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𝟏𝟑. › THANKSGIVING EVE

𝟎𝟏𝟑.                VÉSPERA DE AÇÃO DE GRAÇAS

OUTONO⠀──⠀ NOVEMBRO 27, SÁBADO.
NARROWS, COMPLEXO DE APARTAMENTOS.

A NOITE DO JANTAR chegou trazendo um misto de ansiedade e preocupação para Delilah. Tentava convencer a si mesma de que não havia motivos para tanta aflição, porém sua mente não estava obedecendo o restante do seu corpo, então para não se render ao maço de cigarro escondido dentro de sua mesa de cabeceira, ela buscou ocupar a própria mente de outras formas. Depois de preencher aquele espaço de tempo até o último minuto arrumando o apartamento e rabiscando mais desenhos do corpo humano no caderno, preenchendo as últimas folha e recitando todos os 80 órgãos que conseguia se lembrar, Delilah estava tranquila até o momento em que seu celular tocou.

Ela não era o tipo de ansiosa desordenada. Na maioria das vezes, conseguia mascarar qualquer tipo de sensação desconcertante que estava sentido, mantendo todas as emoções abaixo da superfície. Entretanto, durante aquela noite em questão, após a visita do Batman e com as informações que tinha, havia mais inquietação dentro dela do que o normal. Algo que a fazia questionar se não era perda de tempo sair para um jantar quando devia focar no Ceifador, antes que ele encerrasse seu período sabático e decidisse fazer mais uma vítima.

Entretanto, no instante em que cogitou ligar a Bruce desmarcando o encontro com uma desculpa pouco convincente, a voz de Pietra surgiu em sua cabeça dizendo que ela deveria descansar. Havia prometido a si mesma que, pelo menos por uma noite, isso aconteceria.

Delilah respirou fundo e encarou o seu próprio reflexo no espelho, admirando desde o vestido vermelho que estava usando até a maquiagem que acentua e demarcava bem os detalhes em seu rosto, como a herança familiar gravada em suas feições. As sobrancelhas, escuras e perfeitamente arqueadas, enquadram seu olhar penetrante e expressivo, e Delilah mal se reconhece quando observa a si mesma naquele momento.

O nariz aquilino, dava ao seu perfil uma distinção marcante, combinando com seus lábios avermelhados cheios e bem delineados e contrastando com seus olhos verdes e o delineado escuro. O cabelo, negro como a noite deserta, estava solto e liso, sem uma onda sequer. Seus olhos captam a cicatriz em sua clavícula, demorando-se sobre aquela linha proeminente e recém cicatrizada. Cobriu a mesma colocando alguns mechas escuras de seu cabelo para frente.

Ela gostou de como estava, gostou do quão parecida com sua mãe havia ficado, porém quando percebeu a forma que Bruce a olhava, começou a achar que havia exagerado.

Ele a encarava com um olhar estranho. Os olhos dele piscaram algumas vezes e seu rosto se contraiu, enquanto Bruce a olhava de cima abaixo ao andar na direção dele, demorando-se em seu rosto. Parecia desconfortável, sufocado. Na mente dela, algo nela deveria ser desagradável.

── Desculpa a demora, eu... ── disse ela, assim que estava a frente de Bruce. Ele estava parado ao lado de seu carro preto luxuoso, vestindo o terno mais bonito que Delilah já o viu vestir e parecendo desconfortável ── Está tudo bem?

Bruce se lembrou de piscar, desviando o olhar.

── Sim, está ── respondeu com a voz grave.

── Por um minuto parecia que você estava mais pálido do que o habitual, Bruce ── ela riu, tentando aliviar o clima. ── Está tudo bem mesmo ou...

── Você está linda ── Bruce a interrompe, dizendo. Aquelas palavras foram o suficiente para fazer as palavras de Delilah morrerem. A boca dela permaneceu entreaberta por alguns segundos, seus olhos piscando como se fosse um peixe fora d'água.

── Sério? ── Ela pergunta. ── Não acha que é demais para um jantar?

── Sério. ── ele garantiu com seriedade em seu tom de voz que não dava margem para qualquer dúvida. ── Você está ótima

── Não está falando isso só para me agradar, está? Porque você não precisa.

── Você pode só... Aceitar o meu elogio, Delilah? ── Bruce a questionou, fazendo-a sorrir. Ele se tornou impaciente tão rapidamente que era comicamente engraçado.

── Tudo bem, eu aceito seu elogio ── Morgan respondeu, sorrindo ladino e inclinando a cabeça para o lado ao fitá-lo. ── E você também está ótimo. Esse terno ficou muito bem em você, senhor Wayne.

Não era uma mentira, o terno combinava com ele. Por mais que fosse preto, uma cor usual para Bruce Wayne, ele era menos folgado que aquele que Delilah o viu usando na Universidade. O terno era mais justo, deixando o contorno dos bíceps do homem em evidência e também não havia um sobretudo para escondê-lo dos olhos perspicazes da mulher, o que tornava a vista ainda mais agradável.

O cabelo dele estava devidamente penteado, bastante gel o mantinha para o lado, porém uma mecha ainda insistia em escorregar sobre a testa de Bruce. Delilah, observando aquilo, sentia um ímpeto de coragem que nem ao menos sabia de onde veio. Se havia uma linha entre eles, ela o cruzou no momento em que se inclinou para frente e elevou sua mão. Com uma delicadeza desmedida, Morgan colocou a mecha escura de volta ao seu devido lugar, apenas para encontrar o olhar de Bruce congelado, olhando diretamente para ela.

Quando percebeu o que estava fazendo, Delilah engoliu o seco e se afastou. Se não estivesse escuro, Bruce poderia ter visto suas bochechas corando violentamente.

── Desculpa, eu... É que o seu cabelo estava... Bem, eu- ── ela se enrolou com as palavras, gesticulando de forma estúpida é se sentindo ainda mais estúpida por estar gaguejando.

── Eu entendi ── Bruce interveio, salvando-a daquele momento embaraçoso. Delilah se calou no instante seguinte, seus ombros cederam. ── Vamos?

── Sim, claro ── Ela assentiu, enquanto Bruce lhe estendia a mão. Ela entregou a mochila que tinha no ombro para ele, deixando que o homem guardasse no porta malas de seu Bugatti.

Aceitar passar o dia de ação de graças com Alfred e Bruce na Torre significou dormir no quarto de hóspedes assim que eles retornassem da festa. Dependendo do horário que eles decidissem deixar o jantar de Regina, as pontes já poderiam estar fechadas e não valeria o esforço de ir para Narrows e depois voltar para o Upper East Side no dia seguinte. Bruce disse que costumava comemorar a ação de graças mais cedo, Delilah não contestou o porquê e aceitou que não passaria a noite em casa naquele dia.

