Capítulo II
— Pai, por favor, o senhor não está pensando direito. Ouviu a parte que contei que o soldado me chamaste de arrogante e mimada? — digo com o máximo de postura que podia seguindo meu pai a passos rápidos. Subimos as escadas em uma velocidade desafiadora para os meus sapatos apertados, e entramos no gabinete real.
— Talvez eu realmente tenha mimado você demais, Cecília. — ele responde, soltando uma respiração pesada, pegando uma pilha de papéis e espalhando sobre a mesa.
— O senhor não disse isso. — solto chocada demais, sentindo minha boca se abrir. — Por tudo que há de mais sagrado, desfaça a ordem.
— Considere como seu castigo pessoal. — ele diz ainda mexendo nos papéis, se recusando a olhar para mim. — Você e suas irmãs já me dão trabalho demais, não tenho tempo de ficar me preocupando com qual guarda eu designo ou deixo de designar a vocês.
— Os guardas das minhas irmãs não irão segui-las a todo tempo e retirar-lhes a privacidade.
— Chega, Cecília! — papai grita e se levanta, olhando para mim. Sinto meu corpo se retrair ao vê-lo gritar comigo, atitude essa que não acontecia a muito tempo. — Foste totalmente irresponsável hoje, e isso eu não irei tolerar! Como quer ser rainha se ainda permanece agindo como uma criança? O soldado Carter irá ficar e ponto final! Ele não é pago para ceder aos seus caprichos, e sim para lhe proteger, o que fez muito bem agora a pouco. Assunto encerrado.
— Tudo bem. — respondo de cabeça baixa, tentando conter as lágrimas.
— Se aproxime!
— Irei me retirar para o quarto.
— Se aproxime, Cecília! Se quer ser mesmo a sucessora desse trono, engula as lágrimas. Aceite quando está errada, e erga a cabeça. Não te criei para ser fraca.
— Sim, senhor. — respondo e me aproximo, vendo-o indicar a cadeira a frente. Me sento engolindo uma saliva, e o vejo me jogar a pilha de papéis.
— Resolva!
— O quê? — pergunto confusa.
— Resolva! O que fazemos com a falta de guardas suficientes no castelo? Como solucionamos essa falta na segurança? A não ser que você queira que suas irmãs sofram o mesmo ataque que você sofreu agora a pouco.
— Recrutamos mais soldados?
— Como exatamente faremos isso? Os forçamos?
— Não, sempre foi voluntário. Não seria justo. — digo sentindo um aperto no peito. A convocação dos homens era a partir dos 18 anos e, depois da última guerra, a maioria das famílias da cidade haviam perdidos seus homens.
— A vida não é justa. Esse é o tipo de decisão que você terá que tomar sozinha, assim que for coroada. Assumirá a responsabilidade dos seus atos e irá lidar todos os dias com pessoas que irão odiá-la ou amá-la. Se você consegue se abalar tão fácil apenas com uma briga com sua irmã, claramente não está preparada para assumir esse posto.
— Eu estou preparada! — digo sentindo meu coração se acelerar. — É o meu dever.
— Me prove. Te darei um mês para solucionar essa questão e me mostrar que é digna de minha confiança novamente.
— Não irei decepcioná-lo, papai.
Eu não fazia ideia de como proceder. Minha cabeça girava e minha aparência no espelho não era a aparência digna de uma princesa. Sento em minha penteadeira e começo a ser cuidada pelas minhas criadas, que tentavam amenizar a minha pele com pó de arroz. Sou interrompida de meus pensamentos quando ouço um bater na porta.
— Quem é?
— Posso entrar? — era Violetta, com um semblante arrependido. Engulo uma saliva e me lembro das palavras de papai. Eu não me abalaria novamente.
— Não.
— Me perdoe, Ceci. — ela diz, já entrando no quarto e fechando a porta atrás de si. Seu vestido já estava completamente sujo de terra, e seus cabelos permaneciam como sempre desgrenhados. Pelo visto, ela havia achado a sua bota. — Não queria ter dito aquilo.
— Mas disse. — assinto para a Margot (uma das minhas criadas) continuar, e permaneço olhando fixo para o espelho.
— E me arrependi. Isso não vale de algo?
— Não.
— Bom, pelo menos eu tentei. Sinto muito pelo que aconteceu hoje, jamais desejaria a sua morte de verdade. — ouço sua voz ao fundo, e sinto sua frase me tocar. — Mais uma vez, me perdoe. Prometo não atravessar mais o seu caminho, você tinha razão. Ninguém realmente gosta de mim.
— Espere. — digo vendo-a sair. Minha irmã se vira com a mão na porta, e me fita com os olhos marejados. — Eu também não queria ter dito isso, Vi.
— Está tudo bem, não é como se fosse uma informação nova. — ela sorri sem humor passando a mão no rosto. Minhas criadas saem do quarto para nos dar privacidade.
— Não, não está tudo bem. — me aproximo e a abraço, tentando afastar meus pensamentos que diziam que meu vestido certamente iria se sujar. — Só nunca fale mais algo assim comigo novamente, eu sempre a amarei.
— Se você tivesse me dito o que eu lhe disse provavelmente eu nunca teria olhado em sua face novamente, mas obrigada. — sorrimos juntas. — Isso só prova o quanto você será uma boa rainha.
— Já voltaram a conversar? Vocês são rápidas. — Arabella entra em meu quarto com um livro na mão, e se joga em minha cama sem retirar o olho das páginas. — Aliás Ceci, quem é aquele poste lá fora?
— Quem? — pergunto confusa e olho para fora do quarto, vendo o soldado Carter parado diante ao meu aposento. Fecho a porta com raiva e me viro revirando os olhos. — Não acredito que minha tortura já começou!
— Esse será o tal guarda que irá lhe seguir para cima e para baixo? Olhe irmã, tem sorte. Dizer que ele é bonito é pouco. — Arabella retira o livro das mãos e me olha com um sorriso no rosto.
— Quando entrei ele não havia chegado. Qual o nome do guarda? — Violetta me pergunta curiosa.
— Carter. Apolo alguma coisa Carter. — respondo me repreendendo claramente de também me recordar de seu nome do meio, Reid. No entanto, não queria admitir que havia guardado essa informação na memória.
— Mentira que ficaste com o Apolo. — ela abre a porta deixando meus olhos arregalados, e ouço sua voz alta no corredor: "— Polo, como o destino fora cruel com você de ter ficado com a minha irmã. Como está a família?"
Fecho a porta desesperada pensando em como Violetta conhecia o guarda, e vejo Bella sorrir me olhando da cama, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
— Vi conhece todos os criados e funcionários do castelo Ceci, não é de se admirar. Esqueces que ela passa mais tempo com eles do que conosco?
— Acabo de quebrar o acordo de paz que havia feito com Violetta.
— Pare de dramas, irmãzinha. — ela se levanta da cama e anda em direção ao meu guarda roupa, o abrindo com o sorriso no rosto. — Temos mais com o que nos preocupar. O baile é esta noite, se lembra? Mamãe está em alvoroços organizando tudo. Ouvi dizer que o príncipe de Várzea virá exclusivamente para lhe ver.
— O príncipe Christian? — pergunto sentindo meu coração se acelerar. A tempos eu ouvia sobre a sua boa reputação, e beleza nos bailes.
Todas as mulheres, segundo os rumores se espalhavam, eram encantadas por ele. Nunca houve oportunidade para nos conhecermos e eu não sabia se esse encontro seria bom, ou meramente decepcionante.
— Sim, além de muitos duques e condes. Não faço ideia do que vestir, nada parece combinar com as minhas sardas e com o meu cabelo ruivo. Como irei encontrar o meu amor verdadeiro se não estiver apresentável o suficiente?
— Pare de sonhar acordada, Bella. — Violetta entra novamente no quarto, como se não tivesse saído a poucos segundos para confraternizar com o meu novo inimigo. — Amor é para os tolos.
— Então fico muito feliz em ser tola, muito obrigada!
— Vou andar a cavalo, avisem o rei e a rainha que não irei comparecer ao baile. — Violleta responde, ignorando a expressão da nossa irmã mais nova.
— Você quis dizer avisar aos nossos pais que a princesa não irá marcar presença no baile mais importante do outono em seu próprio castelo? Foi isso mesmo que escutei Vi? — digo chocada pela capacidade que a minha irmã possuía em ainda me surpreender. Realmente, nossa trégua nunca conseguia durar por muito tempo. Éramos divergentes demais.
— Palavra por palavra. Sabe que odeio apertar meu corpo nesses vestidos. Isso sem mencionar que não possuo paciência para sorrir para pessoas que não gosto e que não faço a mínima questão de conhecer. — ela dá de ombros e amarra o cabelo cheio para cima.
— Sabe que nossa mãe não a deixará faltar.
— Sei, e é por isso mesmo que faço questão de que ela não me encontre. Até mais, queridas irmãs.
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