Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝟏𝟔. › GUILTY AS SIN?

𝟎𝟏𝟔.           CULPADA COMO O PECADO?

OUTONO⠀──⠀ NOV. 30, TERÇA-FEIRA
NARROWS, COMPLEXO DE APARTAMENTOS.

DELILAH NÃO conseguia dormir. As luzes da cidade infiltravam-se pelas brechas das cortinas, misturando-se com as manchas arroxeadas de um outdoor neon do outro lado da rua, pertencente a um hotel recém-construído. Ironicamente, "Downtown Lights" tocava ao longe, e se Delilah se concentrasse, poderia discernir os acordes do refrão da música.

Normalmente, nada daquilo a incomodava. Os ruídos da cidade eram como uma canção de ninar, conduzindo-a a um sono que invariavelmente se tornava agitado às 3 da manhã. Contudo, naquela noite, algo a mantinha desperta, os olhos bem abertos.

Seus olhos turvos estavam fixos no teto de seu quarto, observando as hélices do ventilador girando lentamente. Ela tentava manter um pensamento coerente, mas sua mente sempre voltava para o que ela estava tentando evitar. O homem na sua sala de estar. Bruce, dormindo no seu sofá. Bruce Wayne, dormindo a poucos metros de distância, envolto em seu cobertor mais apresentável.

Aquela presença a corroía por dentro. Delilah sentia uma necessidade urgente de fazer algo, qualquer coisa. Deveria ter insistido para que ele dormisse na cama também? Era uma king size, não se tocariam. Delilah não era espaçosa, Bruce tampouco parecia ser. Mas só de pensar na possibilidade de estarem juntos sem se tocarem, ela sentia um incômodo profundo, como se fosse uma ideia horrível, uma forma lenta de morrer.

Em algum momento, ela se levantou, quente e inquieta. Precisava de um copo de água. Ou lavar o rosto. Ou tomar um banho frio. Seu corpo escolheu a primeira opção, arrastando-a para a cozinha. Quando chegou ao batente da porta, Delilah parou, encarando Bruce como se tivesse sido pega no flagra.

Ele não estava dormindo. Sentado no sofá com o cobertor sobre as pernas, cotovelos apoiados nas coxas, ele olhava fixamente para um ponto na mesa de centro. Ao perceber Delilah, levantou o olhar instantaneamente. Na penumbra, ela mal podia ver seu rosto com clareza, mas os olhos azuis brilhavam com algo que ela não conseguia identificar, algo que fez um frio atravessar sua espinha.

Ela engoliu em seco, sentindo a garganta seca.

── Também sem sono? ── Ele perguntou com aquela voz grave que fazia o corpo dela tremer. Delilah achava que disfarçava bem o que sentia por ele, mas ao ouvir a voz de Bruce, ao observá-lo à distância, ao sentir seu olhar, era demais para suportar.

── Sim ── ela murmurou, surpreendentemente firme, sem desviar o olhar.

Bruce se inclinou para trás no sofá, sem desviar os olhos dela, desafiando-a. Ele puxou o edredom do sofá, convidando-a a se sentar ao seu lado.

Hesitante, Delilah caminhou até ele, os pés descalços tocando o chão frio. Parou diante dele, que esperou pacientemente pelo próximo movimento. Quando ela finalmente se sentou no colo dele, Bruce instintivamente a envolveu com uma mão nas costas, soltando uma respiração exasperada ao sentir como ela se acomodava perfeitamente.

Foi ela quem iniciou o beijo, ditando o ritmo. Uma de suas mãos deslizou pela nuca dele, os dedos entrelaçando-se em seu cabelo, enquanto a outra segurava firmemente seu pescoço, arranhando a blusa com as unhas e puxando-o para mais perto.

O beijo era desleixado e sedento. Ele tinha um gosto de uísque puro e algo mais, algo que Delilah não conseguia identificar. Seu cérebro não processava direito, pois tudo o que conseguia sentir, tudo o que conseguia imaginar era Bruce. Ele inundava todos os seus sentidos com seu cheiro, seu toque e suas palavras. As mãos quentes dele sobre suas costas deixavam marcas em cada lugar que tocavam, e Delilah sentia falta de cada toque momentaneamente afastado.

Os lábios macios de Bruce eram um vício, e Delilah se pegava pedindo por mais, mais e mais. Cada pausa para respirar era seguida por um retorno apaixonado. Bruce a fazia sentir algo que ela não conseguia ignorar.

Em algum momento, Bruce a deitou no sofá. Seus lábios desceram pelo pescoço dela, as mãos firmes em seus quadris. Delilah inclinou a cabeça para trás, os olhos fechados com força, sentindo o calor crescer. Quando abriu os olhos, Bruce estava próximo ao seu quadril, as mãos firmemente segurando o elástico do short, removendo-o lentamente junto com a peça íntima.

Ela poderia jurar ter ouvido Bruce sussurrar algo parecido com "minha" próximo à parte interna de sua coxa, após beijar a área e continuar descendo. Delilah gemeu o nome dele, mas não conseguia ouvir a própria voz. Era demais. Estava se tornando demais, mas ao mesmo tempo parecia não ser suficiente. Bruce parecia intangível, como se ela não pudesse alcançá-lo.

Ela tentou levar a mão até o cabelo dele, mas não conseguiu. Tentou tocar Bruce, mas tudo o que conseguia era se afogar nas sensações das mãos dele sobre seu corpo, em todos os lugares ao mesmo tempo. Apertando sua carne, seus seios entre os dedos, os lábios dele em seu pescoço, em sua coxa, se perdendo dentro dela.

Toda e qualquer capacidade que Delilah tinha de formar palavras se perdeu. Sua mente repetia apenas a última palavra que ela havia dito, várias e várias vezes, fazendo-a chegar mais e mais perto de algo indescritível. Então, em meio ao emaranhado que o corpo dela e de Bruce haviam se tornado, Delilah viu o rosto dele, os olhos azuis bem acima dos seus. Quando tentou tocá-lo novamente, a mão dele envolveu sua garganta, e ela se sentiu erguida do sofá, os lábios dele quase tocando os seus, fazendo sua pele se arrepiar.

── Não se esqueça, Delilah, ── disse ele, próximo a orelha dela, sussurrando aquelas palavras lentamente ── foi você quem começou.

Um som estridente a fez despertar, dissipando o sono e as imagens que sua mente evocara em um só golpe.

Despertando em seu quarto, suada e ofegante, Delilah olhou ao redor enquanto se sentava e arfava várias vezes, com seu peito subindo e descendo. O movimento abrupto agravou sua dor de cabeça, turvando sua visão. O som incessante do despertador ao lado da cama só intensificava a dor em suas têmporas, tornando-a quase insuportável.

Ainda vestida com as roupas da noite passada e sentindo-se desconfortavelmente estranha, ela observava os primeiros resquícios da manhã infiltrarem-se pelo cômodo através da janela entreaberta, com o vento fresco balançando as cortinas e ricocheteando contra suas bochechas coradas. Contudo, a lembrança do desejo ainda pulsava em suas veias, tocando seu coração como um tambor e mantendo seu corpo quente.

Ela estendeu a mão para desligar o despertador que marcava 8h da manhã, interrompendo o som antes que enlouquecesse. Era cedo demais, e Delilah se arrependia de ter bebido tanto na noite anterior. Parecera uma boa ideia na hora, especialmente depois de tudo o que acontecera, mas agora, com as consequências se manifestando e seu estômago revirado, o arrependimento a corroía de dentro para fora.

O cansaço alojava-se em seu corpo, tornando difícil levantar-se. Passando a mão pelo rosto, Delilah arrastou-se até o banheiro, fechando os olhos ao acender a luz. Deu-se alguns segundos antes de abri-los novamente, piscando para se acostumar à claridade.

O mero vislumbre de seu reflexo no espelho a fez estremecer. Esquecera-se de retirar a maquiagem antes de dormir, e a máscara de cílios borrada ao redor dos olhos dava-lhe a aparência de um panda. Delilah lavou o rosto e retirou os resquícios de maquiagem com um lenço umedecido antes de tirar as roupas e entrar no chuveiro, ligando o mesmo na água fria.

Era difícil ignorar o problema, pois os flashes da noite anterior retornavam à sua mente aleatoriamente. Delilah queria acreditar que tudo não passara de um sonho, que Bruce nunca a tocara daquela maneira e que os dois nunca se envolveram, mas era complicado desvincular a imagem dele das coisas que nunca fizeram. Especialmente quando ela tinha certeza de que, na noite passada, estiveram muito perto de algo mais.

A linha entre a verdade e a mentira estava começando a se borrar, fazendo-a se odiar ainda mais por ter bebido. Ela se lembrava de ter se afastado, de ter ido embora sem olhar para trás. Lembrava-se do olhar de Bruce e das palavras dele.

"Não quero que você se arrependa."

Ele a conhecia melhor do que ela imaginava. Pois, depois do que aconteceu no dia de ação de graças, ela provavelmente se arrependeria se algo tivesse acontecido entre eles ── mesmo que uma parte dela também desejasse isso, não parecia certo que ocorresse daquela forma.

Saindo do chuveiro, a mente de Delilah recordou que Bruce ainda estava em seu apartamento e que, em algum momento, ela precisaria encará-lo. E apenas o mero pensamento era insuportável. Ela era boa em fingir, mas não em situações como aquela. Não depois de ter uma fantasia tão vívida que continuava a confundir sua mente.

── Droga ── praguejou, colocando as mãos sobre o rosto em frente ao espelho, tentando não se desesperar tão cedo.

Delilah bufou, decidindo que a melhor opção seria encarar o problema de frente. Nunca foi do tipo que corria e se escondia; não seria agora que tomaria esse caminho. Precisava se concentrar, colocar a cabeça no lugar e delimitar novamente um limite para aquela parceria dos dois. Com sorte, Bruce a entenderia.

Vestiu-se rapidamente, escolhendo uma legging preta e uma blusa larga cinza com uma estampa aleatória comprada em liquidação. Com o cabelo ainda molhado caindo sobre os ombros, Delilah caminhou até a porta, hesitando por um momento, com a mão a centímetros da maçaneta.

Foco, pensou. Balançando a cabeça, seguiu em frente e abriu a porta do quarto sem hesitar novamente. Apenas para encontrar a sala completamente vazia.

O cobertor que Bruce usara na noite passada estava dobrado sobre o sofá, e seu casaco não estava mais pendurado. Não havia qualquer resquício dele, nada que indicasse que ele realmente estivera ali ou que ficara a noite toda. Nem mesmo o veículo de Bruce estava do lado de fora quando Delilah olhou pela janela.

Era esperado que ela se sentisse aliviada por não ter que lidar com o drama pela manhã, mas Delilah não se sentia assim. Constatou, por fim, que, enquanto ela não queria fugir de seus problemas, Bruce claramente queria.

Horas depois, o taxista desligou o motor, estacionando em frente à estação do Departamento de Polícia de Gotham City. Delilah, observando pela janela aberta, notou a escassa movimentação no estacionamento. Embora a ausência de muitos oficiais lhe oferecesse algum alívio, não foi suficiente para tranquilizá-la. Respirou fundo e abriu a porta, pagando o motorista antes de se voltar para o prédio, inspecionando-o com cuidado.

Após os eventos turbulentos em sua vida, ela decidiu que aquela terça-feira seria um bom dia para uma pausa. Ligou para o trabalho, alegando estar doente, e recebeu uma licença de três dias para se recuperar. Morrison, seu chefe, apoiou a decisão, incentivando-a a tirar um tempo para si. No entanto, em vez de descansar, Delilah optou por se dedicar ao seu segundo trabalho: a investigação.

Ficar em casa era impensável, pois seus pensamentos constantemente retornavam a Bruce Wayne. Assim, decidiu investigar os nomes que encontrara no caderno marrom. Pesquisou exaustivamente, mas a quantidade de possibilidades disponíveis na internet era avassaladora. A maioria dos indivíduos estava morta, e ela encontrou algumas reportagens sobre eles na web. No entanto, nenhum dos nomes parecia levar a algo concreto.

Frustrada, Morgan ligou a televisão, buscando notícias sobre o incêndio na casa dos Stirk, ocorrido na noite anterior. Descobriu que o fogo começou devido a uma fiação antiga, iniciando na sala por causa de um fio desencapado e se espalhando por todo o prédio. Embora as autoridades tratassem o incidente como um acidente, Delilah sabia que era criminoso; alguém tentara matá-la e possivelmente encobrir algo. Infelizmente, nada restará da casa para que ela pudesse investigar.

Tentou entrar em contato com Bruce, compartilhando suas descobertas, mas ele não respondeu a nenhuma de suas mensagens. Antes de sair de casa, verificou as mensagens mais uma vez, mas nada havia mudado; ele sequer as visualizara. Delilah tentou não se abalar, embora fosse incomum. Bruce poderia demorar a responder, e suas conversas nunca eram longas, mas ele sempre respondia. Ela relutava em admitir, mas sentia que ele a estava evitando.

Decidida a não ceder, Delilah optou por seguir com suas decisões sem se preocupar com ele. Após almoçar o que restava na geladeira, sentiu a necessidade de retomar o controle de sua vida, ao menos em parte. Essa determinação a levou até o DPGC, onde sentia que estava prestes a fazer algo contrário aos seus princípios. No entanto, não via outra escolha; permitir que a situação se prolongasse seria ainda pior. Às vezes, era necessário engolir o orgulho, por mais difícil que fosse.

Fechando o sobretudo preto sobre o corpo, avistou Steven Bullock conversando com dois outros policiais ao lado de um Subaru Impreza preto. Ele ria de uma piada que acabara de contar, e os outros homens riam junto com ele. Delilah sentiu um profundo desprezo ao vê-lo, lembrando-se dos eventos recentes que haviam levado ao conflito entre eles.

── Steven ── chamou Delilah, fazendo-o virar-se ainda rindo. Quando Bullock a notou, um sorriso malicioso se espalhou em seus lábios, carregado de uma satisfação quase doentia. ── Podemos conversar?

As risadas cessaram, mas o sorriso presunçoso e arrogante no rosto de Steven permaneceu, como se a presença de Delilah o divertisse.

Essa atitude irritou Delilah, mas ela se conteve, sabendo que precisava manter a calma, não por ser o certo, mas por necessidade. Precisava encontrar uma forma de convencê-lo a retirar a queixa. Concentrar-se no objetivo, não no homem diante dela.

── Acho que você não deveria estar aqui, doutora ── ele disse, o título carregado de desprezo. ── A menos, é claro, que queira que eu adicione mais algumas acusações ao seu processo.

Os dois policiais ao lado dele riram, divertindo-se com a situação. Delilah apertou os punhos ao lado do corpo, ciente de que Steven estava tentando provocá-la para incriminá-la ainda mais. Ela se esforçou para manter a compostura.

── Não quero problemas, apenas conversar ── disse ela, em tom neutro. Seu olhar passou brevemente pelos dois policiais antes de voltar para Steven. ── Só com você.

Steven, parecendo deleitar-se com o momento, finalmente dispensou os outros policiais com um gesto de mão. Assim que ficaram sozinhos, Bullock encostou-se no carro, cruzando os braços, a observando com um olhar desdenhoso.

Assim que os dois estão longe, agora retornando para a delegacia, é apenas Delilah e Steven naquela parte do estacionamento da delegacia. Naquela manhã, ele não estava de farda e ela descobriu, depois de procurá-lo em Bowery, que Steven recebeu uma promoção e conseguiu uma transferência para a central do DPGC. Ele havia conseguido apreender um carregamento grande de drogas na baía da cidade e vários criminosos que estavam envolvidos foram parar atrás das grades.

── Sabe, eu estava me perguntando quando você apareceria ── comentou, com as mãos nos bolsos da calça jeans. ── Uma hora ou outra eu sabia que você viria implorar pelo meu perdão. Sabia que eu não estava errado.

── Só quero que você retire a denúncia ── respondeu Delilah, mantendo a calma. ── Ela está interferindo no meu trabalho, e isso não é o que eu quero ou preciso agora. Por favor, acabe com isso de uma vez, Steven.

── Não ouvi um "sinto muito pelo que fiz, Steven" ── disse ele, meneando a cabeça e afastando-se do carro. ── "Me desculpe, Steven. Estou tão arrependida."

Delilah trincou o maxilar. Estava tentando manter a compostura, mas cada segundo passado ali a fazia se arrepender mais. Steven deu um passo à frente, aproximando-se dela, e Delilah não desviou o olhar quando ele quase tocou seu rosto com a respiração.

── Se realmente quer seu trabalho de volta ── murmurou ele lentamente ── terá que fazer melhor do que isso.

── O que você ganha com isso? ── Delilah o questionou. ── Que tipo de benefício você obtém ao me humilhar?

── Quero que entenda qual é o seu lugar, e que perceba o grande erro que cometeu naquele dia.

── Eu me defendi.

── Sério? E quem vai acreditar em você? ── ele indagou, e Delilah apertou os lábios, contendo a raiva que subia por seu corpo. ── Quero que pague pelo que fez. Agora, quero ouvir o pedido de desculpas sair da sua boca e, depois, penso no que mais pode fazer para me compensar.

A repulsa tomou conta de Delilah ao ver a expressão sórdida de Steven. O controle que ela lutava para manter estava se esvaindo.

── Eu... sinto muito. ── Enquanto ela dizia aquelas palavras com muito asco, ele sorriu lentamente. ── Sinto muito pelo o que eu fiz. Eu me arrependo de ter batido em você. Não deveria ter feito isso. ── o olhar dela travou com o dele e, ao respirar fundo, Morgan proferiu por fim, sem nenhum arrependimento. ── Eu deveria ter feito pior.

Foda-se, delilah pensou, não era hoje que Steven sairia por cima.

O choque na expressão dele trouxe-lhe uma sensação de satisfação. Ela avançou, forçando-o a recuar. Com um dedo, tocou seu peito, empurrando-o levemente com cada palavra.

── A única coisa de que realmente me arrependo é de não ter te feito sangrar mais ── continuou ela. ── E você é um idiota se acha que vou deixar um homenzinho como você me destruir. Cave minha cova, Steven. Vou te arrastar para o inferno comigo.

── Sua vadia...

── O que foi? Achou mesmo que eu ia me humilhar para você? ── ela riu, fazendo-o trincar o maxilar. ── O seu pai poderia ser um grande policial, mas você não é nem metade do homem que ele foi, e nunca será. Babaca.

── Você cometeu um erro tão grande, acabou de enterrar a sua carreira, Morgan ── Parado a alguns passos à frente dela, Steven agora estava irritado. Toda a compostura que ele mantinha se desfez. Delilah revirou os olhos e deu meia-volta, decidindo encerrar a conversa e se afastar ── Ei, vagabunda. Eu ainda não terminei de falar com você!

Steven, em três passos apressados, estava atrás dela, a segurando pelo braço. Instintivamente, o punho de Delilah se fechou e ela estava pronta para soca-lo no rosto, se uma terceira pessoa não tivesse intervido.

Alistair se enfiou no meio dos dois com todos os seus 1,85 de altura, afastando Steven de Delilah tão rapidamente que ela mal percebeu quando o homem, bem mais alto que Bullock, desferiu um soco no rosto do menor com toda a sua força. O soco foi tão forte que Steven caiu no chão, curvado e com a mão no rosto.

── Porra! ── ele exclamou. Acima dele, Alistair bufava como um touro, a irritação saindo de seu corpo como ondas de calor. ── Seu filho da puta! Porque você fez isso?

── Para você aprender a não tocar nela novamente ── respondeu Alistair, furioso. Delilah, ainda em choque, observava a cena intercalando seu olhar entre os dois homens. ── Tente machucá-la de novo, e eu deixo seu outro olho roxo, entendeu?!

── Você nem sabe de nada, essa vadia...

── Cuidado com as palavras, Bullock ── Alistair o interrompeu. ── Não quero saber o que tem a dizer. Conheço bem seu histórico. Você pode enganar o Gordon, mas a mim, não.

── Carroll! ── a voz estridente e autoritária de Jim Gordon chamou a atenção de todos. O tenente estava a alguns passos de distância, acompanhado de outros oficiais que observavam a cena, cochichando entre si. Ele parecia furioso. ── O que diabos está acontecendo aqui?

Alistair recuou, umedecendo os lábios e tentando se controlar, mas ainda visivelmente tenso.

── Estava resolvendo um problema, tenente.

── É assim que resolve seus problemas, detetive?

── Só quando o lixo pede para ser tratado como tal ── respondeu Alistair, sem se intimidar pelo olhar de Gordon. O tenente expirou profundamente.

── Suspensão. Não quero vê-lo nesta delegacia por duas semanas ── disse Gordon, desviando o olhar para Delilah. ── E tire a doutora daqui. Ela já causou problemas suficientes por hoje.

Alistair encontrou o olhar de Delilah, percebendo sua presença ali. Ele se aproximou e, colocando uma mão em suas costas, guiou-a para fora. Delilah, ainda atordoada, deixou-se levar.

── Vamos ── ele disse, com uma mão nas costas dela. Enquanto saíam, Jim mandou dois policiais ajudarem Steven.

Por cima do ombro, Delilah viu Steven ser erguido pelos amigos, com o olho inchado e sangrando. Revoltado, o policial afastou a ajuda deles com um gesto brusco. Delilah, ao voltar o olhar para frente, sorriu consigo mesma, satisfeita com a cena.

O detetive Alistair Carroll a conduziu para fora do estacionamento, parando na calçada em frente ao DPGC. Segurando-a gentilmente pelo braço, ele a fez encará-lo.

── Ele machucou você? Está ferida?

── Não, estou bem. ── Ela engoliu em seco, sentindo a genuína preocupação que ele não escondia. ── Você não deveria ter feito aquilo, Alistair.

── Deveria ter deixado você bater nele, então? ── retrucou Carroll. ── Para piorar ainda mais sua situação?

Delilah cruzou os braços e suspirou, olhando para o lado.

── Pelo menos assim você não estaria suspenso. ── respondeu ela. ── Já estou fora do caso mesmo, um soco a mais não faria diferença.

── Olha, eu sei que você está furiosa, e com razão, mas essa não é a forma de resolver as coisas. Você precisa manter a cabeça no lugar.

── Igual você manteve? ── ela provocou, e Alistair fez uma careta em resposta.

── Ele pediu por aquilo, tentou machucar você. Eu não podia permitir que algo assim acontecesse. ── Alistair hesitou por um momento, seus lábios comprimidos em uma linha fina ── Não de novo.

A sinceridade nas palavras dele mexeu com Delilah de uma forma inesperada. Ela mordeu o lábio inferior, desviando o olhar enquanto sentia suas bochechas esquentarem. A preocupação de Alistair era genuína, como sempre, mas havia algo mais em seu tom.

Ela sabia que ele ainda se culpava pelo o que aconteceu no hospital. Alistair tinha a responsabilidade de garantir a segurança dela e falhou nesse ponto. Delilah não queria que ele se culpasse, mas o entendia.

── Eu sabia que era uma má ideia vir aqui desde o momento em que saí do táxi, mas não quis voltar atrás. ── disse ela, tentando continuar a conversa. ── Sinto muito por ter te envolvido nisso.

Alistair riu levemente, apertando o ombro de Delilah em um gesto tranquilizador.

── Eu não me importo com uma suspensão, me importo com você. ── sincero, Alistair responde. Em seguida, o olhar dele endureceu novamente, tornando-se sério ── Tem certeza de que está bem?

Ela suspirou e assentiu, encolhendo os ombros.

── Toda essa situação foi horrível, mas pelo menos pude dizer algumas verdades para aquele verme ── disse Delilah. ── E vê-lo levar aquele soco foi muito gratificante. Uma pena que não fui eu quem deu.

── Na próxima vez, eu seguro e você bate, o que acha?

── Parece uma ideia fantástica. ── Ambos riram, divertindo-se com a possibilidade. Quando as risadas diminuíram, Delilah olhou para Alistair com gratidão. ── Obrigada, Alistair, de verdade.

Ele acenou com desdém.

── Não precisa agradecer, Lilah. Não me arrependo nem um pouco de ter batido naquele babaca; já queria fazer isso há muito tempo, antes mesmo dele te denunciar para a delegacia.

── Posso saber o por que? ── ela o questionou com o cenho franzido em sinal de curiosidade. Alistair grunhiu em resposta.

── Porque esse cara é mau caráter. Ele se esconde na sombra do pai até hoje, e o Gordon tem culpa nisso ── Alistair responde, cruzando os braços na frente do corpo, seus músculos tensionando abaixo do sobretudo ── Por ser filho do parceiro dele, Jim sempre achou que devia algo ao Harvey e tentou várias vezes cuidar do garoto dele. O problema é que o tenente nunca foi capaz de ver o quão ruim esse filho da puta é. Eu não sei se o Gordon se faz de cego ou acha que Steven tem algum tipo de conserto.

Delilah não conseguia imaginar Jim encobrindo as atrocidades que Steven fazia, essa ação era distante da idealização que tinha do tenente. Muitos outros na delegacia tinham índoles duvidosas, porém Jim Gordon foi um dos homens mais justos que ela conheceu.

─── Bom, ele apreendeu um grande carregamento de drogas recentemente ── comentou ela. ── Isso certamente ajuda a manter a aparência de bom moço. Mas o que você sabe sobre as coisas que ele fez?

── Ouvi boatos, mas nada concreto. Dizem que ele tem uma "amizade" com Sal Maroni e frequenta o Clube Iceberg, do Pinguim ── Alistair abaixou a voz, se aproximando dela. ── E você não é a primeira mulher que ele tentou assediar. As outras não o denunciaram porque ele as ameaçou.

── Não acredito que o Gordon fique do lado dele, mesmo sabendo disso tudo.

── Eu não sei qual é problema do Gordon em relação ao Steven, ── Alistair se afasta com um passo para trás ── mas uma hora ele vai ter que acordar. Talvez por falta de provas, ele fique em cima do muro. Mas, como eu conheço o Jim, ele sempre vai ficar do lado do que é certo quando a merda bater no ventilador. Bom, pelo menos é isso que eu espero dele.

── Olha, essa é primeira vez que eu vejo você dizendo algo genuíno sobre o tenente ── Delila brincou com um sorriso ladino nos lábios.

── Gordon merece alguns créditos; não se tornou tenente à toa ── admitiu Carroll. ── Só precisa se livrar da influência do morcego, e então talvez sejamos amigos. Postaremos fotos juntos no Instagram e tudo mais, com filtros bregas e pulseiras da amizade.

Delilah riu, revirando os olhos e empurrando o ombro de Alistair de brincadeira. Ele sorriu de volta, observando-a com um olhar carinhoso.

Eles conversam por mais alguns minutos depois disso, mas é breve. Alistair chega a sugerir uma carona, entretanto os dois vão para lados opostos na cidade. Ele precisa buscar Casey na escola e resolver outras questões pendentes, enquanto Delilah decide retornar para casa, mas antes precisava fazer algumas paradas pela cidade.

Alistair chama um táxi para ela e os dois se despedem. Quando ela entra na parte de trás do carro, ele se apoia na janela e olha para a mulher.

── Não se preocupe com essa bagunça, amor. Vou resolver tudo. ── garantiu Carroll ── Você vai recuperar seu caso e Gordon vai te pedir desculpas. Confie em mim, isso vai se resolver.

── Eu sei que sim, só espero que seja logo ── disse Delilah.

── Deixa comigo ── Alistair sorriu, batendo na lateral do táxi antes de se afastar. ── Me ligue quando chegar em casa, Lilah. Quero saber se minha doutora favorita chegou bem.

── Pode deixar ── respondeu ela, sorrindo e revirando os olhos com humor. ── Diga a Casey que estou com saudades.

── Claro, chefe. Ela também sente saudades. Lembre-se de aparecer quando tiver um tempo.

Eles acenaram um para o outro enquanto o táxi se afastava, rumo aos Narrows. Pelo retrovisor, Delilah viu Alistair parado na calçada, observando-a até que o carro virou a esquina e ele desapareceu de vista.

A noite cobria Gotham quando Delilah chegou à catedral. Situada atrás do Museu Flugelheim e na Broad Avenue, a igreja dominava o horizonte da cidade, com seus imponentes 800 pés de altura. A arquitetura gótica, com torres pontiagudas e contrafortes, fazia dela um marco icônico, facilmente reconhecível em meio aos edifícios ao redor.

A fachada da catedral era um espetáculo à parte. Detalhes esculpidos em pedra adornavam as entradas e as janelas, retratando cenas bíblicas e figuras angelicais. As grandes portas de madeira, trabalhadas com minúcia, davam acesso ao vasto interior, convidando os fiéis e curiosos a entrarem. No alto, vitrais coloridos contavam histórias sagradas, suas cores vibrantes apenas insinuadas sob o manto da noite, estavam envoltas pela penumbra.

Ao entrar pela grande porta de madeira, adornada com ferragens antigas, Delilah foi imediatamente envolvida pela vastidão do interior da catedral. O teto abobadado parecia infinito, decorado com nervuras que convergiam em florões esculpidos, aumentando a sensação de grandiosidade e reverência. Lustres de ferro forjado, pendendo de correntes longas, lançavam uma luz tênue que se misturava com a claridade trêmula das velas espalhadas em pontos estratégicos, criando sombras dançantes nas paredes de pedra.

Os vitrais coloridos, representando figuras religiosas e cenas bíblicas, eram iluminados de dentro para fora, mesmo na escuridão da noite. A luz filtrada por esses vitrais pintava o interior com tons de vermelho, azul e verde, dando uma aparência quase etérea ao ambiente. As velas, tremeluzindo conforme o vento noturno se infiltra pelas frestas, contribuem para a atmosfera notavelmente obscura do lugar.

Os bancos de madeira, alinhados em fileiras perfeitas, estavam vazios, e o silêncio reinava absoluto, quebrado apenas pelo eco dos passos de Delilah sobre o chão de mármore polido. A sensação de solidão e tranquilidade a envolvia enquanto caminhava pelo corredor central, seus saltos ressoando no vasto espaço.

No fundo, o altar principal erguia-se em toda a sua glória. Um retábulo adornado com ouro e esculturas detalhadas de santos e anjos servia como ponto focal, enquanto candelabros de prata iluminavam suavemente o ambiente sagrado. O cheiro de incenso persistia no ar, um lembrete constante das orações e cerimônias que ali aconteciam. Próximo às escadas, na lateral direita, estava o padre.

