Capítulo XXX
Meu sangue pulsava em minhas veias enquanto eu tentava usar toda a força que tinha para jogar tudo que estava em meu alcance na grossa porta de madeira da caverna.
A cada segundo que se passava, o meu desespero aumentava na mesma proporção em que o medo ecoava em minha cabeça me alertando que o homem que eu amava estava morrendo. Nunca senti tantas emoções juntas em toda a minha vida, e pior ainda, nunca tive que me esforçar tanto para bloqueá-las.
Parei de tentar forçar a espada que havia enfiado na porta e conseguido apenas que a mesma ficasse presa, e peguei a maior rocha que consegui carregar encontrada ao chão. Lancei sobre a estrutura que já estava cedendo devido as minhas milhares tentativas, e abri a mesma recebendo uma quantidade absurda de vapor e fogo.
Apolo tossiu parecendo lutar para manter a consciência, e eu tentei alcança-lo me desviando das labaredas que já estavam altas.
A partir daquele instante, eu não sei muito bem como procedi. Meu cérebro apenas fez questão de me avisar que eu tinha que tirá-lo dali.
Lancei a capa que me envolvia sobre as chamas, e com a pouca força que me restava, cortei as cordas e me vi ajudando Apolo a andar até a saída sentindo meu pulmão doer. Nós dois caímos no chão tossindo, e antes que eu pudesse perceber seus olhos se fecham.
— Apolo... Apolo acorde... — toco em seu rosto e sinto uma lágrima descer ao vê-lo completamente machucado. — Eu estou aqui... eu estou aqui meu amor.
— Ce-cília. — ele sussurra de olhos fechados, e eu o abraço, sendo meu coração aliviado. Ele estava vivo.
De alguma forma, naquele momento o meu corpo cedeu. A adrenalina que parecia me manter acordada se foi, e eu deitei em seu peito, sentindo sua respiração subir e descer, e meus olhos se fecharem aos poucos.
Acordo sentindo algo quente pousado em minha testa. Meu peito subia e descia em uma respiração pesada, e quando eu abri os olhos assustada me lembrando do que havia acontecido, o rosto de Apolo apareceu em minha visão turva. Seus dedos tocaram meu rosto, e tudo pareceu estar certo novamente.
— Onde eu estou? — pergunto tentando olhar em volta. Parecia um quarto pequeno e úmido, com paredes de madeira. Por um segundo me lembraram...
— Em minha cabana. A que eu a trouxe daquela última vez. — ele responde baixo e retira o pano de minha testa, levando a mão até ela logo após. — Você ainda está quente.
— E você está machucado. — o olho fixamente sentindo minha visão melhorar, e sinto um aperto no peito. A camisa de Apolo possuía diversas marcas de sangue e seu rosto possuía pequenas cicatrizes.
— Não se preocupe comigo, se preocupe com você. Pelos reinos, Cecília! Que roupa é essa? Sua testa está machucada, seus braços estão com manchas roxas. Porque veio atrás de mim? — ele diz se levantando da cama e desviando o olhar.
— Porque eu fui atrás de você? — pergunto incrédula. — Como pode me fazer uma pergunta dessa? Você estava correndo perigo...
— Não devia ter vindo. — ele me interrompe com um tom grosso e eu sinto meu peito doer.
— Você não vai fazer isso... eu não vou me sentir culpada por ter te salvado. — me levanto devagar e ando em sua direção, o vendo de costas. — Você por acaso preferia morrer e me deixar? Me prometeu que voltaria...
— Eu preferia morrer a colocar a sua vida em risco! — ele diz alto e se vira, olhando no fundo dos meus olhos. — Nós não deveríamos ter nos conhecido...você estava muito melhor sem mim.
— Eu me arrisquei porque eu quis! Eu amo você Apolo. — seguro em seu rosto e ele dá um passo para trás, afastando meus braços e olhando para o chão.
— Não deveria amar.
— Você já me fez passar por isso uma vez. Perdoe-me desapontá-lo, mas não vai funcionar. Eu não vou te deixar não importa o que me diga. Você disse que me amava! Que lutaria por nós dois. — digo alto fazendo-o me olhar.
— Porque você tem que ser tão teimosa Cecília? Não vê que estou tentando te proteger?
— Talvez eu esteja cansada de ser protegida! Você não é mais o meu guarda, é o homem com quem eu quero me casar.
— Tem coisas sobre mim que você não sabe...eu não a mereço.
— Eu sei o suficiente para querer você. — digo sentindo um nó se formar em minha garganta, e uma lágrima descer. — Resta saber se você ainda me quer.
Apolo não me respondeu. Seus olhos encontraram os meus, e ele quebrou a distância que se formava entre nós me beijando. Beijá-lo depois de todo o medo que eu havia sentido e todos os dias em que passamos separados, que pareceram meses, era como encaixar novamente os pedaços do meu coração que haviam se quebrado.
— Você é tudo o que eu mais quero nesse mundo, Cecília.
— Era tudo o que eu precisava ouvir. — o beijo novamente e toco seu braço, ouvindo-o gemer baixo de dor. — Desculpa...
— Tudo bem....
— O que aconteceu? — pergunto preocupada e tento levantar a manga da sua camisa.
— Nada.
— Você está muito machucado, Apolo...
— Já estou melhorando, você ainda está um pouco quente volte para a cama...
— Quem precisa descansar é você. Onde encontro um pouco de água? Está ferido. — pergunto já saindo do quarto e andando pela cabana, imaginando que ele não iria me responder.
— Eu já disse que és a princesa mais teimosa que conheço?
— Tem nesse barriu? — pergunto vendo-o levar a mão a cabeça, e abro o grande objeto de madeira encontrando água. Mergulho o pano e torço com um pouco de dificuldade, tentando me lembrar de como as minhas criadas faziam.
— Imagino que a princesa não possua muito costume de tal ação. — Apolo diz soltando mais um de seus sorrisos irônicos e eu me aproximo abrindo a sua camisa.
— Para tudo se tem uma primeira vez.
— Deixa que eu faço isso. — ele segura em minhas mãos parecendo um pouco incomodado.
— Oh. — afasto minhas mãos sentindo minhas bochechas corarem. — Perdão...eu... não estava abrindo a sua camisa para... era só para limpar o ferimento... que constrangedor.
— Não é isso. — ele sorri e se aproxima de novo, colocando os dedos entre meu cabelo. — Eu só... não quero decepcioná-la com o que for ver.
— O que você quer dizer... — começo a perguntar e termino de abrir a sua camisa, abrindo a boca em choque logo depois.
O peitoral de Apolo estava coberto por cicatrizes dos mais diversos tamanhos e formas. Algumas pareciam antigas, mas as que ainda sangravam eram completamente recentes, como se houvessem passado várias lâminas sobre ele repetidas vezes. Quis chorar ao imaginar como ele havia passado por tanta dor.
— Cecília...
— Como aguentou me trazer até aqui? — retiro a manga e vejo uma enorme queimadura em seu braço. Com um ferimento daquele...
— Eu estava preocupado com você.
— Apolo...
— Eu sou um guarda, estou acostumado com a dor. — ele começa a tentar colocar a camisa novamente. — Não quero que veja...
— Eu não me importo. — coloco a mão em seu peito e o olho de perto. — Amo você por inteiro. Cada marca dessa o fez ser quem é. Me deixa cuidar de você.
Apolo me olhou sem responder, e eu levei o pano até os ferimentos, vendo-o fechar os olhos para tentar esconder o quanto devia estar doendo. Seguro sua mão e ando de volta ao quarto. Ele se senta na cama e eu continuo o processo, tentando calar os meus pensamentos que gritavam que mesmo com todas aquelas cicatrizes, seu corpo era forte e bonito.
— Não me lembro desse quarto da última vez que vim. — digo tentando afastar minhas divagações.
— Você queria que eu a trouxesse para conhecer aquele dia? — ele sorri de lado e eu sinto meu rosto queimar novamente. A saudade que eu ainda sentia dele criava uma tensão quase palpável dentro daquelas paredes.
— Na-não. Quer dizer...
— Você continua sendo a mulher mais linda que eu já vi mesmo vestida dessa forma. — ele me interrompe e eu sinto meu coração se acelerar.
— Obrigada. — respondo constrangida com a forma que ele me olhava.
— Eu que devo lhe agradecer. — ele segura a minha mão. — Por ter me salvado. Não quero que faça nada do tipo nunca mais, me prometa isso, mas obrigado. — seus dedos acariciam os meus, e só então ele percebe o pequeno anel de palha. — Você guardou.
— Guardarei para sempre.
— Ah, Cecília... — Apolo me beija e eu me perco em seus lábios novamente, aquecendo aos poucos o meu coração. Seus dedos entram pela camisa do uniforme em que eu usava e tocam a minha pele.
— Eu confio em você. — digo em sua boca e o vejo parar o beijo e olhar para baixo.
— Tem algo que eu preciso te contar.
— O que? — pergunto confusa.
— Antes de eu dizer, quero que saiba que o meu amor é verdadeiro. Me apaixonei por você a cada vez que eu te olhava e te seguia. A melhor coisa que já aconteceu em minha vida foi te proteger. Eu morreria por você, Cecília, sem hesitar.
— Porque está me dizendo isso? — engulo uma saliva sentindo uma sensação ruim.
Olho em seus olhos e antes que Apolo pudesse continuar, um barulho estrondoso de porta sendo arrombada invade o ambiente. Em poucos segundos, um grupo de guardas invade o quarto e Niklaus puxa o meu braço me soltando de Apolo.
— ELA ESTÁ AQUI. — ele grita e eu tento me soltar, vendo Apolo ser segurado por mais cinco homens e ter uma espada apontada em seu pescoço.
— Me solte! O que vocês estão fazendo? SOLTEM APOLO.
— Prendam o soldado Carter e o levem para o calabouço do Palácio. Ele será executado por traição e por sequestro da princesa. — ouço uma voz grossa surgir e paro em estado de choque ao reconhecer de quem era. Ele aparece no quarto e me olha com decepção.
— Pai?
— Vamos embora Cecília.
— Não pai, solte o Apolo, ele não fez nada de errado. Eu não fui sequestrada! — grito vendo um outro guarda dar um soco em seu estômago. — PAREM!
— O que está dizendo? — meu pai me olha incrédulo de cima a baixo. — Que vestimenta é esta?
— Eu fugi! — exclamo e vejo todos os guardas pararem e me olharem. Apolo balança a cabeça em sinal de negação e eu continuo, sem me importar com mais nada. — Eu o amo, papai. Não quero me casar com Christian. Nós íamos contar ao senhor...
— Basta! — meu pai se vira e encara o rosto de Apolo. — Você foi uma grande decepção, soldado Carter. Não bastava a traição contra o seu rei, também tinha que iludir a minha filha?
— Que traição? Do que o senhor está falando? — me aproximo me soltando de Niklaus e vejo Apolo me olhar com lágrimas nos olhos.
— Cecília... — Apolo começa a dizer e papai o interrompe, entrando em minha frente e segurando em meus ombros.
— Ele é o responsável pelos ataques no castelo. Foram encontradas provas nas coisas dele que ficaram no palácio quando pensaram que ele havia morrido.
— Não... o senhor está enganado... — digo balançando a cabeça. Papai olha nos meus olhos, e solta a frase que eu jamais esperava ouvir em toda a minha vida:
— Apolo é o assassino.
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