Epílogo
Dia da coroação e casamento real
Aniversário de 21 anos da princesa primogênita Cecília Beaumont
Acordo sentindo um perfume de orquídeas pelo quarto. O sol entrava pela janela como poucas vezes eu havia presenciado em Beaumont, marcando o início da primavera. Abri os braços tentando retirar a sensação preguiçosa de meu corpo e pego as flores brancas que estavam em minha cabeceira, abrindo o bilhete que havia dentro delas logo em seguida.
Bom dia, minha princesa. O dia amanheceu mais bonito porque hoje, você realizará o seu sonho de se tornar uma rainha. Não serei modesto fingindo que não estou feliz, porque também realizarei o meu. A partir de hoje, terei você para sempre. Feliz aniversário.
Eu te amo,
te espero no altar.
Do seu Apolo.
Sorri levando as flores ao nariz. Apolo ainda era capaz de me surpreender, das melhores formas possíveis. Um calafrio percorreu em meu estômago ao me dar conta de que nos casaríamos, e que a partir de hoje, eu alcançava a idade necessária para sentar no trono que era de meu pai.
Fecho meus olhos tentando imaginar a voz dele em minha mente, dizendo que eu era forte e determinada, e que hoje seria um lindo dia. Eu sabia que seria.
Em questão de minutos, minhas criadas adentraram meu quarto com um sorriso largo no rosto, e uma enorme equipe de costura e beleza. Mal consegui tomar meu desjejum pois eu não sabia o que fazer primeiro. Comer, experimentar novamente o vestido, arrumar o cabelo, escolher o sapato, fazer a maquiagem ou agradecer pelos presentes de aniversário.
— Ainda não está pronta?! — mamãe entra desesperada no quarto, com bobes no cabelo e um batom pela metade. — Daqui a pouco o Palácio estará lotado. Se apresse, Cecília! — ela sai correndo pela porta e desaparece no corredor.
— Nossa mãe terá um ataque cardíaco. — Violetta entra sorrindo e me dá um tapinha na cabeça. — Feliz aniversário, azeda.
— Obrigada, Vi. Eu acho. — digo e levanto o braço discretamente. Eu estava fedendo? Meu perfume era de rosas!
— Parabéns para a melhor irmã do mundo! — Bella entra de muletas com um lindo vestido bordado rosa que não precisava de espartilho. Ela precisava usar vestidos mais leves até se recuperar totalmente.
— Hoje não é meu aniversário. — responde Violetta, me fazendo revirar os olhos.
— Obrigada Bella. — digo tentando enxugar as mãos no robe que vestia. — Estou nervosa.
— Por qual parte? Ser coroada na frente de cinco reinos e toda a população de todas elas, ou pela de se casar e passar a noite com um certo soldado bonitão? — Vi se senta em minha cama e morde um pedaço de banana.
— Violetta! — exclamo sentindo minhas bochechas corarem. Bella começa a rir e segura em minha mão.
— Ela só está te provocando, Ceci. Respira! Dará tudo certo.
— Eu não sei... tantas coisas podem dar errado. O povo pode resolver me detestar e jogar tomates, os nobres podem desistir de me apoiar de última hora, o reverendo pode deixar a coroa cair, Oliver pode aparecer das profundezas e meu casamento pode ser um fiasco porque eu não consigo parar de pensar no tal feitiço que diz que o amor que eu e Apolo sentimos não é verdadeiro! — desabafo de uma vez sem respirar embolando uma palavra na outra e vejo minhas irmãs e as criadas me encararem chocadas com meu desespero.
— O quê? Ceci, você está preocupada com isso? — Bella aperta a minha mão e se senta na cadeira, colocando as muletas de lado.
— Oliver estava mentindo, irmã. — Vi diz jogando a casca da banana no lixo.
— E se ele não estava? — digo sentindo minhas mãos começarem a tremer. — Eu amo Apolo, eu sei que é um absurdo eu duvidar disso, mas desde aquela noite isso ficou cravado em minha mente e eu não consigo tirar! Eu vou me casar. Ficaremos juntos pelo resto de nossas vidas. E se o que ele sente por mim não for real e ele só descobrir isso depois e não me quiser mais? E se...
