Incandescente
O ar gélido fez-se presente, destruindo o que restava do outono. Antes que as vastas cores diminuíssem e o branco tomasse posse, era audível o barulho lá fora. Da janela, inalando a nova corrente, foi a tentativa inútil que encontrei de abafar o fluxo de sons que ecoavam dentro da minha cabeça. É ridículo correr do tempo, mas meu corpo em estado ansioso não me corresponde. Minha garganta se torna cada vez mais seca ao pensar na noite que terei pela frente, como uma bela covarde.
Droga! Era uma droga ter que sair dali.
Porém, por mais que eu quisesse...
Contive a respiração. Embora, tão pouco realizasse som, o "tic-tac" vindo do relógio em meu pulso me incomodava, e com todo controle, meus pés ainda seguiam o seu ritmo. Ansiosamente, mantive os olhos fixos nos ponteiros teimosos. Pode-se dizer, como uma tortura. Teria de engolir os olhos negros de Bethany em repreensão ao me ver assim, talvez até dê para considerar seu comportamento. É óbvio que me sinto insegura. Afinal, a quem eu nego, se nem a mim mesma?
Qualquer pedacinho do couro apertado do vestido preto parece roçar em minha pele como ardente, meus seios parecem não se encaixar dentro desse espaço comprimido. Não tem um pedaço de pele que não esteja suprimido. Escondi meu espanto quando tive de experimentar esse vestido tão justo e escandalosamente curto, e acabei aceitando as suas propostas animadas de me adequar à algo mais ousado. E, não sendo pouco, lá embaixo também não se encontra muito conforto... sim, lá mesmo. Pensando bem, Bethany já deveria estar contente por isso.
Contudo, posso afirmar que entendo suas atitudes. Desde que me dediquei a vida acadêmica, é escasso que ao menos tome um gole de uma bebida ou que utilize um resquício de maquiagem. Não tão tarde, amadureci para me regular a uma rotina responsável, ao mesmo tempo que Bethany vivera seu ápice. Agora, no último bimestre cursando o tão ansiado "terceirão", me vejo perdida. Por tanto tempo que abneguei minha vida pessoal, não possuo memórias para recordar além das longas aulas e os livros compridos. Todos esses hormônios-loucos-da-juventude não me afetaram. Não mantive uma sequer relação amorosa, muito menos, tive relações sexuais. Para falar a verdade, nenhuma.
Pouco antes de dar uma última bisbilhotada na localização, olhei para as fendas que atravessavam o gesso no canto mais próximo da parede, inventando possíveis modelos inexistentes.
Seria realmente necessário fazer isso?
Catherine Lancaster. Chamou meu nome, ainda em tom baixo, possuindo minha atenção imediatamente. Aparentava me advertir, mesmo que não me visse detrás daquele grosso pedaço de madeira refinada chamado de porta. Já posso segurar uma bela risada ao pensar. Reprimindo minha inquietação, fiz suspense ao dar pouca abertura para a mesma passar.
- Cat... - pela frecha, seu rosto é espremido, com sua tentativa de espreitar, enquanto o espanto consome sua expressão.
- Fiquei como queria? - mesmo agora, passei a mão pelas ondas louras, tratando as mechas com alvoroço, e ao perceber o acompanhado de suas orbes pelo meu agir, forcei sutilmente um sorriso, apenas com um leve movimento no canto da boca.
- Você poderia parar de agir assim, igual uma boboca? Venha! - obedecendo sua ordem, me pus entre a brecha curta, passando para o lado de fora. Imagino o queimar tendo em vista sua destra abeirando uma banda de minha bunda, e logo, pude ouvir o estalo forte que seu tapa projetou. Parecia uma mãe orgulhosa, mas, claro, por motivo que mães não se orgulhariam - Agora sim podemos ir.
[...]
Concentrei-me no ritmo dos fleches iluminados que invadiam, com toda a queima que preenchia a minha garganta abrenhando a matéria. Emana o indício da essência agrupada que compassadamente se mistura ao todo, não sendo capaz de identificar sequer meu próprio aroma. Imersa na conexão baralhada, meu corpo rebolava livremente, desmanchando tudo que me detinha. A melodia eletrizante ocupava o espaço, apesar do esforço em mantê-la longe dos meus sentidos, transpassava até meu sangue, o fazendo ferver. Em pouco tempo, me adequei à neutralidade que ainda restava no meu corpo em combustão para conceder a atenção para Bethany, que se manifestava com palavras altas, tentando ultrapassar o barulho.
"Só mais um gole, vai, Cat!", tempo em que me empurrava mais umas das pequenas porções de algo, que, de verdade, não sabia o quê, mas aquilo ardia adentro.
Contudo, foda-se, repeti para mim.
- Vamos encontrar o pessoal - berrou, e reparo por sua boca ter aberto mais que o normal, pois pelo som, era um sussurro. Alcancei-a para onde quer que estava indo. Sua mão prensava a minha em um aperto cravejado, ao passo que me arrastava na multidão, esbarrando em corpos desconhecidos - Pressa, estão nos esperando.
Em um percurso emaranhado, equilibrei a tensão petulante. A ideia de estar naquele meio de tanta gente ainda não parecia tão clara, até me distanciar do aglomerado em cada passo. Não sinalizava o fim, até Beth dar de cara com um de seus "amigos" e desprender um grito exagerado. Observo ainda parcialmente escondida. Era loiro, se dispersava dos demais por sua estatura, era difícil seguir seus olhos, sua altura era um aspecto forte, além de sua robustez, com seus braços extensos e largos acompanhados por seus peitões ressaltados na camiseta branca como uma harmoniosa combinação. Ainda que fosse implacável questionar sua beleza, o sujeito não me provoca comoção alguma.
- Catherine, esse é o Levi, aquele que eu queria te apresentar - prontamente, com toda sua vibração, me apresentou - Relaxa, vocês vão se dar bem, eu tenho certeza. Dois nerds juntos dá certinho - E aquele seu rosto convencido de que está certa.
- Oh, então é ele? É um prazer, Levi - Sustentei um entusiasmo falso, empenhando-me em parecer simpática - Bethany tem me falado sobre você.
- É um prazer, Catherine - disse quando seu palmo se uniu ao meu.
- E cadê as meninas? - cortou parte da conversa, deixando de lado o que seria a resposta de Levi. E, num instante, mais uma vez, conduziu-me de acordo a que lugar que o homem fosse. Supostamente, ponto em que as tais meninas estariam.
Quer saber? Cansei disso.
- Bethany! Bethany, Me solta! - atentou-se a virar, denotando um semblante abismado, entretanto, esperançoso. Então, largou o aperto com alvoroço - Eu vou ficar por aí, depois eu te vejo. Qualquer coisa, me liga.
Penetrando na mesma esfera de antes, depressa fui capaz de experienciar novamente os efeitos correntes sobre minhas veias. Todo o calor do contato humano fazendo-se intenso, aprofundando em mim gradativamente, composto daquele meio tempestuoso, integralmente gostoso. Desacorrentando-me, expus parte de minhas coxas ao investir movimentos nos quadris. Com a menor concepção do que estava a fazer, acompanhei apenas o esbraseamento que recheava minha carne. Vagueei, tocando a dimensão de meu torso em direção acima, tratando de apertar os seios à mão, assim descendo de novo e soltando por onde fosse.
Lentamente, se aproximando ao núcleo da abundância de pessoas, distingui uma presença afastada do regular. Dentre o acúmulo, a figura quente à frente notabiliza-se sobre a fusão caótica. Estremecida, despertei logo que captei suas orbes escuras seguindo quaisquer movimento de meu corpo. As mechas negras por sua pele reluzente, evidenciando o seu olhar fervoroso voltado a mim, faz a consistência de sua feição atrevida tornar-se cada vez mais fortificada à medida em que me toco. Oh, Deus! Que errado. Congelei, enquanto o mesmo retira a língua da boca para umidificá-la. O material metal preso em seus lábios é visível, porra, um piercing.
Não, Catherine...
Com pressa, espremendo-me nas pequenas brechas entre o amontoado, desfiz o vínculo, procedendo a iniciativa de voltar com a normalidade. Merda, merda, merda! Acelerei por completo, sem ao menos espreitar o que vinha detrás. Comprimida em espaços insuficientes, tratei de trombar em quem pudesse se pôr a frente, com esforço de avistar qualquer lugar longe dali. Em um trajeto inconsequente, empurrei-me adentro do cômodo parte da primeira porta que enxerguei, notando ser o banheiro. Escorada em junção à parede, prossigo a retornar o fôlego. Ainda que relutante, desejei tê-lo, senti-lo em minhas extremidades, sentir seu pau me devorando por inteiro, ver o suor escorrendo sobre o seus fios soltos à testa e a sua boca sussurrando palavras impuras. Mas, não.
Encobrindo meu rosto com as mãos, presentemente chegada a pia, repliquei por alguma das dezenas de divindades religiosas, que apenas uma, somente uma, me colocasse nos eixos. E, apesar disso, nenhum deles atenderam a meu pedido. Meu íntimo gotejava imaginando seu pau encaixado em minha boceta.
- Por que parou, hum? - seu tom rouco arrastou-me dos desvaneios - Eu sei que está fugindo de mim - foi inevitável meu sobressalto perante à sua voz, resisti virar-me assim que chegou à meus ouvidos, mas sua presença compareceu ágil por detrás, antes que eu procedesse reação. Agora, me desestabilizando.
Adjacente, seu fixar exterioriza-se firmemente quanto a mim, expondo sua lascívia, trilhando e deixando seu inflamar onde quer que posassem, consumindo-me. Por tão pouco, meu rosto converte em vermelho, e em contra partida, tento omitir o constrangimento. Apesar disso, seu modo descarado de agir profere o quão reconhece meu recolhimento e o quão ama brincar com isso. Rejuntei o fôlego, empenhando-me em não autorizar seu magnetismo invadir.
- É da sua conta que eu vá ao banheiro? - encarei seu par de íris pretas, virando-me cara-a-cara. Ao contrário do que aguardava, o vi liberar uma risada, elevando seu polegar sobre os lábios em um ar audacioso.
- Estava tão apertada a ponto de sair cambaleando por cima de todo mundo, sem dizer um mísero "com licença"? - alcançava progressivamente a proximidade, com sua destreza e sua feição atirada, nem sequer afetado pela minha grosseria - Não seja covarde novamente, admita.
Estaquei, desprovida de qualquer saída a suas recentes palavras, buscando desconsiderar o conjunto de efeitos gerados pelo individuo diante de mim. Suas deslocações fluem como se tonasse invencível ao discernir o poder quanto a mim, instigando minha insanidade.
- Eu preciso dar satisfação a ti se eu for covarde ou não? - questionei, dedicando-me em coincidir firmeza, mas minha indelicadeza, de maneira nenhuma, arrancava sua pretensiosidade.
- Vejo que tem uma linguinha muito afiadinha, diferente de suas ações - pronunciou como um murmúrio, de ora em diante, fumegando junto a meus ouvidos. A consistência do rastro de seu respirar abafado originando delírio na mínima consciência que resistia.
Céus, tão quente...
Assim, garantiu a condição enfraquecida de meu corpo, dilatando o desejo manante em meu ser. Sua boca apetitosa, atingindo o meu latejar tão somente com sua entonação, com a ânsia que exibia juntamente de suas pronuncias sujas. Fantasiei sentir sua maciez passando pela toda minha extensão, sugando os líquidos que não cessavam entre minhas pernas de forma antecipada, com a fome que seus olhos constatam. Idealizei a visão do seu emaranhado de fios abaixo de mim, engolindo-me ali mesmo, distribuindo sua prontidão nas invertidas pela minha superfície encharcada.
- Cadê toda sua grosseria? Admita de uma vez. Admita que precisa de mim... - Merda! - Que precisa que eu te foda aqui e agora, diga. Pare de ser uma covarde.
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