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13- Adolescentes em fuga

Camila

  A semana transcorreu lentamente, Shawn e eu trabalhamos a maior parte do tempo. O clima entre nós está tenso, conversamos apenas o necessário, não brigamos, estamos quase que ignorando um ao outro o que parece ser ainda pior.

  Austin me chamou para jantar outra vez, eu neguei ao convite, não pela situação com Shawn, só lembrei à Austin que estava ali exclusivamente para trabalhar e ele disse que então me procuraria em Nova York quando ambos estivessem menos ocupados, sinceramente espero que não o faça.

  Fecho o notebook o deixando de lado e me concentro no homem à minha frente.

    — Certo, até quando vamos continuar com isso?- pergunto exausta pela situação.

  Shawn larga os papéis que estão em suas mãos e me encara confuso.

    — Do que você está falando?- rebate minha pergunta com outra. Reviro os olhos.

    — Não me faça jogar meu sapato em você, sabe exatamente ao que me refiro.

  Ele abre um sorriso de lado e seu olhar vai para meus pés, observando meu salto. Não sei porquê mas algo me diz que Shawn tem algum tipo de fetiche com saltos altos, penso sobre isso desde a primeira noite que passamos juntos. Ele acena com a cabeça então crava seu olhar no meu.

    — Achei que quisesse um tempo então resolvi me manter em silêncio, assim seria mais fácil para você suportar esses dias ao meu lado.

  Desvio o olhar. Sua resposta me incomodou.

    — Que tipo de pessoa você acha que eu sou?- pergunto o surpreendendo.- Pelo jeito que fala parece que eu sou uma mulher amarga, que despreza quem está em volta.

    — Não foi o que eu quis dizer, nunca foi minha intenção.- se desculpa. Shawn então se levanta de onde está e vem até mim.- Eu só estava pensando sobre tudo desde que voltei para Nova York, o jeito que vim agindo com você foi estúpido, pareço o mesmo adolescente idiota de antes.

    — Nisso eu vou ter que concordar- solto e nós dois rimos.

    — Então, amigos de novo?- Shawn pergunta.

    — Nós nunca fomos amigos- respondo franzindo o cenho.

  Shawn revira os olhos.

    — Você entendeu o que eu quis dizer.

  Concordei e recebi um largo sorriso, pelo menos por enquanto nós dois estamos em paz.

–––––––––––––––

    — Não acredito que estamos fazendo isso de novo- Shawn sussurra ao meu lado.

    — Eu sei, também imaginei que quando viesse à Vegas a viagem seria mais empolgante- sussurro de volta antes de levar a taça de champanhe aos lábios.

  Estamos em outro coquetel de negócios. Palestras, reuniões e tudo isso se tornou bastante exaustivo. O que mais odeio nisso tudo é ser uma das pouquíssimas mulheres do congresso, os homens me lançam olhares nada discretos e alguns já tentaram diversas vezes se aproximar, um absurdo. Shawn tem sido minha salvação, ele tem ficado ao meu lado todo o tempo, isso mantém os abutres longe.

    — Você confia em mim?- Shawn pergunta me surpreendendo.

  O encaro confusa.

    — O que?

    — Fuja comigo, agora.

    — Você só pode ter enlouquecido.

    — Não, mas estou prestes a enlouquecer caso tenha que ficar aqui por mais tempo. Essa é a nossa última noite em Las Vegas, deveríamos aproveitar afinal já fizemos tudo o que poderíamos ter feito em relação à negócios.

  Shawn está certo, não há mais nada que precisemos fazer aqui e afinal nós merecemos.

    — Certo, vamos fugir daqui- concordo.

  Shawn rapidamente pega minha mão e saímos do salão o mais discretamente possível, descemos as escadas praticamente correndo e então atravessamos o hall de entrada do hotel, ao chegarmos na calçada rapidamente entramos em um táxi.

    — Me sinto como uma adolescente em fuga- confesso ao me acomodar no banco de trás do táxi.

    — