Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝟎𝟑. › A NOCTURNAL PERSON

𝟎𝟎𝟑.⠀⠀⠀⠀⠀UMA PESSOA NOTURNA.

OUTONO⠀──⠀ NOVEMBRO 19, SEXTA.
BURNLEY, CONSULTÓRIO DO DR. HUNTER.

TEMORES NOTURNOS açoitavam uma Gotham que nunca realmente havia sido pacífica. Os crimes eram algo recorrente, estavam gravados na história da cidade a muito tempo e algumas pessoas lutavam contra isso a tantos anos, que haviam simplesmente se conformado que não existia uma forma de mudar o destino daquele lugar.

De tempos em tempos surgiam pessoas dispostas a tentar fazer a diferença, homens e mulheres tolos demais, com grandes sonhos e planos e que ainda eram muito novos nesse ramo para entender o quão profunda era a raiz do mal naquela cidade. O atual prefeito de Gotham, Don Mitchel Jr. havia começado com propostas interessantes, promessas que, tardiamente, ele mostrou que não cumpriria.

Delilah não estava interessada em política, mas se pegou pensando no homem enquanto observava um dos posters da reeleição do prefeito através da janela do consultório do doutor Hunter. No ano seguinte, ocorreria a nova eleição para a prefeitura da cidade. Don estava sendo bombardeado com notas negativas sobre seu trabalho em Gotham, então passou a fazer de tudo para conseguir agradar o povo novamente.

Enquanto clique do constante do relógio na parede era a única coisa que ela escutava, seus olhos não desviaram do poster enorme preso no prédio ao lado, bem atrás da mesa de Christopher. A porta da sala abriu e fechou, o relógio bateu às 12hrs e parou, sem se mexer mais. Delilah piscou os olhos e a névoa em sua mente dissipou, uma sensação estranha fez suas duas mãos formigarem e ela limpou o suor nas calças, como se pudesse afastar aquele tremor daquela forma.

Hunter sentou em sua mesa, colocando um copo de água sobre a madeira polida e longe dos papéis que tinha espalhados pela superfície. Ele organizou a maior parte para que pudesse dar espaço ao seu caderno e uma prancheta, depois reclinou-se para trás na cadeira e cruzou as mão sobre o colo, olhando para Delilah com um leve sorriso amigável nos lábios.

── Então... Como isso vai funcionar? ── Delilah indagou, quebrando o silêncio que havia se formado na sala do doutor Hunter. Fazia alguns minutos que os dois estavam em silêncio, fazendo com que ela cedesse e perguntasse algo para que aquela sessão começasse.

── Eu pergunto, você responde. Eu avalio ── Hunter fala, casualmente, em uma explicação sucinta e mantendo um olhar impassível. Seu rosto é uma tela em branco, por mais que pareça amigável. Sua perna esquerda está cruzada sobre a direita e ele segura um caderno de capa marrom em suas mãos agora.

Ele tem por volta dos 50 anos, mas não parece. Seu cabelo castanho escuro não apresenta mechas grisalhas e seu rosto está limpo da barba. Hunter veste um suéter de linho cinza por cima de uma blusa branca. Há casualidade na forma como ele se veste, como se quisesse passar algo para seu paciente ── impressão de familiaridade talvez, como se tudo não passasse de uma conversa entre amigos.

── Certo. ── Ela murmurou. Escondendo qualquer desconforto, Delilah deixou suas mãos sentirem a textura do sofá de couro ── Parece simples.

── Vou utilizar algumas luzes com você. Elas iram cruzar na barra luminosa, de um lado ao outro. ── Informa ele, apontando na direção das luzes presas no aquário em cima da mesa. ── Isso é só um recurso. Uma especialidade minha.

Delilah havia passado um tempo observando aquela engenhoca quando o doutor pediu alguns minutos para pegar um copo de água.

── Hipnose. ── Comentou.

── Dessensibilização e reprocessamento através do movimento ocular ── Hunter replicou. ── Ajuda com pacientes traumatizados.

