Capítulo XIII
Harry — o coelho — havia se tornado o meu melhor amigo. Todas as noites, a partir daquela, eu colocava ele para dormir na cama entre mim e Harry — o homem —.
Eu nunca havia visto o Duque tão irritado. Ele já havia ameaçado de morte o meu coelhinho tantas vezes que eu nem acreditava mais.
— Eu não acredito que você coloca o coelho na cama com vocês. — Tiana riu alto, terminando de limpar o balcão da taverna.
— Estão sendo as melhores noites de sono desde que cheguei aqui. Sem riscos, sem tentações.
— Demorou para admitir que sente atração por Harry.
— Eu vivo com ele. Seria impossível, pela própria lei da natureza, não ter pensamentos incoerentes. — virei o copo na boca. — Nunca pensei que eu beberia em minha vida.
— Inapropriado para uma princesa? — Tiana ergueu as sobrancelhas.
— Totalmente. Não sei o que estou me tornando.
— A sua bebida não tem álcool, Bella.
— Não importa. Há todo o conceito envolvido. — ponderei.
Tiana riu.
— O que eu quero dizer é, se estou passando muito tempo com Harry, devo começar a olhar ao redor. Afinal, eu preciso de um marido de verdade, não é? Devo começar a procurar.
Tiana colocou outro copo no balcão. Virei na boca.
— Bella, esse não era seu! Ele tinha álco...
— Vou começar a procurar agora. — me levantei, sem prestar atenção no que ela havia dito.
O bardo veio dançando e tocando na minha direção. Vendo Harry sentando em uma mesa distante com duas mulheres, percebi que, se ele se divertia, eu também precisava me divertir.
Galante, o pequeno homem se curvou com um sorriso largo sem parar de tocar. Seus cabelos castanhos castanhos encaracolados eram até charmosos.
O segui, começando a dançar com ele. O vestido que eu havia feito possuía uma estampa colorida e uma saia leve e rodada. Todos começaram a bater palmas e o bardo ajoelhou, enquanto eu dançava na frente dele. Todos os homens do bar se aproximavam e começaram a gritar ao som da música.
Pulei e girei, sentindo meu corpo se aquecer. Eu nunca tinha dançado daquela forma. Se qualquer pessoa de Beaumont me visse agora, ninguém jamais diria que era a tímida e refinada Arabella. Sorri, percebendo que havia muita alegria fora dos muros de um castelo.
O bardo passou o alaúde para outro homem e se levantou, começando a dançar comigo. Ele estava, claramente, interessado. Suas mãos começaram a passear pela minha cintura enquanto a gente dançava e, a única coisa que eu vi quando ele avançou para me beijar foi o som de dentes quebrando.
Abri a boca em choque quando Harry esmurrou o pobre coitado no chão. A música animada não parou de tocar, o que significava que eles estavam acostumados com brigas todos os dias. Gritei para que o meu marido falso parasse com aquele teatro e vi dois homens puxarem o bardo, sem um dente.
Dois deles empurraram Harry.
— Se não quer dividir sua acompanhante de luxo, não traga ela aqui! Ela está dançando conosco porque quer!
O homem caiu ao chão. Harry o socou também.
— Ela não é minha acompanhante de luxo. É a minha esposa!
Abri a boca em choque junto com todos do bar e vi o chão quando ele me jogou nas costas.
— Vamos embora Arabella!
Bati nas costas dele, sentindo a raiva me tomar por ele estar me carregando como um selvagem.
— Me solte, Harry! Agora!
— Não!
Bati mais forte. Ele me jogou em cima de Bella — a égua —, desamarrou a corda que a prendia ao tronco e subiu atrás de mim.
— Você é um animal!
— Você também é um deleite, meu bem. — ele me segurou forte pela cintura, fazendo a égua correr ainda mais rápido.
Segurei nos braços de Harry, com medo de cair.
— Não sabe andar a cavalo, não é? — ele sorriu, vendo minhas mãos agarradas ao braço dele que envolvia a minha cintura. — Agora entendi por que recusou andar naquele dia.
— Não lhe interessa!
— Vou te ensinar a andar essa semana.
— Não quero nada que venha de você!
— Não estou entendendo a sua raiva. Eu que estou furioso com você.
— Eu estava me divertindo!
— Dançando em volta de mais de uma dúzia de homens? Perdeu a cabeça?
— Se você se diverte com outras mulheres todas as noites eu também devo me divertir! Ou se esqueceu que eu estou procurando um marido? Você arruinou todas as chances que eu tinha hoje quando gritou a todos pulmões que éramos casados.
— Acha que é assim que irá conseguir um marido? — a voz dele saiu irritada. — Para a sua informação, eu não estou me divertindo com outras mulheres! Estou ocupado passando as minhas desperdiçadas noites com um maldito de um coelho!
— Não fale do meu coelhinho!
— Se colocar aquele maldito animal na cama hoje à noite de novo, eu juro que jogo ele no rio.
— Eu jogo você junto.
E assim, brigamos a noite toda.
Harry — o coelho — dormiu conosco.
No dia seguinte, procurei o livro de romance que estava lendo pela casa. Era o meu preferido, e eu não fazia ideia do porque ele não estava na caixa que eu havia guardado. O dia estava ensolarado e eu estava ansiosa para ir para a minha árvore de refúgio e ficar lá até ver o sol se pôr.
Harry não estava na cabana. Então, sem ter mãos extras para me ajudar a mover alguns móveis para ver se ele havia caído em algum canto, coloquei o tapete novo que tinha bordado em frente à lareira e decidi ir para a árvore mesmo assim. Seria bom observar a natureza por um tempo.