— Ceci, você está surtando! — Violetta segura em meus braços e me olha no fundo dos olhos. — Não enlouquece. Apolo te ama. Você o ama. Se o infeliz do Oliver aparecer, eu enfio uma faca nos olhos dele. Para de ser insegura. Entre logo neste vestido reluzente bordado com cristais, saia lá fora, receba sua coroa de ouro, beije seu marido, vá ser feliz e pare de criar situações catastróficas.
— Olha, eu nunca achei que diria isso, mas Vi está certa. — diz Bella com uma expressão impressionada.
— Eu amo você. — digo olhando para a minha irmã rebelde e sentindo a tensão de meus ombros melhorar.
— Eu sei.
— QUINZE MINUTOS! — mamãe coloca a cabeça para dentro do quarto novamente e sai correndo, com um sapato de cada cor. E eu que pensava que estava nervosa.
Abro os braços trocando de roupa e minhas criadas me ajudam a colocar o vestido. Quando me olhei no espelho, mal consegui acreditar em meu próprio reflexo. Eu estava da forma como sempre sonhei.
Os cristais do vestido branco que revestiam a manga longa e que desciam por toda extensão até a barra me faziam parecer uma verdadeira rainha. Segurei uma lágrima que quis descer, e senti como se papai estivesse me observando naquele exato momento. Ele diria que eu estava linda.
Quando Beverly terminou o perfeito penteado preso em meu cabelo junto ao véu, meu novo guarda Michael, que também era um dos irmãos mais novos de Apolo, bate com educação na porta e faz a reverência.
— Com licença, meu irmão pediu alguns minutos a sós com vossa alteza Cecília.
— Não! Apolo não pode ver Cecília vestida de noiva antes do casamento. — diz Bella, com os olhos azuis arregalados.
— Cecília? — a voz de Apolo surge do outro lado da porta e Violetta a fecha desesperada sob o comando de Bella.
— Não foram vocês que acabaram de me dizer para não acreditar em feitiços e superstições? — as olho incrédula e me aproximo da porta, esperando que ele ouvisse a minha voz. — Apolo? Aconteceu alguma coisa?
— Eu não irei entrar, não se preocupe. — ouço sua voz abafada do outro lado. — Só tenho uma notícia para dar que acabei de receber dos outros guardas. Queria ser o primeiro a lhe contar. Os pescadores do norte encontraram um corpo em decomposição perto de um rio.
— Um corpo? — pergunto e a porta se abre um pouco. Apolo coloca a mão para dentro e eu a seguro, entrelaçando nossos dedos.
— Finalmente, Oliver está morto.
— Como? — ouço o grito de felicidade de Violetta. Ela abre a porta do quarto e sai com Arabella, ignorando o fato de que eu estava louca para ver Apolo, e que eu era a única que não podia fazer isso. — Me diga que é verdade, Carter.
— O corpo estava irreconhecível, coberto de abutres, mas encontraram o anel dele no dedo. — ouço a voz dele do outro lado da porta com elas. — Trouxe para provar.
— Eu estou indo aí.
— NÃO SAI CECÍLIA. — minhas irmãs gritam juntas e eu reviro os olhos, sentindo a mão de Apolo acariciar meus dedos.
— É realmente o anel dele, finalmente esse pesadelo acabou. — era a voz aliviada de Bella.
— Ceci, nós vamos descer. Te esperamos lá embaixo. — diz Violetta, e em segundos escuto as vozes de todos descendo. A mão de Apolo permanecia segurando a minha.
— Está nervosa? — ele sussurra, beijando a minha mão. Eu queria quebrar aquela porta.
— Muito.
— Quer desistir?
— Jamais.
— Eu amo você. — ele acaricia meus dedos novamente e, em meu íntimo, eu tive certeza. Certeza de que o nosso amor era real, e que não havia homem algum no mundo que se comparasse a ele. Sinto a minha voz sair suave e solto a sua mão, pronta para descer e mudar a minha vida. Para sempre.
— Eu amo você.
Aperto firme em minhas mãos o bouquet em forma de cascata com flores de cardo azuis, ramos de murta, rosa spray branca e hera e muguet (que significava ternura e retorno da felicidade), sentindo-me ansiosa da ponta dos pés até os fios loiros de minha cabeça.
Eu podia continuar olhando fixamente para as flores em minhas mãos colhidas no próprio jardim de Beaumont, ou encarando a porta fechada cravada com o símbolo do leão do brasão, mas não conseguia focar nos em nenhum dos dois por muito tempo.
A música começou a tocar. Quando o guarda tocou no batente da grande porta de entrada do palácio para a minha grande entrada, tive a sensação de estar sendo observada. Pedi que o guarda parasse a abertura da porta e olhei para trás, sentindo um enorme calafrio.
Antes que eu cogitasse a possibilidade de ser apenas o meu nervosismo o causador da sensação estranha, a pessoa aparece e me olha no fundo dos olhos.
Era a feiticeira da vila.
Seu corpo continuava coberto por uma enorme capa vinho, mas seus olhos pesados eram impossíveis de não serem reconhecidos. Dois guardas partiram em sua direção para segurá-la antes que ela desse mais um passo em minha direção, e ela começou a gritar que queria falar comigo.
— Deixe-a. — digo sem pensar. Os guardas permanecem a segurando e eu ando em sua direção, sentindo o medo me invadir. — O que queres?
— Vim entregar meu presente de casamento à futura rainha. — ela se prostra em reverência.
— Não precisa ter dúvidas em seu coração, alteza.
— Do que está falando?
— O feitiço para ti e o nosso futuro rei, só duravam até o fim do dia em que o doce era ingerido. Feitiço algum é capaz de criar e manter um amor tão forte quanto o de vocês dois.
— Como... como a senhora sabe... — começo a dizer e a música do lado de dentro começa a tocar de forma mais alta. Me viro para olhar e quando volto, a velha mulher já havia desaparecido. Os guardas não souberam o que dizer.
— Ceci? — a porta é aberta e Violetta aparece, colocando a mão no coração. — Ufa, você está aqui. Apolo está suando no altar, todos já estão achando que a princesa desistiu.
— Eu estou indo... — respondo sorrindo sem perceber. Como eu havia sido tão tola ao duvidar do que eu e Apolo sentíamos?
— Vou voltar lá para dentro e pedir que a música recomece. — Vi entra e a música retorna do início. Me posiciono no mesmo lugar que estava antes, e seguro as lágrimas quando a porta é aberta.
O salão estava perfeito. Pisei no tapete vermelho e sorri quando as duas crianças da aldeia que eu havia convidado começaram e jogar pétalas brancas conforme eu andava. Ao fundo, os bardos tocando alaúde, violino e piano.
Das duas laterais, os convidados sorriam iluminados pelos lindos raios de sol que entravam das janelas de vidro. O enorme lustre no centro completava toda a bela decoração, bem como as flores brancas adornando toda a extensão do local. Tudo era capaz de prender o meu olhar, mas nada se comparava ao mais impactante: o olhar de Apolo.
Andei sem conseguir me desviar dos seus olhos escuros, nos quais era tão fácil se perder. Meu coração parecia não se conter em meio a tantos sentimentos que me invadiam conforme nossa distância diminuía. Quando cheguei no altar, Violetta pegou meu bouquet e Apolo beijou a minha mão, sem retirar seus olhos dos meus.
Ele usava um uniforme real de um príncipe, preto e branco, com direito a uma espada dourada e o colarinho vermelho que indicava a cor do brasão do reino. Quase perdi meu próprio equilíbrio.
— Estamos aqui nesta noite para a união matrimonial dos nossos futuros rei e rainha, e para a coroação que marcará uma nova era em Beaumont. — o reverendo começa a falar, e os dedos de Apolo se entrelaçam aos meus. Minha mãe e minhas irmãs estavam sentadas no local separado para a família monarca, em cadeiras douradas.
— O laço de vocês, a partir desta cerimônia, jamais será quebrado. — o reverendo continua (depois de tantas palavras que eu não havia conseguido prestar atenção) e nos traz as alianças, apoiadas em uma almofada vermelha. — Repitam os votos um ao outro.
— Eu, Cecília Louise...
— Eu, Apolo Reid Carter...
— Prometo amá-lo e respeitá-lo...
— Na alegria e na tristeza...
— Na saúde e na enfermidade...
— Enquanto eu viver...
— Por todos os dias da minha vida.
Com o olhar e o toque das mãos de Apolo, todo o meu medo se dissipou, a cada promessa que fazíamos um ao outro. Nossos anéis de ouro branco foram colocados, e finalmente, a minha frase preferida de todas as cerimônias de casamento foi dita.
— Pode beijar a noiva.
Apolo tocou o meu rosto e eu sorri, fechando os olhos completamente ansiosa para beijá-lo. A sensação dos seus lábios na minha pele, no entanto, fora em um local que eu não esperava. Apolo me beijou na testa, e sussurrou em meu ouvido:
— Nos beijaremos quando isso tudo acabar, minha Cecília, em particular. Quero você inteiramente para mim, sem o olhar de milhares de pessoas.
Sorri escondendo a minha frustração e a minha ansiedade, que me causou um arrepio da cabeça aos pés. Apolo ainda iria me matar.
Após o beijo, todos os convidados se ajoelharam. Era o momento da coroação. Eu e Apolo subimos às escadas diante aos tronos, adornados com prata e outro. A rainha se levanta com uma postura ereta e queixo erguido.
Seu vestido de gola alta bordado de esmeraldas parecia flutuar conforme ela andava. Seus olhos encontraram os meus e ela sorriu, inclinando a cabeça para o reverendo retirar a sua coroa, em uma cena que me fez querer chorar. Eu queria ser uma grande rainha como a minha mãe.
— Esta é a última vez que ambos irão se ajoelhar diante de outras pessoas. — o reverendo diz e eu e Apolo damos as mãos, nos ajoelhando em frente a todos.
— Princesa Cecília Louise Reid Beaumont, primogênita do grande rei Joseph Francis Beaumont III, a primeira de seu nome, você jura servir e proteger seu povo, sendo justa e fiel, por todos os dias de seu reinado?
— Eu juro. — estas duas palavras deveriam ser repetidas cinco vezes, em todas as línguas dos outros reinos. Apolo havia se esforçado para aprender a dizer "eu juro" em todas, mas eu, como uma boa professora, o dei um bom incentivo de beijos para cada acerto.
— Príncipe Apolo Reid Carter Beaumont, herdeiro de Russo, o primeiro de seu nome, você jura servir e proteger seu povo, sendo justo e fiel, por todos os dias de seu reinado?
— Eu juro. — a entonação dele sai perfeita, em todas as cinco línguas. Quis beijá-lo naquele exato instante.
Soltei uma lágrima quando a coroa de ouro branco e dourado, cravado com diamantes e safiras, foi posta em minha cabeça. O peso da coroa me fez perceber o duplo significado que ela tinha. De agora em diante, eu sabia que nada mais voltaria a ser como antes.
O povo estava sob minha responsabilidade, e minhas ações e deveres atingiriam muitos em larga proporção. Sentir a presença de papai, naquele momento, me fez sorrir.
Olhei para Apolo e percebi que não havia homem algum em que eu quisesse que estivesse ao meu lado além dele.
Depois de tudo que nós havíamos passado, e de todas as vezes em que ele arriscou a própria vida para me salvar, eu não tinha dúvidas de que ele era o meu guarda encantado. Nos levantamos juntos e sentamos no trono. Todos se ajoelharam, abaixando a cabeça em reverência quando seguramos o cetro.
— Vida longa à rainha Cecília e ao rei Apolo! — alguém em meio ao povo gritou, e todos os seguiram com saudações e aplausos. Vi a família de Apolo em meio aos convidados e sorri, sabendo que de agora em diante, eles também seriam a minha família.
O novo brasão de Beaumont desceu em uma enorme cortina, nas cores azul, preto e branco. Lembrei da pergunta de papai, que dizia que a cada novo lema marcava uma nova era.
— A você papai, prometo ser corajosa e justa, firme e forte, sem hesitação. — sussurro para mim mesma, e olho para Apolo, que sussurrou que me amava. Para sempre.
— Qual será a nova frase? — Violetta pergunta, quebrando toda e qualquer regra de que uma princesa não podia gritar. Sorri sabendo que a partir de hoje, muita coisa mudaria.
Apolo pretendia treinar os garotos mais novos e fornecer estudo aos mesmos, bem como a população mais pobre do vilarejo. Eu colocaria em prática a ideia de recrutar guerreiras, que aumentariam a guarda e aumentariam a proteção do Palácio. Estávamos iniciando uma nova era, o que me partia ao meio.
Sentar neste trono significava substituir papai, mas em meu interior, eu sabia que uma parte dele sempre estaria comigo, e aqui. Valente como um leão, forte como um dragão. A minha frase jamais será tão boa como a sua, papai. Penso comigo mesma.
Olho para o brasão de duas espadas se chocando e um coração ao meio sem se partir, e falo alto junto com Apolo. Nossas mãos não se separaram, e a partir daquele dia, eu sabia que jamais se separariam.
— Corajoso como um guardião, forte como um inquebrável coração.
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