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Albus queria que Scorpius fosse menos instintivo


Sexta-feira transcorreu como qualquer outro dia, porém, com um diferencial em relação à semana. Scorpius havia passado o dia inteiro agindo como se estivesse tentando fugir de Albus. Toda a vez em que fugia, porém, parecia se sentir mal e voltava a ser irritante ao ponto de Albus desejar socá-lo.

Talvez Malfoy não percebesse que Potter notava a maneira como ele estava agindo, mas era meio óbvio.

No sábado, Albus acordou sem cólica e se sentindo "normal" depois do pesadelo que havia sido a semana.

Era dia de treino de Quadribol. O primeiro jogo da temporada seria dia 25, um pouco antes da neve começar a cair. Albus havia tido que calcular para ter certeza de que o cio não dificultaria a sua vida caso caísse no dia do jogo. Tivera sorte nesse quesito.

O cio começaria dia 21 (no dia do seu infeliz aniversário), caso tudo ocorresse conforme o calendário que o curador lhe dera para calcular a desgraça do seu período. Duraria dois dias. Havia os supressores para ajudá-lo com o Quadribol caso tivesse algum problema com a data.

Quando o horário do treino chegou, Albus e Scorpius andaram juntos até o Campo de Quadribol. Scorpius parecia lutar para não olhá-lo enquanto andavam e, comicamente, isso parecia o deixar com mais olheiras, coisa que Albus não havia notado durante a manhã.

Havia algo de irritante na maneira como Scorpius mexia as mãos de forma desconfortável em frente ao corpo e da forma como as suas pupilas pareciam dilatadas. Seu cabelo estava bagunçado, espetado de um lado para o outro e isso deixava Albus assustado, porque Scorpius costumava cuidar bem do cabelo.

Albus havia lido o capítulo inteiro do livro que seus pais haviam lhe enviado durante a quinta de madrugada. Havia descoberto algumas coisas sobre alfas lúpus que deveriam realmente assustá-lo. Quando estivesse no cio não poderia errar nos supressores, porque, se errasse, Scorpius perderia o controle que parecia não possuir (pelo menos era isso o que achava).

Talvez devesse conversar com ele, mas Albus não gostava de pensar nessa porcaria! Até então estava até mesmo relevando o fato de ser ômega, mas como continuar relevando algo que havia virado a sua vida de cabeça para baixo? As pessoas agiam como se ele não fosse um cara e, para piorar, os alfas estavam o olhando com nojo e, às vezes, com uma espécie de dúvida, como se duvidassem da sexualidade deles.

Aquilo era horrível! Albus odiava saber que nada nunca mais seria o mesmo. Queria que a amizade com Scorpius não tivesse sido danificada pelo conhecimento horrível de que o amigo agora estava lutando contra os seus instintos, talvez sem nem perceber o que aquilo significava.

Chegaram ao Campo de Quadribol um pouco depois do horário marcado e Rowle reclamou aos quatro ventos pela demora deles.

Albus revirou os olhos antes de montar em sua vassoura e deixar o capitão do time falando sozinho.

Se o antigo capitão chefe, assim como Rowle, não tivessem o forçado a ser Apanhador, Albus teria sido Artilheiro como o Scorpius. Ele não gostava de ficar parado por grande parte do jogo e, embora tenha feito os testes tanto para Apanhador, quanto para Artilheiro, o antigo capitão o empurrou para Apanhador. Era o que tinha, então.

Rowle largou um pomo de ouro e dividiu o time de maneira que tivesse um batedor, um artilheiro e um apanhador para cada lado, mas sem goleiro, porque ele não participaria da primeira etapa do treino. Albus pegou o pomo nas duas vezes em que ele foi largado, até porque Scorpius havia ficado como o apanhador do outro time e, toda a vez em que se aproximou o suficiente para a disputa ser justa, torceu o nariz e ficou para trás.

Albus se perguntou se estava fedendo antes de lembrar da existência dos feromônios e do parágrafo do livro escrito sobre o excelente olfato dos alfa lúpus.

Quando já haviam treinado por uma hora, Rowle os mandou descer para descansar. Albus se largou sentado no gramado, próximo o suficiente de Scorpius, mas também afastado o suficiente para o amigo não surtar.