── Acho que essa sou eu, então. ── Ela comentou, escondendo seu descontentamento por trás da fala ironica. ── Não precisa enrolar, eu sei que você quer falar sobre o ataque. O que você quer saber?

── Vamos chegar ao incidente, mas eu quero conhecer você primeiro, senhorita Delilah Akhman Morgan. ── Christopher lê o nome dela em um papel sobre a mesa, um prontuário com todas as informações pessoais. ── E, deixa eu te falar, é raro eu não liberar alguém como você. Fique tranquila. ── Delilah revira os olhos. Hunter a analisa, os óculos sobre a ponta do nariz. ── Mas você precisa responder algumas perguntas, pode ser?

── Certo, doutor Hunter. ── Concordou ── O que você é afinal? Psicólogo ou iluminador?

── Um pouco dos dois, eu acho. ── Um sorriso cresce no canto dos lábios dele. ── Eu vou ligar as luzes agora.

Ele acende a luz no aquário quadrado, iluminando também o peixe que está dentro do pequeno tanque dentro, um peixe palhaço. O peixe é pequeno e laranja e nada sobre a água sem qualquer rumo. As luzes piscam de um lado ao outro, azul e branca.

── Olhe para o peixe, mas não deixe seu olho focar. ── Instrui o doutor, sua voz um barítono baixo para não atrapalhar a concentração ── Deixe seus olhos serem atraídos pela luz. Para frente e para atrás, até eles ficarem vagando.

Delilah segue conforme Hunter instruiu, deixando seus olhos vagando. Uns poucos minutos passam, Christopher a observa. Apenas pega sua caneta quando tem certeza que Delilah está fazendo exatamente o que ele deseja e clica para que a ponta se projete. Relaxa sobre a cadeira, escutando apenas o som do movimento contínuo da água.

── Você dorme bem? ── Ao começar as perguntas, o doutor ergue o olhar para mulher, olhando-a por cima de seus óculos redondos.

── Hoje em dia? Sou uma pessoa meio noturna. ── Morgan respondeu, sem desviar o olhar das luzes, seguindo-as enquanto estava concentrada no peixe.

── Você sonha?

── As vezes sim. Minha vida toda parece um sonho. ── Ela diz.

── Com o que costuma sonhar?

── "Eu sonho com massacres." ── Disse Delilah. Por um momento, Hunter semicerrou os olhos em uma pequena análise. ── "Sou um jardim de agonias negras e vermelhas."

── Sylvia Plath. ── Ele reconhece a citação, parecendo satisfeito ao escrever algo no caderno. ── Se identifica com os poemas dela?

── Alguns. Gosto do que ela escreve. ── Delilah assentiu, dando de ombros. Seus olhos ainda estavam focados nas luzes. ── Isso te preocupa?

── Não, não me preocupa. É normal para mim que meus pacientes utilizem citações para se expressarem. Não significa que estejam propensos a acabar como os referidos autores. ── Hunter dá um sorriso de canto novamente. ── Depois a gente volta para esse assunto, tá bom? Vamos continuar com as perguntas. Você está em um relacionamento?

── Não.

── Sexualmente ativa?

── Acho que você sabe a resposta.

Hunter ri fracamente, mais uma vez anotando no papel.

── Tudo é sobre sexo, menos sexo. ── Ele comenta. ── Eu já tratei outros da sua área. Ficar constantemente exposto à morte pode atrapalhar nossas outras necessidades básicas.

── Não se preocupe com a minha vida sexual, doutor. Ela é irrelevante. ── Os olhos de Delilah vagam momentânea para o doutor.

── Continue olhando para as luzes, Delilah. ── Instruiu Hunter, Morgan conteve a vontade de revirar os olhos, se reteve a apenas soltar um pequeno suspiro e deixar que ele continuasse. ── Tá bom, então. Patologia forense. Eu fiz faculdade de medicina, sei como é. Não é uma área muito popular. Por que essa escolha? Por que se cercar de morte?

── É o meu trabalho. ── O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo baixo e ela fingiu ajeitar, quando seu de ombros.

── Você não vai escapar tão fácil assim. ── Ele retrucou, recusando a resposta vazia.

Delilah escuta o clique do relógio retornar, vários minutos atrasado conforme a hora ter passado e o mesmo ter permanecido parado. Hunter dá a ela um minuto de silêncio, esperando que a própria compreenda onde ele quer chegar, que Delilah entenda que ser vaga não vai fazer com que deixe aquele consultório mais facilmente.

Ela não sabe o porque, mas a perturbar estar ali e ter que se expor de uma maneira tão profunda a alguém que não conhece. Uma parte de sua mente diz que está tudo bem, que ela não precisa daquilo, não precisa de uma avaliação psicológica e permanece na defensiva, obrigando-a a não cruzar aquela linha. Algo a segura.

A outra parte, porém, deseja algo que Delilah ainda não entende o que é. Mas parte da vontade de falar como se sente, sem saber como pôr isso em palavras quase a sufoca.

── Eu não sei. ── Ela responde, por fim. ── Não sei porque... Eu escolhi.

── Só fala o que vier na sua mente. Atira sem pensar. ── Fala o doutor, rapidamente.

── Atira sem pensar? Não gosto dessa palavra.

── Por que?

── Não gosto de armas.

── Ou de figuras de linguagem pelo visto. ── Ironiza Hunter. ── Tudo bem. Algum motivo especial para essa sua... aversão a armas?

── Eu... Só não gosto, eu acho ── Ela murmura.

── E facas? Também são armas. Armas brancas em um geral.

── Facas... ── A mente de Delilah se enche de estática, nadando em uma névoa densa que a sufoca. É estranho e ela não consegue expressar como se sente. ── Eu...

Delilah mal percebe que está hiperventilando. Dentro de sua própria mente ela escuta um som, um disparo e depois gritos. Uma faca raspa sobre a outra, metal sobre metal.

Não, não é uma faca. É algo mais afiado.

── Delilah. ── Hunter a chama quando nota o pânico que lhe inundou suas feições.

── Eu não... ── Sua boca está seca e suas mãos apertam o estofado do sofá, cravando suas unhas no couro até que possa sentir os nós dos dedos brancos.

O que ela temia?

── Delilah. ── Hunter repete, um pouco mais alto. A estática se desfaz, os sons ao redor voltam e seu olhar está focado nas luzes novamente. Ela piscou uma, duas vezes.

Delilah engole o seco, buscando se recompor. Ela balança a cabeça levemente de um lado ao outro, afastando qualquer resquício do pânico que se instaurou anteriormente. Ela limpa a garganta.

── Eu... Eu já vi o que as armas fazem com o corpo. ── Responde ela. ── Todas elas. Armas de fogo ou não. Não gosto do que elas fazem com as pessoas.

Sua resposta é vaga, mas serve para o doutor. Ele não planeja insistir.

── Voltando ao tema, por que corpos? ── Indagou Christopher, esbanjando naturalidade. ── Se lembra do momento em que você se deu conta do que era morte pela primeira vez?

Mais uma vez, Delilah limpou a garganta.

── Não sei. ── Ela responde. ── Provavelmente com os meus pais. Eles faleceram quando eu tinha 9 anos, em um incêndio. Depois disso, não fui a nenhum enterro até a faculdade. Eu evito cemitérios, mas não tenho mais medo. Eu tinha, quando era criança.

── Algum motivo particular para isso?

── Apenas um medo bobo ── Delilah dá de ombros. ── Minha mãe dizia que eu não deveria ter medo, que aquelas pessoas estavam agora aguardando o akhirah.

── O que isso significa?

── Termo em árabe para a vida após a morte. ── Ela explica. ── Minha mãe era da Árabia Saudita, meu pai... ── As palavras quase morrem na garganta dela, como se algo não parecesse certo. Delilah ignora aquela sensação ── ele era da Inglaterra.

Hunter assentiu, escrevendo algo no caderno. Passa alguns segundos com o som da caneta raspando sobre o papel preenchendo a sala. Os olhos verdes de Delilah refletem as luzes enquanto ela as segue.

── Por que você acha que está aqui? ── Questionou o doutor.

── Política da delegacia e do hospital.

── Não é.

── Não é, o que?

── Não é política do hospital e muito menos da delegacia. Foi o Gordon que insistiu. ── Disse Hunter. ── Ele se preocupa com o seu bem estar.

── Ele não deveria. Eu já disse que estou bem.

── Isso é o que você acha.

── Eu tenho certeza. ── Ela insistiu.

── "Certeza" é uma palavra muito forte, Delilah. ── O doutor retruca. Ela solta um suspiro prolongado.

── Ele pressupõe que eu não esteja bem por causa do ataque, mas pra mim não é como se muita coisa tivesse mudado. Isso só me impulsiona a querer ajudar nessa investigação, a ser mais útil e concluir isso antes que mais gente inocente morra. ── Delilah expõe o que pensa. ── A preocupação dele vem do fato de que trabalho em um velho porão gótico, 7 andares abaixo das alas médicas normais, onde os médicos de prestígio vivem e reinam. Toda vez que ele vem me visitar, deve achar que está entrando em um inferno gelado e que pessoas normais não deveriam estar tão confortáveis com isso. Eu entendo como ele se sente.

── Obrigada pela sua honestidade, isso é muito bom. ── Delilah escuta o som da caneta rabiscando sobre as folhas mais uma vez, conforme Hunter fala com um pequeno sorriso nos lábios, satisfeito com o progresso. ── Isso é muito bom. ── Ele ergue o olhar para ela mais uma vez. ── Você mencionou inferno. Tem alguma religião? Imagino que você tenha seguido a religião muçulmana por conta da sua mãe, mas... atualmente, segue alguma?

A pergunta de Hunter a fez lembrar do Ceifador na noite passada. Delilah fica um pouco rígida, entrando na área defensiva novamente.

── O que que tem?

── Vamos começar com sim ou não.

── Não. ── Morgan responde brevemente, um tanto ríspida.

── Artes, música?

── Sim.

── Dinheiro?

── O suficiente. Não gosto do que faz com as pessoas, mas odiar o dinheiro meio que é um luxo por si só. Eu acho.

── Significa que você nunca se preocupou com isso. ── Disse Hunter. ── Esportes?

── Não.

── O que faz para se divertir?

── Eu saio, de vez enquanto. Assisto à TV. ── Respondeu Morgan. ── Trabalho de noite, é um pouco difícil ter tempo para esse tipo de coisa.

── Você se sente insensível a violência?

── Não.

── Um cadáver chega à sua mesa de autópsia. Vamos dizer que seja de uma suspeita de homicídio. O que passa pela sua cabeça?

── Trabalho. ── Delilah disse com frieza.

── Te incomoda ter que se colocar no lugar de um assassino?

── Eu não me coloco. Meu trabalho é servir a vítima. ── Disse ela.

── Você imagina que você é a vítima. ── Concluiu Hunter, como se encontrasse a peça que faltava em um quebra cabeça.

── Às vezes. Me ajuda a entender o que aconteceu com elas.

── Consegue enxergar o quanto isso pode ser preocupante, Delilah? Você fazendo eternamente o papel de vítima.

── "Morrer é uma arte como outra qualquer e eu sou excepcionalmente boa nisso." ── Delilah replicou.

── Mais uma vez, citando Sylvia Plath. ── Ele a olhou com um pouco de conhecimento brilhando em seu olhar. Delilah não notou por ainda deixar seus olhos seguindo as luzes. ── Você não pode engolir todos os pecados de Gotham. Devia saber disso.

── Não estou interessada nos pecados das pessoas no meu necrotério. ── Explicou, mantendo a frieza em seu tom de voz. ── Estou interessada nos pecados das pessoas que colocaram elas lá.

Sobre a mesa, o celular de Hunter toca, indicando o fim daquela sessão. Delilah pisca os olhos, afastando a névoa causada pela concentração das luzes, logo após Hunter desligar a máquina de dessensibilização.

Ela suspira baixinho, se recompondo. O doutor fecha o caderno e o deixa sobre a mesa ao seu lado, cruzando os dedos sobre o próprio colo e encarando Delilah com um olhar amistoso.

── Chegamos ao fim da primeira sessão. Não foi tão ruim, foi? ── Christopher indagou.

── Acho que poderia ter sido pior. ── Ela comenta. ── É calmo assim com todos seus pacientes?

── Eu tenho que ser. Faz parte do meu trabalho. ── Respondeu. ── A mente humana é complexa. Se não tiver paciência para compreendê-la, nunca conseguirá atingir objetivos reais nessa área. Não haverá mudança.

── Acha que as pessoas mudam?

── Acho. ── Ele assente, mantendo um sorriso mal contido nos lábios. ── Acho que qualquer um pode mudar, depende apenas do estímulo certo. ── Hunter tamborila os dedos na coxa. ── Bom, encerramos por aqui. Até a próxima semana, senhorita Morgan.

Delilah coloca-se de pé, ajeitando a parca verde musgo que veste.

── Até a próxima semana, doutor Hunter. ── Ela se despede, caminhando até a porta do consultório e sentindo ele a seguindo com o olhar. Algo a incita a sair daquele lugar o quanto antes, sobrecarregada pelos últimos acontecimentos.

Morgan só percebe que estava segurando a respiração, quando solta o ar com alívio do lado de fora. Encara a recepção e a sala de espera. O local é pequeno e apertado, localizado em um prédio no centro de Gotham. O lugar está praticamente vazio, há apenas mais uma pessoa além da recepcionista de Hunter, Angela.

Alistair está folheando uma Cosmopolitan com grande atenção, como se frequentemente lê aquela revista. Sua testa está franzida em concentração e ele percebe tardiamente quando Delilah se aproxima.

── Vamos. ── Ela o chutou na canela para chamar a atenção e Carroll ergue o olhar surpreso para a Morgan. Sem esperar ele se levantar, Delilah caminha em direção ao elevador.

── Não vai me dizer como foi sua primeira sessão com o doutor Hunter? ── Alistair se apressa para acompanhá-la, abotoando os botões do sobretudo enquanto se levanta e a segue pelo corredor. Ele se despede de Angela com um aceno e um sorriso amigável quando passa.

── Não tenho o que dizer. Foi como qualquer outra sessão de terapia. ── Delilah responde. Alistair está atrás dela quando ela aperta o botão, chamando o elevador.

── E você já foi a alguma sessão de terapia antes para poder comparar? ── Ele indagou. Delilah ficou em silêncio. ── Seu silêncio já diz tudo, docinho. ── Alistair leva as mãos aos bolsos da calça, encarando as portas fechadas do elevador junto da mulher.

Delilah revira os olhos.

── Não foi nada demais. Foi estranho, um pouco, ele usa dessensibilização e reprocessamento através do movimento ocular, o que é um pouco desconfortável, mas... Surtiu o efeito que ele queria, eu acho.

── E que porra é dessensibilização e repro-não-sei-o-que?

── Forma culta de dizer que ele utiliza dos artifícios da hipnose pra relaxar o paciente e estimular o foco dele. ── Delilah respondeu. ── Mas isso não é relevante. Como eu disse, foi estranho e eu não tenho vontade de voltar pra uma segunda consulta.

── Uma pena, porque você ainda tem 3 consultas pela frente. ── Alistair retrucou.

Delilah suspirou, frustrada.

── Você já... sentiu como se algo estivesse errado com a sua mente? ── Ela o questionou, depois de passar um tempo processando o que dizer.

── Seja mais específica, amor. Minha mente está muito ferrada.

── Eu não sei explicar, Alistair. É apenas como se algo estivesse errado, como se algo estivesse faltando... ── Ela murmura a última parte.

── Depois você quer dizer que está bem.

── Eu estou bem. ── Delilah insistiu. Alistair a ignorou.

── Inclusive, deveria aceitar a minha proposta de ficar no meu apartamento, ── Adentrando no assunto que ela queria evitar, Alistair apoiou uma mão sobre a porta e a encarou.── depois do que aconteceu, não é seguro continuar no seu prédio.

Delilah revira os olhos, já esperando que Alistair entrasse no mesmo assunto novamente, cansada daquela conversa e da insistência dele.

Depois da ligação e da caixa com os órgãos em sua casa, Delilah ligou para Jim e contou o que aconteceu. Parecia que seu apartamento se tornou uma cena de crime pela forma que tantos policiais entraram e saíram. Eles fizeram perguntas, reviraram o lugar em busca de pistas e tudo levou a lugar nenhum.

Como uma forma de precaução, Gordon ordenou que alguns policiais ficassem de patrulha próximo ao prédio de Delilah com mais frequência. Agora sempre havia um carro de polícia embaixo de sua janela e ela não sabia dizer se sentia alívio ou mais preocupação.

── Eu sei me cuidar, Alistair. Não precisa insistir nisso. ── Disse ela. ── Ele não deve voltar ao meu apartamento novamente. Vai ser óbvio demais. Se o Ceifador for atacar alguém, será alguém que ninguém espera. Não uma pessoa que agora está cercada por policiais armados o tempo todo.

── De qualquer forma, a proposta permanece de pé. Meu sofá sempre estará à sua disposição caso você decida mudar de ideia. ── disse Carroll, levando as mãos aos bolsos da calça social. ── Ou a cama do Doug. Tenho certeza que ele não se importa em compartilhar.

Delilah bufou uma risada com a menção do São Bernardo preguiçoso de Alistair. Era de se esperar que um policial tivesse um cão de guarda como um clássico Pastor Alemão ou um dogue alemão como Marmaduke, mas ao invés disso Carroll tinha um Beethoven em crise da meia idade.

Ela nunca visitou a casa de Alistair, porém o homem falava muito sobre sua vida ── o completo oposto de Delilah que sempre estava em silêncio. Morgan era uma boa ouvinte e, mesmo quando ele achava que ela não estava escutando, Delilah estava prestando atenção e não deixava nada que ele falava passar.

── Oferta tentadora, mas eu passo. Vou ficar bem. Vocês não têm que se preocupar tanto comigo, isso só vai servir para distrair a delegacia do que realmente importa. ── Afirma a de cabelos escuros. ── Vão estar ocupados demais de olho em mim ao invés de estarem de olho na verdadeira próxima vítima do Ceifador.

── Não tem como saber quando ele vai atacar, pode ser qualquer um. ── Retorquiu Alistair.

── Tem que haver um padrão, algo que o impulsiona a isso. ── Pensativa, Delilah morde o lábio inferior. Ela solta um suspiro frustrado. ── Eu deveria estar trabalhando agora, fazendo a autópsia do novo corpo.

── Ei, workaholic, tire sua mente disso. ── Instruiu o policial, cutucando-a com um dedo. ── Você vai ter bastante tempo para fingir ser um defunto depois. Agora, apenas... Carpe diem.

Erguendo uma sobrancelha para ele, Delilah o encara quando Alistair afasta-se do ombro dela.

── Aprendeu essa palavra hoje, por acaso?

── Não, espertinha. Você não é a única pessoa que sabe das coisas, ok? ── Retrucou Alistair, Delilah continuou o encarando, não estando convencida pela resposta dele. Bufando, Carroll cedeu. ── Assisti "Sociedade dos Poetas Mortos" essa semana. Feliz?

── Imaginei que fosse isso. ── Sorrindo ladino, Delilah volta-se para a frente novamente. Balançando sobre seus próprios pés enquanto observa os arredores com interesse, percebendo que o elevador estava demorando demais para chegar. ── Que demora é essa?

Ela apertou o botão mais vezes, chamando-o de forma brusca.

A porta do elevador abriu. Ao invés de encontrar o local vazio, seus olhos encararam o rosto de um homem familiar quando ajeita a postura, alguém que Delilah não conhecia pessoalmente, porém sabia quem era. Os olhos azuis gélidos de Bruce Wayne encontram-se com os verdes dela e algo se contorce dentro dela. Uma familiaridade que vai além de fotos na mídia, a estranheza inunda seu cérebro mais uma vez.

Os dois quase entram em um pequeno impasse, pois nenhum deles se move, porém Delilah age de forma mecânica. Dá um passo para o lado e deixa que ele passe, o contato visual se quebra, mas ainda há algo estranho no ar. Ele passa murmurando uma licença, o sobretudo que veste encostando na perna dela no processo.

Alistair segura a porta do elevador aberta para ela, enquanto Delilah se recompõe do que seja lá o que acabou de acontecer. A sensação de familiaridade se tornou um ruído baixo em sua cabeça, quase como se tivesse algo mais que Morgan não estivesse percebendo. De dentro da caixa de metal, ela observa o homem em frente a Angela.

── Olha só, o playboyzinho decidiu aparecer. ── Alistair murmurou, cruzando os braços e encarando a cena de Bruce conversando com a recepcionista de Hunter. ── Saiu de seu confinamento nas alturas para andar em meio aos pobres, quem diria.

Morgan não desvia o olhar mesmo quando as portas passam a se fechar. Ela observa Bruce Wayne como se buscasse nele a resposta para algo. Antes que as portas se fechem, os olhos deles se cruzam uma última vez, após Alistair apertar o botão do térreo.

── Você parece não gostar dele ── Delilah comentou. Seus braços estão cruzados e ela tenta agir naturalmente, ignorando o que acabou de acontecer e não demonstrando a Alistair o quanto está perturbada.

── Se você faz parte da elite de Gotham, pode ter certeza de que eu não vou gostar. ── Respondeu Carroll. ── Ele se mantém isolado naquela torre, protegido de tudo e todos, apenas assistindo enquanto a cidade sucumbe ao lixo. Os ricos ficam mais ricos, os pobres ficam mais pobres. Nada muda nessa porra de lugar, tudo apenas piora. E ele não faz nada para mudar isso.

── Você nem o conhece, Alistair. Eu entendo que os ricos de Gotham são esnobes o suficiente para não se importar com os outros, mas você não sabe se é o caso dele. ── Retrucou Delilah. ── Não esqueça que Bruce Wayne perdeu os pais. Ele não deve se isolar só porque é uma pessoa rica.

── Ah, coitadinho. Pobre, Bruce Wayne. Perdeu os pais e agora nada na fortuna deles. Deve ter enxugado as lágrimas com as notas de 100 dólares. Dinheiro sujo que eles conseguiram explorando as pessoas da cidade, ainda por cima.

Delilah balançou a cabeça de um lado ao outro, odiando as palavras de Alistair. Ela não importava com a forma como os Waynes conseguiram a fortuna que tinham, mas se desfazer do luto de algo daquela forma era algo que a incomodava.

── Você não pode me garantir que o velho Thomas Wayne também não estava metido em coisas ilegais. ── Retorquiu o homem, continuando. ── As más línguas dizem que a fortuna dos Waynes não foi consolidada só com o árduo trabalho da família, amor. Não duvido nada que tenham morrido por causa disso. Foi merecido, se foi.

── Agora você acredita em tudo que falam para você? ── Indagou Morgan, arqueando uma sobrancelha para o homem. ── Vive de achismo e fofoca?

Alistair revirou os olhos, soltando um "tsk" no processo.

── Vai me dizer que está se solidarizando com os riquinhos também? ── Retrucou o policial. ── Primeiro o Batman, agora os Waynes. Qual vai ser o próximo, o Carmine Falcone?

Morgan revira os olhos, soltando uma respiração profunda pelo nariz, ficando mais irritada pela fala dele. Braços cruzados e com o pé batendo no chão, ela se contém.

── Não estou me solidarizando com ninguém, só tenho respeito pelos mortos. Coisa que, pelo visto, você não tem. ── Respondeu. ── Seus pais nunca te ensinaram isso? A não ser tão insensível.

── Por que está se importando tanto com esses riquinhos metidos a besta, Morgan? ── Questionou Carroll, irritado. ── Por favor, essas pessoas vivem encobrindo as próprias merdas. Fazem chover dinheiro e seus problemas estão resolvidos, enquanto nós, os pobres, nos ferramos por coisa boba e não conseguimos nos livrar tão facilmente.

── Então seu problema é não conseguir se livrar de um crime tão facilmente como uma pessoa rica conseguiria? ── Questionou Delilah. O elevador parou, chegando no andar desejado.

── Não foi o que eu quis dizer e você sabe disso. ── Retrucou Alistair, seguindo-a para fora do elevador. Os dois caminharam até as portas duplas de vidro do prédio. ── Você entendeu onde eu queria chegar. Deveria ser revoltante para você também.

── Não que não seja ou que eu ache que você está errado em sua colocação, Alistair. Eu só não gosto de pressupor sobre as outras pessoas. ── Respondeu ela, parando em frente a porta e encarando o policial. ── Eu sei como é perder os pais muito nova, sei como isso afeta uma pessoa e sei como é me sentir sozinha. Às vezes, se isolar é a única solução plausível até que você encontre um meio de seguir em frente. Não importa o que aconteceu no passado, às vezes... você só os quer de volta.

Ele pareceu pensativo, um pouco envergonhado ao lembrar daquele pequeno detalhe que havia deixado passar. Delilah e Bruce não eram muito diferentes, caso fossem observados através desse aspecto. Morgan deveria não se lembrar muito da própria vida nos últimos anos, porém recordava-se de tudo, principalmente da sensação de vazio.

Na verdade, parecia que ela nunca havia ido embora. Estava ali desde os seus 9 anos.

── Você está certa. ── Murmurou Alistair. ── Fui insensível. Me desculpe.

── Aceito suas desculpas. ── Dando um pequeno sorriso que não alcançava seus olhos, Delilah assentiu.

Ele abre uma das portas duplas e, como um verdadeiro cavaleiro, deixa que Delilah passe primeiro. Os dois estão em silêncio até que saiam do prédio.

A paz de dentro do edifício foi esquecida, agora a cacofonia de sons da cidade os envolveu. Carros passando de um lado ao outro na rua, pessoas na calçada conversando e andando para o trabalho. Gotham estava viva e bem acordada.

── O que vai fazer agora? ── Questionou Alistair, mudando de assunto. ── Ainda tenho trabalho para fazer hoje, mas ainda é meu horário de almoço. ── Carroll olha para o relógio no pulso.

Os dois haviam parado para almoçar antes de seguirem para o consultório médico, mas haviam sido consideravelmente rápidos. Savage tinha concordado em liberar Alistair mais cedo para que ele pudesse acompanhar Delilah, mas ele precisava voltar ao trabalho às 15hrs.

── Não é o único que tem trabalho hoje, eu também tenho. ── Delilah retrucou, enquanto os dois caminhavam juntos.

── Gordon não falou que você só voltaria na segunda? ── Indagou Carroll, franzindo o cenho.

── Sim, mas eu preciso me preparar. Tenho algumas coisas para revisar, alguns papéis do hospital para lidar. ── Responde a mulher. Os dois descem as escadas do pátio juntos, após comprimentarem brevemente os policiais fardados do lado de fora. ── Tenho meus próprios assuntos para resolver também.

A face de Alistair se contorceu em uma careta, evidenciando que ele não estava totalmente contente com aquilo, porém ele se absteve em reclamar, guardando o que pensava para si mesmo.

── Apenas não arrume problema, Morgan. ── Alistair disse, enquanto eles se encaminharam para o SUV prata dele, estacionado do outro lado da rua desde que chegaram. ── Você tem o dom para atrair conflitos que não são seus.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro