Capítulo X
— Arabella Beaumont, me cede à honra desta enfadosa dança?
— Se esqueceu que agora eu sou Arabella Sírios de Avondale. — coloquei minha mão sobre a dele, sentindo ele me puxar para a dança. — Não estamos fingindo muito bem.
— Fingiremos melhor então, meu bem. — suas mãos puxaram a minha cintura para perto do seu corpo. Arfei, surpresa pela ação. Estávamos... perto demais.
— Não é preciso exagerar, Harry.
— Se faço algo, faço bem feito. — ele disse, quase com a boca colada à minha.
A música trocou de ritmo e ele me girou. Suspirei de alívio ao me afastar, mas durou pouco tempo. Seus braços me envolveram novamente e o seu nariz pousou em meu pescoço, me causando um arrepio.
— Definitivamente cereja.
— Nin-ninguém está dançando dessa forma. — disse, me repreendendo pela voz ter saído tão falha.
— Não percebi, só estou prestando atenção em você.
— O senhor não passa de um conquistador barato.
— Já passamos da fase em que você me chama de senhor, Bella, já lhe disse isso.
— Estou tentando me acostumar, já que logo não seremos mais casados.
— Não é necessário. Ninguém jamais irá roubar o meu posto de marido de mentira.
— Deve considerar que eu terei um de verdade.
— Sempre estarei disponível para quando precisar de um de mentira. — ele beijou o meu pescoço. Abri a boca em choque e dei um passo para trás, agradecendo mentalmente a música pelo momento de se afastar.
Os pares trocaram. Dei as mãos ao próximo cavalheiro e girei, repetindo o mesmo passo com todos os outros até voltar ao que eu não desejava.
— Verdadeiramente, o senhor não vale uma única moeda de bronze. — disse, engolindo em seco, quando nossas mãos se tocaram.
— Eu nunca disse que valia algo, meu bem.
Suspirei. Eu detestava aquele sorriso. Aquele maldito sorriso carregado de um humor irresistível que fazia as minhas pernas estremecerem.
— Para quem disse que não gostava de dançar, está se saindo ousado, até demais.
— Eu disse que não gostava, não disse que não sabia. — os dedos dele acariciaram as minhas costas por dentro das amarras das costas do vestido.
A música acabou, me fazendo soltar a respiração que percebi que havia prendido. Eu nunca havia dançado daquela forma. Senti raiva. Uma dança não devia ser assim! Eu mal consegui prestar atenção na música e nos passos...
— Fica linda quando está vermelha, imagino que esteja com raiva. — ele sussurrou em meu ouvido, me causando outro arrepio. Levantei a mão para batê-lo quando vi que as pessoas ainda nos observavam.
Harry sorriu, colocando as mãos para trás do corpo.
— Não me insulte ainda, meu bem. Tentarei manter as minhas mãos longe de você, eu prometo.
— Nada me deixaria mais feliz. — menti, observando um servo passar com bebidas.
Engoli a taça inteira de vinho.
— Está com sede! — ele sorriu, de forma convencida. — Vem, vamos comer algo.
Ele estendeu novamente o braço para que eu segurasse. Sem ter como recusar, sorri para as pessoas que nos olhavam e andei com ele até a grande mesa de comida.
— Nós podíamos levar um pouco disso tudo aqui para casa. Não trouxe nada que possa ser usado como bolsa?
— Harry! — o repreendi, vendo ele juntar diversos pedaços de frango enrolados em algum tipo de massa em um lenço e guardar nos bolsos do casaco.
Como aquele homem havia se portado como um Duque, um dia?
— Não vou lhe dar quando chegarmos em casa. A sua comida não é muito boa, meu bem.
Franzi os olhos, querendo matá-lo.
Ao perceber que era isso que ele desejava, decidi o ignorar e peguei o que parecia ser um pedaço de bolo. Me surpreendi quando senti um gosto amargo e salgado junto.
— Escolha errada, minha estrela flamejante. — ele disse no meu ouvido. — Isso se chama Tondol. É o pior doce inventado na cultura de Sírios.
— Concordo. — cuspi em um lenço, jogando em um lixo atrás da mesa.
— Isso sim é algo digno de ser chamado de doce. — ele colocou algo em minha boca, antes que eu pudesse ver o que era.
Antes que eu reclamasse, fechei os olhos apreciando o sabor. Era realmente muito bom.
— Achou gostoso? — ele sorriu.
Assenti, terminando de mastigar. Ele se aproximou e levou os lábios ao meu ouvido.
— É feito com cereja.
Tossi, sentindo o alimento engasgar em minha garganta.
— Ah, que belo casal! — uma mulher se aproximou, com uma gigante peruca cinza coberta por flores. Formei o melhor sorriso falso que consegui.
— Condessa Charlotte! — tentei não revirar os olhos quando ela me abraçou. Como essa mulher havia vindo parar aqui? Ela estava em todo lugar!
— Esse é o seu belo marido? — ela tocou no peitoral de Harry, me fazendo arregalar os olhos. — Oh, que belo Duque você fisgou, querida.
— É uma prazer conhecê-la, madame. — Harry afastou as mãos dela, com gentileza.
— E então, quais são as novidades? — ela abriu o leque. — Arabella, minha amiga, percebo que ganhaste alguns quilos... têm comido muito?
Abri a boca, em estado de choque. Eu não havia engordado!
— Devo discordar da vossa opinião, madame. O corpo de Arabella certamente me agrada aos olhos e creio que qualquer homem concordaria com isso, mas eu jamais perguntaria, já que ela é a minha esposa. — Harry disse, antes que as minhas palavras raivosas saíssem. Senti meu rosto arder. — A senhora, no entanto, perdoe-me mas devo perguntar... está se sentindo bem? Imagino que seja difícil comparecer aos bailes com essa idade.
O queixo dela foi ao chão.
— Idade? — ela parou de sorrir, percebendo, logo depois, que estava conversando com um Duque. Pelo menos, um que ela pensasse que ainda possuía terras. Se acalmando, ela voltou a sorrir. — Não sou tão velha como pensa, Vossa Graça.
— De fato. — ele assentiu. Ela soltou a respiração, parecendo aliviada. — Eu estava sendo modesto.
Segurei uma risada, ao ver os olhos dela se arregalarem. Ela fechou o leque, parecendo nervosa.
— Estou atrasada, devo encontrar uma amiga agora, ela está no salão.
— Fique à vontade, Condessa. — dei tchau a ela, que se irou ainda mais ao perceber que estava sendo expulsa.
— Está ficando tão amável quanto a sua irmã que acabei de cumprimentar. — ela saiu, com um sorriso forçado e postura altiva.
Sorri para Harry.
— Não precisava ter feito isso. Obrigada.
— Não é nenhum esforço dizer a verdade.
O espaço entre nós dois começou a parecer pequeno demais.
— Minha irmã está aqui? — tentei mudar de assunto. — Deve ser Violetta.
— Vamos procurá-la. — ele segurou a minha mão e me puxou, me causando uma sensação boa. Por um momento, era como se estivéssemos realmente casados. Ponderei se a sensação seria ainda melhor quando eu tivesse um marido de verdade.
Encontrei o vestido vermelho de minha irmã se destacar por entre a multidão.
— Vi! — soltei a mão de Harry, correndo em direção à ela para abraçá-la.
Uma felicidade tomou o meu coração. De qualquer pessoa no mundo, não havia outra que me entenderia tanto como Violetta. Ela ficaria extasiada ao saber da história maluca em que eu havia me metido. E quando eu contasse sobre Tiana? Eu poderia desabafar e, quem sabe, conseguir alguns conselhos...
— Finalmente uma pessoa sensata com quem eu possa conversar. — ela me apertou de volta.
— Espera, esqueci que é minha irmã, então talvez fosse melhor eu trocar a palavra sensatez...
— Pare de dizer bobagens. — sorri, segurando as mãos dela. — Eu tenho tanta coisa para te contar. Por que não me escreveram?
— Oh Bella, não soube? — a expressão dela se fechou.
O príncipe Christian se aproximou, nos cumprimentando.
— Não soube o que? — parei de sorrir para o meu cunhado, vendo a minha irmã me olhar de forma apreensiva.
— Ceci perdeu o bebê.
Meu chão desabou.
— O quê?
— Viemos dar a notícia, não achamos que seria adequado avisar algo tão sério por carta. Alguns boatos se espalharam, mas não sabíamos qual versão chegaria até aqui. — completou Christian.
Harry segurou em minha mão e acariciou os meus dedos, em forma de consolo. Tentei segurar a vontade de chorar.
— Ela está bem? — ele perguntou o que eu não conseguia perguntar.
Como a minha irmã estaria suportando passar por algo assim? Ela e Apolo esperaram esse filho por tanto tempo...
— Na medida do possível. — Vi fitou os olhos aos meus, como uma declaração silenciosa de que era pior do que eu pensava.
— Como isso pôde acontecer? Já estava perto de nascer!
— Não sabemos. Ela passou muito mal e o médico disse que se não tirasse a criança, os dois morreriam. Nosso sobrinho não suportou.
— Era um menino. — senti a lágrima descer. — Irei à Beaumont vê-la.
— Não acho uma boa ideia, Bella. — minha irmã suspirou e limpou a minha lágrima. — Eles não estão mais por lá.
— Como assim?
— Eles decidiram que era melhor dar um tempo de tudo. Os dois precisavam ficar sozinhos, e no Palácio, era algo meio difícil já que surgiam problemas a cada minuto. Então eles viajaram, mas não disseram a ninguém o destino. Estão fora há cerca de quinze dias. Nossa mãe está segurando as pontas enquanto isso.
— E eles disseram quando voltam?
Christian franziu o cenho.
— Não.
— Como o povo está reagindo? — perguntou Harry, sem soltar os dedos dos meus.
— Estamos tentando esconder o máximo que pudermos, mas já estão começando a desconfiar do sumiço deles. — respondeu Vi, se apoiando ao braço do marido. Sua expressão estava cansada. — Quando isso explodir, se eles não tiverem voltado, não sei o que faremos, e é por isso que viemos atrás de vocês dois.
— O que nós podemos fazer? Não há como procurar Ceci e Apolo pelos oito reinos!
Christian olhou para Violetta, que levou as mãos à testa.
Eu conhecia aquela expressão. Ela estava escondendo algo de mim.
— Vi? Fale!
— Bom, vocês sabem que eu já possuo um reino, não é? Eu sou rainha de Várzea agora, o que tem me dado uma terrível dor de cabeça...
— Está sendo tão ruim assim? — Christian ergueu as sobrancelhas, olhando para ela.
— Não, amor. — ela soltou os ombros. — Nosso casamento não me dá dor de cabeça, todo o resto que dá.
Ele sorriu e beijou a bochecha dela.
— Tudo bem, então. Eu amo você.
— Eu amo você.
Harry e eu nos olhamos, soltando uma respiração incômoda. Ainda parecia a visão do fim das eras ver Violetta dizer que amava alguém.
O Duque limpou a garganta.
— Então, o que estava dizendo, querida cunhada?
— Não temos esse tipo de intimidade ainda. — Violetta o cortou.
Segurei uma risada em meio à lágrima, percebendo que a delicadeza da minha irmã era apenas destinada, unicamente, ao príncipe dela.
— Você também parece não ter mudado. — disse Harry.
— Eu nunca lhe vi quando era pequena. — Vi revidou. — Só lembro das histórias que Bella conta.
— Você jogou uma pedra em mim quando eu te dei oi!
— Parece algo que eu realmente faria.
Christian concordou.
— Vamos esquecer o passado. — olhei para a minha irmã, nervosa. — O que estava tentando dizer? Pare de enrolar Vi, sei que está evitando o assunto. Você não sairia de Várzea para vir a uma festa. Sei que detesta festas.
— Você já sabe o que eu vim dizer Bella, só não se deu conta ainda.
— E irei demorar mais ainda para entender se não falar.
Os dois se olharam e deram as mãos, falando juntos:
— Vocês dois são os próximos na linha de sucessão.
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