–Achei que você fosse ficar mais lento agora que é ômega, Potter!--Riley, um garoto de quem Albus não gostava muito, decidiu que era uma boa hora para importuná-lo.--Achei que não fosse ficar no time.

–E por que eu sairia do time?--Albus tentou soar calmo, mas já bastava Rowle ter sido desnecessário na biblioteca.--Me coloque em qualquer posição e eu ainda serei melhor do que você.

Riley franziu o nariz e se afastou murmurando alguma espécie de xingamento.

Scorpius havia se aproximado para prestar atenção no que acontecia, Albus imaginou. Quando ficou claro de que não precisaria se meter, afastou-se novamente.

Albus realmente tinha vontade de socar o rosto de Scorpius, mas temia acabar com a mão machucada. Temia também descontar toda a frustração em cima de Malfoy ao ponto de ele perceber o que estava rolando consigo mesmo.

Albus não sabia que temia tanto Scorpius descobrir que havia o escolhido! Se bem que... Bem... Albus tinha uma pulga atrás da orelha, porque talvez Scorpius já houvesse percebido.

Rowle mandou só os artilheiros subirem nas vassouras e se colocou como goleiro. Albus afastou-se, mas Rowle o chamou para ser o quarto artilheiro, já que seriam dois para cada lado. Scorpius faria dupla com Richt e o irmão de Zabine com ele.

O treino transcorreu bem e Albus acertou os aros cinco vezes antes de Richt acertar o rosto dele com a Goles, Albus perder o controle e cair da vassoura. Felizmente, eles voavam baixo, então o máximo que Albus sentiu foi uma pancada na barriga.

Foi questão de segundos até Albus escutar Scorpius discutindo com Richt com a voz estranhamente grossa. E foi questão de segundos até Richt levar um soco e acabar com a boca ensanguentada e o nariz quebrado.

O problema é que Scorpius perdeu a cabeça e nem quatro alfas conseguiram segurá-lo antes dele pular em cima de um Richt já deitado no som.

–Scorpius!--Albus gritou, alto o suficiente para Malfoy olhar com as pupilas dilatadas, os caninos maiores e a pele vermelha de raiva.

Albus abriu a boca em um O, porque Scorpius estava literalmente rosnando e isso era a puta de uma idiotice.

–Mas o que é isso?!--Zabine soou assustado.--Que porra é essa, Malfoy!

Albus sentiu o corpo tremer e, talvez, sem perceber, tenha soltado algum fenômeno, porque o rosto de Scorpius voltou ao normal em questão de segundos.

–Precisamos conversar, cara.--Albus falou, engolindo em seco.--Agora.

***

O "agora" não foi exatamente "agora". Albus chamou os pais pela lareira da sala do diretor e obrigou um Scorpius confuso a chamar o Draco. Os três vieram correndo, mas a conversa só aconteceu uma hora e meia depois do surto de Scorpius.

–Por que estamos aqui?--Draco perguntou, olhando para o filho que parecia não estar entendendo nada do que acontecia.--Aconteceu alguma coisa?

–Aconteceu o Scorpius!--Albus decidiu que precisava partir logo para o assunto.--Ele me escolheu e está sendo um perigo para a vida dele e dos outros!

Diante do me escolheu, Draco arregalou os olhos como se tivesse escutado a coisa mais assustadora do planeta e Scorpius franziu as sobrancelhas de forma que seu rosto pareceu ficar todo torcido.

–Como assim eu te escolhi?--Scorpius perguntou de forma baixa e sofrida, quase como se soubesse do que se tratava.

Harry e Gina se mantinham afastados, aparentando nervosismo puro.

–Draco, você nunca explicou isso para o Scorpius?--Harry perguntou em tom de alfinetada.--Você tinha que ter explicado quando ele fez 17!

–Na boa, Potter, eu não sou lúpus, meu pai que é!--Draco se queixou.-- Eu não sei direito como funciona.

–Mas você sabe o que é a escolha.--Gina o acusou.

Scorpius ainda olhava para Albus, tão confuso quanto uma criança perdida.

–Alguém poderia me explicar?--Ele perguntou, tremendo as mãos.--Por favor?

Draco não parecia saber muito o que dizer, então Harry tomou a dianteira.

–Eu e Gina enviamos um livro para Albus onde está explicado sobre o processo de escolha, mas resumidamente, o alfalúpus quando atinge os 17 anos e nas semanas que se sucedem, escolhe o ômega com quem ele deseja passar a vida. É uma escolha para sempre, porque se o ômega nega, o lúpus passa a vida inteira sozinho ou pode até mesmo chegar a morrer de tristeza.

Albus mal esperou que Harry terminasse de falar antes de abrir a boca e explodir:

–E você está meio biruta, Scorpius! Caiu no soco com o Richt só por que ele sem querer acertou a minha cara?! É sério?!--Albus olhou para Harry, Gina e Draco.--E isso não é nem o pior!

–Você fez o que, Scorpius?--Draco falou, mas ninguém deu atenção para ele.

–O que é pior, querido?--Gina prestava atenção como se estivesse em um interrogatório.

–Na quarta de tarde e na quinta ele não me deixava fazer nada, estava grudado em mim feito uma lesma gosmenta. Ele rosna para os alfas que vêm para perto de mim e isso é chato. Quinta de noite ele percebeu que estava agindo estranho do nada e ficou a sexta-feira inteira fugindo de mim e ficando magoado quando o fazia!

Scorpius parecia perplexo, mas tinha uma ponta de reconhecimento em seus olhos. Albus se perguntou o porquê de ter chamado os pais de ambos para discutir a situação, porque nunca havia visto Scorpius tão encurvado e vermelho pela maneira como todos o olhavam.

Albus também estava começando a se sentir tímido.

–Eu não sei se eu cheguei a perceber na quinta de noite...–Scorpius abraçou o próprio corpo.--Eu apenas... Não sei...

–Se você ler aquele capítulo do livro que enviamos marcado já para o Albus, você vai ganhar uma luz, Scorpius.--Gina falou, tão nervosa quanto o marido, que batia o pé no chão.

–Scorpius...–Harry olhou para Draco, que não parecia saber o que falar, então apenas voltou-se aos dois garotos.--É perigoso você ser tão instintivo. Você talvez precise tomar algumas poções para suprimir isso, porque, quando o Albus entrar no cio, você pode perder o controle.

Albus corou dos pés até a cabeça, porque a ficha finalmente havia caído.

Scorpius havia o escolhido, o que significava que Malfoy, com todo o seu instinto alfa lúpus, queria que ele tivesse os seus filhos.

E Albus sairia correndo, porque tudo que ele não queria era engravidar! Uma semana havia se passado desde a transformação e a noção de ter um útero ainda era nova demais para ele pensar em querer um dia meter uma criança aí dentro.

–Tudo bem, então,–Draco deu um passo a frente–pelo o que eu entendi, o Scorpius está biruta porque te escolheu, Albus.--Draco se voltou para Harry e Gina.--A única forma de ele parar de ser instintivo é tomando algumas poções calmantes ou o quê? Pelo o que eu sei não existe nada parecido com supressores para alfas.

Harry e Gina se olharam.

–Na verdade, isso para de acontecer quando o ômega dá abertura, pelo o que a gente sabe.--Gina respondeu.--Se aceita o alfa. Ou para com o tempo, conforme o alfa lúpus aprende a despistar o instinto.

Albus sabia bem que a amizade com Scorpius nunca mais seria a mesma, mas não queria ter algum tipo de relacionamento com o amigo. Albus se afastou de forma inconsciente de Scorpius, que pareceu se incomodar com o movimento.

–Como vocês sabem de todas essas coisas?--Draco perguntou.--Leram o livro que entregaram ao Albus?

Gina deu de ombros.

–A gente achava que o James ou o Albus seriam lúpus, já que o avô era, mas não aconteceu. Aí nós estudamos sobre.

Harry e Gina nunca haviam conversado com ele e James sobre isso. Albus teria preferido ser lúpus, já que o avô havia sido Isso explicava porque depois de tudo o que escutara sobre o avô, sua avó ainda assim havia engatado em um relacionamento com ele.

Scorpius fitava o chão e suas olheiras o deixavam com um aspecto macabro. Albus desejou que aquela transformação amaldiçoada fosse um pesadelo.

–Obrigado por virem.--Albus fez que iria andar até a porta, sentindo-se tonto de repente.--Até mais, gente.

Ele teria ficado feliz pelos pais não o terem seguido, se não houvesse tropeçado no degrau da escada em caracol e caído. 

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