Deixei meu coelhinho comendo cenoura em seu cantinho, que era feito com uma fronha de seda, e andei até a floresta.
Meu queixo foi ao chão quando cheguei à minha árvore.
— Boa tarde, meu bem. — Harry sorriu sem me olhar, deitado em meu tronco com o meu livro nas mãos. Sereno, ele passou uma página.
— Eu só vou dizer uma vez. — respirei fundo. — Desça daí. Agora.
— Por que eu faria isso? — ele passou outra página e tremeu as mãos de propósito, quase deixando o livro cair. — Oh, essa foi por pouco!
— Isso é covardia demais, até para você.
— Não sei do que está falando, querida esposa.
— Eu estou te dizendo. — engoli em seco, fazendo a melhor ameaça que eu podia. — Se o meu livro tiver um único arranhão, você morre.
— Ah, está falando disso aqui? — ele fechou o livro e o levantou, me olhando. — Se quiser, vem pegar.
Comecei a subir na árvore, sentindo minhas veias inflarem de ódio.
— Quando eu chegar até aí, a sua vida acaba Duque Harry.
— Suas ameaças não são boas, minha estrela flamejante. Precisa melhorá-las. — ele abriu o livro de novo, com a testa ligeiramente franzida, fingindo uma falsa concentração. — O que é isso aqui?
— Sei que não está lendo.
— Ah, eu estou. Me parece uma leitura interessante, inclusive as partes que você marcou. — ele pontuou, estarrecido. — Diz aqui: e ele a deu um beijo ardente...
— Não se atreva! — tentei me apoiar no último galho antes de chegar no que ele estava. Meu peito se inflou.
— Então você gosta de beijos ardentes. O que mais será que irei encontrar neste livro? — ele passou outra página.
— O que você quer com isso? Me enlouquecer? — subi no tronco grosso, ficando em pé em cima dele.
— Não, meu bem. — seus olhos brilharam. — Apenas um acordo.
— Outro? Qual é o seu problema?
— Esse é simples. — ele piscou. — O coelho pelo livro.
Soltei uma risada.
— Qual é a graça?
— Não pode estar falando sério.
— Eu estou. — ele ergueu as sobrancelhas.
Parei de sorrir.
— Me dê o meu livro! — andei até ele tentando me equilibrar e senti meu pé escorregar. Ele puxou o meu corpo para o seu colo antes que eu caísse.
— Desista!
— Não! — tentei pegar, falhando inutilmente enquanto ele segurava o livro para cima.
A fúria deu lugar ao constrangimento, no entanto, quando percebi que estava sentada em cima dele.
— Desistiu? — ele falou, com a respiração se misturando a minha.
— Não. — respondi, quase em um sussurro. Ele pegou uma mecha do meu cabelo entre os dedos e me olhou ardentemente, com aqueles olhos azuis de tirar o fôlego.
— Seu cabelo é da cor do pôr do sol.
— Não finja agora que é um poeta. — Apoiei a minha mão no peito dele, sólido e quente. Quando ia retirar, ele a segurou. Senti o pulsar do coração dele em minhas mãos. Uma onda de calor inevitável me inundou.
— Posso te mostrar um beijo muito melhor do que o dessa história. — a pupila de Harry dilatou, deixando os olhos azuis negros e intensos conforme ele olhava para os meus lábios.
— Seu ego cega os vossos olhos.
— Eu não preciso enxergar para ser bom no que faço, meu bem. — a mão livre dele me firmou pela cintura, me trazendo ainda mais para si. Seus penetrantes olhos azuis interrogavam os meus. — Quer que eu te mostre?
— Não desperdice seu infindável pote de orgulho masculino comigo. — tentei firmar a voz, inteiramente consciente no toque dele e da respiração se misturando a minha. — Não acredito em uma palavra que diz.
— Não preciso de palavras também. — ele sussurrou em minha boca. A voz grave dele foi a última gota.
Foi como tentar controlar o calor de uma fogueira, queimando em chamas. Então, sem que eu conseguisse pensar ou tentar resistir, nós nos beijamos, com raiva, e foi bom.
Foi tão bom que cada pedacinho de mim cedeu, e isso me quebrou porque eu estava lutando. Eu estava lutando com todas as forças para manter meu coração longe, afastado o suficiente com regras e condições estabelecidas.
Eu sabia que o meu coração tinha facilidade para criar fantasias de romance ilusórias e perfeitas que não existiam. Para criar um amor que não se passava de uma mentira. Harry não gostava de mim, mas me desejava. Eu conseguia sentir isso conforme ele me tocava.
O beijo e o calor dele contra o meu era real.
Eu não sabia dizer ao certo se foi ele que tomou a atitude, ou eu mesma, mas não importava. Não quando, depois do beijo, a manga de meu vestido foi descida pelos seus dedos e substituída pelos seus lábios, que envolveram meu pescoço e ombros. Não quando eu sentia a respiração dele em minha nuca. Não quando eu estava prestes a perder a cabeça.
— Uou! Isso não é algo que se vê todo dia em uma floresta! — uma voz masculina nos assustou, fazendo com que nos separássemos rápido.
Olhamos para baixo. Era Jacob.
— Eu nunca tinha pensado em namorar em cima de uma árvore antes, querido, por que nunca teve essa ideia? — apareceu Tiana, com um travesso sorriso no rosto.
— Se isso é um casamento de mentira, acho bom desmancharmos o nosso também amor.
— Concordo. Nunca pensei que fingir um compromisso era tão emocionante.
— Já terminaram? — Harry disse com a voz grossa, enquanto eu descia, com o rosto queimando de vergonha, da árvore.
— Ah, não, não mesmo. — os dois sorriram.
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