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Capítulo X


Eu nunca pensei que fosse tão difícil agir às escondidas. Quando Apolo concordou que me treinaria, eu não tive a melhor reação do mundo ao raciocinar que não poderíamos sermos vistos, e que de dia, com certeza perceberiam a minha falta. Então, quando ele marcou o primeiro treino no fundo dos estábulos à meia noite, é previsível chegar à conclusão de que quase tive uma síncope.

Passei o resto do dia sentindo as minhas mãos suarem enquanto pensava em minha fuga noturna. Eu, com certeza, era a pior pessoa do universo a tentar esconder minhas emoções, e por isso, logo no jantar todos já haviam percebido que eu não estava segurando o garfo com tanta firmeza.

— Parece preocupada, filha. — disse mamãe, me lançando um olhar terno.

— Não vai dizer que está com essa cara de susto até agora só por causa da brincadeira pela manhã? — Arabella soltou sem pensar, e Violetta a deu um enorme beliscão.

— Que brincadeira? — a voz de papai ressoa na mesa. Tarde demais. As duas me lançam um olhar suplicante com medo de que eu as entregasse, e eu soltei uma respiração.

— Nada demais, papai. — respondo levando um pouco de comida a boca e sentindo meu estômago se embrulhar logo depois. Estava nervosa demais. Minhas irmãs me olham agradecidas e a risada de tio Oliver ressoou alta e alegre.

— Ah, os jovens! Bom, o jantar estava ótimo e já está tarde. Preciso dormir cedo para acordar bem pela manhã.

— Você com certeza tem muitos serviços pela manhã, Oliver. O principal deles é não fazer absolutamente nada. — diz meu pai, lançando um olhar severo para o irmão.

— Ainda com ressentimentos, Joseph? Ora essa.

— Acho que também irei dormir. — aproveito a oportunidade e me levanto da mesa, trazendo todos os olhares sobre mim. Sem dúvida, eu era péssima nisso. — Estou cansada.

— Logo você que é sempre a última a dormir, Ceci. — diz Violetta, franzindo o cenho e se levantando também. — É, o mundo está girando estranho.

— Bom, eu achei uma ótima ideia. — mamãe se levanta sorrindo e andando em direção a papai. — Vamos dormir também, querido?

— Eu não terminei de comer. — diz meu pai, interrompendo a colher que levava na boca.

— Você precisa mesmo perder uns quilos, meu amor. — mamãe responde e todos se põem a rir.

— A minha rainha está muito indelicada. — papai se levanta e segura na cintura de mamãe.

— E o meu rei está muito lento. Certeza que não compreendeu os motivos ocultos pelos quais o chamei para dormirmos cedo?

— Ah, que enjoo. — diz Violetta, revirando os olhos. Ela anda até tio Oliver e deita a cabeça em seu ombro.

— E pensar que foi deles que você nasceu, minha sobrinha.

— Boa noite. — respondo ainda em meio a risada que fez meus nervos se acalmarem, e saio sentindo Bella entrelaçar o braço ao meu nas escadas.

— O que acha de lermos um livro esta noite, irmã? Podíamos continuar aquele...

— Oh Bella, eu realmente estou com muito sono. Podemos marcar para amanhã?

— Ah, tudo bem, claro. — ela sorri fraco um pouco decepcionada e se solta do meu braço, andando até seu próprio quarto. Aceno de longe em frente a porta do meu, e ouço uma voz em meu ouvido me arrepiar.

— Porta dos fundos, trinta minutos. Ao meu sinal, comece a me seguir. Leve apenas uma vela, o candeeiro chamará muita atenção.

Me viro para responder ao reconhecer a voz do soldado Carter e vejo apenas a sua sombra se afastando rápido. Sinto meu coração se acelerar o entro em meu quarto rápido, fechando a porta.

Seguro a pequena ampulheta que tinha e começo a contar o tempo. Trinta minutos. Era o tempo necessário até todos dormirem. Se esse plano desse errado, eu estaria muito, muito encrencada.

A areia parecia descer de forma absurdamente mais lenta do que deveria. O tempo parecia não passar, e mesmo eu tendo dispensado as minhas servas e tentado me distrair passando uma loção de rosas no corpo, tudo ainda parecia demorar.

Me repreendo mentalmente ao pensar no porque eu estaria ficando cheirosa para encontrar o soldado Carter e coloco a loção de lado me sentando frustrada na cama. Quando olhei novamente para a ampulheta, o último punhado de areia já havia descido.

Agarro o candelabro de velas que havia no canto do quarto e abro a porta com cuidado, com medo do barulho. Tudo estava silencioso, exceto pelo barulho abafado dos guardas conversando no castelo.

Vejo algumas servas passarem ao longe e sinto meu corpo ser puxado para o canto do corredor ao mesmo tempo em que todas as velhas do meu candelabro se apagaram, me deixando no escuro.

— Não ouviu a parte que disse sobre carregar apenas uma vela? Quer chamar atenção do castelo inteiro? — a voz de Apolo sai em sussurro irritado, enquanto eu tentava voltar a respirar normalmente do susto.

— Des-desculpe.

— Vamos, me siga. — suas mãos seguram as minhas causando um choque elétrico em meu corpo que eu não sabia como explicar, e eu sou guiada a passos rápidos por portas secretas que chegaram até o lado de fora.

Quando olhei para o céu, suspirei aliviada por sair do escuro e ter a luz da lua cheia iluminando tudo ao nosso redor. O lado ruim, é que eu não tive tempo de admirar as estrelas porque as mãos de Apolo continuaram a me puxar até conseguirmos chegar ao fundo da estribaria.

Ele fecha a porta atrás de mim, e eu vejo poucas velas espalhadas pelo local, dando a luz necessária para que eu pudesse o ver pegando duas espadas.

— Eu acho que já estou começando a me arrepender disso. — digo segurando nervosa a que ele me entrega.

— Você está segurando errado. — sua voz sai grossa e firme.

— Eu pensava que essa coisa fosse mais leve. — digo franzindo o cenho, e ouço Apolo respirar fundo retirando a espada da minha mão e aproximando o corpo ao meu.

— Vamos começar do básico. Se você estiver no castelo, e um grupo começar a correr atrás de você para te atacar, o que você faz?

— Procuro uma espada e espero eles chegarem?

— Não princesa. Você corre. — ele responde e me olha como se fosse óbvio.

— Mas você vai me ensinar a atacar...

— Apenas se você estiver encurralada. — seus olhos escuros encontram os meus sob a luz das velas. — Eu vou lhe ensinar autodefesa. Você não possui força física alguma, a sua vantagem será o elemento surpresa. Ninguém irá imaginar que a princesa irá reagir.

— Certo, entendi. Primeiro, correr. Essa parte é fácil.

— É mesmo? — ele cruza os braços, e me olha curioso.

— Sim, todo mundo sabe correr.

— Vamos descobrir. Venha. — ele abre a porta, e sai da sala dos fundos do estábulo. O sigo confusa tentando segurar todo o volume de meu vestido esverdeado.

— Para onde você está indo? — pergunto tentando sussurrar alto o suficiente para que o mesmo escutasse. Eu já estava começando a ficar sem fôlego, ele andava rápido demais. Ele não me respondeu até que chegássemos no jardim em formato de labirinto do castelo.

— Chegamos. Corra.

— Como?

— Corra. Considere como o primeiro passo de vosso treinamento, ganhar fôlego e destreza. Nenhum guarda passará por aqui nessa escala de horário, temos cerca de uma hora até algum aparecer.

— Está escuro, como eu irei correr sem enxergar nada a minha frente?

— Então você acha mesmo que ataques só podem acontecer a luz do dia?

— Isso é ridículo, não vou correr aqui. Irei me perder, eu vou embora.

— Se você se perder, irei busca-la. — ele me olha com um semblante sério, e balança a cabeça. — Não me deixe pensar que és uma covarde, alteza. Teve muito trabalho para desistir logo agora.

— Você também fez isso com Violetta? — pergunto segurando a barra do vestido, e me virando para frente do labirinto pronta para começar a correr.

— Se conseguir voltar em menos de vinte minutos, dou a minha palavra que a irei responder.

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