Próximo às escadas, na lateral direita, estava o padre. Um homem de meia-idade, com cabelos negros salpicados de mechas brancas nas têmporas, ele folheava um panfleto, organizando alguns papéis sobre uma mesa coberta com um pano branco rendado. No ar, o cheiro de cera de vela e incenso era sutil, mas presente.

── Boa noite, padre ── Delilah o cumprimentou assim que se aproximou do homem, atraindo o olhar do mesmo. A expressão suave no rosto dele não se desfez. ── Tem um minuto?

── Boa noite, minha jovem. ── ele a saudou, fechando o folheto que lia. ── Claro. Eu sou o padre Michael, do que precisa? Está tarde para o confessionário, mas se for de extrema urgência...

── Na verdade, não estou aqui para me confessar. Vim para conversar com o senhor sobre um assunto específico ── disse Delilah, decidida a ir direto ao ponto. ── Preciso saber se conhecia um homem chamado Jeremiah Stirk. Tenho motivos para acreditar que ele frequentava essa igreja.

O padre franziu levemente a testa, parecendo pensar por um momento antes de responder.

── Jeremiah... sim, lembro-me dele. Frequentou nossa paróquia alguns domingos e participou de reuniões dos Alcoólicos Anônimos que realizamos aqui. ── Ele fez uma pausa, sua expressão assumindo um tom de melancolia. ── Um homem perturbado, infelizmente. Teve um fim trágico

Delilah observava o padre desviar o olhar e deixar o panfleto da paróquia sobre a mesa, seu rosto demonstrava uma mistura de cansaço e tristeza.

── Ele era um homem muito religioso? ── perguntou Delilah, mantendo os braços cruzados, a expressão neutra.

── Ele cometeu seus erros, mas... era devoto a Deus. ── disse o padre, os olhos fixos no altar. ── Se me permite perguntar, minha jovem, qual é o seu interesse em Jeremiah?

── Estou investigando a morte dele, quero descobrir quem está por trás do assassinato ── disse Delilah, apertando os braços contra o peito. ── O que o senhor souber sobre ele pode ser crucial para a investigação.

O padre analisou-a com olhos penetrantes, a desconfiança visível em seu rosto.

── Você não parece alguém que faz parte da polícia.

── Estou de folga ── Delilah o encarou com sua expressão impassível. Seu tom era firme, mas o padre parecia duvidar.

Ele caminhou até um dos bancos e sentou-se, suspirando de alívio.

── Qualquer coisa que souber, ── Delilah insistiu, ele a fitou. ── pode ser útil.

── Não sei se posso ajudar, minha filha. Muito do que Jeremiah me contou, foi dito no confessionário e sou proibido de expor a vida de um homem quando ele tão bem a colocou em minhas mãos.

── Ele está morto, padre. Assassinado. ── ríspida, Delilah o responde. ── Não há mais vida a preservar, pois esse homem já não respira mais. E, enquanto o senhor mantiver o silêncio, está apenas acobertando o assassino dele.

── Sei que, se há de acontecer, o culpado será exposto no tempo Dele ── disse o padre, referenciando a Deus. ── Tudo está nas mãos de Deus.

Delilah desdenhou da afirmação do homem, revirando os olhos.

── Respeito sua fé, padre, mas, no mundo real, não é assim que as coisas acontecem ── disse ela. ── As pessoas precisam agir e fazer o que for preciso para que haja justiça, não esperar o universo agir.

── Você me parece ser uma alma atormentada, minha jovem. Pelo o que viu, pelo o que vê... entendo que não seja fácil para você depositar sua fé em algo, mas a fé muda tudo ── comentou o padre, fazendo-a bufar em sinal de irritação. ── Diga-me, você acredita em Deus?

── Poupe seus esforços, padre. Não estou aqui para me converter ── voltando-se para o homem, ela respondeu, sorrindo ladino.

── É uma pergunta simples, sim ou não. ── Ele disse simplesmente, fitando-a. Delilah se manteve em silêncio. ── Seu silêncio diz muito, sabia? E seus olhos entregam sua incredulidade.

Ela suspirou, revirando os olhos.

── Se quer saber a verdade, eu não sou religiosa o suficiente para me importar, mas a ideia dele existir não me aborrece ── disse ela. ── O que eu acredito, padre, é que as pessoas gostam de se esconder atrás da imagem de Deus ou do maligno para não arcar com as consequências do seus atos, quando na verdade, tudo o que fizeram foi para aplacar sua própria natureza, suas próprias vontades.

Delila dá um passo à frente, encarando o padre intensamente e com voracidade. Ela havia visto muito nos últimos anos, presenciado o melhor e o pior das pessoas. Sabia o que a fé desmedida era capaz de fazer. Pessoas, como o Ceifador, deturparam a palavra o tempo todo para benefício próprio, e Delilah estava lá para colher os frutos de sua maldade.

Cada corpo que entrava em seu necrotério era a prova disso. Era a prova de que muitos iam longe demais para acalentar a necessidade por violência que havia dentro de si mesmos.

── Agora, está tudo bem você achar que Deus vai milagrosamente revelar o assassino em algum momento, é a forma que o senhor pensa, mas infelizmente não é a minha. ── ela continuou ── Então, novamente, eu lhe pergunto, se sabe algo sobre Jeremiah Stirk que pode ajudar na investigação, diga.

O padre hesitou, passando a mão pelo rosto cansado. Ele estava em conflito, preso entre sua obrigação de manter os segredos confessados e o desejo de ajudar, Delilah percebia isso.

── Eu não acho que qualquer coisa que eu saiba sobre Jeremiah possa te ajudar. ── afirmou o padre. ── Ele era um homem reservado, recluso. Mesmo no confessionário, nunca entrou em detalhes sobre sua vida pessoal.

── Havia mais alguém da igreja que ele costumava conversar além de você?

── Não que eu saiba. Nunca o vi se aproximar de ninguém para trocar mais de duas palavras ── respondeu ele. ── Algumas pessoas costumavam ter medo dele. Não era fácil, por mais que eu tentasse fazê-las serem mais receptivas os julgamentos ainda persistiam.

── Era de se esperar. Estar em uma casa de oração não isenta um ser humano de ser falho ── disse Delilah, seu olhar se fixando na imagem de Jesus Cristo no altar. ── e algumas pessoas gostam de ter o papel de juiz, júri e executor.

Ele permaneceu em silêncio por um momento, deixando o peso das palavras dela pairar no ar. O silêncio era profundo, quebrado apenas pelo sussurro do vento nas árvores do lado de fora.

Delilah deu um passo à frente, o eco dos seus sapatos ressoando nas paredes. Ela olhou ao redor, notando as velas acesas e os bancos vazios. A tranquilidade do lugar contrastava com a tempestade que rugia dentro dela, as dúvidas que ainda floresciam.

Padre Michael pondera por alguns segundos, antes de assentir. Ele se levantou, suspirando e parou em frente a ela, olhando para a imagem que horas atrás Delilah encarava. Ela o observou coçar a barba por fazer em seu rosto cansado.

── Jeremiah acreditava fielmente em Deus. Ele depositou sua fé nele, mas eu acho que nunca conseguiu se desfazer de seus erros do passado, das perdas que nunca conseguiu superar. ── comentou o padre. ── Mas, novamente, ele nunca disse mais do que isso. Talvez por medo, talvez por vergonha. Não sei.

Padre Michael dá de ombros, pensativo. Era de se imaginar que a morte de Stirk era algo que o entristecia, mas Delilah percebia que havia muitas camadas que envolviam aquele homem, e destrinchá-lo aos poucos era como evidenciar uma pessoa que ninguém conhecia de verdade.

── O medo é o que mais afasta as pessoas da salvação. Jeremiah podia buscá-la incessantemente, mas criou uma barreira que era grande demais para conseguir atravessar ── continuou Michael. ── Ele buscou ajuda em todo o lugar que pode encontrar. Em uma das reuniões do AA, chegou a compartilhar que estava fazendo acompanhamento psicológico.

── Sabe com quem? ── ela perguntou. Em resposta, o padre negou com a cabeça.

── Nunca disse o nome do doutor, mas falou que o consultório dele ficava no centro ── respondeu ele. Delilah ponderou sobre aquela informação, guardando-a para si mesma. ── E isso realmente é tudo que sei.

Analisando por um longo momento, Delilah decidiu acreditar no padre. Ele não aparentava estar escondendo mais nada e, mesmo se estivesse, ela achava difícil fazê-lo falar.

── Obrigada, padre. Pelo seu tempo e pela conversa. ── disse ela, virando-se para sair. Ele assentiu em retorno, sem deixar o seu lugar.

Quando ela estava prestes a cruzar a porta, o padre chamou novamente.

── Espero que saiba que não há o que temer, Deus ama você. Não deveria ter medo dele ── disse o padre, e o canto do lábio de Delilah sobe minimamente com o fantasma de um sorriso.

── Eu não tenho medo de Deus, ── De seu lugar próximo a porta, Delilah responde ── tenho medo que ele tenha partido a muito tempo e não percebemos ainda.

O padre ficou em silêncio, contemplando as palavras de Delilah com seriedade enquanto ela saía da igreja. O eco de seus passos desapareceu lentamente, deixando apenas o suave sussurro das velas e a quietude de uma casa de oração que, mesmo sagrada, não podia escapar das falhas e mentiras humanas.

AUTHOR'S NOTE.


I. | Ok, eu estava muito ansiosa pra postar essa capítulo por causa do início. Sim, foi inspirado na música da Taylor e teremos mais capítulos inspirados em músicas dela no futuro. O bait no inicio foi totalmente proposital, me dediquei ao máximo pra que parecesse verídico ;)

II. | Outro detalhe, é sobre o capítulo anterior: não coloquei notas nele pq o cap ficou muito grande, por isso deixei para esse. Queria dizer que eu sei que vocês queriam que algo acontecesse (eu também queria), mas a questão do desenvolvimento romântico dos dois é mais importante pra mim do que a intimidade sexual.

III. | Sem contar que o Bruce nunca tiraria proveito da Delilah em um momento de fragilidade. Quando for acontecer, e vai acontecer, ambos vão estar sóbrios pra isso. Aguardem mais um pouquinho que vou fazer a espera valer a pena.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro