Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝟏𝟐. › A GOOD DRESS

𝟎𝟏𝟐.                        UM BOM VESTIDO

OUTONO⠀──⠀ NOVEMBRO 26, SEXTA.
BURNLEY, CONSULTÓRIO DO DR. HUNTER.

UMA CERTEZA que Delilah tinha era que, se o arrependimento pudesse matar, ela definitivamente estaria morta naquele momento.

Sobre o olhar inquisitivo do doutor Hunter, ela sentia o gosto amargo do arrependimento em sua boca, culpando a si mesma por ter decidido falar mais do que o necessário naquela sessão. Julgava ser culpa do desespero, estava sentindo-se sufocada por ele nos últimos dias e, por conta disso, achou correto compartilhar com Hunter parte do que estava se passando em sua mente.

Afinal, aquele era o intuito das sessões de terapia, certo? Compartilhar com um psicólogo o que estava se passando em seu íntimo e encontrar uma solução para os seus problemas. Porém, enquanto encarava Christopher naquele momento, Delilah tinha certeza de que aquela sessão não iria transcorrer da forma que ela esperava.

── Há quanto tempo tem tido essas... Visões, Delilah? ── O Doutor Hunter perguntou de uma forma cautelosa,e Delilah percebeu que aquela consulta estava começando a se estender mais do que o esperado.

Ela estava inquieta, um tanto arrependida de ter compartilhado algo tão pessoal com o doutor, pois sabia que isso poderia influenciar o resultado final da terapia.

Aquela deveria ser sua segunda e última sessão. Hunter deveria falar com Gordon depois disso, afirmando se Delilah estava ou não apta para se manter em seu trabalho. Falar sobre os pesadelos era a última coisa que ela deveria ter feito se queria tanto assim se livrar do doutor.

Era certo que fazia um tempo que ela tinha sonhos estranhos. Sonhos que perturbavam sua mente durante a noite, flashes de memórias perdidas bagunçando sua cabeça. Porém elas eram raras. Quase não aconteciam nos últimos tempos. Até, é claro, as duas noites passadas onde ela mal dormiu por causa delas.

── Só me dê alguma coisa para parar essas alucinações. Por favor. ── Havia delicadeza em seu pedido; uma delicadeza que manteve sua impaciência contida.

── Nós só estaríamos tratando o sintoma.

── Vamos começar assim, esse é um problema químico ── ela respondeu.

── Médicos são realmente os piores pacientes. ── comentou o doutor, e a curva de um sorriso discreto surgiu em seu rosto.

── Por favor... ── Delilah respirou fundo, enquanto Christopher escrevia algo em seu caderno ── Por favor. Eu preciso resolver isso para conseguir focar no meu trabalho.

── Você realmente acha que estou prestes a te liberar para o seu trabalho extremamente traumático assim, tão fácil? ── questionou Hunter.

── Eu já retornei ao meu trabalho, doutor.

── Algo que não deveria ter acontecido, e que eu posso mudar com um diagnóstico, Delilah. ── Respondeu Hunter, deixando-a levemente zangada. Delilah comprimiu os lábios em uma linha fina e se conteve. ── Então, nesse momento, me ajude a te ajudar. Você acha que seus sintomas apareceram por causa do Ceifador?

── Acho. ── Delilah desviou o olhar e repensou sua resposta, ela apertou a ponta do dedo médio com a unha do polegar direito. Fecha os olhos fortemente e balança a cabeça ── Não, talvez... Talvez tenha sido antes.

── Quanto tempo antes?

── Eu não sei. Acho que já perdi a noção do tempo. ── Quando olha para o doutor Hunter novamente, percebe que ele nunca desviou o olhar.

── Tem apagado?

── Não. Só me perdendo no tempo. É como se as memórias estivessem fugindo de mim.

── Memórias. ── ele escreveu a palavra no caderno tão rapidamente que ela pode escutar a maneira feroz como a ponta da caneta raspou no papel. ── Fale sobre isso. Isso também se aplica a memórias antigas? Lembranças da infância? Essas também parecem mais distantes?

── Sim. Um pouco... é complicado ── Delilah assentiu, massageando a nuca. ── Quando eu penso sobre o passado, os sentimentos estão lá, mas as memórias não. É quase como... Quase como se eu lembrasse de tudo e nada ao mesmo tempo. ── Ela encarou Hunter que apenas permaneceu em silêncio e permitiu que ela elaborasse sua resposta. ── Tipo, eu me lembro de ter crescido em uma casa comum na Inglaterra. Eu lembro das férias, dos meus amigos de infância, lembro dos meus pais... Mas quanto mais o tempo passa nessas lembranças, quanto mais eu amadureço nelas, mais parece distorcido, errado.

── Você acha que você pode ter reprimido alguma coisa? ── Hunter perguntou, olhando para ela com os óculos na ponta do nariz. ── E seus pais? Tem alguma chance deles-

── Meus pais me amavam. ── Delilah o interrompe de forma ríspida, sem dar espaço para que o doutor a entenda de forma errada. ── Eles nunca me machucaram. Mas quando eu olho para trás eu sinto... Eu não sei... Sinto tristeza.

── Seus pais trabalhavam muito? Viviam fora de casa?

── Não, eu não era solitária. Eles estavam lá... Há todo momento, eu... Sinto que eles estavam lá. ── Delilah olha para as próprias mãos e depois para para Hunter. ── Mas não parece certo. Parece... Irreal. Como se essa não fosse a verdade, como se as minhas memórias estivessem distorcidas.

── Então são essas memórias que precisamos investigar ── comentou o doutor. Certo desgosto cruza as feições de Delilah.

── Acho que eu prefiro os remédios.

── Claro, a solução mais rápida. Reprimir tudo e fingir que o problema não existe. ── ele comentou ── Não é assim que funciona, Delilah.

── É assim que funciona pra mim ── Estava se colocando na defensiva, cruzando os braços e deixando o descontentamento com aquela questão levar a melhor.

── "O homem pode fazer o que quer, mas não pode querer o que quer." Sabe quem disse isso? ── ele perguntou e, quando ela não respondeu, Hunter completou. ── Arthur Schopenhauer.

── Você não entende, eu tenho problemas mais urgentes, doutor Hunter. ── retrucou a Morgan, unindo as mãos na frente do corpo, assentadas sobre seu colo.

── Você não é a única pessoa nessa cidade tentando parar o Ceifador, Delilah ── Hunter respondeu como se estivesse explicando o óbvio para uma criança ── Esse fardo não é apenas seu.

Delilah queria retrucar dizendo que ele estava enganado, aquele fardo era sim apenas dela, porém ela se manteve em silêncio. Sabia que, se insistisse mais em provar seu ponto, apenas se afundaria ainda mais. Por isso, mordeu a própria língua.

── Às vezes o cérebro busca conexões. Tira uma folga desse caso. As respostas geralmente vem quando a gente não está procurando por elas ── sugeriu Hunter, soando amigável. Ele retirou um papel de dentro de uma gaveta e o manteve sobre a mesa, retornando a encará-la ── E continuaremos com nossas sessões de terapia, toda sexta-feira a partir de agora. Será a condição para você continuar o seu trabalho.

Delilah não estava contente com aquilo, mas agradeceu por Hunter não ter a diagnosticado como "mentalmente inapta para continuar nesse caso."

O relógio toca, indicando o fim da consulta. Christopher sorriu de forma calorosa, como se buscasse conforta-la. A partir do momento que ela saisse daquela sala, ele daria uma resposta para Jim Gordon sobre ela. Provavelmente, pelo forma que aquela sessão transcorreu, não seria nada agradável para Delilah.

Ela respirou fundo e se levantou do sofá. Um tanto descontente, porém sem estar disposta a iniciar qualquer tipo de discussão. Seus dias estavam se tornando longos e estreitos. Delilah precisava evitar conflitos desnecessários.

Enquanto ela colocava sua mochila sobre o ombro, Hunter escreveu algo em um papel e, quando Delilah estava prestes a ir em direção a porta, ele a chamou. Voltando-se para o homem, viu o papel que o doutor estendia para ela. Seu cenho franziu.

── Um remédio para insônia, o único que irei indicar ── disse Hunter ── Precisa de noites de sono mais longas, doutora. Talvez, toda essa inquietação seja apenas o seu cérebro pedindo descanso. Até mesmo as mentes mais brilhantes precisam.

Delilah o encarou por alguns segundos, tentando encontrar algo, qualquer mentira ou dúvida, alguma tentativa falsa de convencê-la a algo, porém Christopher não parecia estar mentindo, muito menos tentando enganá-la.

Ela aceitou a receita, agradecendo-o brevemente. Delilah encarou a caligrafia dele e o nome do remédio sobre a folha.

── Se não funcionar, continuaremos no nosso objetivo de trabalhar suas memórias ── disse ele.

── Tudo bem ── Delilah assentiu, dobrando a folha e a guardando dentro da mochila.

Antes de sair, porém, Morgan olhou para Christopher uma última vez e deixou a sala para encontrar Alistair no corredor.

Ele estava exatamente na mesma cadeira que sentou na segunda, lendo a mesma revista e fingindo qualquer tipo de interesse como da última vez. Dessa vez, entretanto, haviam duas pessoas esperando. Uma mulher bem mais velha sentada ao lado dele e um homem negro do lado oposto, mexendo no celular.

Assim que a porta se abriu, Alistair ergueu o olhar e fitou. Ele fechou a revista e a guardou no lugar onde a encontrou.

── Pensei que você não fosse vir ── Delilah comentou ao se aproximar dele.

Como o silêncio do lado de Carroll ainda parecia recente, Delilah não entrou em contato com ele para que a acompanhasse até o consultório. Achava que Alistair desejaria mais um tempo de distância depois do que aconteceu na universidade.

── Não sou o tipo de pessoa que desmarcar compromissos ── ele respondeu. Colocando-se de pé, Alistair fechou a frente do seu longo sobretudo ── Nem mesmo por causa de ações burras dos meus amigos.

── Já te disseram que você é sempre um doce, Alistair? ── Indagou de forma irônica. Delilah apertou o botão do elevador, chamando-o.

── Escuto com frequência ── Alistair cruzou os braços. ── Dizem que sou como um Super Lemon.

Delilah riu fracamente a menção ao doce de limão.

── Você com certeza é ── ela concordou. ── Tão azedo quanto.

O elevador não demorou a chegar dessa vez. Quando as portas se abriram, Alistair deixou que Delilah entrasse primeiro e depois a seguiu.

── Alguma novidade? ── após apertar o botão do térreo, ela se voltou para ele. Alistair encostou o ombro na parede ao seu lado.

── Você diz sobre o caso? ── Alistair questionou, arqueando uma sobrancelha.

── Sobre qualquer coisa ── Delilah mordeu o lábio interior, não queria que a primeira conversa normal entre os dois fosse sobre o Ceifador ── Como está a Casey?

── Ela está bem. Perguntou sobre você esses dias ── respondeu o detetive. ── Queria saber se você iria passar o dia de Ação de Graças com a gente esse ano.

── Oh, ── ela o fitou, um pouco sem jeito. Não deveria estar se sentindo desconfortável, porém ficou ── desculpe, eu... já tenho compromisso.

Delilah engoliu o seco. Não queria dizer a ele que iria passar o dia de ação de graças na torre Wayne, sabia o que Alistair pensava de Bruce, sabia que aquela aproximação repentina entre os dois o desagradava, por isso não quis entrar em detalhes.

── É, eu imaginei. ── Alistair respondeu, olhando para ela com um olhar que Delilah não soube decifrar. Ele parecia descontente com algo, porém Morgan não teve chance de perguntar o porquê. As portas do elevador abriram, revelando o térreo e as três pessoas que esperavam por ele no saguão.

Alistair saiu primeiro, desviando das pessoas que entravam. Delilah o seguiu, pedindo licença com a voz baixa e o acompanhando até a saída.

Ela saiu primeiro quando ele abriu uma das portas duplas do prédio para ela e a sensação de déjà vu surgiu, fazendo-a lembrar de Alistair fazendo o mesmo na sexta passada. A diferença era que, pela primeira vez em semanas, Gotham não estava com o clima carregado.

Ainda estava frio, os ventos não paravam, o ar ainda parecia úmido, porém a chuva deu seu lugar a finos raios de sol que transpassaram as nuvens brancas que estavam no céu. O clima diferenciado era bem-vindo, porém Delilah não achava que iria durar muito tempo. Era outono e as mudanças climáticas eram mais do que comuns em Gotham, ainda mais tão perto do inverno como agora.

── Vou voltar para a delegacia, quer que eu te deixe em algum lugar? ── Alistair questionou, os dois pararam próximo ao veículo dele. ── Não vi seu carro por perto.

── Aceito a carona ── Delilah respondeu. ── Meu carro está na oficina. De novo.

Ela torceu o nariz. Dando a volta no veículo de Alistair, Delilah se encaminhou para o banco do passageiro.

No porta copos, havia um copo vazia do Starbucks e o carro cheira a uma mistura de café e cigarros. Perto do vidro retrovisor que ficava no interior do veículo, estava dois dados de pelúcia preto e brancos pendurados.

── De novo? Ele já deu problema antes? ── Questionou Carroll.

── Duas vezes. A primeira vez foi 1 semana antes do Ceifador me atacar ── ela respondeu, sentando no assento vago ao lado de Alistair, enquanto o detetive entrava e sentava no assento do motorista ── Ele demorou pra pegar, mas pegou. Depois, quando eu estava indo pro trabalho na segunda-feira, ele nem saiu do lugar.

── Você levou ao mecânico e o que ele disse? ── Indagou Carroll, ligando o carro e o tirando da vaga.

── Bom, primeiro o mecânico disse que era um problema na bateria. Era muito velha. Como eu comprei de segunda mão, fazia muito tempo que o primeiro dono a tinha ── Delilah respondeu. ── Dessa vez, acho que deu um problema no motor. Vai ter que ser refeito.

── Todo o motor?

── Provavelmente.

── Porra ── ele xingou. ── Que falta de sorte, doutora.

── "Falta de sorte" deveria ser meu nome do meio ── ela murmurou, cruzando os braços e olhando pela janela enquanto Alistair dirigia pelas ruas da cidade.

Ela escutou a risada baixa do homem, os olhos dele focados na estrada.

── Onde você quer que eu te deixe?

── Gotham Mall. Vou encontrar com uma amiga ── disse Delilah.

── Indo fazer compras?

── Infelizmente, sim ── com uma careta, Delilah respondeu. Porém não estava disposta a se aprofundar naquele assunto, não queria que Alistair perguntasse qual era o motivo dela estar indo fazer compras ── Sabe quem é o policial encarregado do caso de Jeremiah Stirk?

── 10 minutos. Acho que esse é seu recorde de tempo sem falar sobre esse caso ── debochou Alistair, fingindo olhar para o relógio em seu pulso. ── A terapia está realmente fazendo progresso.

── É só uma curiosidade.

── Sim, que você sempre tem ── retrucou o detetive, mantendo seus olhos na rua, desviando apenas por um momento para olhar na direção dela. ── Eu não conheço muito bem o cara, ele é um novato. Acho que se chama Fitz ou algo assim.

── Liam Fitzgerald?

── Acho que é isso mesmo. Como sabe?

── Ele é o noivo de um médico que trabalha comigo no Gotham Mercy ── Delilah respondeu. ── Não esperava que o Savage fosse dar esse caso pra ele.

── O Comissário não está dando muita atenção pra esse caso, ele está convencido de que o Ceifador não tem nada a ver com isso ── explicou Alistair.

── E você? O que acha?

── Acho que você pode estar certa, e que i Savage deveria deixar de ser tão cabeça dura de vez enquanto ── Carroll praticamente murmura a última parte. ── Tentei ver o que Liam descobriu sobre esse caso esses dias. Me aproximei dele como quem não quer nada, puxei um assunto.

── E o que descobriu?

── Nada muito relevante. Não acharam o celular da vítima, então o que temos é apenas depoimentos das pessoas que trabalham na Universidade ── disse Carroll ── Gordon descartou qualquer tentativa de interrogar a mãe do Jeremiah, ela não está mentalmente apta para um interrogatório e, segundo as enfermeiras, ele não aparecia na casa de repouso a muito tempo.

Nada de novo para Delilah. O que eles sabiam, era o que ela já sabia. Mas não custava nada tentar saber se os policiais haviam feito algum avanço desde ontem a noite, quando o Batman apareceu na casa dela com os arquivos.

Delilah estava tentando não pensar tanto nesse fato e no rádio que ele havia deixado próximo a janela dela durante a noite. Quando acordou aquela manhã e encontrou o objeto, demorou um tempo olhando para ele, pensando no que fazer com aquilo e se era realmente uma boa ideia manter contato com o vigilante.

── Tirando isso, acho que não tem nada de novo ── completou Alistair. ── Desculpa te decepcionar, amor.

── Tudo bem, ── ela respirou fundo, afundando mais no assento ── eu sempre soube que não seria tão fácil resolver esse caso. Nem todas as respostas vão me ser entregues de bandeja.

