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𝟏𝟎. › ALL PATHS LEAD . . .

𝟎𝟏𝟎.            TODOS OS CAMINHOS LEVAM...

OUTONO⠀──⠀ NOV. 24, QUARTA.
THE BOWERY, ROBINSVILLE.

O MEDO QUE BATMAN impunha era palpável, ele era uma presença maçante e inabalável. Mas, mesmo em meio aquela névoa sombria da noite, os assaltantes ousavam tentar um confronto direto.

O mais baixo avançou primeiro, apresentando muita coragem e audácia. O punho dele estava bem fechado, havia determinação. Entretanto, se ele estava acostumado a sair vencedor das brigas de rua em que se metia, cometeu um grande erro ao agir com tamanha prepotência.

Batman segurou o punho dele com uma mão, torcendo-o para trás até o assaltante urrar de dor, e com a outra desferiu uma série de socos contra o rosto do homem, esmagando seu rosto com o punho fechado. Do seu lugar no chão, ela poderia jurar ter escutado um osso sendo esmagado. O nariz provavelmente estava quebrado agora, porém Batman não parou até que aquele homem estivesse no chão. Ele alternou entre socos no rosto e no torso, deixando-o sem poder reagir, sem nem ao menos ter a chance de tentar atacar novamente.

Quando o segundo homem atacou, o amigo estava com um joelho no chão. Sua panturrilha havia sido acertada pela sola do vigilante, que o fez torcer o joelho e se prostrar até despencar de cara em uma poça de água, agora desacordado. O outro assaltante avançou com uma faca, que Batman prontamente desviou, investindo contra o inimigo com um soco nas costelas e batendo contra o braço dele para derrubar a faca.

Houve um tilintar quando o objeto caiu no chão do beco, perdendo-se no meio das sombras e permanecendo esquecido. Batman acertou aquele homem várias vezes, como havia feito com o amigo dele mas, dessa vez, não parou quando ele estava no chão. Os socos brutais continuaram. Aquele assaltante nem ao menos proferia mais nenhum e trazendo a mente da Delilah a possibilidade dele estar morto. Pela notícias viu e escutou sobre o Batman, ele nunca havia matado ninguém ── só causou a maioria danos piores do que a morte, mas isso era apenas um detalhe.

Enquanto se levantava lentamente, sentindo uma dor nas costelas que a fez estremecer e levar a mão até o local, Delilah não retirou seus olhos da cena. Ela nem ao menos desviou, nenhum minuto sequer. Em determinado momento, Batman parou com seu punho erguido no ar, respirando como um animal e erguendo seu olhar sobre ela, desde os tênis agora sujos de lama e respingos de sangue até o rosto molhado e o olhar vidrado.

O esperado seria que Delilah sentisse medo, que torcesse o rosto ou que ao menos sentisse pena daquele homem. Sim, ele havia tentado roubá-la e provavelmente iria matá-la, porém nem mesmo raiva ela estava sentindo naquele momento. Delilah não sabia de onde aquela sensação entorpecente em relação a violência estava vindo, todavia não parecia ser a primeira vez que ela a sentia. Era familiar.

Abandonando o homem desacordado no chão sujo daquele beco, o vigilante se ergueu. A estatura dele deveria intimidar, porém Morgan esteve na presença dele antes. Mesmo receosa, ela não sentiu medo. Agora não foi diferente.

── Você está bem? ── Batman perguntou com uma voz grave e um tanto rouca. Não houve qualquer familiaridade quando Delilah a escutou, não poderia reconhecer quem estava por trás da máscara pois não havia nenhum indício, porém gostaria de ter conseguido algo, de poder ao menos saber quem era o homem que havia acabado de salvá-la.

── Tinha uma mulher... sendo assaltado por eles ── ela murmurou com a voz arranhada.

── Ela está bem, já está a salvo. ── ele respondeu, e era inegavel o alivio que Delilah sentiu após escutar o que ele disse.

── Ótimo. ── A voz dela era baixa, ainda desprendia-se dos últimos eventos. Delilah o encarou sentindo novamente como se os olhos daquele homem mascarado pudessem ler também a sua alma.

── Imagino que isso seja seu ── Batman estendeu a mão na direção dela, entregando o celular que Delilah não havia percebido que deixou cair.

Ela inicialmente levou a mão aos bolsos, checando os espaços vazios, percebendo que aquele era realmente seu celular.

── Obrigada... ── Ela agradeceu, erguendo o olhar para ele mais uma vez ao segurar o celular, aceitando o objeto de volta e e notando que a tela agora se encontrava rachada ── Por isso e por me salvar daqueles caras. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido.

Apenas o mero pensamento a deixava nervosa, inquieta. A morte seria o menor dos problemas dela nas mãos daqueles homens, isso Delilah tinha absoluta certeza.

── Você deveria voltar para casa agora, essa parte da cidade não é segura a essa hora ── Batman sugeriu, como se Delilah não soubesse daquele fato. Gotham tinha muitas áreas perigosas tarde da noite, porém o Crime Alley era a pior delas. Bowery não era o Crime Alley, porém era o distrito mais próximo.

── E qual parte de Gotham é? ── Indagou, um quê de ironia em seu tom voz e um sorriso de lado despontando nos lábios de Delilah ── Bom, nos distritos de Somerset talvez, mas a maioria das pessoas não moram lá. Elas moram aqui, onde a criminalidade é mais elevada e a segurança é uma merda.

Guardando o celular no bolso, sentiu os olhos dele, mesmo que não pudesse ver, centrados sobre si. Ele tinha uma atenção redobrada, como se a analisasse de uma forma familiar, buscando algo em particular.

Delilah inspirou o ar da noite. Seus nervos haviam se acalmado, o efeito da luta ou fuga se afastava. Ela lembra o motivo de estar ali, não no beco, mas em Bowery. Lembra-se de Steven Bullock e, consequentemente, lembra-se do Ceifador. Ela também se lembra daquela noite no estacionamento circular. Do pequeno confronto que o Batman começou entre os dois.

── Ainda está investigando o caso do Ceifador, eu imagino? ── Ela indagou, mudando o assunto. ── Ainda sou sua suspeita número 1?

── Nunca disse que você era uma. ── Ele retornou a aquela afirmação e Delilah não pode evitar deixar que um sorriso debochado crescesse em seus lábios. O canto esquerdo erguendo-se sutilmente.

── Não foi necessário. ── Disse ela, friamente, porém não mais ressentida. ── Saiba que eu quero resolver isso tanto quanto você.

── Por quê?

── Por que isso me envolve, tanto quanto envolve você. Mas eu não estou aqui para fazer uma palestra sobre os meus motivos, sinceramente esse nunca foi o meu intuito para essa noite.

── Então qual era? ── Batman a questionou, inquisitivo.

── Avançar com a minha própria investigação ── Delilah respondeu ── Eu espero que você acredite em mim, enquanto eu digo isso. Porque acho que... Posso precisar da sua ajuda para resolver esse caso. Acho que podemos ajudar um ao outro. Se isso servir para provar minha inocência.

── Eu trabalho sozinho.

── E Gordon? Pensei que ele fosse seu amigo.

── Ele não é ── Ele respondeu, friamente. Sem desejar entrar em detalhes.

── Certo, eu também não quero ser sua amiga. Mas o Ceifador precisa ser pego. Esse caos precisa acabar... Eu quero que ele acabe. ── Disse ela, soltando um longo suspiro ao dar um passo à frente, saindo parcialmente das sombras. ── Mas não tenho feito muito progresso e sinto que estou andando em círculos. Se você tiver algo que possa ajudar... Conto o que eu sei em troca.

Ele a encarou por longos minutos, sem lhe dar uma resposta. Delilah engoliu o seco, pensando no que poderia dizer, o que poderia usar para convencê-lo. Talvez estivesse dando um tiro no escuro. Talvez o vigilante não precisasse da ajuda dela. Talvez ele tivesse feito um progresso real naquele caso e ela ainda estava vários passos atrás. Porém, uma certeza que Delilah tinha, é que deveria tentar.

Ela tinha Bruce ao seu lado, que era alguém que lhe dava certa vantagem em alguns aspectos, porém o Batman não seguia as leis. Enquanto ela e Bruce precisavam arrombar portas, contar mentiras, ele ainda tinha o benefício de fazer avançar por outros meios e ainda tinha a confiança de Gordon. O tenente contava tudo a ele e lhe dava acesso ao DPGC. Formar aquela aliança seria uma oportunidade que Delilah não poderia deixar passar.

── Eu descobri através de um policial que eles tinham um suspeito 20 anos atrás. Um suspeito que nunca foi divulgado ── mais uma vez, aquilo poderia ser um tiro no escuro, porém Delilah jogou a melhor carta que tinha. ── Sabia disso?

── Não. ── Ousado seria dizer que ele pareceu um pouco surpreso com aquela informação e Delilah se sentiu um pouco confiante no que estava fazendo. Ela pescou sua mochila do chão e colocou a alça sobre o ombro.

── Bom, essa pode ser uma informação falsa, mas... não custa nada tentar descobrir quem é esse suspeito ── disse a Morgan, ignorando a dor no seu lado ao se movimentar ── Gordon deve saber algo sobre isso. Se a informação for promissora, posso compartilhar mais do que sei. Mas... você tem que fazer o mesmo.

Ele parecia estar pensando, ponderando sobre tudo que foi dito. Mais um pouco e Delilah poderia ver as engrenagens dentro da cabeça dele girando.

── Irei investigar essa pista ── Batman respondeu, dando as costas para ela. No mesmo instante, Delilah se lembrou de algo ── Vá para casa. Entro em contato com você quando se julgar necessário.

── Espera, só mais uma coisa ── Ela interveio antes que ele pudesse sair. Delilah engoliu o seco quando Batman olhou por cima do ombro. ── Jeremiah Stirk. Acho que ele pode ter algum envolvimento nesse caso. Qualquer informação adicional sobre ele também seria útil.

Delilah não precisou dizer mais nada para que ele entendesse onde ela queria chegar. Em silêncio, Batman olhou para a frente novamente.

── Verei o que posso fazer. ── Erguendo a mão para cima, ele usou um lançador e subiu, sumindo pelos prédios.

Delilah permaneceu naquele beco sozinha por alguns segundos, olhando para cima, onde ele havia desaparecido, e depois para o nada. Em nenhum momento Batman lhe deu certeza de que a ajudaria, ele poderia muito bem conseguir informações através daquelas pistas e usar para beneficio próprio, esquecendo-se completamente dela, porém Delilah não estava desapontada por isso.

Ela queria, é claro, encerrar aquele caso. Mais do que tudo no mundo, ela desejava poder acabar com aquele sofrimento, colocar aquele serial killer atrás das grades. Mas isso não significava que só ela poderia fazer isso. Delilah não confiava na polícia de Gotham, mas tinha um pouco de confiança no morcego. Contanto que o assassino fosse preso, ela compartilharia o que sabia com ele de bom grado.

Massageando o ombro, Delilah sai do beco e caminha na direção do metrô, refazendo seus passos de minutos atrás. A chuva diminuiu durante aquele tempo, mas era tarde para dar importância para ela. Delilah estava encharcada da cabeça aos pés, sentia suas roupas grudando em seu corpo.

Ela desceu as escadas da estação, usou seu cartão e usou as escadas rolantes para ir até a plataforma. Poucos minutos depois, o trem havia chegado. Ela entrou, encontrando o mesmo quase vazio naquele horário. Haviam apenas três pessoas naquele vagão tão tarde da noite e todas elas pareciam estar vindo do trabalho, absortas demais em seu próprio mundo para notá-la.

Delilah sentou em uma das cadeiras e suspirou profundamente, sentindo a sensação desconfortável das roupas pesadas contra seu corpo. Até mesmo seu tênis estava encharcado, mas ela não poderia fazer nada quanto a isso até que chegasse em casa.

Enquanto o trem começa a se mover, com a mochila entre as pernas, Delilah pesca o celular do bolso e observa a tela rachada mais uma vez. Ela o liga, a tela se ilumina e as notificações de chamadas recentes mais algumas mensagens aparecem. Todos pertencentes a uma única pessoa.

Bruce.

Por mais que não quisesse falar com ninguém naquele momento, acha que seria certo ligar para ele. Lendo brevemente as mensagens dele, percebeu que Bruce parecia preocupado. Ela deixou o celular silencioso a maior parte da tarde, concentrada demais no trabalho para se importar com o aparelho.

Era comum que isso acontecesse, Delilah não passava muito tempo com o próprio celular. Porém deveria ter falado com Bruce quando terminou no hospital, mas acabou se esquecendo de falar com ele sobre Elizabeth. Ela o deixou no escuro sobre o que estava fazendo, e julgava que deveria ser por isso que o homem estava ligando minutos atrás.

── Oi, Bruce ── ela disse assim que ele atendeu a ligação. Delilah apoiou a cabeça na janela e tentou o seu melhor para disfarçar o cansaço e o desânimo em sua voz ── Desculpa não ter falado com você antes, fiquei ocupada a tarde toda e tive um compromisso a noite.

── Quando você não respondeu minhas mensagens e não atendeu a ligação, pensei que algo de ruim poderia ter acontecido ── ele comentou, sério. Bruce não parecia irritado com ela, mas soava mais distante que o normal.

── Eu estava em Bowery, estou indo pra casa ── Ela respondeu, em seguida ficou em silêncio por um tempo, pensando se compartilhava o restante da informação com ele. Delilah decidiu que ele deveria saber ── Tentaram me assaltar, mas... O Batman meio que apareceu e eu não virei estatística. Então, devo isso a ele. Está tudo bem.

── Bowery não é seguro, não deveria ter ido tão tarde ── Bruce comentou, repreendendo-a. ── Nem sozinha. O que foi fazer nessa parte da cidade a essa hpra?

── Fui me encontrar com Steven Bullock, queria saber se ele tinha alguma informação importante sobre o caso. ── ela olhou pela janela, observando a paisagem mudar conforme o trem se movia. Cada vez mais perto de casa, ela pensou.

── Você deveria ter me dito. Não pode fazer essas coisas sozinha, nós trabalhamos juntos ── Wayne respondeu. ── Está se arriscando demais.

── Eu sei me cuidar.

── Não é o que parece.

── Eu sobrevivi até agora.

── Me pergunto como. ── Disse ele, fazendo-a rir baixo.

── Porra, vai se foder. ── Disse ela, inclinando a cabeça contra o vidro da janela. ── Não subestime minha capacidade de sobrevivência, Wayne. Sou pior do que você imagina.

── Acho que eles tem um ditado para isso. ── Bruce comentou, ainda sério.

── E qual seria?

── Vaso ruim não quebra fácil.

── Eu odeio você ── Ela fechou os olhos e sorriu, ou melhor, tentou evitar sorrir porque parecia ridículo rir daquela frase besta ── Deve ser por isso que eu vou para as investigações sozinha. É melhor do que lidar com você.

── Não, você vai sozinha porque gosta de ser imprudente ── Bruce retrucou ── Mas isso precisará parar de acontecer. Estamos trabalhando juntos, Delilah. Isso significa que, se você tem uma pista, investigamos ela juntos.

Bruce soou um pouco irritado. Se fosse em qualquer outra ocasião, Delilah teria sido ríspida com ele. Responderia da mesma forma que respondeu Alistair dias atrás. Entretanto, além de estar exausta, não achava que Bruce estava de todo errado.

Delilah olhou para o próprio pulso onde um hematoma havia se formado no exato lugar em que Steven a segurou. Era um vermelho pálido ainda, talvez logo sumisse. Era quase imperceptível em sua pele bronzeada. Porém Delilah se lembrava do que aconteceu e um desgosto subia por sua garganta. O questionamento veio à mente dela: teria feito ele isso com outras mulheres? Será que elas conseguiram se livrar dele como ela conseguiu?

Delilah não sabia porque estava se martirizando com esses questionamentos, mas pensou nisso enquanto ficava em silêncio por um tempo. Sentiu seu estômago revirar. Viver desesperadamente sempre cobrava seu preço. Se colocar no lugar da pessoas constantemente também.

── Está bem, Bruce. Você está certo, eu não vou mais... ── Delilah apertou o nariz com os dedos, enquanto forçava seus olhos fechados por um momento. ── Isso não vai mais se repetir.

Por um momento, foi a vez de Bruce ficar em silêncio. Tempo o suficiente para ela abrir os olhos novamente, vendo alguns pontos pretos em sua visão que logo desapareceram conforme ela piscou algumas vezes.

── Certo ── ele murmurou, e enfim entrou no assunto que Delilah queria evitar. ── E como foi com Steven?

O desgosto voltou junto da lembrança recente.

── Não foi agradável ── Delilah respondeu. ── Ele é um babaca.

── Ele fez algo? Steven tentou alguma coisa? ── Bruce indagou. Ela sentia que ele queria perguntar algo a mais, que havia uma pergunta implícita, porém Bruce se conteve.

── Não quero falar sobre isso. ── disse, e em seguida completou. ── Não agora.

── Delilah ── Wayne a repreendeu, prestes a começar um discurso que Delilah não queria ouvir.

── Bruce, não quero falar sobre isso agora. ── Morgan insistiu antes que ele pudesse dar continuidade. ── Apenas saiba que ele não fez nada comigo ── ele não conseguiu, pelo menos. ── Mas foi ruim e eu estou exausta. Só quero voltar pra casa agora e esquecer essa noite.

Por favor, ela queria dizer, não me faça falar sobre isso. Não agora. Não é o que eu preciso. Não é o que eu quero.

── Tudo bem. ── Bruce respondeu, por fim. Sem insistir, sem a pressionar. Ele estava dando o espaço que ela queria para lidar com os próprios sentimentos e a própria mente que estava um pouco bagunçada.

O ar da conversa pareceu mudar. Bruce, que antes estava mais tenso, parecia um pouco mais tranquilo. Eles estavam retornando ao normal. Delilah estava retornando ao seu normal ── se é que ela sabia qual era o seu normal. Tudo o que ela sabia é que não precisava ficar sempre na defensiva quando estava conversando com Bruce, e não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

── Eu vou desligar agora, estou chegando em Narrows ── anunciou Delilah, lendo uma placa verde com o nome do distrito ── Amanhã, quando eu estiver menos cansada e mais desperta, conto tudo o que descobri hoje. Não é muito, mas... Deve servir de alguma coisa.

── Nós nos falamos amanhã, então... ── Disse ele, provavelmente assentindo do outro lado da linha. ── Fique segura.

── Você também, Bruce.

Delilah desligou a ligação, guardando o celular novamente. Uma sensação boa permaneceu, quebrando parte da tensão que ela acumulou ao decorrer daquela noite.

Felizmente, Delilah sai da estação sem problemas quando o trem parou na plataforma de Narrows. Suas roupas estavam começando a secar e a chuva havia parado, restando apenas o frio para fazê-la tremer a cada passo fato até o seu precário complexo de apartamentos.

Morgan cumprimentou os policiais parados na esquina de seu prédio, que acenaram para ela em troca, enquanto comiam pizza de uma caixa do Pizza Hut agora quase vazia. Ela entrou no saguão e encaminhou-se até o elevador. E, cada vez que estava mais próxima do seu andar, sentia um alívio.

Quando as portas do elevador se abriram novamente, Delilah já estava com as chaves na mão. Elas tilintam a cada passo dado pelo corredor silencioso. A luz amarelada refletindo sobre o metal e banhando o corpo de Delilah com uma aura etérea conforme fazia o caminho familiar até o seu apartamento.

Ela mal destranca quando a porta atrás de si abre. Delilah escuta o ruído baixo, a madeira indo apenas até o meio, expondo uma fresta que era o suficiente para a senhora Vand aparecer por detrás da porta.

── Delilah, querida ── chamou a mulher mais velha. Delilah olhou para Janet e forçou o melhor sorriso simpático em seus lábios. Não era tão largo e não havia ânimo em seus olhos, mas expressava sua gentileza.

── Boa noite, senhora Vand. Tudo bem?

── Sim, tudo ótimo. Não vejo você direito faz um tempo, querida ── Ela disse, gentilmente. ── Sei que está tarde, mas eu queria saber... Aceita tomar uma xícara de chá? ── Janet expôs as canecas que segurava para ela, mostrando as duas.

Delilah ergueu as sobrancelhas, pensativa. Desde que começou a morar naquele prédio, as duas compartilharam o hábito de tomar chá juntas. Delilah não era uma grande fã, costumava preferir café, mesmo tendo morado na Inglaterra por um tempo.

Ela encarou a própria porta e depois a vizinha. Sabia que esse convite vinha de mais uma noite de insônia da mulher e não queria ser rude. Talvez uma xícara de chá a ajudasse a descansar. Mesmo exausta, a mente de Delilah ainda demorava um pouco para desligar e, nos últimos meses, tornava-se cada vez mais difícil dormir.

── Claro, eu aceito ── Delilah assentiu. ── Eu só vou trocar de roupa, preciso tirar essa roupa molhada e colocar alguma coisa mais confortável.

── Está bem, vou esquentar a água enquanto isso ── Respondeu Janet, fazendo a Morgan soltar um murmúrio afirmativo ── Quando terminar, pode entrar sem bater. A porta vai estar destrancada.

Delilah entrou em seu apartamento em seguida. Retirou os sapatos na entrada, como sempre fazia, mas levou as meias consigo para colocá-los no cesto de roupa suja, junto com as roupas que estava vestindo.

Quando se despiu e colocou tudo o que vestia para lavar, incluindo sua roupa íntima, escolheu a roupa de dormir usual. Após o banho rápido, ela vestiu calça de moletom cinza e uma blusa preta de manga longa sem nenhuma estampa, que servia bem para uma noite fria e que não era tão grande como as outras blusas que usava para dormir. Delilah colocou as meias nos pés e calçou os chinelos.

Seguindo as instruções de sua vizinha, Delilah abriu a porta e entrou no apartamento da mulher que, por mais que tivesse sido planejado da mesma forma, seguindo os padrões daquele prédio, era o completo oposto do dela. Janet tinha muitos quadros de família espalhados pela casa, vários tecidos feitos em tricô no sofá, na mesa de centro, nas cômodas e até mesmo debaixo da televisão. Tricotando. Era assim que ela ocupava o tempo.

A cozinha da mulher, assim como a de Delilah, era conectada com a sala, onde apenas um balcão separava um cômodo do outro. A mesa e as cadeiras ficavam no centro da cozinha. A superfície de madeira também estava forrada com uma peça de crochê verde oliva que combinava com as paredes e o bulê que Janete usava.

── Pode se sentar, vou servir o chá ── disse a vizinha, amigavelmente. Delilah puxou uma cadeira e se sentou na ponta esquerda da mesa.

Janet lhe entregou a caneca azul, colocou o saquinho com chá e o encheu com água quente. Delilah agradeceu.

── Desculpe por te incomodar tão tarde, querida ── disse Vand, enquanto servia a si. ── Imagino que você esteja cansada.

── Está tudo bem, senhora Vand. Eu não costumo dormir rapidamente, mesmo cansada ── Delilah a tranquilizou. ── Demoro a pegar no sono, já me acostumei com isso. Minhas noites são normalmente complicadas.

Ela sorriu por de trás da xícara, dando um gole pequeno no líquido antes de se encaminhar até a cadeira próxima..

── Tem muitos sonhos com aquela noite, querida? ── Questiona Janet, sentando-se de frente para Delilah e ajeitando os óculos de armação roxa.

── Mais ou menos. Não é sempre que eu tenho pesadelos com o que aconteceu ── Ela responde, deixando a caneca sobre a mesa novamente. Suas mãos não se afastam totalmente do objeto de porcelana, sentindo o calor que ele fornece. ── Quando acontece, é sempre o mesmo sonho. Eu estou de volta ao necrotério, não como legista, mas como o corpo sobre a mesa.

Não era uma total mentira. Aqueles sonhos eram repetitivos, mas esses eram os únicos que Delilah se lembrava com clareza. Quando tinha um sonho diferente desse, ela raramente se lembrava dos detalhes. Tudo o que restava era a sensação.

── Deve ser horrível sonhar com isso ── Comentou a senhora Vand, estremecendo apenas em pensar ── Você deveria encontrar acompanhamento psicológico, minha filha.

── Fui em uma consulta essa semana. O tenente do DPGC me forçou a ir para duas consultas com o doutor Christopher Hunter no centro de Burnley, se eu quisesse voltar ao trabalho ── disse ela, erguendo o olhar e encarando Janet. ── Mas eu não gosto muito dessa ideia de... Falar sobre como me sinto com outras pessoas.

Delilah não sabia quando começou, mas ela tinha essa barreira entre si mesma e as outras pessoas. Apenas a mera ideia de deixar qualquer um se aproximar o suficiente para conhecer tudo sobre ela, parecia errado.

Todas as pessoas que se aproximaram em sua vida, a conheciam apenas até onde ela os permitia ir. Nunca além disso. Nunca ao ponto de a conhecerem de verdade ── não que houvesse muito para conhecer, é claro. Porém ela gostava dos limites que colocava.

Expor isso a alguém, mesmo que para alguém que estava sendo pago para escutá-la, lhe dava um desconforto. Uma necessidade de fugir e se esconder. Poder se fechar para o mundo era um desejo que Delilah construiu aos poucos. Ela criou uma casa dentro de si mesma, tijolo por tijolo, e deixou de precisar das pessoas ao seu redor.

Ao menos, ela tentava convencer a si mesma de que não precisava. Até se sentir pequena dentro de sua própria vida, quando parecia que um outro alguém era capaz de lhe controlar, de desfazer qualquer falsa paz que Delilah conseguiu criar nos últimos anos. Depois do Ceifador, ela não tinha mais certeza de nada. Muito menos de quem realmente era.

── De qualquer maneira, isso não importa ── Disse Delilah, afastando a sensação melancólica que caiu sobre a sala e impedindo aquela conversa de prosseguir muito além disso. ── Eu geralmente abafo besteiras sentimentais e melodramáticas. Foco no que realmente importa e... Sigo em frente.

Janet assente, compreensiva e as duas bebem um pouco de chá em suas respectivas canecas mais uma vez.

── Alguma notícia da Rachel? ── Perguntou ela, mudando de assunto.

── Não desde que ela veio aqui em casa no início da semana ── a senhora Vand abaixa a caneca devagar e suspira. ── Sinto muito que você tenha escutado nossa discussão. Rach as vezes é... Um pouco difícil.

── Eu entendo, e não precisa se desculpar. Sei que isso não é sua culpa.

── Eu duvido muito que não seja, querida ── Ela riu sem humor. ── Eu causei isso... Esse afastamento. É minha culpa que Rachel tenha se tornado tão distante de mim e tão dependente das drogas. Agora eu luto para trazê-la para perto. Poderia ter sido uma mãe melhor antes, mas não fui.

── Todos cometemos erros, senhora Vand. Nunca é tarde para tentar consertá-los.

── Mas quando cometemos um erro com uma criança, isso muda tudo, não acha? ── Indagou a mulher, olhando para ela. Janet parecia ainda mais velha sobre a luz dourada da cozinha. ── Quando meu marido morreu, Rachel tinha 10 anos. Ele teve um enfarto na cozinha do restaurante que trabalhava. Isso mudou tudo para gente, porque foi muito inesperado.

Ela suspirou pesadamente e Delilah pode ver que lágrimas não derramadas brilhavam nos olhos dela, através da lente. Aquele acontecimento ocorreu a anos atrás, porém ainda era uma memória que doía. Delilah entendi bem a sensação.

── Perder Alan me desestabilizou. Rachel só não ficou sozinha porque minha irmã veio morar conosco, mas não era responsabilidade dela criar minha filha ── Continuou Janet. ── Eu passava mais tempo trancada em meu quarto lamentando a perda do meu marido, do que ao lado dela. Rachel cresceu e superou isso, da maneira dela. Aprendeu a não depender de mim. Vivemos de altos e baixos na nossa relação, até ela sair de casa e ir para a faculdade. Abandonou o futuro promissor que tinha, saiu meses depois quando começou a se relacionar com um cara mais velho. Depois disso, eu raramente sabia algo dela. Era só quando ela aparecia para pedir dinheiro e eu sempre dava porque achava que era o mínimo que eu poderia fazer.

──Todos lidamos com o luto de maneiras diferentes, e nem sempre conseguimos estar presentes para aqueles que amamos quando mais precisam. ── Delilah respondeu com suavidade, sentindo a profundidade das palavras da mulher.

Janet balançou a cabeça, os olhos ainda fixos na memória dolorosa.

── Rachel era tão brilhante, tinha tanto potencial. Quando ela começou a se afastar, eu me senti ainda mais perdida. Cada vez que ela aparecia pedindo dinheiro, era como uma facada no meu coração, porque eu sabia que não era só o dinheiro que ela precisava, mas sim do meu apoio, do meu amor... e eu não estava lá.

Delilah respirou fundo, buscando as palavras certas.

── Às vezes, a vida nos coloca em situações em que nos sentimos impotentes, mas isso não significa que não podemos mudar o curso das coisas. Você ainda pode se reaproximar dela, mostrar que está disposta a fazer as pazes com o passado e construir um novo futuro.

Janet suspirou novamente, desta vez com um pouco mais de esperança. ── Mas como? Como posso consertar tantos anos de negligência e dor?

── Comece pelo simples, ── sugeriu Delilah. ── Um telefonema, uma mensagem sincera. Diga a ela como se sente, reconheça seus erros, mostre que está disposta a ouvi-la e a apoiá-la. A reconciliação pode ser um processo longo e doloroso, mas cada passo vale a pena e vocês duas podem voltar a ser como antes.

── O problema é ela permitir que eu faça isso. Não acho que seja o que ela quer e nem sei mais o que fazer... ── confessou a mulher. ── Minha fraqueza causou isso. Se eu tivesse sido mais presente, se eu tivesse estado ao lado dela antes... ── Janet engoliu o seco. ── Talvez as coisas fossem diferentes para nós duas.

── Não significa que não possam ser. Você errou no passado e nada que fizer muda isso, mas ainda pode tentar se reconectar com a sua filha. ── Argumentou Delilah. Inclinando-se para a frente na mesa, ela segurou o pulso da mulher e apertou suavemente para passar conforto.

Ela sabia que não seria tão fácil, ainda mais agora que Rachel havia se envolvido com as drogas, mas não seria certo ela desistir da filha.

── Rachel parece ser uma boa pessoa, ela só está perdida a muito tempo ── Ela respondeu, continuando a falar ── Enquanto uma pessoa ainda está viva, nunca é tarde para tentar lutar por ela. As coisas mudam quando a morte chega. É aí que vive o arrependimento. Não viva o luto da perda enquanto você ainda a tiver, senhora Vand.

── Acho que... Você está certa. ── Comentou a mulher.

── Dê um tempo pra Rach, eu sei que ela deve aparecer de novo. ── Delilah deu um gole no chá ── Mais cedo ou mais tarde. Apenas não... Se martirize por isso.

── Eu realmente estava precisando conversar com alguém sobre isso, obrigada, Delilah. Você é ótima com conselhos, querida ── comentou a Vand, limpando o cantos dos olhos com o polegar e rindo fracamente.

── Sou melhor aconselhando os outros do que a mim mesma ── Morgan respondeu. ── Deve ser porque é mais fácil ser um telespectador. Se não é você quem está vivendo, é mais fácil ver uma situação com clareza e dar um bom conselho. Na prática, tudo é bem mais difícil.

Jante concordou com ela, e Delilah garantiu que a ajudaria caso precisasse de apoio para conversar com Rachel. Talvez pela idade próxima, ela conseguisse se aproximar melhor da garota. A primeira vez não deu tão certo, porém Delilah poderia tentar de novo.

Próximo a meia-noite, Delilah terminou sua xícara de chá e Janet a dela. Deixando que a mulher mais velha fosse para a sala, fechar suas cortinas e colocar uma música para tocar na vitrola antiga que ainda mantinha em casa, Morgan se ocupou em lavar a louça. Havia alguns pratos abandonados também, e ela aproveitou para lavá-los também.

── Senhora Vand ── chamou Delilah, em seu lugar em frente a pia. Agora que estava com a mente mais limpa, um ideia cruzou a mente dela ── eu posso usar uma das suas linhas de tricô?

── Claro, querida ── respondeu a vizinha. ── De qual cor você precisa?

── Vermelho. ── ela informou.

Quando terminou de lavar as canecas e secá-las, voltou-se para a sala de estar e encontrou a senhora Vand dormindo no sofá. O rolo de linha vermelha estava na mesa de centro. Delilah colocou sobre ela o cobertor felpudo que Janet deixava sobre o encosto do sofá, cobrindo-a até os braços para que a mulher não sentisse frio durante a noite.

Depois disso, Delilah pegou a linha, apagou todas as luzes e saiu. Janet havia deixado com ela uma chave reserva, a qual Morgan usou para trancar a porta ao sair. Retornou para o seu próprio apartamento depois, sentindo-se leve. O frio daquele espaço a recebeu. Delilah deixou as chaves sobre a ilha da cozinha e caminhou até seu quarto, onde tratou de fechar todas as duas janelas e as cortinas.

Encarando uma Gotham vazia e silenciosa, seus olhos observam o lado de fora por um determinado momento. As luzes néon do hotel mais próximo refletindo em seu rosto. Não sabe o que está procurando, muito menos o que pode encontrar. Mesmo assim ela demora ao analisar o lado de fora, deixando suas orbes esverdeadas vasculhando cada prédio como se algo ou alguém pudesse estar escondido nas sombras.

A certeza de que não há nada com o que se preocupar vem logo em seguida, e Delilah se afasta, mudando totalmente seu foco para algo mais importante, algo que já deveria ter sido feito a muito tempo. Ela retira o quadro de avisos que mantém dentro do armário desde que o comprou alguns dias atrás e põem em prática sua ideia.

Delilah recolhe todos os papeis que tem sobre o caso. Suas autópsias, as de Thomas Wayne, as matérias no jornal, as fotos das vítimas ── incluindo a de Jeremiah Stirk. Ela faz uma linha do tempo que começa desde antes de ela chegar na cidade, e usa a linha vermelha para isso, junto de algumas tachas para mantê-las presas no quadro. Delilah passa praticamente 1 hora arrumando tudo, relendo o que tem, organizando pelas datas e escrevendo com caneta vermelha aquilo que ainda não sabe, os espaços com peça faltando em seu quebra-cabeça.

A primeira vítima estava sem o coração, enquanto a segunda estava sem o pâncreas. Da terceira vítima, ele retirou a vesícula. E, por último, da vítima mais recente, foi retirado o pulmão. Nada havia sido retirado de Jeremiah, então sua morte poderia ter sido apenas por algum tipo de punição. Ela tinha circulado os locais que os corpos foram encontrados em um pequeno mapa de Gotham e, até o presente momento, eram pontos aleatórios. A única certeza que ela tinha nessa questão, era que o assassino não atacava em bairros nobres.

Por fim, ela deu um passo para trás, analisando o próprio trabalho de longe. Seus olhos seguiram cada caminho feito, cada linha devidamente presa e que levava a exatamente o mesmo lugar. Todos os caminhos levam a uma única incógnita: QUEM ERA O CEIFADOR?

AUTHOR'S NOTES.

I. | Chegamos ao fim de mais um capítulo! Tive algumas complicações para escrever a cena de luta e acho que não o revisei tão bem, maaas gostei bastante de escrever esse. Foi ótimo poder aprofundar mais os sentimentos da Delilah e dar início a essa conexão dela com o Batman.

II. | Tenho que avisar mais uma vez que as atualizações devem atrasar um pouquinho. Mas não muito! Em Junho voltamos com tudo, eu prometo. Estou bem ansiosa para compartilhar com vocês tudo o que estou planejando. Estejam preparados ;)

III. | Nunca se esqueçam de votar e comentar! Votos e comentários me motivam muito a continuar essa história e eu amo poder interagir com vocês, saber o que vocês estão pensando e quais são suas teorias.

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