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𝟏𝟕. › GARGOYLE OF GOTHAM

𝟎𝟏𝟕.            A GÁRGULA DE GOTHAM.

INVERNO⠀──⠀ DEZ. 1, QUARTA-FEIRA
NARROWS, COMPLEXO DE APARTAMENTOS.

A NATUREZA HUMANA desenrola-se em fios de verdades e mentiras, emaranhadas em uma tapeçaria que se mostra capaz de expor e ocultar ao mesmo tempo.

Na vida, todos carregam suas próprias ilusões, uma mistura de realidade e fantasia que, aos poucos, se molda em algo que se assemelha a uma verdade confortável. Mas o que acontece quando as mentiras não são apenas uma fuga ou uma proteção, mas uma forma de sobrevivência? Em lugares como Gotham, onde o brilho superficial esconde uma escuridão apodrecida, as mentiras se tornam um alicerce indispensável para aqueles que caminham sobre a linha tênue entre a vida e a morte.

Nenhuma criança deveria chamar o túmulo de seus pais assassinados de lar, mas quando o túmulo e o seu lar são a mesma coisa, é praticamente impossível fugir. A cidade de Gotham é grandiosa e ornamentada por fora para enganar as pessoas. Para cobrir o que está debaixo da superfície. Escondendo os restos da desgraça, da violência crua e da doença da ignorância em belas mentiras. Enquanto todos que vivem nela apenas apodrecem aos poucos, envenenados de dentro para fora.

Nesta cidade, eles sangram uns aos outros de diferentes maneiras. Eles se decompõem aos poucos, perdendo o que os torna humanos. E não conseguem entender o porquê. Então surge o questionamento: mas porque as pessoas de Gotham estão apodrecendo? A resposta é bem simples: porque estão todos acostumados com isso.

Agora, os protetores se tornam os predadores. A violência se tornou entretenimento para o homem comum. O homem comum se torna o criminoso. Uma criança se torna espectadora do assassinato de seus pais.

O túmulo se tornou seu lar.

E enquanto Gotham apodrece, enquanto a escuridão se alastra e consome o que resta de humanidade, aqueles que ainda lutam por uma centelha de justiça se veem cercados pelo vazio. A cidade que um dia pode ter sido uma promessa agora é um cemitério de almas, onde até os mais fortes são arrastados para a podridão. É nesse cenário, onde a esperança vacila e a morte espreita em cada esquina, que o Batman se move, uma sombra entre sombras, um farol de moralidade em um mar de corrupção.Ele havia jurado, anos atrás, que iria acabar com esse sangramento sem fim.

Combatendo o todo o mal, buscando por justiça por aqueles que não conseguem ter, ainda tentando garantir que ninguém mais sangrasse como seus pais sangraram. Mas não importava o que fizesse, mesmo que Gotham estivesse mudando, mesmo que os crimes violentos estivessem diminuindo, ela ainda se desdobrava em algo pior. Mais sangue inocente ainda era derramado, um ciclo de decadência que se repete sem fim, como um relógio quebrado que não para de marcar a mesma hora sombria, tornando-o refém do seu próprio voto de vingança.

Mas não há arrependimentos nele quando veste aquela armadura todas as noites. Pois a sombra do que ele se tornou se sobrepõe a da criança que um dia chorou pela morte dos pais. Agora é apenas a da figura obscura que todos os dias ele tenta decifrar, mas que garante a segurança de todos em Gotham durante a noite.

Próximo ao pôr do sol, Batman pousa no telhado silenciosamente, sem que seus passos sejam identificados. O local estava vazio, tirando os pombos presos dentro do pombal de metal que se encontrava trancado naquele horário e a mulher próxima ao parapeito, observando Gotham com um cigarro entre os dedos e presa demais em seus próprios pensamentos para se importar com o que ocorre ao seu redor. Está se tornando um costume.

Assim como na primeira noite, ela não o escuta chegar ou, se o faz, não deixa transparecer. Sua atenção se concentra no horizonte, onde o sol pode ser visto na baía ao longe, desaparecendo aos poucos, e o céu muda de azul para dourado e em seguida laranja, prestes a abraçar o cair da noite.

Ele deu alguns passos, sua sombra se alongando ao lado dela, anunciando sua chegada. Delilah se virou parcialmente, o vento brincando com seus cabelos, enquanto ela inalava o cigarro, soltando a fumaça por entre os lábios entreabertos que logo se dispersou no ar.

── Por um momento, eu pensei que você não fosse vir ── ela comenta voltando seus olhos na direção dele com tamanha naturalidade.

── Você me chamou.

── Sim, eu fiz. Mas você não me deu uma resposta quando liguei ── o sorriso debochado desponta nos lábios dela quando Delilah o fita. ── Sei que dizem que o silêncio também é uma resposta, mas eu prefiro uma resposta verbal. Assim sei que não estou perdendo tempo.

── Por que me chamou? ── ele respondeu, mudando de assunto sem se importar com a reclamação anterior. Delilah revira os olhos e traga o cigarro mais uma vez antes de responder, desviando sua atenção para os prédios ao longe.

Batman se aproxima.

── Estive na casa do Stirk alguns dias atrás, eu encontrei algo ── comentou, ao soprar a fumaça entre seus lábios para longe, sem que o atingisse. ── Um caderno.

Delilah retira um caderno do bolso da calça jeans. O caderno de couro que Bruce já conhecia. Com as duas mãos e o cigarro ainda entre os dedos, ela abre o objeto e expõe as páginas, folheando-a até encontrar os nomes que procura. Bruce mantém qualquer emoção velada abaixo de sua máscara, mas seu cenho ainda franze enquanto escuta o que ela acabou de falar.

── A casa pegou fogo. Quando você esteve? ── ele perguntou, como se não soubesse a resposta para aquela pergunta, vestindo-se com uma falsa curiosidade.

── No dia em que ela pegou fogo. ── Delilah o encara, sem emoção alguma.

── Foi proposital. ── Não era uma pergunta e ela sabia disso, porém assentiu uma única vez. ── Ele tentou matar você.

── E, como você pode ver, ele não conseguiu. De novo. ── ela sorri ladino, um sorriso que não alcança os olhos. Ela parece cansada, ele constata. ── Não sei exatamente o que ele estava tentando esconder ao tentar me matar, mas eu encontrei isso. Tem uma lista com 18 nomes. Não reconheci nenhum deles.

Ao explicar, Delilah estende o caderno na direção dele para que o pegue. Batman aceita, segurando o caderno aberto com as duas mãos. Ele lê os nomes, notando a marcação vermelha em alguns.

── Sombrinhei de vermelho aqueles que tentei pesquisar - disse Delilah, sua voz firme, mas o cansaço presente nos olhos. Como se lesse os pensamentos de Batman, ela continuou a explicação antes que ele pudesse interromper. ── Posso ter obtido êxito com alguns. Eram homens que morreram em Gotham há mais de 20 anos, mas é difícil ter certeza de quais são os corretos.

── Imagino que esse caderno pertencia ao Jeremiah ── comenta ele, sua voz grave ecoando no espaço entre eles.

── Comparei a caligrafia através das pastas que você me entregou. Tenho certeza de que o caderno era dele. ── afirma ela de braços cruzados. Um suspiro a deixa, fazendo com que Batman erga o olhar e a observe.

Ele fechou o caderno e estava prestes a devolvê-lo quando a mão de Delilah o deteve.

── Pode ficar com ele. Eu já tirei fotos e imprimi as páginas - disse ela, antes que ele tivesse a chance de perguntar. ── Se fizer uma pesquisa mais a fundo, pode conseguir algo útil.

Batman assentiu, aceitando o caderno em sua mão enluvada, mas seus olhos continuavam a seguir Delilah, como se estivessem tentando ler além das palavras que ela pronunciava. Ela, por sua vez, usou aquele breve momento para continuar fumando o cigarro entre seus dedos, o cheiro de tabaco enchia o ar entre eles.

── Além disso, descobri que Jeremiah frequentava um psicólogo no centro - compartilhou ela, enquanto exalava a fumaça, os lábios entreabertos por um instante antes de continuar a falar. ── Eu conheço um, mas não posso garantir que seja o mesmo. Seria bom se conseguíssemos saber como ele era nas consultas. A maioria dos psicólogos grava suas sessões. Se ele deixou escapar algo, pode nos ajudar a chegar ao assassino.

── Como planeja descobrir isso se a casa pegou fogo? ── perguntou Batman, suas sobrancelhas franzidas em dúvida.

── Jeremiah não morava naquela casa. Ele visitava o lugar algumas vezes, mas morava em um trailer ── respondeu Delilah, soltando a fumaça. ── Talvez tenha algo que deixei passar na primeira vez que investiguei o trailer. Ele deveria pagar o psicólogo de alguma forma, mas não encontramos nenhum cartão. Agora, tudo deve estar com o Ceifador.

Dentro dos arquivos, o policial responsável havia salientado que nenhum dos documentos pessoais de Jeremiah foi encontrado no trailer. Nenhum cartão de crédito, nada sobre as contas bancárias. As notas fiscais localizadas conduziam a uma conta quase inativa, com movimentação mínima. Para Batman e Delilah, estava claro que Jeremiah não utilizava aquele cartão para despesas pessoais.

Se ele possuía outros cartões, a essa altura, provavelmente estavam nas mãos do Ceifador. E isso fez a mente analítica de Batman girar, até que uma possível teoria começou a se formar.

── Provavelmente, Jeremiah planejava fugir da cidade quando foi pego pelo Ceifador ── sugeriu o morcego ── Mas ainda há como descobrir quais contas ele movimentava.

Delilah arqueou uma sobrancelha, curiosa.

── Acha que consegue descobrir?

── Posso tentar.

── Não custa nada, não é? ── murmurou, mais para si mesma do que para ele. Delilah fez uma pausa, antes de acrescentar em tom de desânimo. murmurou, mais para si mesma do que para ele. Delilah fez uma pausa, antes de acrescentar em tom de desânimo. ── Vai ser mais útil do que tentar retirar alguma informação do padre.

Batman inclinou a cabeça levemente.

── Padre?

Delilah assentiu e cruzou os braços, sorrindo.

── Desculpa, eu me esqueci de te contar a parte mais impressionante do meu dia ontem. Eu entrei em uma igreja e, por mais incrível que pareça, não arde em chamas. ── disse ela, divertindo-se. Ela juntou as mãos em fingindo uma oração ── Acha que Deus perdoou todos os meus pecados?

── E por que você foi falar com um padre? ── ele questionou, com o cenho franzido por debaixo da máscara.

── Encontrei um panfleto da Catedral de Gotham na casa dos Stirk ── disse Delilah, desunindo suas mãos ── Conversei com o padre Michael. Nada do que ele disse foi muito útil.

── Existe a possibilidade dele estar escondendo algo?

── Talvez, mas não tenho como ter certeza. ── Sua voz estava mais baixa agora, carregada de incerteza. ── Ele disse que não poderia compartilhar nada do que foi conversado durante o confessionário, mas também alegou que eles não conversavam muito. Não sei se acredito, sinceramente.

Delilah afastou-se alguns passos, coçando a nuca como quem tentava organizar os próprios pensamentos. O morcego observou cada movimento, os olhos atentos capturando detalhes que poucos perceberiam. Ela prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha, e mesmo gestos tão simples traziam à mente de Batman memórias de outra noite - uma lembrança do quão próximos já estiveram.

Ele precisou desviar o olhar, encarando o chão, pensativo naquele momento quando sua mente o traiu. A tensão entre eles, por mais que tentasse ignorar, permanecia ali, pulsante. Eles estavam sozinhos em suas respectivas missões, mas, de algum jeito, continuavam a orbitar ao redor um do outro, sempre à beira de algo mais profundo.

── Ele está em silêncio a muito tempo. ── Delilah murmurou, interrompendo os pensamentos dele, sua voz soando quase como um sussurro, e o Batman não precisa se esforçar muito para saber a quem ela se refere.

── Isso te preocupa? ── sua voz soou mais suave do que o habitual, quase quebrando a armadura emocional que vestia sempre, e Bruce se xingou mentalmente quando ela direcionou o olhar para ele. Por um pequeno momento, pensou que ela percebeu.

── Parece bobagem, mas... ele estar em silêncio me preocupa mais do que se ele estivesse matando pessoas toda a semana ── ela continua, terminando o cigarro, desfazendo-se dele ao jogar o mesmo do telhado ── E eu sinto que, a qualquer momento, vou receber uma notícia ruim.

── Se pensar demais nisso, seus pensamentos vão te consumir. ── o Batman respondeu.

── Eles já me consomem. Todas as noites ── disse Delilah. ── Eu não consigo esquecer...

── O que?

── O que ele fez comigo. ── Ela o encara, sustentando o olhar do vigilante, enquanto aponta para dentro de si mesma ── Ele tirou algo de mim naquela noite, sinto que tem algo faltando aqui dentro. Mas não sei o que é.

Delilah desvia o olhar para longe mais uma vez, pensativa.

E ele escuta as palavras dela em silêncio, ponderando sobre elas enquanto o sol desaparece completamente no horizonte e uma parte dele compreende mais do que gostaria de admitir. Os horrores que encontramos na vida, eles são sempre capazes de tirar algo que temos, algo que nos constitui. Ele, melhor do que ninguem, sabe disso.

Batman afasta aqueles pensamentos. Seu tempo se encurta cada vez mais, a noite está começando a chamá-lo, ele sabe que já passou muito tempo ali, mas tempo do que deveria, então se prepara para partir, para encerrar aquela conversa e sumir na noite. Mesmo assim, seus pés ainda não se movem. Era quase engraçado a forma como ela conseguia fazê-lo ficar, mesmo sem pedir.

Ela o observa com uma intensidade que ele raramente encontra em qualquer um outro, uma mistura de preocupação e uma compreensão profunda daquilo que ele carrega, ao mesmo tempo que sempre parece desafiá-lo a algo, a cruzar a linha, a se revelar.

── Como você consegue? ── A pergunta dela veio baixa, mas firme, as duas mãos apoiadas no parapeito do prédio. Batman a encara, o olhar questionando o que ela quer dizer com isso, mas Delilah não espera uma resposta. ── Como você consegue ver esses horrores todas as noites? Vestir essa máscara e... sair para proteger as pessoas em meio a tanta violência e ainda assim continuar?

Ele a fitou em silêncio, a expressão séria, o peso das palavras dela pairando no ar. Finalmente, sua voz grave e controlada quebrou o silêncio.

── Essa é a minha responsabilidade, ── respondeu Batman, sua voz baixa, mas implacável. ── Se eu não fizer isso, ninguém mais fará.

Delilah o estudou por um momento, como se estivesse tentando ver além da máscara, além da armadura.

── Então é só por isso? Tudo por um senso de justiça? ── ela perguntou, desafiadora. ── Nada mais te move a continuar, além da convicção de que esse é o seu dever?

Por um breve instante, Batman considerou partir sem dar resposta. O instinto de recuar, de desaparecer na escuridão que ele conhecia tão bem, era forte. Mas havia algo na maneira como Delilah o observava, algo na sinceridade de sua pergunta, que o manteve preso ali, no limite entre o dever e a confissão.

Ele virou-se, as costas para ela, a capa balançando suavemente na brisa noturna. A distância entre eles aumentava à medida que ele se afastava, sem olhar para trás. Mas então, antes de desaparecer na escuridão, ele parou e olhou para ela por cima do ombro.

── Uma promessa. ── ele diz, com a firmeza de quem carrega um fardo imenso, dá a resposta que sabe ser verdadeira, mas incompleta. Porque ele não pode, ou talvez não queira, expor as partes mais vulneráveis de si mesmo, aquelas que Delilah parece enxergar mesmo sem ele dizer uma palavra, mesmo sem saber quem ele realmente é por debaixo daquela máscara. ── Prometi que protegeria Gotham. Custe o que custar. Isso é o que me move.

Mais do que um senso de dever, é a única coisa que o mantém inteiro em um mundo que ameaça despedaçá-lo a cada noite. Mas o que ele não diz, o que fica subentendido na pausa entre suas palavras, é que essa promessa não é apenas com Gotham. Bruce Wayne fez aquela promessa no túmulo de seus pais anos atrás, mas ele pensa que ela não precisa e não deveria saber disso.

Ele se obrigou a continuar. Ainda consciente que os olhos dela a seguindo, vendo-o partir. Mas, quando já estava distante, Bruce afogou todos aqueles pensamentos profundamente dentro de si mesmo e permitiu que aquela sombra assumisse o controle novamente, afastando qualquer distração.

Ao progredir da noite, Batman continua sua cruzada fugindo do convencional, indo além do que costuma fazer para garantir a segurança dos cidadãos da cidade, ele cava mais fundo em caso que se tornou praticamente pessoal a essa altura.

Após as 20hrs, ele pousa no estacionamento de um armazém abandonado no Fashion District, onde há apenas um carro estacionado. Um homem de sobretudo encostado próximo a porta, braços cruzados, postura vigilante. Ele não nota a presença do morcego até que ele saía das sombras. Sua postura muda, ele fica tenso, irritado. Batman não está surpreso.

── Porra, você se pode estar brincando comigo. Eu só posso ter dançado pole dance na cruz! ── o detetive Carroll pragueja, afastando-se do carro quando o Batman se aproxima dele. ── Foi você quem me enviou aquela mensagem?!

A mensagem enviada por um número não conhecido e não rastreável era a localização daquele armazém e o horário em que Alistair deveria aparecer. O detetive, desconfiado, enviou uma mensagem em resposta perguntando quem era, em contrapartida o remetente não respondeu mais.

── Precisamos conversar. ── respondeu o morcego, sem se afetar pela forma que Alistair age. Batman tem plena consciência de que Carroll não gosta dele, vestido de vigilante ou não.

── Não tenho nada pra conversar com você. ── disse o Alistair. Irritado, ele se voltou para o seu carro, levando a mão até a maçaneta ── Então, se não quiser ser preso, saía da minha frente, lunático do caralho.

── Tenho informações sobre uma atividade ilegal no porto. ── Batman continuou ignorando as ações anteriores de Alistair. ── Elas envolvem Steven Bullock.

Carroll abre a porta metade do caminho, quando para completamente. Sua cabeça se ergue e seu olhar se volta na direção de vigilante ao seu lado.

── O que você sabe sobre Steven Bullock? ── ele pergunta com o olhar semicerrado.

── Sei que ele tem retirado drogas apreendidas de dentro do DPGC e as vende para outros criminosos após o seu turno. ── respondeu ele. ── Também sei que ele organizou um esquema em Port Adams essa noite. Alguns homens vão roubar um carregamento de Rupert Thorne essa noite.

── E como descobriu isso?

── Estive de olho nele, e em seus amigos. ── entregando brevemente a verdade, Batman não diz a ele que descobriu tudo durante aquela noite, poucas horas atrás.

Ele esteve vigiando Steven desde que ele deixou o DPGC às 20hrs. Seu plano inicial era confrontá-lo, fazê-lo confessar que havia mentido, mas isso de nada adiantaria, talvez apenas criasse mais motivos para Bullock tentar machucar Delilah. Não, suas ações não poderiam ser diretas em relação ao caso. Batman percebeu que desmantelar o esquema de Steven era um caminho mais fácil.

Dois dos homens no porto naquela noite serviram como testemunhas para a queixa que Bullock criou contra Delilah. Eles poderiam entregar informações mais facilmente do que Steven se fossem presos, o que os tornava um alvo fácil e a ligação entre Alistair e a doutora era óbvio, ninguém desconfiaria da conexão entre o Batman e a mulher se Carroll estivesse envolvido também.

Além do mais, ele não admitiria, mas achava que Alistair Carroll poderia ser um aliado útil. Descobriria se isso era verdade essa noite.

── Sei que tem investigado o policial Bullock, Gordon me contou. ── comentou ele, prosseguindo.

── O Gordon realmente deixa você a par de tudo ── Alistair murmurou, soltando uma risada de escárnio e coçando a barba com uma mão. ── Então, o que planeja fazer? E por que precisa de mim?

── Você vai para Port Adams impedir o roubo. ── afirmou o morcego fazendo com que Alistair franzir o cenho, enquanto cruzava os braços.

── Sozinho? Sem reforço algum? ── Carroll o questiona.

── Eu serei o seu reforço.

Sem dar a Alistair a chance de contestar, Batman ergue o braço e usa o arpéu que o puxa para longe. Tudo o que ele escuta antes de planar até um prédio e sumir na noite é o praguejar debaixo de Carroll, resmungando enquanto possivelmente o xinga. A porta do motorista batendo e em seguida o veículo do detetive cantando pneu pela cidade.

Os dois voltam a se encontrar minutos depois, quando Alistair estaciona duas ruas de distância do porto e caminha até as docas sozinho. Antes de entrar na área de descarga, ele olha para cima, onde encontra o morcego na construção ao lado, observando tudo à distância. O descontentamento de Alistair é evidente, mas ele parece disposto a desistir. O tempo de ambos é curto. Ele poderia tentar fazer um chamado, mas não era uma garantia que os oficiais chegassem a tempo. Batman havia feito questão de dar apenas duas escolhas ao detetive e Carroll escolheu o caminho que julgou ser necessário.

Alistair avança, aproximando-se do único segurança na cabine ao lado da catraca para passagem reservada às pessoas. Ele ergue o distintivo e o homem fica tenso, levando a mão ao rádio. Carroll fala meia dúzia de palavras, desconcentrando o segurança até que esteja próximo o suficiente para apontar a arma. Batman pensa em intervir, mas tudo o que o oficial faz é nocautear o homem com uma coronhada na cabeça, arrastando o corpo para fora do caminho. Alistair o prende atrás de um contêiner e avança, seguindo em frente na doca.

Acima dele, o morcego sobrevoa por cima dos containers, seguindo-o pelo lado esquerdo. O detetive segue as vozes que vão se tornando cada vez mais próximas e audíveis conforme ele caminha em direção a um armazém pintado com o número 4 na lateral. O porto parecia completamente deserto até avistarem a movimentação.

O policial se esconde antes de continuar, observando enquanto os homens de Steven caminham juntos até os contêineres do lado de fora, saindo pela grande passagem do outro lado. É mais larga pois carros também entram por aquele espaço, onde podem descarregar coisas pesadas com as empilhadeiras.

Alistair segue os seis homens até um contêiner vermelho recém descarregado. Todos estão rindo, conversando entre si, e vestem máscaras de esqui na cor preta. Eles estão ansiosos para abrir o container e ver o que há dentro dele. Não há qualquer sinal dos homens de Thorne, o que faz o Batman pensar que eles já deram um jeito de se livrar dos outros.

Entretanto, antes que o primeiro possa abrir uma das portas, um barulho alto vem de algum lugar à esquerda. O morcego recém despeja um dos barris com óleo no chão, o som alto suficiente para deixar todos os seis em alerta. Um deles, aquele que age como o líder, avança alguns passos à frente e sinaliza para que cada um vá para um lado. Eles se dispersam e aquele se torna um ótimo momento para agir.

O detetive decidiu começar pelo homem mais à direita, que estava se afastando em direção a uma pilha de contêineres. Carroll se aproximou de fininho, mantendo-se agachado enquanto o criminoso, distraído, olhava nervosamente ao redor. Em um movimento rápido, Alistair desferiu um golpe seco na base do pescoço do homem, que caiu no chão, desacordado. Ele o arrastou para a sombra, escondendo-o de vista dos outros.

Do outro lado do armazém, Batman já havia se posicionado atrás de outros dois homens,batendo a cabeça de ambos juntas para que desmaiassem. Depois disso, ele os amarra junto. Em questão de segundos, ele escuta passos se aproximando. Um terceiro alvo se aproxima e ele contorna o contêiner para pegá-lo de surpresa pelas costas. O homem se assusta quando vê os dois amarrados e se aproxima deles correndo.

O Batman se aproxima, envolve um braço pelo pescoço dele e o aperta. Antes de desmaiar, o homem atirou várias vezes para o ar. O cheiro de pólvora enche o ambiente e o som chama a atenção daqueles que sobraram. Quando o primeiro chega, ele está com a arma em mãos e aponta na direção do morcego.

── O morcego tá aqui! ── gritou o homem mascarado. Ele atira várias vezes, as balas ricocheteiam contra a armadura, algo que apenas serve para enfurecer o morcego.

Batman avança contra o homem, os tiros não são um problema. Ele ergue o braço do criminoso com uma mão, e o choca contra um dos contêineres ao usar sua mão livre para eletrocutar o inimigo. O punho está contra o pescoço e o choque é desferido pelo mecanismo nas luvas.

O líder, agora mais tenso, começou a chamar pelos outros, mas não obteve resposta. Ele tirou uma arma de fogo de dentro da jaqueta, os olhos espreitando as sombras com uma mistura de medo e determinação. Alistair, ainda nas sombras, observou a mudança de postura do líder e decidiu criar uma distração. Ele atirou uma pedra contra uma pilha de caixas à esquerda, fazendo um barulho que ecoou pelo armazém. O líder se virou rapidamente na direção do som, atirando a esmo, dando tempo para Alistair correr e de esconder mais perto dele.

── Para de se esconder, porra! ── exclamou o homem para o nada.

Agora sozinho e cercado pelo silêncio, começou a suar. Ele deu alguns passos para trás, tentando manter todos os ângulos cobertos, mas a tensão o estava desorientando. Ele sabia que estava sendo caçado, mas não conseguia ver de onde viria o próximo ataque.

Carroll decidiu enfrentá-lo de frente. Ele saiu das sombras, a arma apontada diretamente para o líder, e disse com voz firme: ── Largue a arma. Agora.

O líder girou rapidamente, apontando sua arma para Carroll. Por um momento, os dois ficaram parados, em um impasse que quase se torna longo. Mas antes que o líder pudesse puxar o gatilho, um batarang cortou o ar, atingindo a arma em sua mão e desarmando-o.

Alistair avançou naquele momento de distração, abraçando a cintura do criminoso com força e fazendo com que batesse as costas contra a extremidade de um container azul. Com o homem perdendo todo o ar de seus pulmões, Carroll desferiu dois socos contra o inimigo e o deixou cair no chão, desacordado. Com os seis criminosos neutralizados, Batman e o detetive Carroll se encontraram no centro do armazém. O detetive olhou para o vigilante, o respeito relutante em seus olhos visíveis. Eles não precisavam de palavras para entender que haviam feito um bom trabalho juntos, mas isso ainda o irritava.

── Pronto. ── Carroll ofegou levemente, enquanto. Batman nem ao menos parecia estar soando. ── Impedimos o roubo. E agora?

Sem uma palavra, Batman se agachou ao lado do homem inconsciente. Seus dedos firmes ergueram a máscara de esqui, revelando lentamente o rosto do bandido. Ao reconhecê-lo, uma sombra de algo que poderia ser chamado de satisfação cruzou seu olhar. Lawrence Blythe. Nos minutos seguintes, o criminoso foi arrastado até um armazém abandonado, com o som metálico de suas botas ecoando pelo espaço vazio.

As luzes do armazém foram ajustadas, diminuídas. Lawrence foi amarrado a uma cadeira no centro da sala, a única fonte de luz incidindo diretamente sobre ele, enquanto as sombras ao redor escondiam o que poderia estar à espreita. Quando tudo estava perfeitamente orquestrado, Alistair assumiu o controle, sua mão pesada batendo no rosto de Lawrence algumas vezes, trazendo-o de volta à realidade com um baque seco. O homem piscou confuso, o sabor metálico de sangue fresco preenchendo sua boca.

─── O que? ── A voz de Lawrence sai rouca, carregada de dor e desorientação.

── Isso aí, hora de acordar, raio de sol. ── Carroll aproximou-se, sua voz carregada de malícia. Ele se inclinou sobre Lawrence, com um sorriso que não alcançava os olhos. ── A hora da soneca acabou, boneca.

Lawrence pragueja baixinho, fechando os olhos com força, tentando afastar a dor que latejava em sua cabeça. As lembranças dos últimos momentos começaram a voltar, fragmentadas e distorcidas.

── O que você quer, cara? ── ele perguntou, um toque de pânico começando a colorir sua voz.

── Quero que você responda algumas perguntas. ── A resposta de Alistair foi direta, sem espaço para negociação.

── Você é policial, não é? ── Blythe tentou manter a calma, agarrando-se ao que sabia. ── Sabe como a lei funciona. Eu só falo na presença do meu advogado.

Carroll soltou uma risada fria, um som desprovido de humor.

── Se você não falar o que eu quero saber, vai precisar de um médico, não de um advogado. ── Ele deu um passo brusco para trás, fazendo a cadeira de Lawrence balançar violentamente. O criminoso engoliu em seco, tentando controlar o medo crescente, mas ainda assim resistindo.

── Eu não sou idiota, gambé. Eu sei que no momento que eu falar, você vai me matar. ── Lawrence cuspiu as palavras, sua voz carregada de ódio e desafio. ── Sei como vocês corruptos de merda trabalham.

Alistair, que até então andava de um lado ao outro, parou de repente ao escutar as palavras do homem. Seus olhos se estreitaram, e ele cruzou os braços, encarando Lawrence com uma intensidade gélida.

── É, mas essa não é a questão que importa aqui. ── O policial falou com uma calma perigosa. ── O que importa é se você sabe como ele trabalha.

O semblante de Lawrence mudou instantaneamente. A confusão deu lugar ao terror quando Batman saiu das sombras, seus passos ecoando na escuridão. O rosto de Blythe perdeu toda a cor, os olhos arregalados em puro horror. Há pavor no rosto do criminoso. A marca do morcego. O olhar daqueles que testemunham o horror verdadeiro pela primeira vez.

O pânico se espalhou pelo corpo de Lawrence como um veneno, fazendo-o puxar as amarras desesperadamente, mas era inútil. Ele estava preso, cercado, sem saída. Alistair observou com satisfação o desespero que tomava conta de Blythe, saboreando cada segundo.

── E agora? Vai falar ou não? ── A voz de Carroll transbordava presunção. O olhar de Lawrence oscilava entre o policial e o Batman, o terror crescente em seu rosto tornava-se quase palpável. ── Calma, Larry. Não vai se mijar nas calças. Ele ainda nem te bateu.

── T-tá bom, tá bom, e-eu falo tudo que vocês quiserem saber! ── gaguejou Lawrence, a voz trêmula, desesperada. ── Pode perguntar, eu respondo. Só deixa esse maluco longe de mim, porra!

Carroll riu, um som seco e cortante. Ele olhou por cima do ombro para o Batman, como se compartilhasse uma piada particular.

── Agora eu entendo por que o Gordon gosta de ter você por perto. Policial bom e policial mau. ── Comentou meneando a cabeça e em seguida, voltou-se para Lawrence, sua expressão endurecendo novamente. ── Certo, Larry. Comece a falar. Por que estava roubando esse carregamento?

Lawrence respirou fundo, tentando se recompor.

── Steven Bullock descolou esse trabalho pra gente. Disse que a gente ganharia um bom dinheiro se pegasse o carregamento e levasse tudo para o outro lado da cidade. ── Ele engoliu em seco novamente, os olhos brilhando de medo. ── Recebemos um pagamento adiantado para isso.

── Ele disse pra você de quem estavam roubando?

Lawrence hesitou, o terror voltando ao seu olhar quando encontrou os olhos penetrantes do Batman. Ele assentiu lentamente, como se cada movimento fosse sua sentença de morte.

── Rupert Thorne.

── Por que estavam roubando do Thorne? Você tem algum envolvimento com a máfia?

── Não, nenhum! ── Lawrence exclamou, o pânico em sua voz crescendo. ── Mas o Bullock tem... Quer dizer, são boatos. Mas é ele quem arruma esses trabalhos pra gente. Como policial, ele não pode se envolver diretamente, então paga outras pessoas pra trabalhos como esse. Ele não disse pra gente por que estava roubando o Thorne, mas eu acho que tem a ver com o Sal Maroni.

── Bullock trabalha para o Maroni?

── Acho que sim. ── Lawrence gaguejou, sua voz quase se perdendo no silêncio. ── Ele nunca disse com todas as letras que trabalha, sempre se refere como "meu chefe". "Meu chefe quer", "meu chefe mandou", "isso é para o chefe". ── Ele repetiu as palavras de Bullock, balançando a cabeça de um lado ao outro para dar ênfase ── E todo mundo sabe que o Maroni e o Thorne têm brigado pelo controle de Gotham há anos. Isso não é segredo pra ninguém.

Não era uma mentira, eles sabiam disso. Mesmo que não fosse noticiado, todos sabiam que a máfia estava travando uma guerra silenciosa há algum tempo. Sal Maroni e Rupert Thorne se respeitavam o suficiente para não se enfrentarem diretamente, mas viviam tentando sabotar um ao outro. Thorne estava perdendo seu poder nos últimos anos, conforme Maroni arrumava mais aliados. Era questão de tempo até Rupert afundar completamente. Mas não importava quem vencesse aquela guerra, Gotham perderia de todos os jeitos.

A apreensão de drogas na semana passada, um claro golpe de Maroni contra Thorne, foi orquestrada para dar a Steven Bullock a promoção que ele queria. Agora ele havia deixado de ser um simples policial em Bowery e trabalhava para a central do DPGC em Old Gotham.

── Certo, então o Steven pagou você e seus amigos para fazerem o trabalho sujo dele. ── disse Alistair, dando alguns poucos passos lentos pela sala. ── E o que mais? O que mais você fez pelo Bullock?

Lawrence engoliu em seco, o nervosismo transparecendo na forma como seus olhos oscilavam entre o policial e o Batman, como um animal encurralado. Ele tentou falar, mas as palavras falharam, saindo como murmúrios sem sentido. A sala parecia comprimir-se ao seu redor, o peso da verdade tornando-se insuportável.

── Quer que eu deixe ele te interrogar? ── Alistair perguntou, seu tom carregado de uma ameaça velada enquanto indicava o morcego com um leve movimento do polegar.

── Ok, ok! Eu fiz mais coisas a mando do Bullock! ── Lawrence explodiu, sua voz trêmula enquanto seus olhos encontravam o chão, como se a confissão pudesse livrá-lo da intensidade daqueles olhares. ── Semana passada... Ele pediu pra mim e outros dois caras testemunharmos contra uma doutora do Mercy.

O silêncio se estendeu por um momento, pesado como chumbo quente. Alistair manteve os braços cruzados, mantendo o controle, enquanto o peito de Lawrence subia e descia em pânico. Com um esforço visível, o criminoso ergueu o olhar, enfrentando o detetive, que o observava com uma seriedade quase palpável.

── A gente tinha marcado de se encontrar no bar naquele dia pra discutir detalhes do roubo. ── continuou Lawrence, a voz agora quase um sussurro. ── Mas o Steven estava fora de si, dizendo que uma mulher tinha batido nele ou algo assim. Dias depois, ele apareceu com essa ideia maluca de sermos as testemunhas dele.

── Mas vocês não estavam lá na hora. ── Alistair retrucou, uma ponta de incredulidade em sua voz.

── Não, não estávamos. Chegamos depois. ── Lawrence confirmou, sua voz carregada de uma estranha mistura de culpa e resignação. ── Só fizemos isso porque o Steven insistiu muito. Mas eu sabia que era uma burrice. Quem em sã consciência faria isso contra uma médica? E a gente sabe como o Steven é. Ele não aceita não como resposta.

As queixas que Steven recebeu, todas feitas por mulheres, eram sempre retiradas antes de 1 semana. No final, elas sempre acabavam tendo que pedir desculpas a ele.

── O maldito ego ferido dele falou mais alto, é claro. ── Alistair comentou com escárnio, mas havia uma desconfiança crescente no morcego.

── Eu também pensei isso, mas... depois ele começou a falar coisas estranhas. ── Lawrence murmurou, hesitando como se cada palavra fosse um passo em falso. ── Parecia que não foi só ideia dele, entende?

A expressão de Alistair endureceu, e seus olhos se estreitaram em suspeita.

── Que merda você está dizendo?

── Olha, o Steven tem seus segredos, ok? Nunca conta tudo pra gente, mas... ficou claro pra mim que ele não fez isso só porque a doutora bateu nele. Steven nunca faz nada sem ter algo a ganhar, e dessa vez não é diferente. ── Lawrence revelou, a tensão em suas palavras reverberando pela sala.

Os olhos de Batman se estreitaram, a sombra em seu rosto tornando-se ainda mais densa. As peças começavam a se encaixar, e uma sensação inquietante se instalava. A sala parecia mais escura, o ar mais pesado, como se uma tempestade silenciosa estivesse prestes a explodir.

Alistair permaneceu imóvel, mas por dentro, uma tempestade de revolta e compreensão crescia. Seu punho cerrava-se, o maxilar travado em fúria contida. Evidenciando que os dois pensam a mesma coisa.

── Alguém pagou o Bullock para fazer a denúncia. ── com uma voz que parecia cortante, Batman deu voz ao temor que paira sobre os dois.

São quatro da manhã quando Bruce retorna para a Torre Wayne. A noite havia corrido como todas as outras com perseguição a ladrões e criminosos violentos depois que a missão com Alistair se encerrou. Os criminosos envolvidos no roubo haviam sido levados para o DPGC depois que Carroll chamou por reforços no rádio, aprendendo não apenas os bandidos mas também o carregamento de Thorne que estava dentro do contêiner. Ele seria investigado mais tarde.

Alistair levaria toda a glória pelo o que aconteceu em Port Adams naquela noite, não o Batman e fora uma exigência do próprio morcego, algo que o detetive não fez questão de contestar. Carroll chegou a perguntar a ele horas atrás, quando apenas restara os dois em frente às docas, o que deveria dizer se perguntassem se ele trabalhou em conjunto com o Batman naquela noite.

── Diga que você planejou tudo sozinho ── respondeu o Batman, sombriamente. ── Steven não pode saber que estou atrás dele, não ainda.

── Quer chegar no Maroni através do Bullock ── não era uma pergunta, mas sim uma afirmação que partia do policial. Alistair levava um cigarro aos lábios e o acendia com um isqueiro cinza com o desenho de tigre. ── Jogada inteligente, mas ainda não gosto de você. E espero que o que aconteceu aqui não se repita mais.

Quando Carroll guardou o isqueiro e olhou para o lado, o Batman não estava mais lá. Alistair tragou seu cigarro, expelindo a fumaça para longe e bufou.

── Babaca. ── disse ele no silêncio da noite, pondo-se a caminhar em direção ao seu carro.

Naquele ponto, o morcego estava longe, indo atrás de outro chamado que escutava através do rádio da polícia. Porém sua mente continuava retornando para o que aconteceu naquele porto, para as coisas que havia descoberto.

Desde que o Batman surgiu, a criminalidade em Gotham havia começado a baixar. Antes dele, tudo era muito pior. Hoje em dia Gotham tinha dias com 0 crimes violentos, todos eram interceptados pelo Batman ou nem sequer chegavam a acontecer, pois os bandidos tinham medo do morcego que sempre estava à espreita. Mas isso nunca era o suficiente. Não retirava a mancha presente na história da cidade, ela ainda estava afundando. Lentamente, mas estava.

Em seu primeiro ano, o Batman era uma lenda. Criminosos alegavam ver um morcego gigante ou um fantasma, nunca sabiam o que os atingia. Ele era um mito. Até que Gotham inteira o aceitou como uma realidade. Batman conseguiu o apoio do tenente Gordon e, mesmo que ainda fosse considerado um criminoso por alguns outros oficiais, se fazia útil ajudando a polícia à sua maneira e isso por si só parecia bastar para o restante da cidade. Ele estava fazendo algo, estava lutando por quem não podia.

Mas, ainda assim, aquela sensação de impotência pairava no horizonte.

Quando havia um nome, um rosto a quem ligar, alguém quem ele pudesse confrontar diretamente, tornava tudo um pouco mais fácil. Entretanto perseguir um inimigo que quase parecia invisível era complicado e frustrante. O Ceifador era muito escorregadio e, cada vez que o tempo passava, Bruce tinha mais certeza que ele não trabalhava sozinho. Mas então surgia o questionamento: o que alguém ganharia ajudando um serial killer? Como alguém poderia se beneficiar cobrindo os rastros de um assassino?

A relação, é claro, deveria ser benéfica para os dois lados. Sendo que, de certa forma, havia um confronto de interesses. Enquanto aquela pessoa desconhecida queria atrapalhar a investigação, retirando Delilah do caso, o próprio Ceifador queria que fosse ela quem o encontrasse. Nitidamente o assassino jogava com ela, buscando fazer com que a doutora compreendesse como eles eram iguais, e alguém parecia não querer que isso acontecesse. Alguém temia pelo Ceifador, enquanto ele negligenciava sua própria cruzada indo em busca de uma aproximação com Delilah.

E, Bruce sabia que deveria usar isso ao seu favor, mesmo que uma parte dele temesse estar arriscando a segurança da mulher em troca de respostas. Não era o seu ato mais altruísta, mas ele sabia que, enquanto o assassino tivesse um interesse em Delilah, eles tinham uma certa vantagem.

Ao avançar da noite, ele tenta não pensar tanto nisso quando retorna para casa utilizando uma das motos que escondeu pela cidade, acelerando nos túneis enquanto o sol estava prestes a nascer.

As motos são práticas. Todas do mesmo modelo, chassi raspado, tanque e pneu cheios e sempre deixadas em lugares de fácil acesso para ele, como os túneis ou esgotos ou saídas poucos movimentadas. Algumas acabavam sendo apreendidas pela polícia em algum momento, quando ele desleixadamente as abandonava após uma perseguição brutal, mas não havia nenhum histórico que as levasse até o homem por detrás da máscara.

Quando Bruce retorna para casa durante a madrugada, sem o uniforme e atravessando os túneis subterrâneos das velhas linhas de trem interceptadas que o levam até a Torre Wayne com uma das suas motos, ele ainda está tentando se desligar de tudo que viu e fez. Mesmo se precavendo tanto, ainda não se sentia no controle, sempre beirando seu próprio declínio.

Então ele deixa o equipamento para trás e se move pelo esconderijo até a mesa de trabalho. A maquiagem escura ao redor dos olhos permanece quando Bruce retira as lentes de contato e as coloca para serem analisadas pelo computador. Sua noite ainda não acabou. Não enquanto ele não repassar tudo o que viu durante a patrulha, do início ao fim, para se lembrar.

Mas, diferente das outras vezes, sua noite não começa com violência, ossos quebrados, súplicas ou pedidos de socorro. Não, a noite dele começa com ela. A primeira imagem que ele vê é ela em frente ao pôr-do-sol no telhado. O cigarro entre os dedos, o olhar melancólico no rosto e como aquelas orbes esverdeadas se fixam nele.

Ele respira fundo, permitindo que seus olhos captem cada movimento dela por um longo e silencioso momento, como se pudesse simplesmente se desligar do mundo ao redor. Seria muito fácil, Bruce pensa, se todas as noites sempre fossem assim.

── Vejo que foi se encontrar com a senhorita Delilah hoje ── Alfred corta o silêncio com seu comentário, aproximando-se de seu patrão.

Bruce, ainda focado nas filmagens, virou-se abruptamente, mas não pausou o vídeo que estava analisando. Seus olhos encontraram os de Alfred por um momento, antes de voltar à tela e relaxar seus ombros.

── Como ela está? ── perguntou Alfred, enquanto colocava a bandeja com o jantar na bancada ao lado de Bruce.

── A perda do caso do Ceifador a afetou, mas ela parecia... melhor do que ontem ── respondeu Bruce, adiantando a gravação com o mouse. ── Perder o emprego a preocupa mais, eu acho. Ela não tocou no assunto.

── Bom, não é como se ser retirada do caso fosse fazê-la parar de investigar, certo? Delilah já evidenciou isso na noite passada. ── disse o mordomo, arqueando uma sobrancelha. ── E há coisas, pelo visto, que o Batman não precisa saber. Ou irá descobrir de qualquer forma, levando em conta que o tenente Gordon sempre lhe deixa a par de tudo.

Bruce apenas murmura, afirmativamente. Seus olhos focam nas filmagens por um momento longo.

── Ela não se importa com os riscos, apenas em pegar o Ceifador. Esse é o problema. ── diz ele. ── Delilah teve sorte antes, mas pode não ter nas próximas tentativas.

── Então, a acha imprudente? ── perguntou o mordomo. ── Logo... você, patrão Bruce?

── É diferente, Alfred. Alguém a quer fora deste caso, e se Delilah continuar, é só questão de tempo até que façam algo pior.

── Pior do que trancar vocês dois em uma casa e atear fogo? ── provocou Alfred, com um toque de ironia.

── Aquilo foi para nos assustar ── Bruce respondeu de forma resoluta. ── Se quem fez isso quisesse realmente nos matar, teria garantido que o trabalho fosse cumprido. Mas não o fez.

Alfred colocou uma xícara de chá em frente a Bruce, sabendo que ele não beberia por vontade própria, mas sem dar margem para discussão. Bruce aceitou o chá, mais por resignação do que por desejo, e tomou um gole enquanto adiantava o vídeo para a parte da investigação no armazém. Ele então compartilhou com Alfred o que Lawrence havia revelado horas atrás.

── Ela se tornou alvo de alguém além do Ceifador ── disse Bruce, a voz carregada de preocupação. ── Alguém que não quer que ela descubra a verdade, e por isso envolveu Bullock. Sabiam do desentendimento entre eles.

Alfred olhou para Bruce com seriedade. ── Vai contar isso a ela?

Bruce desviou o olhar da tela por um breve instante, e a resposta de Alfred veio no silêncio que se seguiu.

── O senhor não acha que ela deve saber do risco que está correndo?

Bruce hesitou antes de responder.

── Se eu contar, ela pode se desesperar. Quanto menos Delilah souber, melhor.

── Mestre Bruce, se me permite dizer, não acho que criar mais segredos entre vocês dois seja o caminho certo a seguir ── disse Alfred, temeroso pelo o que pode acontecer. Ele estava claramente descontente com o caminho que Bruce insiste em seguir, mas sabe que dificilmente o homem muda de ideia ── Até quando pretende mantê-la no escuro?

── Até quando eu julgar necessário. Ela é uma patologista, mas ainda é uma civil. Se eu a mantenho por perto, é porque preciso dela. ── Bruce se recostou na cadeira, a expressão indecifrável. ── Mas quando chegar a hora, quero que ela esteja longe disso.

── Então não permitiu que o detetive Bullock a afastasse, mas pretende fazer isso você mesmo? ── questionou Pennyworth, seu sotaque britânico se acentuando.

Bruce olhou diretamente para Alfred ao responder, com uma determinação que mostrava ser inabalável.

── Se eu julgar necessário, sim. Encontrarei uma forma de tirá-la dessa investigação. ── disse ele. ── Mas, por enquanto, vou mantê-la por perto para garantir sua segurança.

Quando Bruce volta-se para o as telas novamente, focado nas filmagens da noite e dando aquela conversa como encerrada. Alfred, por sua vez, suspirou profundamente, os ombros cedendo com o peso do cansaço e do desgosto. Ele sabia que dificilmente Bruce mudaria de ideia.

Os passos do mordomo se afastando podem ser escutados, enquanto ele andava em direção a saída.

── Espero que encontre uma maneira de lidar com a situação que criou, então ── disse Alfred, com um toque de amargura. ── Ignorou as mensagens dela o dia todo. Se pretende protegê-la, não acho que seja assim que vai conseguir.

O som sutil do elevador preenchia a caverna vazia quando o mordomo partiu, deixando Bruce Wayne sozinho com suas próprias reflexões. As últimas palavras de Alfred reverberavam, causando um peso indesejado que Bruce não podia ignorar, mesmo tentando. Ele ainda segurava o caderno e a caneta, prontos para registrar seus pensamentos da noite, mas as palavras não vinham. Seus dedos estavam imóveis, incapazes de escrever o que fervia em sua mente.

Com um movimento abrupto, ele empurrou o caderno para o lado, os ombros tensos sob o peso da frustração. Fechou os olhos com força, murmurando entre dentes. Alfred estava certo. Sempre estava. Mas Bruce não admitiria isso. Não em voz alta.

Os minutos passaram em um ritmo preguiçoso até que o jantar solitário foi consumido. Bruce subiu pelo elevador, a cobertura mergulhada em um silêncio opressivo. O sol já começava a tingir o céu com seus primeiros raios, evidenciando o novo dia, quando ele finalmente entrou no banheiro. A água quente do chuveiro fez pouco para aliviar a tensão acumulada nos músculos ou os hematomas arroxeados por seu corpo.

Quando saiu, vestindo uma calça de moletom, uma toalha pendurada ao redor do pescoço e com o torso nu, ele ainda se sentia tão inquieto quanto antes. Ao se sentar na cama, seus músculos, ainda doloridos da noite anterior, pareceram finalmente ceder ao cansaço, mas sua mente permanecia em alerta. A conversa com Alfred não era o único pensamento que o assombrava. A imagem de Delilah no telhado, a conversa trocada entre os dois, tudo ecoava, tornando impossível o descanso e ampliando suas frustrações.

A verdade, no entanto, começou a se firmar em sua mente. A proximidade deles não era algo que ele pudesse evitar, não mais. Com as reviravoltas recentes, Bruce começava a ver que o único caminho viável talvez fosse aceitar o que estava acontecendo. Aceitar que ele precisava dela perto. Era uma ideia perigosa que estava se formando em sua mente, manipuladora até, como se ele estivesse usando essa conexão em benefício próprio. Mas ele não via outra alternativa, não sob o olhar frio e analítico que sempre o acompanhava. O caso era mais importante, manter Gotham segura era mais importante, ele dizia a si mesmo.

Seu olhar se voltou para o celular repousando na mesa ao lado da cama, inerte e entocado o dia todo. Bruce fixou o olhar por longos minutos, porém sua decisão já estava tomada, não havia mais dúvidas em sua mente. Ele esticou a mão e segurou o objeto, decidido a demolir algumas barreiras.

AUTHOR'S NOTE.

I. | Estamos de volta e dessa vez com mais um capítulo focado no Morcegão. E tenho que ressaltar a capacidade que o Bruce tem de me fazer passar raiva. Às vezes, esse homem pede por uns tapas. Ressalto também que elementos desse capítulo foram retirados da HQ A Gárgula de Gotham (2023).

II. | As atualizações de ID não devem ocorrer toda a sexta deste mês, mas estou programando mais um capítulo. Quero reservar as atualizações contínuas para o mês que vem, que temos o dia das bruxas, o mês perfeito para manter as atts recorrentes.

III. | Não se esquecam de comentar o que estão achando e votar no capítulo. Adoro interagir com vocês e estava com muitas saudades!

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