Capítulo XXXIII
— Cortem a corda. AGORA! — grito sentindo as lágrimas descerem ao ver que Apolo havia parado de se mexer.
O carrasco me olhou desesperado e começou a tentar partir a corda com a espada, enquanto a gritaria da população só aumentava. Senti o ar desaparecer de meus pulmões com medo de ter sido tarde demais, e ouvi apenas a voz grossa de papai ressoar atrás de mim.
— O que está fazendo, Cecília? — seu braço me puxa e eu o olho com lágrimas cobrindo a minha visão. Sussurro como uma despedida, possuindo consciência de que, a partir daquele momento, nada voltaria a ser como era antes.
— Me perdoe papai, eu não podia deixá-lo morrer.
— Que disparate é este, Joseph? — o rei de Ethos grita, juntamente com os outros nobres.
O caos havia se instalado. Olho desesperada para Apolo e vejo seu corpo caído ao chão.
Desço do palanque e começo a correr em sua direção, sabendo que nada mais poderia ser desfeito. Eu não seria mais uma rainha, muito menos uma princesa, mas não me importava.
Eu precisava ouvir da boca dele uma última vez se ele realmente queria me matar. Precisava ter certeza que as palavras de Violetta não eram completamente erradas e que talvez houvesse uma outra explicação para aquilo tudo. Meu coração não queria acreditar que todo o amor que eu senti entre nós dois durante todo esse tempo veio apenas da minha parte.
Caio ao seu corpo no chão e retiro a corda de seu pescoço, sentindo mais lágrimas descerem ao ver a enorme cicatriz que havia ficado ali. Seus olhos se abrem enquanto ele solta um gemido de dor, e sua pupila se dilata ao perceber que eu estava ali.
— Cecília, o que... — ele tosse, levando a mão ao pescoço. — o que você fez?
— Não temos tempo para isso agora. — digo limpando meu rosto e olhando para trás, observando a situação caótica em que a Fortaleza Sangrenta se encontrava. A população começou a brigar entre si, e os outros reis pareciam travar uma discussão raivosa com minha família. — Precisamos sair daqui.
Apolo apenas assentiu e se levantou com dificuldade, começando a me seguir. Segurei a barra de meu vestido pronta para correr e me enfiei em meio a multidão que já havia se espalhado. Os guardas não se deram ao trabalho de me parar, pois estavam ainda mais perdidos com o que fazer em meio a toda a confusão.
Saímos da fortaleza por um caminho dos fundos, e logo estávamos no labirinto dos jardins do Palácio. Parei de andar quando vi Apolo quase cair no chão, se escorando na parede.
— Espere... eu pre-preciso respirar. Estás indo... rápido demais. Você não pode fugir.
— Eu não posso fugir? — paro e digo me virando de costas e levantando o rosto, tentando fazer a lágrima voltar de onde queria sair. — A única coisa que posso fazer neste exato momento é fugir, Apolo.
— Não deveria ter feito isso. — ouço sua voz respirando com dificuldade. — Não por mim.
— Você acha que não sei? — me viro e deixo a lágrima descer, andando em sua direção com toda a raiva que podia.
— Deveria ter me deixado morrer.
— Era exatamente isso que eu deveria ter feito. Eu quero que você morra, Apolo! Quero que essa dor insuportável de amar você saia do meu peito de uma vez por todas, mas se eu te deixasse ali naquela forca ela nunca sairia, por isso eu encontrei uma alternativa melhor. — levanto a barra de meu vestido e pego uma adaga, entendo-a em sua direção.
— O que está fazendo? — seus olhos escuros encontram os meus.
— Pegue. Pegue esta adaga e me mate. — estendo-a ainda mais e o vejo recuar. — Não era isso o que você queria o tempo todo? Vamos soldado Carter! Essa é a sua oportunidade de terminar o seu trabalho. Me mate de uma vez por todas.
— Não.
— Não? — o olho incrédula e seguro a sua mão, colocando a arma entre seus dedos. — Pare com todo o teatro. Não aguento mais sofrer por um Apolo que nunca existiu. Faça o que sempre quis fazer e enfie logo a droga desta adaga em meu coração!
Apolo me olhou com uma expressão indecifrável, e apertou firme o cabo da adaga. Dando dois passos a frente, seu corpo já estava próximo o suficiente do meu. Engoli uma saliva pronta para morrer naquele exato instante, e tremi quando vi seu braço se levantar e o tilintar da arma bater no chão de pedra.
Ele a havia jogado no chão.
— Eu nunca quis matá-la. Quando disse que te amava, foi a maior certeza que já havia dito em toda a minha vida. Por todos os reinos Cecília, eu sou completamente louco por você.
— Então porquê? — grito sentindo meu coração se abrir. — Como? Você está brincando comigo! Eu não sei de mais nada. Não sei quem é você!
— Para te salvar. Tudo que fiz foi para mantê-la a salvo. Eu lhe disse que morreria por você se fosse preciso.
— Do que... do que está falando? — gaguejo impactada quando a sua mão toca a minha. Apolo se aproxima e engole uma saliva, me fitando com os mesmos olhos escuros carregado de sentimentos que eu ainda não sabia se acreditava se eram reais.
— Na noite da cabana. O guarda infiltrado no castelo não era eu, Cecília. Era Niklaus.
— O que o Niklaus tem a ver com tudo isso? Eu não estou entendendo...
— As provas que seu pai encontrou sobre mim, eu não sei como ele as conseguiu, mas ele entendera tudo errado. Quando comecei a trabalhar como seu guarda pessoal no castelo, no primeiro dia recebi uma proposta de lhe vigiar e ganhar um dinheiro a mais. A única exigência era dar a informação dos seus passos, a hora que saía do quarto ou passeava no jardim. Na época, meu irmão Thomas já estava péssimo de Tuberculose e eu estava desesperado sem possuir dinheiro suficiente para os remédios ou para sequer poder chamar um médico decente. Então, aceitei.
— Quem lhe contratou? — pergunto sentindo minha cabeça girar.
— Eu não sabia. Todos os recados e informações eram passadas por pelo menos cinco guardas até chegar ao verdadeiro mandante. A questão é que teve um dia em que a ordem fora deixá-la ficar perdida na cidade. Recebi um bilhete com a ordem na casa de minha própria família...
— Mas esse... esse foi o dia em que seu irmão faleceu. — me recordo e o olho surpresa. Apolo abaixa a cabeça e eu entrelaço meus dedos aos seus.
— Naquele dia eu percebi que não cumpriria mais ordem alguma por dinheiro algum. Não apenas porque meu irmão já havia falecido, mas porque isso significava colocar a sua segurança em risco. Quando a puxei assustada naquele beco e olhei dentro dos seus olhos... eu já... já estava perdido por você, Cecília.
— Apolo...
— Deixe-me terminar. Preciso que saiba tudo. — ele toca em meu rosto e acaricia a minha bochecha com o polegar. — Depois deste dia, não recebi mais recado algum. Eu esperei o mandante aparecer para contestar, mas nada aconteceu. Pensei que tudo havia acabado até que você me contou dos bilhetes que recebia. Tentei investigar o máximo que pude desse tempo para cá, e consegui descobrir que metade dos guardas do castelo já haviam partido para o outro lado. Metade não trabalha para o seu pai, minha princesa. Você estava cercada por todos os lados. Quem deveria a proteger não estava ao seu lado, e Niklaus era o principal deles.
— No dia da cabana... — ele continuou, quando o meu estado de choque não conseguiu ressoar nada além de um estrondoso silêncio. — Eu ia te contar tudo, mas Niklaus estava atrás de você no exato momento em que seu pai me fez a pergunta, se eu era o seu assassino. Ele segurava uma adaga em suas costas, Cecília. Não era preciso uma ameaça mais clara que aquela. Ninguém notou porque todos estavam concentrados em escutar a minha resposta, principalmente vosso pai. Ainda assim, mesmo que estivessem notado, metade dos guardas do grupo estavam ao lado de Niklaus. Não podia permitir que a machucassem. Nada doeu tanto em toda a minha vida do que olhar dentro dos olhos da mulher que amo e fazê-la acreditar que eu queria a fazer mal.
— Eu... eu não sei o que dizer. — o olho sentindo um turbilhão de sentimentos inundar meu coração. Isso significava que ele me amava... Apolo sempre me amou. Ele iria morrer... morrer sem ter culpa alguma por minha causa. Constatar esse fato me fez ficar perdida em minhas próprias sensações. Eu não sabia se sorria ou se chorava. — Quando você desapareceu...
— Essa é a parte da história em que eu cheguei perto demais de descobrir o nome do verdadeiro assassino. As minhas investigações geraram frutos, e eu encontrei diversas pistas. No entanto, era claro que a minha procura chegaria aos ouvidos do verdadeiro mandante. Foi a partir daí que tudo ao nosso redor começou a desmoronar. Quando fui ao Leste e cheguei à cabana de pedra, fui afastado dos outros guardas e me deixaram por dias com fome e sede como punição por estar "procurando onde não devia". Eu sabia que eles estavam esperando por algo antes de me matar, só não sabia o que era.
— E o que era?
— Descobri quando você apareceu. Era como se a pessoa soubesse que você viria atrás de mim, e antes que eu conseguisse encaixar as peças, tudo só fez sentido quando seu pai chegou com a acusação contra mim. A intenção não era apenas me matar, mas fazer com que você também quisesse a minha morte. São muitos pontos, eu ainda estou tentando ligar todos, mas avisei a você sobre Niklaus. Antes da forca, quando Violetta me visitou eu pedi a ela que colocasse um bilhete em seu quarto. Estava na língua de Russo, para que ninguém que lesse entendesse, apenas você. Era o nosso código, de certa forma. Niklaus é o mais perto que temos do seu verdadeiro assassino.
— Eu não quis ler o bilhete... — eu era mesmo uma completa tola!
— Isso não importa agora. Me salvar daquela forca teve um preço alto demais para você, minha princesa...
— Nada nesse mundo vale mais do que ter você de volta. — o beijo e acabo com toda a agonia do meu coração. Apolo retribui, envolvendo seus braços ao meu redor como se também não quisesse me soltar.
Ele me amava.
Era real.
Sempre foi real.
Nosso momento é quebrado quando ouvimos alguém limpar a garganta. Nos viramos no susto e me acalmei por um segundo ao me dar conta de que era apenas tio Oliver. Os olhos dele, no entanto, coberto de lágrimas fizeram-me engolir sem eco.
— Minha sobrinha...
— Tio Oli, o que aconteceu? — me aproximo dele sentindo minhas mãos tremerem. Algo em meu íntimo fez com que eu sentisse um calafrio ruim, como se algo horrível estivesse prestes a acontecer.
— Precisamos... ir... como eu posso lhe dar uma notícia dessa?
— O senhor está me assustando...
Meu tio apenas abaixa a cabeça e deixa a lágrima descer, soltando a única frase que poderia me destruir naquele exato momento.
— Sua irmã morreu.
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