualquer piada maliciosa para irritá-lo.

Teria treino de Quadribol às quatro horas e a noção de que teria que subir em uma vassoura o deixou trêmulo. Enquanto tomava banho, mal conseguiu usar o sabonete lá embaixo sem sentir vontade de enfiar uma coisa lá dentro e era horrível pensar em enfiar alguma coisa naquele buraco estranho. Albus andava tentando fingir que ele não existia, mas era difícil com o cio o irritando.

Já bastava as piadas das meninas em relação a meter um vestido nele e maquiagem. No dia anterior ao anterior havia acordado com Richt o olhando com um batom aberto ao lado... Elas estavam planejando alguma coisa e Albus não queria saber de acabar com batom 24 horas na boca! (porque aquelas garotas amavam conversar sobre maquiagem e Albus já havia escutado termos demais para esquecer de todos.)

Quando desceu para tomar o café da manhã, não encontrou Scorpius, mas Nott, Avery e Travers estavam envolvidos no que parecia uma conversa pavorosa sobre quem dos três conseguiria convidar a Zabine para o baile de fim de ano, que só aconteceria em Junho e eles ainda estavam em Novembro.

–Albus!--Avery o comprimentou, olhando ao redor como se procurasse alguém (Zabine, provavelmente).--Precisamos conversar com você sobre a Zabine.

Lá vinha.

–Eu não vou falar sobre vocês para ela.--Albus negou, pondo-se a se servir.

–E por quê?--Nott abaixou a voz, já que a garota havia adentrado o Salão Principal.

–Porque eu estou a ponto de enlouquecer.

–E o que isso tem a ver com a Zabine?--Queixou-se Travers.--Você passa mais tempo com ela do que nós conseguimos passar.

–Para o meu completo horror.--Albus sentiu a pálpebra tremer.--Eu não gosto desse tempo forçado com ela.

Scorpius adentrou o Salão Principal parecendo a versão adoentada de um físico famoso. Largou-se sentado ao lado de Albus antes que acabasse por cair no chão.

–O que tem com você, Scorpius?--Nott perguntou, um pouco irritado.--Fez barulhos de ganidos a noite inteira e agora está com cara de quem vai desmaiar e vomitar.

De alguma forma, Albus sabia que era o culpado pela situação de Scorpius. Será que ele havia conseguido sentir o seu cheiro durante a madrugada? Albus tivera alguns sonhos estranhos e só acordou quando a dor ficou forte demais pela manhã.

–Estava na Ala Hospitalar?--Albus perguntou e Scorpius meneou a cabeça.

–Não resolveu muito, mas eu estava.

O café da manhã transcorreu bem, com exceção das perguntas incansáveis sobre Zabine, do tremor de pálpebra de Albus e dos bocejos de Scorpius.

***

Albus empurrou Scorpius para a aula de Poções, mas talvez devesse ter convencido Nott, Avery ou Travers a o levarem de volta para a Sonserina, porque, assim que cruzou a entrada das masmorras, Scorpius começou a coçar o nariz de maneira frenética. Piorou terrivelmente quando chegaram à sala de aula.

Albus também começou a coçar o nariz quando adentrou o espaço, porque o perfume de Scorpius pareceu colar nas paredes, de tão forte que ficou.

Albus estancou no lugar, sem conseguir se mexer pelo o que se pareceu um minuto inteiro. Só podiam estar de brincadeira! Agora não conseguia fazer uma aula sem ter algum gatilho?!

Se forçou a se colocar sentado ao lado de Scorpius, que afastou-se tão rápido, mas tão rápido, que Albus temeu que ele caísse.

–Bom dia, crianças!--Professora Susana parou em frente ao quadro, ao lado de um caldeirão borbulhante. Albus teve que abaixar a cabeça porque, ao olhar a fumaça, havia ficado tonto.--Quem aí me diz o que tem no caldeirão?

Rose Granger-Weasley levantou a mão e, na ausência de outra pessoa, ela respondeu:

–Amortentia! Mais conhecida como poção do amor!

–Muito bem, senhorita Granger-Weasley. Agora, diga-me, qual cheiro você sente?

A garota pareceu corar e Albus, que havia acabado de levantar a cabeça e olhado para a garota, quase caiu no chão quando se tocou do que se tratava.

–Não precisa falar, senhorita.--Professora Susana riu.--A Amortentia tem um cheiro específico para cada pessoa, sendo esse o cheiro do suposto crush, ou melhor dizendo, pessoa por quem está apaixonado.--Todos riram, mas Albus, que sentia que iria morrer de constrangimento e de tremelique nas pernas, não conseguiu.--Ela força uma ilusão de amor em quem a bebe, tornando a pessoa viciada em você de forma artificial. Acreditem, só um louco daria ela a alguém.

–Nós não aprenderemos a fazê-la, não é, senhora?--Nott perguntou, com uma expressão tão engraçada, que Albus imaginou que ele quisesse fazer a poção e dá-la a Zabine.

–É claro que não!--Senhora Susana quase gritou.--Meu intuito é ensinar a teoria sobre ela para que nenhum bobinho decida tentar fazê-la. Também tenho umas histórias bastante tenebrosas que aconteceram aqui em Hogwarts por causa dela. Sem contar a história assustadora da mãe de você sabe quem.

Albus não sabia direito o que pensar. Por que o cheiro de Scorpius estava emanando da poção? Isso era tão sem noção! O cheiro de Scorpius... A porcaria do cheiro do seu melhor amigo. Um homem. Um cara. O idiota que havia o escolhido sem nem perceber!

Scorpius levantou o braço em supetão, assustando-o.

–Preciso ir ao banheiro, senhora!

Professora Susana pareceu se assustar e já estava abrindo a boca para negar quando ela viu o rosto de Scorpius, que parecia em profunda agonia, e permitiu que ele fosse.

Albus nunca havia visto o amigo correr tão rápido na vida.

–Ele estava duro?--Travers perguntou, rindo.

Albus sentiu vontade de morrer.

***

Albus sentia que estava em um filme de terror trouxa. Andava de cabeça baixa em direção à Ala Hospitalar, porque imaginava que Scorpius fosse ter ido para lá e não para alguns dos diversos banheiros.

Como esperado, a criatura estava deitada em um dos leitos e tremia o beiço feito uma criança.

–Nossa nota está sendo danificada por nossa causa.--Albus comentou, tentando trazer alguma normalidade à cena traumatizante, mas Scorpius fungou de forma tão desesperada, que Albus temeu olhar para a virilha do amigo.

–Eu não aguento mais.--Scorpius se sentou.--Quero ser beta.

–Igualmente.

–Quer dizer... O seu cheiro estava forte demais. Eu comecei a passar mal...

Até Albus havia começado a passar mal.

–Perdão, cara.

–Não é a sua culpa, Albus.--Scorpius abraçou as pernas contra o peito, feito uma criança com medo do bicho papão.--É completamente a minha culpa.

–Pega leve com você, Scorpius.--Albus se sentou no leito com Scorpius, que se encolheu.--As coisas logo vão melhorar.

–Como elas vão melhorar?

–A gente conversou sobre isso ontem.

–Mas é um processo demorado e eu não me aguento mais!

Albus não diria a Scorpius que havia sentido o cheiro do perfume dele, pelo menos não tão cedo. Não até que entendesse o que estava acontecendo consigo.

Processo demorado era a vida de Albus.

–Só respira, Scorpius.

Nem ele estava respirando direito, quem dirá o alfa lúpus desesperado.

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