Ele abre a porta do passageiro como sempre faz e ela agradece, tomando seu lugar ao lado dele. Após fechá-la, ele contorna o veículo para se sentar no assento do motorista e enfim levá-los até a festa.

O restante da viagem passou rapidamente, preenchido apenas com o rádio que estava na estação favorita de Delilah, a rádio de Vesper Fairchild. Ela não imaginava que Bruce sabia que aquela era a rádio favorita dela, era normal que toda a Gotham escutasse aquela estação. Vesper era a mais famosa locutora da cidade, todos os gothamitas escutavam o que ela tinha a dizer e as músicas que tocavam naquela estação eram sempre diferenciadas. Naquele momento, os acordes de uma música do Sleep Token preencheu o ambiente.

Assim que estavam em frente ao restaurante, Delilah não pode evitar se surpreender com o quão luxuoso era aquele lugar. Antes, Regina Zellerbach planejou a festa em sua mansão, porém, como uma mudança de última hora, ela alugou um dos restaurantes mais caros de Gotham por uma noite, apenas para receber seus amigos mais chegados. O lugar apresentava tons claros de creme e branco mas, com aquela iluminação baixa, apresentava um ar sofisticado. O piso era tão bem ilustrado que quase se assemelhava um espelho e havia uma fileira de lustres presos ao teto, junto de várias luzes cintilantes. O lugar era deslumbrante. Contrastava completamente com todos os estabelecimentos que Delilah costumava frequentar.

O jantar de pré ação de graças era quase como um baile anual da alta sociedade mas, naquele dia, Regina se limitou a convidar menos pessoas. Mesmo assim, não parecia menos intimidante. Delilah esperava algo formal, mas não tão requintado como aparentava. Havia até mesmo uma pequena orquestra com uma única cantora, que deveria ter sido paga para cantar a noite inteira, agraciando o ambiente com sua voz melódica.

Quando Delilah entrou, de braços dados com com Bruce, seu estômago revirou, porém ela manteve a compostura. Não foi desagradavel. Pelo menos não tanto quanto ela esperava que seria quando Wayne lhe ofereceu o braço, depois de abrir a porta do carro para ela e acompanhá-la até a entrada.

── Bruce, você veio! ── Regina Zellerbach exclamou, aproximando-se dos dois com os braços abertos e empolgada para recebê-los assim que avistou o herdeiro dos Wayne. Os olhos dela logo se encontraram com os de Delilah ── Oh, e trouxe companhia.

O sorriso da mulher era amplo. Delilah não sabia dizer se havia algum tipo de falsidade ali. Mesmo que Regina a estivesse analisando da cabeça aos pés, ela não deixou escapar qualquer tipo de ação de desdém. Parecia que havia ensaiado todas as suas ações a muito tempo.

Em contrapartida, Delilah a analisa da mesma forma minuciosa, porém discreta. Regina não era como ela esperava. Morgan esperava uma mulher bem mais velha, porém chutava que a senhora Zellerbach estava na casa dos 50 e tão radiante quanto estivesse nos 30. Ela poderia ter a mesma idade de Janet Vand e ninguém ao menos acreditaria.

Havia, é claro, as marcas de expressão deixadas pela idade. A maquiagem que Regina usava também servia para mascarar as rugas e seu cabelo castanho escuro não tinha um fio branco sequer. Diferente da senhora Vand, Regina tinha dinheiro e anos de noites tranquilas a seu favor. O vestido verde que ela usava era sem alças e de um tecido cheio de brilhos, realçados pelas joias caras em seu pescoço, orelhas e pulsos.

── Olá, Regina. Obrigada pelo convite ── Bruce a cumprimentou, agradecendo-a. Em seguida, ele se voltou para a mulher ao seu lado. ── Essa é a Delilah. Minha... amiga.

Bruce proferiu a última parte olhando na direção de Delilah, que quase ergueu uma sobrancelha para ele, questionando-se qual poderia ser o motivo de tal desconforto.

── Delilah Morgan ── se apresentou para a anfitriã que apertou sua mão com firmeza.

── É um prazer conhecê-la, querida. Sou Regina Zellerbach. Presidente da Wayne Enterprises. ── Regina a cumprimentou com um singelo sorriso em seus lábios, seus olhos castanhos brilhando. ── Sabe, você é a primeira amiga do Bruce que eu conheço, e olha que eu o conheço há muito tempo.

Regina ri fracamente. Há humor no tom dela, mas também não passa despercebido por Delilah a forma que ela frisa a palavra "amiga."

── Essa também é a primeira vez que você vem a uma das minhas festas ── Regina comenta, erguendo a postura ao se afastar. Ela fita Bruce com um olhar repreensivo. ── O que te fez finalmente aceitar o meu convite? Esse ano eu nem ao menos insisti para você vir, sabia que iria negar como fez todas as outras vezes.

O cenho de Delilah franziu levemente, quando ela direciona seus olhos para Bruce, fitando-o enquanto os dois seguem pelo salão, acompanhando Regina até uma das mesas de jantar redondas que estava vaga e com um lindo arranjo de flores alaranjadas no centro. Ele mantém sua atenção em Zellerbach, ignorando o olhar questionador de Delilah mais uma vez.

── Esse ano eu pensei que deveria comparecer, ── Bruce a responde ── e me desculpar pelos anos anteriores. Houveram alguns imprevistos.

── Bom, você pensou certo, querido. Estou muito feliz com a sua presença ── sorriu Regina, apresentando-os a mesa em que eles ficariam.

Delilah não achava que ela havia acreditado naquela desculpa, mas também não parecia desejar constatar seu chefe. Bruce poderia não exercer seu poder como herdeiro das indústrias Wayne de forma ativa, entretanto ainda era o dono de tudo que dizia respeito a sua família. As pessoas ao redor dele ainda buscavam por sua aprovação ── mesmo que ele continuamente as afastasse.

O salão já estava com uma quantidade considerável de convidados quando os dois chegaram. Não muitos, pois Regina os confidenciou que convidou apenas os mais próximos esse ano, nem mesmo a família dela estava presente. Apenas o marido, Robert, marcava presença. Ela reservava as festas grandes para eventos maiores como as festas de ano novo ou os aniversários extravagantes que fazia. O jantar da véspera de ação de graças se tornou um evento contínuo quando Regina decidiu que também queria comemorar a data com seus amigos e não apenas com sua família.

Parecia fútil, e realmente era. Delilah não tinha nenhum interesse em um evento tão desinteressante quanto aquele, que claramente apenas servia como uma desculpa para a ostentação. Porém Regina Zellerbach falava sobre ele com tanto orgulho que ela precisou fingir interesse para não soar ignorante.

Quando a mulher enfim os deixou sozinhos para receber outras pessoas, ele teve oportunidade de observar melhor o ambiente. Os garçons valsavam pelo restaurante para atender a todos com os pratos principais, antes que a mesa farta do buffet fosse liberada.

Bruce indicou para ela o assento vago ── o paletó escuro moldando seus biceps de forma atraente ──, em seguida puxou a cadeira para que ela se sentasse. Delilah o agradeceu com um murmúrio baixo, tremendo perturbar o ar calmo do ambiente se ousasse elevar demais a voz.

Todos os presentes estavam envolvidos em conversas silenciosas, murmuravam seus comentários um para os outros, entre sorrisos cortantes e risadas artificiais.

── Bruce Wayne. ── A atenção de Bruce foi chamada por um homem de meia idade que anda na direção deles acompanhado da esposa. Bruce ergue o olhar e o cumprimenta assim que aquele senhor se aproxima, agindo com tamanha intimidade. ── Quanto tempo, rapaz. Você cresceu.

── Bom ver você Cameron, Myrtle ── Bruce acena com a cabeça para os dois. A mulher que acompanha Cameron Vance é alguns anos mais nova que ele, Delilah apostaria 20 anos.

── Brucie, querido ── Myrtle fala com uma voz melódica, um sorriso doce. Ela veste um vestido amarelo de alta costura com alças finas, o tom é incrivelmente suave e o tecido brilhoso acentua todas as suas curvas, principalmente o busto claramente cheio de silicone. O apelido fofo também não passa despercebido por Delilah ── Você está cada dia mais parecido com o seu pai. Tão elegante quanto.

Delilah observa Bruce, esperando encontrar algum sinal de que aquela frase o incomoda, porém, se acontece, ele não deixa transparecer. Ele é extremamente cordial ao cumprimentar Myrtle, dando o menor dos sorrisos para a mulher ruiva. Morgan está de pé para comprimentá-los de maneira apropriada quando o olhar de Cameron volta-se para ela.

── E quem seria essa beldade que lhe acompanha? ── Cameron olha para Delilah com um sorriso ladino ── Se me permite dizer, você está deslumbrante, minha jovem. ── Ele estende a mão e Delilah esperava um aperto, porém Cameron leva às costas da mão dela aos lábios ── Cameron Vance.

── Delilah Morgan. É um prazer conhecê-lo, senhor ── ela sorri ── E eu agradeço pelo elogio.

── Onde Bruce andou escondendo você, ein? ── Vance questiona, seus olhos passando de Delilah para Bruce com um sorriso provocador. Ele se volta para Bruce, rindo. ── Tudo bem você se isolar na sua cobertura, rapaz, mas precisa mesmo levar sua namorada junto?

── Eu não sou namorada dele.

── Ela não é minha namorada ── os dois dizem ao mesmo tempo.

A ação apressada dos dois faz com que Myrtle e Cameron troquem olhares, da mesma forma que Bruce e Delilah acabam fazendo, porém, diferente dos dois, não há nenhum tipo de nervosismo ou preocupação, apenas uma troca de olhares conhecedor.

── Eu dizia a mesma coisa sobre Myrtle, e agora estamos casados a 5 anos ── Cameron ri, dando tapinhas no ombro de Bruce. Ele tenta se explicar, porém o senhor Vance não lhe dá a chance, saindo junto da esposa e deixando os dois para trás.

── Isso foi... estranho ── Delilah comentou, assim que os dois estavam sozinhos.

── Sinto muito ── Bruce respondeu.

── Não, tudo bem ── ela se voltou para ele. ── Imaginei que isso fosse acontecer. Estamos juntos nesse jantar, as pessoas vão acabar especulando que somos mais que... amigos.

Bruce a fitou. Momentaneamente, ele a analisa com aqueles olhos azuis profundos.

── Não te incomoda?

── Deveria incomodar? ── Delilah o questiona, estalando a língua no céu da boca ── Não devemos nos preocupar com o que os outros pensam, acredito eu. Nós dois sabemos o que somos, certo?

Um sorriso dançou nos lábios dela, os olhos de Bruce descendo sobre eles por um momento, prolongando o silêncio entre eles até o momento em que ele finalmente assentiu.

── Então, imagino que seja o suficiente ── Ela prontamente concluiu, sentando-se em sua cadeira novamente e ignorando a forma como seu sorriso morreu rapidamente ao dar as costas para Bruce.

Cameron e Myrtle retornaram após cumprimentarem os outros convidados presentes, ocupando dois assentos vazios na mesa, restando apenas duas outras cadeiras que foram ocupadas, mais tarde, por Henry Crowne e a esposa, Cintia. Os Crowne era a terceira família mais rica de Gotham, ficando atrás apenas dos Wayne e dos Arkham. Henry era jovem, um dos poucos presentes que deveria apresentar uma idade próxima a de Bruce.

Enquanto escutava as conversas na mesa, acompanhando brevemente o bate papo entre os homens presentes e as mulheres prontamente dedicadas a compartilhar fofocas sobre a alta sociedade, Delilah descobriu que Cameron era um dos acionistas mais antigos das empresas Wayne. Ele se gabava bastante de sua proximidade com Thomas Wayne e sempre tinha uma história para contar. Quando envolvia o nome de seu pai, Bruce apenas sorria e acenava com a cabeça, agindo de uma forma superficial que agradava muito Cameron.

── Tudo bem? ── Durante determinado ponto da noite, Delilah murmurou aquela pergunta próximo ao rosto de Bruce, sua mão pousando na coxa tonificada dele embaixo da mesa, chamando a atenção do homem.

Ela havia notado a forma que ele ficou estranhamente quieto, seu rosto agora era uma tela em branco e seus olhos focados em algum ponto da mesa. Cameron havia feito uma pergunta a Bruce minutos antes e Delilah achou estranho quando ele demorou a responder.

Ao escutar a voz dela, ele a encarou, piscando os olhos algumas vezes, como se estivesse saindo de uma névoa. Olhou vagamente para a mão sobre em sua coxa. Bruce havia apoiado um braço sobre as costas da cadeira dela, e vagamente o tenciona quando seus olhos se encontram.

── Sim. ── Respondeu ele. Seu tom era um tanto áspero.

── Cameron perguntou a você se tem planos para o natal ── ela murmurou, sem desviar o olhar dele. Delilah sente os olhares dos outros sobre eles, mesmo que alguns estejam tentando disfarçar. Apertando a coxa dele, ela se afasta, ajeitando o cabelo sobre o ombro. ── Está aguardando uma resposta sua.

── Ah ── Bruce limpa a garganta, enfim desviando o olhar e afrouxando um pouco o colarinho. ── Desculpe, Cameron. Sim, eu... tenho planos.

A conversa entre os dois fluiu a partir daquele ponto, como se nada de estranho tivesse acontecido antes. Delilah retomou sua conversa com Cintia da mesma forma.

Todos presentes naquele jantar estavam comentando sobre a presença de Bruce, agindo encantados por finalmente verem o herdeiro dos Wayne fora de sua torre. Junto desse fato, eles também comentavam sobre Delilah, questionando-se sobre a presença dela e o que ela deveria ser dele. Quando perguntavam diretamente a ele, Bruce sempre respondia que os dois eram apenas amigos e Delilah fingia não se importar.

A mesa estava coberta com pano bege, e um pequeno e mais escuro, em um tom marrom barroso estava abaixo dos pratos de porcelana, seus olhos observando os pequenos adornos prateados em volta do centros. Taças de vidro sobre a mesa e um arranjo de flores em um tom alaranjado sobre o centro, tudo estava extremamente impecável e devidamente pensado para parecer perfeito. A luz branca refletia sobre o salão que tinha adornos dourados lançando uma luz etérea no ambiente e todos conversavam entre si com tamanha graça que tudo era apenas burburinho.

Era um ambiente bom, mesmo que não conhecesse ninguém presente além de Bruce. As pessoas não focavam tanto nela e sim em si mesmas, em seus progressos pessoais. Claro, haviam sido educados o suficiente para perguntar o que Delilah fazia, o que ela prontamente respondeu dizendo que era médica, porém não permitiu que se aprofundasse mais do que isso. Percebeu que era muito boa em dizer o suficiente e perguntar o necessário para que qualquer um mudasse a direção da conversa.

Quando o primeiro prato da noite chegou, coxas de frango assadas, recheadas com queijo de cabra e molho agridoce de damasco, acompanhadas de polenta cremosa e aspargos salteados com tomilho, ela encontrou algo mais interessante para focar. Um garçom também surgiu com taças de champagne, entregando-as para todos na mesa.

Ela bebericou um pouco do líquido, observando por cima da taça Cameron Vance rir abertamente de uma piada que contou. Bruce foi educado para também rir, mas não se prolongou além disso. Notou que ele também se limitava a uma conversa branda, nunca a prolongava mais do que o necessário. Diferente dele, Delilah estava sentindo-se mais à vontade, adorando a conversa fiada com Cintia e Myrtle, mesmo que precisasse guardar seus comentários ácidos dentro de sua mente.

Horas mais tarde, pouco depois da sobremesa, alguns casais estavam dançando. Delilah observava de longe Regina e o marido sorrindo um para o outro, parecendo apaixonados e felizes. Além dela, todos os outros casais pareciam envolvidos na dança lenta, seguindo o ritmo da música.

Os acordes de Everytime da Britney Spears começaram a tocar quando Bruce ofereceu a mão para Delilah. Ela ergueu o olhar da taça de champagne que bebia, piscando seus grandes olhos esverdeados para ele. A música em si já era lenta, porém a orquestra conseguiu a deixar ainda mais suave e tranquila.

── Quer dançar? ── ele perguntou. Ela se reteve.

── Não sou uma boa dançarina ── respondeu Delilah, um tanto receosa.

── Eu vou guiar você, não se preocupe ── Bruce insistiu, mantendo a mão estendida.

Delilah comprimiu os lábios em uma linha fina, observando a mão dele, pequenas cicatrizes em torno da pele pálida. Ela pareciam antigas, estavam envelhecidas pelo tempo.

Percebendo a insistência dele, Morgan se rendeu.

── Certo, mas não reclame se eu acabar pisando no seu pé ── cedendo ao pedido dele, Delilah segurou a mão dele com a sua. Ela ignorou totalmente o pequeno fio de eletricidade que sentiu quando os dedos quentes e calejados de Bruce tocaram em sua pele.

── Não vou me importar ── retrucou ele, indiferente. Guiando para a pista de dança com elegância.

Bruce a levou para um espaço vago no meio, onde os outros casais estavam. A mão direita dele se encaminha para a parte inferior das costas dela, segurando-a no lugar com uma delicadeza que Delilah não esperava. Ela também ignora o quão próximo eles estão quando leva sua mão esquerda ao ombro dele. Bruce segura a destra dela com a sua própria mão esquerda e, como havia dito que faria, começa a guiar os dois.

Durante os minutos iniciais, são apenas passos experimentais. Delilah o segue com certa insegurança, olhando sempre por cima do ombro de Bruce para qualquer lugar que não seja o rosto dele, mas também sendo envolvida pelo cheiro do perfume dele. Bruce está preenchendo seus sentidos e, por um instante, ela não sabe se está nervosa por conta da dança ou por causa dele.

── Respire ── ele diz baixo para que apenas ela possa ouvir. Seus lábios estão mais perto da orelha dela e Delilah aperta a mão dele com mais força. ── Você está indo bem. Não sei porque está tão tensa.

── Eu não estou tensa ── Morgan murmura aquelas palavras com tom ríspido, olhando-o com um olhar corttante.

── Não é o que parece. ── Há diversão em seu olhar como se Bruce gostasse de provocá-la.

── Bruce ── o nome dele sai em tom de repreensão. Delilah finalmente o encarou firmemente, sem desviar. Por um momento, ela fica em silêncio, esperando ter absoluta certeza que ele estava prestando total atenção nela. ── Por que você mentiu?

O ombro dele se tenciona sobre a mão dela, Delilah pode o sentir enrijecer a coluna. Mesmo assim, Bruce não demonstra muita reação. Há um questionamento no olhar dele, dúvida sobre onde ela quer chegar, porém Wayne não quer deixar transparecer.

── Sobre o que? ── ele indagou.

── Quando eu liguei pra você na quarta, disse para mim que Regina insistiu para você comparecer na festa ── Delilah respondeu. ── Hoje, quando chegamos, ela disse que não fez isso esse ano porque sabia que você não iria vir. Por que você mentiu?

Ao repetir a pergunta, ela o sente relaxar.

── Você não deixa passar nada, não é? ── Bruce indaga, olhando para longe.

── Gosto de me ater aos detalhes ── disse ela, desviando o olhar dele para a esquerda. ── Agora, me responda.

A música continuava, agora entrando no refrão.

── Pensei que seria bom para você... tirar um tempo da investigação. ── ele confessa, finalmente quebrando o silêncio. Delilah processa as palavras dele sem dizer nada, até soltar uma risada baixa, carregada de ironia. ── Pensei que lhe faria bem.

── Todo mundo anda pensando muito no que é melhor pra mim esses dias ── ela murmura. O comentário não deveria ser tão amargurado, mas o descontentamento não passou despercebido.

── Então não sou o único que percebeu que você está bem perto de colapsar. Notei o quão tensa você tem andado, sempre com a cabeça nesse caso. ── ele comentou. ── Achei que merecia fazer uma pausa de tudo. O convite surgiu em um momento oportuno.

── Está dizendo que o Alfred não lhe obrigou? ── Delilah perguntou.

── Sou plenamente capaz de tomar minhas próprias decisões, Delilah ── Bruce a respondeu, soando um pouco áspero, mas mantendo seus atos suaves. Bruce os guiava ao som da música com tanto cuidado.

── Às vezes, tenho minhas dúvidas ── ao encará-lo, há provocação em seu olhar, audácia. A máscara forjada com petulância no rosto dela quase se desfaz quando a mão de Bruce em suas costas sobe, o polegar dele tocando levemente a pele exposta. Delilah se impede de arfar.

── Tudo o que Alfred diz são sugestões, ── ele comenta. ── eu escolho se as sigo ou não. Nesse caso, ele não precisou sugerir nada. Você foi a primeira pessoa que me veio à mente quando recebi o convite.

── Devo me sentir lisonjeada? ── Indagou, mantendo seu tom debochado. ── É o certo, eu imagino. Tenho certeza que qualquer mulher morreria para ter um encontro com Bruce Wayne.

── Estamos em um encontro, então? ── Bruce a questiona. Delilah percebe tardiamente seu deslize.

── Não foi isso que eu quis dizer, você entendeu errado, eu... ── ao tentar se explicar, Bruce segura sua mão direita e a gira, afastando-os por aquele breve momento fazendo com que seus corpos se chocam novamente quando ele a puxa em sua direção mais uma vez.

Dessa vez, Delilah arfa quando seu peito encontra o dele. Seus olhos erguem devagar, travando nos dele. Aquele mar azul cintila, brilhando sobre as luzes do salão, fazendo-a pensar que poderia realmente se afogar neles.

── Eu entendi o que quis dizer ── ele murmura. Então, um pequeno sorriso ladino cresce nos lábios dele, despontando minimamente e é tão provocador que Delilah sabe que Bruce está se divertindo com o embaraçamento dela. ── Entendi muito bem.

── Eu odeio você ── murmurou ela, quando Bruce voltou a balançá-los de um lado ao outro ao som da música. ── Odeio.

── Não é o que parece para mim.

Ela bufa, encenando uma falsa irritação.

── Então você está terrivelmente enganado, Brucie ── ela o provoca com o apelido que Myrtle usou. A única reação dele é revirar os olhos, e Delilah mau contém um sorriso, mas há humor nas feições dele ao balançar a cabeça de um lado ao outro em negação.

Durante o refrão final da música, no momento em que estavam chegando cada vez mais perto do fim, Delilah permitiu seu olhar vagar pelo salão, observando os outros casais por cima do ombro de Bruce.

── De qualquer forma, eu aprecio o seu esforço ── Delilah comentou. ── Gostaria de poder compensá-lo qualquer dia.

── Imaginei que fosse querer ── ele comenta. ── Da próxima vez, você escolhe o lugar para onde vamos.

── Você disse que não haveria uma segunda vez. ── ela cantarolou.

── Não iria mais cobrar nenhum favor. ── disse Bruce, explicando-se. ── Não disse nada sobre sairmos para comer no futuro... Como amigos.

Bruce soou incerto. Delilah percebeu que ele não fazia aquilo com frequência, e talvez a situação estivesse começando a se tornar desconfortável, mas ainda assim era engraçado.

Ela também ignorou a leve pontada que sentiu ao escutar aquela palavra. Afastou qualquer sensação estranha, pois não encontrava razão para se sentir de tal maneira. Afinal de contas, Bruce não estava mentindo. Eles eram amigos, certo?

── Amigos. ── Delilah comentou, descansando a cabeça no ombro dele. ── Você realmente está entrando no personagem, Bruce Wayne.

Ele continuou balançando os dois ao som da música, sem responder. O silêncio deveria falar por si só, preenchendo as lacunas entre os dois, os espaços em branco. Uma certa melancolia se apossou dela, mesmo que Delilah não encontre motivos para isso.

Aquele momento parecia tão íntimo, tão seguro, que ela fechou os olhos e apenas escutou o som do coração de Bruce batendo sobre seu ouvido. Ela achava que não havia melodia mais bonita que aquela. Desde que ingressou na medicina, aquele era o órgão do corpo que mais lhe interessava, o que mais lhe causava fascínio. Às vezes tão frágil quanto um sussurro, às vezes tão forte, como um trovão. O coração, com seu ritmo constante, mantinha a vida em harmonia, assim como a música que agora envolvia os dois.

A música chegava ao fim, e com ela, o momento compartilhado entre os dois. Delilah sentia o peso das emoções que se entrelaçam, deixando-a ainda mais confusa. Quando seus olhos se abriram, um turbilhão de emoções e pensamentos inundou sua mente. A proximidade física trazia consigo uma proximidade emocional que ela não podia ignorar, mesmo que os rótulos e definições continuassem a pairar no ar, indefinidos, como sombras à luz de velas. Havia uma linha, uma linha que ela tinha medo de cruzar e causar uma bagunça.

Cada batida do coração de Bruce parecia ressoar em seu próprio peito, uma sinfonia silenciosa de vidas cruzadas por acaso, mas unidas por algo maior. E ela carregou esse som consigo, mesmo depois que a música encerrou e eles se afastaram, Delilah ainda sentia as batidas do coração dele ressoando em sua mente tão altas quanto os aplausos na pista de dança e tão intensas quanto o olhar de Bruce que queimou em suas costas quando ela andou para longe, o abandonando em meio aos outros casais e se afastando sem olhar para trás.

── Qual é o seu segredo? ── perguntou Dana Dunlop atraindo o olhar confuso de Delilah.

Depois da cena na pista de dança, Delilah se encaminhou ao banheiro para se recompor. Percebeu que precisava de um momento para colocar sua mente no lugar novamente. Quando voltou, encontrou Bruce conversando com Dana Dunlop-Beckett e o marido dela, William Beckett, um pequeno empresário de Gotham que se candidatou para senador anos atrás. Will havia perdido a campanha, mas ainda era muito engajado na filantropia.

Ao se aproximar, Bruce a apresentou para eles como fizera antes com todas as pessoas que ela conheceu naquela noite. Os dois agiram naturalmente, como se nada tivesse acontecido na pista de dança alguns minutos atrás. Ela apreciou esse fato, mas temia ficar sozinha com Bruce e receber alguns questionamentos.

Para a sua sorte, Will o arrastou para uma conversa com outros empresários do outro lado do salão. Naquela mesa, além de Delilah e Dana, havia apenas Cintia e Mônica Routledge que estavam muito envolvidas em uma conversa empolgante sobre moda. Elas conversavam e comiam, aproveitando o que havia de melhor daquela festa.

── Como assim? ── ela questionou, voltando-se para Dana cobrindo o cabelo sobre o ombro direito, sem entender onde ela queria chegar com aquela pergunta. Sorrindo, a jovem acariciou sua barriga de grávida.

Ela havia compartilhado que estava com 7 meses e não via a hora de conhecer o pequeno Anthony. Dana era 1 ano mais nova que Delilah e esperava seu terceiro filho, porém parecia ainda mais jovem, pois seu rosto não parecia ter envelhecido.

Mesmo com suas bochechas arredondadas por causa da gravidez, ela ainda parecia com uma garota de 21. O cabelo ruivo escuro e curto também a rejuvenesce alguns anos.

── Todos querem saber o que você fez para conseguir arrastar o Bruce para fora da torre Wayne ── comenta a mulher, bebendo um pouco de água ── Eu tenho tentado a anos, mas só consigo falar com Alfred e escutar algumas desculpas nada convincentes. A última vez que conversamos foi meses atrás quando nos encontramos no banco de Gotham totalmente por acaso!

Delilah ri da expressão indignada no rosto de Dana. Ela é extremamente expressiva e doce, a forma como se sente ofendida é genuína.

── Vou entender se tiver envplvido chantagem ── Dana continuou em um tom quase conspiratório ── Às vezes também preciso chantagear o Will para tirá-lo do trabalho. Ele é um obcecado por trabalho.

── Desculpe desapontar você, e todas as senhoras desta festa, ── Delilah sorri amigavelmente ao falar ── mas não fiz nada. Bruce apenas... me convidou.

── Então você realmente mexeu com ele, gracinha ── Dana comentou. ── Porque eu conheço muito bem o Bruce, sei o quão teimoso ele é. Muito dificilmente ele muda de ideia quando enfia uma decisão na cabeça. Se ele decidiu comparecer a essa festa, deve ser porque você é muito especial para ele.

Delilah não a responde, nem tenta corrigi-la dizendo que os dois são apenas amigos. Naquela altura, ela havia se contentado com as suposições dos outros convidados.

Quase como um instinto, seus olhos captam os de Bruce do outro lado do salão. Ele se demora sobre ela, ignorando a forma como Henry fala animadamente ao seu lado. Delilah também não consegue desviar o olhar, sentindo o desconforto crescer em seu âmago até que se torne demais manter o contato com Bruce. Suas bochechas enrubescem e ela desvia o olhar, dando alívio a sua garganta seca com um pouco de água.

── Então, como você e Bruce se conheceram? ── Ela pergunta a Dana, mudando totalmente de assunto.

── Ah, nós namoramos na época do ensino médio ── Respondeu a Dunlop, surpreendendo Delilah ── Ficamos juntos por três anos praticamente, até entrarmos na faculdade.

── Não esperava por essa.

Dana sorriu.

── Faz tanto tempo, às vezes até eu esqueço que isso aconteceu ── comentou a mulher. ── Não porque foi ruim, mas porque... muita coisa mudou. Eu mudei muito, e o Bruce também. Não parece que somos aqueles mesmos jovens apaixonados daquela época.

── Se permite perguntar, por que vocês terminaram?

Delilah a viu suspirar, o polegar dela circulando a borda do copo em suas mãos enquanto o observava.

── Foi complicado. Justamente por causa dessas mudanças ── Dana respondeu. ── Estávamos bem até o final do ensino médio. Antes de namorarmos, éramos amigos e eu sempre apreciei a pessoa que o Bruce era. Na escola, ele sempre defendia o nosso amigo Sydney do bullying, algo que o rendeu várias suspensões porque... bem, Bruce respondia violência com violência. Ele chegou a fazer um rapaz pedir transferência pois o aterrorizou da mesma forma que o garoto aterrorizava o Syd.

O canto da boca de Dana subiu levemente com a memória. Delilah se pegou imaginando um jovem Bruce brigando contra vários garotos, socando-os no rosto e os fazendo se arrepender de machucar um menino indefeso.

── Nossa. ── Delilah comentou, mais uma vez, surpresa.

── Pois é, difícil de acreditar, não? ── Dana riu fracamente. ── Sinceramente, não acho que violência era a solução, mas a escola era realmente complicada. A academia de Gotham sempre foi muito elitista e deixava vários crimes passarem impune. Se você tinha o sobrenome certo, poderia matar alguém dentro da escola e ninguém ligaria ── Dana continuou, comprimindo os lábios com certo desgosto ao se lembrar disso. ── Bruce era diferente, sempre foi. Ele tinha um grande coração, mas também tinha muita raiva, muita dor. Quando começamos a namorar, ele estava mais tranquilo e achei... realmente achei que dariamos certo.

── Mas não foi o que aconteceu. ── Delilah comentou. Dana deu um sorriso triste para ela e assentiu.

── Mesmo briguento, Bruce sempre foi muito inteligente. Ele sempre tirava A em tudo, gabaritava todas as provas e nem ao menos precisava estudar. Bruce poderia ser o que quisesse, fazer o que quisesse na faculdade. ── continuou. ── Ele prontamente escolheu ser perito criminal. Queria ajudar a consertar Gotham se juntando a polícia. Eu achei uma péssima ideia, mas aceitei. Não queria atrapalhar os sonhos dele.

Dana brincava com um guardanapo na mesa, pensativa. Por mais que não houvesse mais amor entre ela e Bruce, Delilah percebia que a memória ainda mexia com ela. Dana estava distante e falava sobre o passado com certo pesar.

Imaginava que não deveria ter sido fácil para ela. Bruce deveria ter sido uma pessoa inconstante. A morte dos pais o afetou muito, e era claro pela sua escolha para faculdade. Seu objetivo de entrar para a polícia era uma consequência do que aconteceu em Park Row anos atrás. Ele queria mudar Gotham para que nenhuma criança precisasse ver os pais morrendo novamente, da mesma forma que ele viu.

── Então, ele... largou a faculdade. Começou a se afastar e a mudar. Eu não sabia o que estava acontecendo e ele não me permitia chegar perto ── disse Dana, olhando para Delilah. ── Não tínhamos os mesmos planos para o futuro. Eu queria me formar na faculdade, me casar e constituir uma família. Eu sempre quis ser mãe, e ele... bom, podemos dizer que Bruce não estava em sintonia comigo. Foi doloroso, mas... acho que fiz o certo. Sempre fomos melhor como amigos do que como namorados.

Dana sorriu e Delilah retribuiu o sorriso dela.

── A única coisa que me arrependo é de não ter insistido mais pela nossa amizade ── completou a mulher. ── Quando terminamos, permite que ele fosse embora da minha vida sem fazer nada a respeito.

── Acho que você não teria como fazer muito a respeito disso, Dana ── Delilah ousou comentar ── Se Bruce queria a reclusão, não havia nada que você pudesse fazer para mudar a mente dele. Você mesma disse que Bruce é teimoso.

── Sim, eu sei disso. Mas, ainda assim, me pergunto sempre o que eu poderia ter feito de diferente. ── ela suspira ── Eu poderia ter sido mais compreensiva. Foi apenas anos mais tarde que eu entendi o que ele estava passando, porque na época eu só pensei que ele estava sendo egoísta.

── Você eram jovens, ── Morgan disse. ── é normal cometer alguns erros quando se é jovem.

── Ou vários. ── Comentou Dana, fazendo Delilah rir junto com ela. ── Mesmo assim, foram bons tempos. Tento guardar apenas as memórias boas comigo, são apenas elas que realmente importam.

── Você está certa ── Delilah assentiu.

── São por causa dessas memórias que vou sentir falta de Gotham quando Will e eu finalmente nos mudarmos para Metrópole.

── Quando vocês vão?

── Em janeiro. Esse vai ser o último ano novo que passou em Gotham. A empresa de Will se fundiu com uma filial de Metrópole. Ele tem mais possibilidades de crescer lá do que aqui ── respondeu Dana ── Também quero que Anthony, diferente do meu primeiro filho, nasça em Metrópole. Toda a família da minha mãe é de lá e estou muito ansiosa para passar um tempo com eles. Minha tia Martha tem uma fazenda com o marido em Smallville e eu nunca a visitei, acredita?

── Espero que ocorra tudo bem na sua mudança ── disse a Morgan, desejando o melhor para Dana. ── Tenho certeza que essa nova etapa irá fazer muito bem para a sua família.

── Obrigada, Delilah. Eu também espero que isso aconteça, estou muito ansiosa por isso ── Dana respondeu. A mão dela encontrou a de Delilah em cima da mesa e a apertou. ── Pode me prometer uma coisa quando eu me for?

── Claro... Quer dizer, vai depender do você for pedir, mas... Claro ── ela assentiu, soltando uma risada nervosa. O pensamento de que deveria parar de beber tanto champanhe cruzou sua mente ── O que é?

── Cuida do Bruce. ── Pediu Dana, gentilmente. ── Ele precisa de alguém, mesmo que negue. Então, por favor, continue ao lado dele.

Delilah se surpreendeu com as palavras de Dana, permanecendo em silêncio e com os lábios entreabertos enquanto olhava para a ruiva. Ela queria dizer para Dana que não poderia prometer, que Bruce e ela não eram o que Dana pensava que eles eram.

Entretanto, encarando a Dunlop naquela mesa quase vazia e observando as feições do lado dela ── a preocupação e o carinho que ela tinha por Bruce gravados em suas feições ──, Delilah se viu cedendo ao pedido de Dana.

── Eu prometo, Dana ── disse ela, apertando a mão da mulher de volta, fazendo-a sorrir amplamente como se fossem velhas amigas.

Em determinado ponto, Delilah percebeu que precisava de um tempo da festa. Dana era uma ótima companhia, mas até mesmo olhar para ela a deixava sufocada. A comemoração fluía de forma espontânea, todos os convidados estavam rindo e conversando entre si, e ela queria um tempo para si mesma. Muita coisa havia acontecido em tão pouco tempo. Bruce havia entrado em uma conversa interessante sobre finanças com Patrick Northwest e Henry Crowne. Bruce era tão bom quanto ela em fingir interesse.

Entretanto, mesmo que escutar o falatório da senhora Vance sobre os grandiosos feitos de seu marido, enquanto ela se vangloriava sobre isso com as outras mulheres, parecesse ser algo muito interessante, Delilah estava cansada. Percebendo que não faria falta, ela se levantou e caminhou até a sacada. Durante o percurso, um garçom cruzou seu caminho e ela retirou uma taça de champanhe da bandeja dele.

Pela primeira vez em semanas, o tempo em Gotham estava limpo. As estrelas poderiam ser vistas mais amplamente da vista do jardim, algo totalmente diferente do que Delilah estava acostumada. Se ela quisesse ver as estrelas em Narrows, precisava subir as escadas de incêndio e sentar na laje, junto de Howie, o morador de rua e cuidador de pombos que vivia em seu prédio. Ele tratava dos pombos melhor do que ninguém, porém gostava bastante de conversar.

Levando a taça ao lábios para um gole rápido, Delilah deixou o objeto de vidro sobre o guarda corpo de vidro, enquanto deixava duas mãos repousarem ao lado dele. O vento da noite beijou seu rosto, bagunçando alguns fios de cabelo na frente do seu rosto enquanto seu olhar passeava sobre algumas mesas dispostas do lado de fora. Quando afasta os fios rebeldes com uma mão, suspira fracamente ao observar as estrelas.

── Pensando em fugir? ── Delilah olha por cima do ombro ao escutar aquele questionamento. Bruce se aproxima com as mãos nos bolsos da calça social.

── Sim, como descobriu? ── indagou Delilah, bebericando do champagne ao direcionar seu olhar para a frente mais uma vez. Um fantasma de um sorriso dançando em seus lábios quando Bruce se aproximou e ficou ao lado dela.

── Se quiser ir embora, podemos ir. É só você dizer ── disse Bruce, suavemente.

── Não se preocupe, eu estou bem. E ainda está cedo. A noite é uma criança, certo? ── ela respondeu, tentando aliviar o clima. ── Quero saber o quão bêbado o senhor Vance precisa ficar para começar a falar o que aconteceu no verão de 61. As melhores histórias são contadas por pessoas bêbadas.

── Vejo que ele conseguiu te entreter ── Bruce comentou.

── Adoro um contador de histórias, ainda mais um que é mentiroso ── Delilah responde. ── Você sabe que é mentira, mas finge tanto que acredita em tudo o que ele diz, só para agradá-lo, que você quase acaba acreditando de verdade.

Bruce murmura em concordância, permanecendo ao lado dela enquanto Delilah termina de beber o champanhe em sua taça. O silêncio que preenche o espaço entre eles é confortável; não há constrangimento, apenas os dois observando as estrelas, mesmo que as perguntas não feitas permaneçam ali, criando uma sensação estranha que faz a palma da mão de Delilah formigar.

Dentro do salão, a música continua. Agora é uma melodia mais animada, embora apenas o instrumental soe pelo ambiente. Delilah sente a necessidade de preencher aquele vazio entre eles com algo, qualquer coisa.

── Obrigada, a propósito. Pelo convite ── ela diz, atraindo o olhar de Bruce. ── Esta noite está sendo bem diferente do que eu esperava. Está sendo bom fingir que nada de ruim está acontecendo. Mesmo que apenas por uma noite, me dá um certo alívio. Queria que fosse assim sempre.

── Não precisa agradecer ── Bruce responde. ── Acho que nós dois precisávamos disso. Tudo anda muito estressante... Mais do que o normal. Às vezes, faz bem fugir dos problemas.

── Sinto que estou sempre fugindo dos meus problemas ── disse ela. ── Tenho o costume de fingir que nada de ruim está acontecendo comigo quando claramente está.

── A maioria das pessoas faz isso, Delilah, principalmente quando estão acostumadas a lidar com a própria dor sozinhas ── Bruce diz, fitando-a. ── É sempre mais fácil ignorar o problema e fingir que está bem. Mecanismo de luta ou fuga, todos nós temos.

── Mas você não me deixa fugir ── ela fala, causando em Bruce um questionamento silencioso; a sobrancelha dele se ergue. ── As outras pessoas... elas aceitam quando insisto em dizer que estou bem, você não. Você sempre consegue ver além de mim.

── Você e eu... ── ele murmura, e Delilah nota a proximidade, o quão perto eles estão um do outro. ── Nós não somos tão diferentes.

Ela não o responde. As palavras escapam, qualquer pensamento coerente some de sua cabeça quando Bruce está tão perto. Sua boca fica terrivelmente seca, como se não tivesse acabado de beber uma taça de champanhe e sim estivesse falando sem parar por uma noite inteira. Quando encontra coragem para abrir os lábios e dizer algo, a mão dele se ergue e Delilah se cala mais uma vez quando os dedos longos de Bruce roçam seu cabelo com suavidade. Ele os afasta, expondo o ombro dela.

Delilah, por um momento, imagina que Bruce está focando em seu pescoço. Contudo, o polegar dele desce sobre a cicatriz que ela escondeu durante a noite toda. O toque de Bruce a faz se arrepiar enquanto ele acaricia a pele enrugada, recém cicatrizada e ainda avermelhada, com seus olhos presos naquela área. Delilah engole seco, sentindo sua pulsação disparar. Ela nem consegue desviar os olhos dele, absorta demais no que está acontecendo para conseguir reagir apropriadamente.

O ar entre eles mudou drasticamente, tornando-se ainda mais opressor. Ela poderia cortar a tensão com uma faca, se quisesse. Principalmente quando Bruce ergue o olhar, travando seus olhos azuis nos dela com tanta intensidade que Delilah se esquece de respirar. Bruce a olhava como se ela fosse a razão pela qual as estrelas se mantinham no céu, como se ela fosse a resposta para todos os enigmas do universo.

O perfume dele a alcança mais uma vez, e ela se sente intoxicada pelo cheiro doce, com um toque de cedro e sândalo, que faz sua mente ficar ainda mais enevoada. Tudo o que ela consegue sentir, tudo o que ela consegue pensar é nele. Tão perto que Delilah poderia sentir a respiração dele em seu rosto. Tão perto que fazia seu coração acelerar ainda mais em seu peito, conforme eles se aproximavam gradativamente um do outro. O mundo ao redor parecia mais lento, distante. Até mesmo a música soava abafada, sem conseguir acompanhar o ritmo do seu coração.

Seus lábios estavam entreabertos, e um arrepio a percorreu novamente quando a mão de Bruce se ergueu mais, ousando tocar em sua bochecha, uma carícia fantasma que a fez desejar mais. Delilah desejou que ele se aproximasse. Queria saber como seria sentir os lábios dele sobre os seus, ela queria que ele a beijasse. Ela queria tanto e estava perto de alcançar o queria, quando o feitiço se desfez.

── Brucie ── quando Regina Zellebarch cantarolou, animadamente, o apelido de Bruce, os dois se afastaram no mesmo instante, olhando na direção da mulher assustados. Inicialmente, Regina parecia alheia ao que estava acontecendo, mas depois uma engrenagem pareceu girar em sua mente. ── Oh, eu... estou atrapalhando algo?

Delilah respirou fundo, sentindo suas bochechas quentes. Ela não sabia o que responder a Regina, nem ao menos conseguia olhá-la nos olhos.

── Não ── Bruce não hesitou ao responder. Ela ignorou o aperto que sentia no peito e olhou para o lado. ── Você não atrapalhou nada. Do que precisa, Regina?

Bruce caminhou até ela, envolvendo-se em uma conversa com a mulher sobre algo que Delilah não entende direito e nem busca se inteirar. Pelo contrário, ela não se moveu quando eles se afastaram. Permaneceu na varanda, apoiando o corpo no vidro em suas costas e tentando se recompor.

Antes de sumir de vista, porém, Bruce olhou na direção de Delilah uma última vez naquela varanda, buscando o olhar dela que nunca o encontrou. Ele seguiu em frente com Regina e ela deu as costas para o salão, encarando as estrelas novamente.

Sem saber como lidar com os próprios
sentimentos naquele momento, Delilah respirou
fundo e fechou os olhos, desejando poder
esquecer o que aconteceu e a forma como ainda
sentia o toque de Bruce queimando em seu
ombro, como se tivesse deixado para trás uma
marca invisível sobre sua pele.

AUTHOR'S NOTE.

I. | Acharam mesmo que ia rolar beijo? KKKKKKKKKKKKKKKKNOT TODAY, AMORES.

Vocês vão ter que aguentar mais um pouquinho. Pelo menos tivemos muito flerte, muita tensão sexual e muitos conflitos internos.

II. | Esse capítulo demorou bastante pra sair porque 1) me viciei em um jogo e ignorei as minhas responsabilidades 2) foi difícil DEMAIS escrever ele, então por favor MIMEM muito esse capítulo. Queimei meus neurônios pra deixar ele de uma forma que me agrade e, pra não deixar vocês sem cap essa semana, acabei não revisando ele. Por favor, relevem qualquer erro.

III. | Na mídia, eu coloquei o cover que toca quando a Delilah e o Bruce estão dançando. Não é exatamente naquela melodia pq no jantar foi tocado por uma mini orquestra, mas é a música cantada na voz da Ethel Cain toca. Eu amo esse cover e amo a Ethel, precisava colocar uma participação especial dela na fic.

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