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Capítulo XXXVII


De forma espontânea, Apolo havia voltado a agir como o meu guarda. Ele era o meu melhor abraço. O meu melhor silêncio, e o meu único sorriso. Apolo foi o meu chão, a minha base de sustentação para que eu conseguisse me manter em pé nos dias que se seguiram. Ele segurava a minha mão todas as noites antes de dormir, e permanecia a segurando durante todas as manhãs.

Os poucos guardas que haviam permanecido fiéis no castelo eram, em maioria, os garotos mais novos que haviam sido recrutados, e pela primeira vez em todo esse tempo, eu não queria que Apolo fosse mais o meu guarda. Ele era bem mais do que isso.

Não era certo.

— Você não deve... não deve mais usar esse uniforme. Não deve continuar sem dormir por minha causa... ficar horas parado em minha porta. Não tem essa obrigação...

— Não é uma obrigação para mim, minha Cecília. — ele retira uma mecha do meu rosto e acaricia a minha bochecha, ainda segurando a minha mão. — Quero protege-la, estar ao seu lado. Lhe ver sofrendo quebra-me por inteiro. Não me importo em retornar ao meu antigo posto se eu estiver por perto novamente.

— Nós... precisamos conversar. Sobre nós dois...

— Ei... — ele passa o dedo em uma lágrima que eu não havia sentido descer, e me olha com carinho. — Não precisamos pensar nisso agora. Eu estarei aqui, no mesmo lugar, esperando por você por quanto tempo for necessário. Sei que precisa de um tempo, e sei que para ficarmos juntos ainda há certos caminhos a se enfrentar.

— Não conversamos... no dia do enterro... sobre o príncipe Christian...

— Eu não preciso saber. — ele beija a minha mão, e se senta ao meu lado na cama. — Confio em você.

— Alteza, o seu chá... — Beverly, minha criada, entra no quarto com a bandeja e para ao observar Apolo sentado ao meu lado. — Oh, me perdoem a intromissão...

— Pode deixar aí em cima Bevy, muito obrigada. — sorrio apertando firme a mão de Apolo o impedindo de se levantar e sair. Ela deixa a bandeja na cômoda, faz a reverência e sai.

— Isso ainda é... desconfortável.

— Não quero mais que seja.

— Eu irei resolver isso. — ele beija a minha mão e se levanta. — Já disse uma vez e cumprirei, não sairei do seu lado enquanto me quiser aqui. Só preciso quebrar esta regra hoje. Irei fazer uma visita à casa de minha mãe, provavelmente ficarei fora por alguns dias. Coloquei um guarda amigo meu de minha confiança para me substituir enquanto eu estiver fora.

— Sua mãe? Aconteceu alguma coisa?

— Depois de eu ter sido quase morto por diversas vezes nos últimos tempos, creio que ela esteja deveras furiosa comigo. — ele sorri. — Além do mais, preciso levar um pouco de dinheiro.

— Oh Deus, o salário dos guardas... — levo as mãos ao rosto ao lembrar que tinha me esquecido do último pagamento. Papai resolvia estas coisas...

— A rainha já cuidou disso. Vossa mãe tem conseguido manter com firmeza as partes burocráticas e administrativas do palácio.

— Quem dera eu tivesse a metade da força dela. — me levanto e fico em frente a ele, entrelaçando nossos dedos.

— Você tem, minha princesa. — ele beija a minha testa. — Preciso ir.

— Eu sei que esse pedido já se tornou rotina, mas sempre fico aflita quando ficamos longe. Me prometa que irá voltar. — engulo em seco e sinto os lábios de Apolo tocarem lentamente os meus.

— Eu sempre voltarei para você.


— Bella? — bato em seu quarto e entro, escutando duas risadas. Minha irmã estava sentada sob a cama, com o corpo ainda repleto de hematomas. Vi pentava seu cabelo enquanto ela fazia uma cara de dor.

— Ceci, até que enfim chegou! Violetta quer terminar de me matar, a mão dela é tão pesada quanto a de um rinoceronte. Por favor, salve-me desta tortura. — ela diz fazendo uma cara de drama e Vi abre a boca em estado de choque.

— É isso que dá tentar fazer um ato gentil. Arabella é uma ingrata.

— Me passe essa escova para cá. — sorrio e pego a escova de Vi, sentando com as duas na cama. — Você nunca teve a mão leve minha irmã, admita.

— Vocês que são duas frescas. — ela cruza os braços fingindo estar emburrada, e nós duas rimos. Começo a pentear os fios ruivos da minha irmã, sentindo um aperto no peito ao ver as enormes marcas roxas que possuíam em seu pescoço.

— Está melhor Bella? As dores estão passando? — pergunto engolindo uma saliva.

— Ainda é difícil pra dormir. — ela admite baixo, e dá um sorriso doce e fraco. — Mas o importante é que estou bem. Não sei como sobrevivi a queda que tive daquela escada... sinto como se eu tivesse ganhado uma segunda chance, entende?

— Sim. — respondo me lembrando de quantas vezes eu já havia escapado da morte.

— O papai...

— Não vamos falar sobre o papai. — Vi a interrompe, se levantando da cama.

Diferente de nós, ela não havia chorado. Minha irmã ainda tentava lidar com a morte de nosso pai com uma negação constante de tocar no assunto, e o mais perto que conseguia chegar de comentar a situação era para dizer o quanto se preparava todos os dias para vingar o ocorrido e matar Oliver.

— Nós estamos aqui, Vi. Você precisa falar sobre ele em algum momento... — a voz doce de Bella ressoa, e minha irmã se vira com os olhos carregados de mágoa.

— Por pouco você não estava Bella.

— Você e Ceci têm uma à outra, eu não faria tanta falta assim.

— Como podes dizer uma coisa dessa? — seguro em sua mão e sinto meus olhos se encherem de água. Ultimamente, eu havia tido a habilidade de chorar mais fácil do que gostaria. — Você é a nossa irmãzinha. Nós amamos você.

— Diga por você. Eu que não amo essa ruiva sonsa.

— VIOLETTA! — grito e Arabella sorri, segurando em nossas mãos simultaneamente.

— Essa é a única forma que Vi conhece de demonstrar amor. Também amo você, coice de cavalo.

— Eu ouvi risadas nesse palácio pela primeira vez na semana? — mamãe entra no quarto com um sorriso no rosto.

Seu vestido verde era bordado com pequenas esmeraldas, ressaltando o tom avermelhado do seu cabelo. A rainha continuava sempre linda, mesmo com o rosto cansado e os olhos marcados por algumas olheiras.

— Bella está melhorando. — digo e vejo mamãe sentar conosco na cama.

— Está sim, eu tenho as filhas mais fortes desse mundo.

— A reunião com os nobres ainda está marcada para hoje mãe?

— Está sim, já confirmei a sua presença. — ela me olha e sorri. — Irá em meu lugar.

— Eu? Mas...

— Filha, está na hora de voltar a cumprir os seus deveres. Não deixarei que desista da coroação.

— Não. — balanço a cabeça e sinto um aperto no peito. — Eu não irei mais... não sem o papai...

— Mamãe está certa, Ceci. — Bella diz. — Você sonhou com isso a vida inteira. Merece assumir o trono.

— O povo me odeia. — as olho incrédula. — Depois de tudo o que aconteceu, os nobres também não irão querer me apoiar.

— Os nobres eu não sei, mas o povo te ama Ceci. — Violetta diz, surpreendendo a todas nós. — Depois que retirou Apolo da forca aquele dia, todos começaram a dizer que você possuía um coração forte a ponto de enfrentar a opinião de todos por um plebeu. Você conquistou o vilarejo inteiro naquele único dia.

— Os nobres são movidos por interesses próprios. Na reunião, acentue o ponto fraco de cada um. — diz mamãe, me olhando com seriedade. — O rei de Allis é movido pelos impulsos da filha, e todos sabemos que Flávia Margareth é vaidosa. Eles importam os melhores tecidos de Beaumont, use isso a seu favor. Quanto ao reino de Áquiles, este possui constante falta de cereais na mudança da estação. Ofereça a ele o que eles precisam e ressalte que se eles não apoiarem a sua coroação, o povo deles passará fome. Várzea está ao nosso lado, graças ao príncipe Christian. Mesmo com a união cancelada, ele prometeu que estaria ao nosso lado. Estes são os reinos principais, de maior influência, se ambos te apoiarem, os outros a seguirão.

— E Apolo? Eles podem até me aceitar, mas não o aceitarão. Ele não pode ser o meu guarda para sempre. — digo e as três me olham sem saber o que dizer. Mamãe quebra o silêncio e me olha com carinho.

— Pelo que conheci deste rapaz, e pela forma como ele te olha e cuida de você todos os dias, tenho certeza que ele lutará pelo amor de vocês.

— Eu agradeço... por tudo o que vocês disseram. — olho para todos e depois encaro minhas próprias mãos, sentindo minhas forças ruírem. — Mas não posso. Mesmo com tudo isso, não posso sem o papai...

— Eu tenho algo a te entregar, espere um pouco. — mamãe se levanta e pede algo em voz baixa a uma criada, que sai e volta em poucos minutos carregando um pequeno envelope.

— O que é isso?

— Algo que eu só deveria entrega-la no dia de sua coroação, mas com tudo o que aconteceu, creio que ele me diria que agora é o tempo necessário.

— Ele? — pergunto e seguro a carta, sentindo meu coração bater mais forte ao observar o selo real de Beaumont na borda e uma letra que eu conhecia.

— É do seu pai.

Olá queridos leitores reais de Beaumont💛
Preparados para o último capítulo??

Eu sei, eu sei, como assim autora?
É a hora em que a autora responde: eu avisei que estava acabando.

Quando eu voltar, já irei postar o último capítulo que estou terminando com todo o carinho do mundo para vocês, e um epílogo.

Beijos de luz de Andrêssa💡

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