Capítulo XIII
Uma semana se passou. Desde aquela última noite que eu não saberia como explicar, Apolo voltara a agir de forma distante e impassível, sempre evitando me olhar e me tocar, o máximo que conseguia.
Isso com certeza estava tornando as aulas de defesa mais difíceis e frustrantes, pois eu não aguentava mais atacar um saco velho de farinha todas as noites e correr inutilmente pelo labirinto que sim, ele me obrigou a voltar.
A boa notícia, segundo ele, era que eu estava conseguindo voltar em menos tempo. Eu não considerava três minutos de recorde uma grande vitória e estava começando a achar tudo completamente inútil. Eu sentia que não estava conseguindo aprender absolutamente nada, e enquanto ele se recusasse a chegar perto de mim, eu continuaria a ser a princesa inútil e vulnerável.
De certa forma, eu sabia que a boa parte de mim que gritava em completa frustração era não entender do porque a presença dele tão perto naquela noite havia mexido tanto comigo. Ele havia considerado me beijar ou foi apenas um lapso de minha própria mente?
Um lapso deve fazer mais sentido, com toda a certeza. Eu iria me convencer disso, mesmo sonhando todas as noites com a forma que ele me olhou quando confessou, de forma indireta, que eu impossível eu não ficar bonita.
— Alteza? — ouço uma voz me arrancar de meus pensamentos enquanto eu apoiava meus dedos, parados, sob o piano.
— Oi. — respondo voltando a realidade e vendo Margot segurando um envelope.
— Chegou uma carta para a senhorita. Acredito que seja de vosso príncipe. — ela sorri animada, como se estivesse me entregando algo super confidencial. Sorrio para não a decepcionar de seu ânimo.
— Certo, obrigada Margot. — assinto e ela faz a reverência, saindo com um sorriso no rosto.
Abro o envelope e começo a sentir meu coração se acelerar ao ver que a carta realmente era de Christian. Sua letra sem dúvidas era bonita e lembrar da sua gentileza me fez sorrir, mas ainda era completamente estranho me imaginar casada com ele. Dever e segurança, me lembrei das palavras de papai. Respire fundo, Cecília.
Retiro o selo real de Várzea, e me concentro das palavras.
"Querida Cecília, estou deveras com saudades de conversar contigo novamente. Sei que nos conhecemos pouco e, infelizmente, os deveres de Várzea estão tomando todo o tempo que tenho.
Não sei quando poderei visita-la. Ao mesmo tempo, não quero que este casamento seja um peso para ti e que nos aproximemos apenas no altar, como é de costume. Gostaria de trocar cartas e conhecer mais os sonhos e os gostos de minha futura esposa. Lhe concedo a permissão de me perguntar o que quiseres, sei que podemos começar sendo bons amigos.
Sempre honrado em escrever a princesa mais bela de todos os reinos.
Encarecidamente, com toda cortesia.
Christian."
Sorri sem perceber. Christian realmente possuía todas as características que um verdadeiro príncipe deveria ter. Olho para o piano e resolvo deixá-lo de lado, indo para o quarto pegar um papel e uma pena para responde-lo.
Me sento devagar em minha escrivaninha e me lembro das palavras de Flávia na manhã anterior. Será que ele realmente possuía costume de se encontrar com várias mulheres?
"Caro Christian, fiquei demasiadamente feliz em receber sua carta..."
Não não, demasiadamente feliz soaria que eu estava esperando por isso. E eu não estava. Amasso o pequeno papel, e pego outro.
"Querido Christian, fiquei feliz ao receber a sua carta. Devo dizer que concordo com suas palavras. Realmente acho de grande relevância nos conhecermos melhor, sendo assim, já que seremos amigos, é verdade que és um libertino?"
Péssimo Cecília, péssimo! Que homem responderia a isso? Mesmo se ele for, obviamente não iria me confessar. Preciso ser mais discreta. Mais um papel que irá para o lixo. Preciso lembrar-me de pedir para Margot repor a tinta para escrita.
"Christian, escrevi para dizer que recebi sua carta e que suas palavras certamente me fizeram sorrir. Realmente não quero me casar com um completo estranho e, sendo assim, aceito sua sugestão de começarmos uma amizade.
Destes a mim o direito de lhe perguntar o que eu queria, então é certo que imagines que me preocupo com a reputação de meu futuro marido. A que ouvi sobre ti nos últimos dias não fora das melhores. Entretanto, uma das características que mais prezo é a sinceridade. Por isso, peço que conte-me a sua sincera opinião sobre jovens príncipes que esperam a pureza de uma mulher, mas não se mantém puros até seu próprio casamento.
Encarecidamente, Cecília."
Fecho a carta antes que eu desistisse de mudar algo e jogá-la fora como as outras, e a finalizo com o selo de Beaumont. Margot me olhava ansiosa no fundo do quarto e logo pega o envelope ao meu sinal, pronta para mandar a Várzea. Com certeza levaria um bom tempo ao obter uma resposta, mas não me importava. Eu tinha mais coisas para lidar agora.
Ando até o gabinete de papai ignorando o olhar sempre fixo de Apolo atrás de mim, e fecho a porta tentando focar no que eu tinha a fazer. Papai estava escorado sob a mesa real com um olhar cansado, e com as mãos apoiadas em seu cabelo loiro. Quando ele percebe a minha presença, seus olhos azuis se fixam aos meus, e ele sorri fraco indicando a cadeira.
— Veio ver o seu velho pai ganhar mais alguns cabelos brancos?
— Vim ver se o rei tem tempo para a filha mais velha. — sorrio cruzando as mãos em frente ao corpo, e me sento com a postura ereta. Papai sorri.
— Oh minha querida, tenho uma má notícia para lhe dar.
— O que foi? — o olho confusa, e o vejo me estender um decreto.
— Lancei nesta manhã. Todos os jovens garotos a partir dos 14 anos serão convocados para servir no palácio.
— Como? — abro a boca em estado de choque.
— Mas papai, isso é o extremo que o senhor me disse que queria evitar!
— Extremo é termos perdido mais cinquenta guardas apenas nesta semana, filha.
— Cinquenta guardas? — pergunto incrédula. — Do que o senhor está falando?
— O castelo foi atacado. — ele suspira e me olha com pena. — Por favor não conte a sua mãe ou as suas irmãs, não quis criar alarde e assustar vocês, mas aconteceu duas vezes. Os guardas foram mortos tentando proteger o castelo, e deram a vida deles por isso. Nenhum assassino conseguiu entrar, mas a situação está ficando caótica, filha. Comecei a mandar construir alguns túneis secretos pelo palácio em caso de emergência apenas com colchão e água e instruí os outros guardas acerca da segurança de vocês. Pensei em colocar mais um guarda a sua disposição, mas soldado Carter me garantiu que daria conta de mantê-la a salvo. O seu casamento com o príncipe Christian ainda está marcado para uma semana após a sua coroação, e isso ainda irá demorar um pouco. Eu achava que daria para esperar, mas não vejo como.
— Mas papai...
— Não há nada que eu possa fazer, Cecília. — ele responde cansado, como se já tivesse previsto a minha pergunta.
— E como as pessoas da cidade reagiram? — pergunto engolindo uma saliva. Papai cruza as mãos e fecha os olhos como se estivesse, pela primeira vez na vida, perdendo as esperanças.
— Eu não sei filha, eu não sei.
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