── Se eu descobrir mais alguma coisa, digo a você ── Alistair disse. Delilah o fitou, achando inesperada tal ação.

── Savage não vai gostar muito disso.

── Savage tem que entender que ter você como inimiga não é uma alternativa viável ── retrucou o detetive. ── Se ele quer mesmo pegar o Ceifador, precisa aproveitar todos os recursos que tem. E você é o nosso melhor recurso. Você e sua mente esquisita.

Delilah não pode evitar sorrir fracamente com a fala de Alistair.

── Obrigada, eu acho ── disse ela, olhando de soslaio para ele.

Era bom perceber que as coisas entre os dois estavam voltando ao normal, Delilah não queria perder a amizade que tinha com Alistair. Não por ele ser policial, mas por ser uma boa pessoa, um boa amigo.

Por um momento, ela pensou que deveria dizer a ele o que sabia. Pensou que deveria compartilhar com Alistair todas as suas descobertas justamente pela amizade que eles tinham. Delilah confiava em Bruce Wayne que era um homem que pouco conhecia, por que não compartilhar seu avanço com a pessoa que sempre esteve ali para ela?

Delilah voltou-se na direção do homem e abriu os lábios, pronta para ter aquela conversa tão importante com ele. Porém, conforme sua mente se encheu com os flashes do ataque, Morgan fechou a boca novamente, selando seus lábios. Era arriscado demais, e talvez fosse uma benção a polícia de Gotham não saber tanto assim sobre aquele caso.

A vida de Alistair poderia ficar em risco, e ela não se perdoaria se algo acontecesse com ele. Era melhor deixá-lo onde estava, pelo menos por enquanto. Se ele permanecesse no escuro, estaria mais seguro. Não podia envolver mais ninguém. O Ceifador queria que ela o encontrasse, e era isso que Delilah faria.

O carro de Alistair parou e, olhando pela janela, Delilah percebeu que eles estavam em frente ao shopping de Gotham. O lugar estava movimentado, como já era de se esperar.

── Chegamos ── anunciou Alistair, voltando-se para ela. Quando notou a expressão no rosto de Delilah, a testa dele franziu, suas sobrancelhas grossas quase se juntando ── Tudo bem?

Ela piscou algumas vezes, olhando na direção dele e forçando o seu melhor sorriso descontraído.

── Sim, está tudo bem. ── ela assentiu, pegando a mochila que deixou aos seus pés e, em seguida, abrindo a porta ── Obrigada pela carona, Alistair.

── Não foi nada ── ele respondeu, enquanto ela saía. Alistair a encarou, seus olhos focados nela ── Se precisar de algo, me liga. Não hesite em ligar, entendeu?

Ele falava seriamente, decidido a passar confiança para que Delilah não pensasse que ele estava dizendo aquelas palavras apenas por capricho.

── Pode deixar, ── a acastanhada assentiu, sorrindo minimamente ── vou ligar se precisar. Não se preocupe.

Como havia prometido, Bruce lhe enviou um cartão para o seu apartamento, o qual ela poderia usar para comprar uma roupa para a festa na véspera da ação de graças no sábado. Por mais que estivesse satisfeita com seu próprio estilo, seu conhecimento em relação a roupas formais era bem mais limitado, fazendo-a pensar que não seria tão ruim assim pedir ajuda a alguém que tinha mais conhecimento que ela.

Infelizmente, seu círculo de amigos era minúsculo e sua opção mais viável se tornou a única pessoa que Delilah poderia suportar ou estrangular em uma segunda-feira, tudo dependia de seu humor.

── Eu não vou usar isso ── Ela proferiu no momento em que Pietra surgiu com um vestido verde oliva. O tecido parecia suave e era brilhoso, porém a cor era extremamente desagradavel na luz do salão e a costura era horrível aos olhos de Delilah.

── Você não tá facilitando pra mim, Delilah. Tem que pelo menos experimentar esse ── Insistiu a Gilcrest, segurando pelo cabide de cor preta.

── Eu não vou.

── É francês!

── É horrível ── disse Delilah ── Vou parecer uma latinha de 7UP.

── Bom, talvez assim finalmente alguém abra essa coisa ── murmurou Pietra, apontando em direção ao corpo dela. Se olhar pudesse matar, Delilah teria queimado a amiga até a morte.

── Não. ── Ela manteve a resposta, seus braços estavam cruzados e a expressão em seu rosto apresentava tamanha seriedade que Pietra sabia que não conseguiria mudar a mente dela.

Gilcrest descartou o vestido na pilha enorme de roupas que Delilah não aprovou. A pilha dos vestidos que as duas pegaram na loja estavam começando a diminuir, sobrando apenas três roupas. De seu lugar no sofá branco, Morgan repensava se seria uma boa ideia fingir estar doente no dia. Bruce acreditaria? Possivelmente não, mas ela acha que ele acabaria entendendo.

Se já estava sendo tão excruciante encontrar algo que lhe agradasse, deveria ser algum tipo do sinal do destino de que ela não deveria ir.

── Eu sei o que você está pensando, e você não vai fazer isso ── Pietra cortou a linha de pensamento dela. Delilah ergueu o olhar, encontrando o rosto da amiga, que se voltou na direção dela. ── Não vai desistir de ir a essa festa, vamos encontrar alguma coisa.

── Como sabe que eu estou pensando isso?

── Eu deduzi ── disse a Gilcrest, apoiando uma mão no quadril, a mesma que segurava uma blusa azul ── E também porque a primeira coisa que você me disse quando tocou no assunto da festa foi "o que usar em uma festa formal que você não quer ir, mas está sendo obrigada por um conhecido e não quer ser mais babaca do que normalmente é?"

── Eu tenho quase certeza que não disse essa última parte ── comentou ela, estalando a língua no céu da boca e semicerrando os olhos para a amiga.

── Me dei uma licença poética para adicionar essa parte ── Explicou a mulher. ── O que eu quero dizer é que eu sei que você quer correr para as montanhas agora e, sinceramente garota, eu te entendo! Meu pai era médico, ele me levou para muitas festas que eu não queria ir. Mas eu fui e, em algumas, eu acabei me divertindo.

Esse foi um dos motivos pelo qual Delilah escolheu Pietra para acompanhá-la. Ela sabia que Pietra tinha um maior conhecimento de festas da alta sociedade do que ela, Gilcrest conhecia bem esse tipo de ambiente por causa do pai que era um médico tão famoso em Gotham quanto o doutor Hattie ou Thomas Wayne.

── Não é a mesma coisa, e você sabe disso. ── retrucou a Morgan.

── Sim, eu sei. Mas acho que você pode fazer um esforço e tentar, certo? Esse cara, seja lá quem ele for, parece gostar de você e se preocupar o suficiente para bancar a sua roupa. ── ela pontuou, lembrando do que Delilah havia contado vagamente para ela. Não havia dito quem era o dono do cartão e Pietra não insistiu por um nome ── Não sei quem ele é, nem aonde você conheceu alguém assim, mas deveria aproveitar. Só... por uma noite pelo menos. Se dê um descanso. Um tempo de toda essa merda de Ceifador e morte. Na segunda, você pode voltar a ser a legista mórbida que todo mundo ama.

Delilah revirou os olhos, mas havia um sorriso pequeno em seus lábios. Por mais que não gostasse de admitir, Pietra estava certa. E ela também não era a primeira pessoa naquele dia que lhe dizia para descansar, tirar uma folga daquele caso.

Elas estavam andando pelo shopping de Gotham a horas, passando por lojas e mais lojas de roupa onde Delilah nem ao menos estava se esforçando para gostar de algo. Ela estava de mau humor, não inteiramente por causa da festa, mas também por causa do Ceifador. Depois que montou o quadro em casa na quarta-feira, parecia que o caso estava parado, sem nenhum tipo de progresso e as noites mal dormidas estavam piorando tudo.

Isso, junto do dia cheio que teve na quinta, a deixou ainda mais estressada, azedando seu humor na sexta. Consequentemente, tudo parecia péssimo dentro da mente dela. Eles estavam em uma das boutiques mais chiques de Gotham naquele momento, onde todas as atendentes eram apenas simpáticas e educadas. Delilah nunca cogitou a ideia de vir aqui e, principalmente, não tinha dinheiro para comprar nada, mas a experiência não estava sendo tão ruim quanto o esperado. O cartão de crédito de Bruce era útil para esta ocasião.

── Tá bom... ── ela suspirou, aconchegando-se no sofá. Pietra bateu palmas, empolgada e com certeza se sentindo vitoriosa ── Me mostra o que você tem ai.

── Esse é o espírito! Falta um pouco de ânimo, mas pelo menos você não desistiu ── Pietra comentou, vasculhando nas últimas roupas que tinham levado para o vestiário. ── Experimenta esse, você disse que gosta de preto. Acho que deve ficar ótimo em você.

Pietra ergueu um vestido preto de cetim e de manga longa em apenas um dos lados. Era um vestido simples, porém bonito. Havia uma abertura na lateral esquerda, que deixaria sua coxa desnuda porém, comparado com os outros vestidos, era o que mais a agradava.

Delilah se levanta e segura a roupa em suas mãos, adentrando em uma das cabines e fechando a porta. Podia escutar Pietra se movimentando do lado de fora e depois se afastando, provavelmente estava indo devolver as roupas que Delilah não aprovou.

Depois de vestir o vestido, o resultado agradou mais que o esperado. Ele era confortável e o caimento era bem feito. A parte do busto era um pouco apertada, mas não incomodava e não havia nenhum risco pois não havia um decote. Olhando para si mesma no espelho, Morgan se sentiu satisfeita. Ela abriu a porta e saiu, com o intuito de mostrar o vestido para Pietra. A mulher havia retornado e voltava com mais alguns vestidos em mãos.

── Uau ── foi a primeira coisa que ela disse quando parou em frente ao provador. ── Nossa. Esse vestido ficou ótimo em você.

── Eu gostei, mas... não parece "demais"? ── Ela olhou para si mesma no espelho. ── Talvez seja muito para um jantar.

── Não, você está ótima. Esse vestido vai ficar perfeito para a ocasião ── garantiu Pietra ── Já fui há muitas dessas festas fúteis, te garanto que você está no nível das velhas ricas chatas que andam para todo o lado com um cachorrinho dentro da bolsa.

Delilah bufou, mas não discutiu quanto a isso. Estava confiando no julgamento de Pietra naquele momento.

── E esses vestidos? Para que os trouxe? ── Indagou Delilah, apontando para o ves

── São outras opções, para caso você não gostasse desse ── Pietra apontou para o vestido que Delilah usava. ── Também vi ótimas opções de saltos nessa loja. Tem um que, se você pisar no pé de alguém, vou sentir muita pena do coitado.

Pietra deixou os vestidos sobre o sofá, formando um pequeno monte. Elas estavam fazendo uma bagunça naquela área do provador. Uma atendente havia surgido e levado embora algumas peças descartadas, porém Delilah viu, pela forma que ela torceu o nariz, que aquilo não era agradável para ela.

Mesmo assim, ninguém reclamou. Gilcrest agia com tamanha confiança, como se fosse dona do lugar, ao ponto de não dar brechas para qualquer tipo de ação desdenhosa. Dificilmente qualquer pessoa bateria de frente com Pietra.

── Eu vi esse vestido quando a gente entrou na loja, acho que vai ficar ótimo em você ── a Gilcrest ergueu um vestido vermelho. ── É sempre bom ter mais opções.

── Eu não sei... ── Delilah se aproximou, tocando no tecido e o sentindo sobre seus dedos.

── Eu acho que ele combina com você. ── respondeu a Gilcrest. Os lábios de Delilah se abriram para retrucar, porém Pietra interveio ── Só experimenta. Uma única vez. Se você não gostar, se ficar ruim, nunca mais toco no assunto.

── Pietra, eu já escolhi um vestido.

── Eu sei, mas você deveria tentar esse também ── insistiu Pietra ── Você não vai morrer se experimentar esse vestido uma única vez. Depois é só escolher o que você achar melhor, ── ele estalou a língua no céu da boca e sorriu. ── ou os dois.

Delilah pensou em negar mais uma vez, porém a mulher estava empurrando o vestido contra o peito dela, forçando-a a retornar para a cabine e trocar de vestido. Mesmo a contragosto, Morgan o fez. Ela retirou o vestido preto, o colocou de volta no cabide e trocou pelo vermelho que era ainda mais sedoso que o outro.

A serviu tão bem quanto o preto. Porém acentuava mais o seu busto que o primeiro e a última coisa que ela queria era chamar atenção. As alças caíam dos ombros e havia um corpete que apertava da cintura para cima, mas não chegava a ser desconfortável. Ele era longo e também tinha uma abertura lateral.

Pietra estava certa, o vestido combinava com ela. Realçava seus olhos verdes tão bem quanto o preto. Não era atoa que vermelho era sua cor favorita. Delilah saiu da cabine, abrindo os braços como se estivesse apresentando o vestido a Pietra, que agora se encontrava sentada no sofá, bebendo café em uma xícara minúscula.

── Porra ── proferiu a Gilcrest, no momento em que Delilah saiu. ── Você tem que levar esse vestido. É uma obrigação agora.

── Definitivamente ── disse uma atendente que estava passando naquele momento, foi a mesma que as atendeu no momento em que as duas entraram na loja. ── Você está deslumbrante, querida. Deus abençoe o sortudo que vai te ver nesse vestido.

── Ou sortuda, nós não julgamos aqui ── pontuou Pietra, aceitando uma xícara de café da mulher de cabelos ruivos.

── Eu não tenho certeza... ── Ponderando sobre suas opções, Delilah observou o próprio reflexo no espelho de corpo todo que havia do lado de fora ── Ele é lindo, tão bonito contra o outro. Mas não sei... talvez o preta seja a opção ideal.

── Leve os dois, se mima um pouquinho ── Pietra sugeriu como um diabinho falando ao ouvido de Delilah e sorrindo maliciosamente. ── Tenho certeza que seu amigo não vai se importar se você levar dois vestidos.

── Talvez ele até agradeça ── comentou a atendente, fazendo Pietra rir junto com ela, como se as duas fossem cúmplices e amigas de longa data.

── Vocês duas não estão ajudando ── Delilah se voltou para elas.

── Nós estamos tentando te ajudar, você é quem não se ajuda ── retrucou a Gilcrest ── Se ele está bancando, você deveria aproveitar. Qual é o limite do cartão? Talvez eu consiga comprar algumas coisinhas para mim.

Delilah poderia dizer que não tinha limite, mas isso só iria atiçar Pietra ainda mais. Ao invés disso, ela cumprimiu os lábios.

── Leva o vestido verde ── Delilah comentou, voltando para a cabine e fechando a porta. ── Combina muito com você.

── Vou comprar e enforcar você com ele, idiota ── respondeu a Gilcrest, fazendo Delilah rir. Ela escutou Pietra se afastando, a voz dela ficando distante a cada passo dado para longe ── Vamos levar os dois vestidos, e vou procurar algum sapato que combine com ambos.

Em seguida, a mulher começou a conversar com alguém da loja e Delilah não escutou mais nada do que ela estava dizendo. Estando sozinha dentro do provador, ela observa a si mesma na frente do espelho, antes de tirar o vestido, e se permitiu demorar por um tempo no próprio reflexo.

Delilah nunca havia se imaginado em uma situação como aquela, muito menos que sua parceria com Bruce a levaria a tanto. Mas, por uma noite, estava disposta a se permitir ter aquela ilusão de que sua vida poderia ser sempre assim.

Enganaria sua própria mente se fosse preciso, apenas para dar aquele gostinho de alívio, longe das garras nefastas dos pesadelos e da melancolia que Gotham trazia. Delilah daria a si mesma aquela liberdade, mas sem nunca se esquecer que, ao badalar da meia-noite do domingo, após o jantar de ação de graças, a magia deveria ser encerrada. Ela não permitiria mais nenhuma distração. Não enquanto o Ceifador não fosse pego, e ela sabia que ele não pararia até que isso acontecesse.

Ainda assim, ela se permitiria sentir o doce gosto da ilusão, fingiria que estava tudo bem por somente uma noite apenas, estendendo até a comemoração com Bruce e Alfred no dia seguinte, agiria como se nada estivesse errado e que não havia um assassino cruel para além das paredes daquele jantar.

AUTHOR'S NOTE.

I. | Um agradecimento especial a Lena (_gwldn) que me ajudou com a finalização do capítulo, passei por um pequeno bloqueio na hora de terminar esse cap. ontem e ela me salvou porque eu estava muito perto de surtar.

II. | Eu não planejava publicar esse capítulo hoje, porém o próximo capítulo é o do jantar e eu estou MUITO ansiosa para postá-lo, por isso adiantei a postagem desse cap.

III. | Para quem tiver interesse em saber como são os vestidos que a Delilah comprou, essas foram as inspirações para os modelos:

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro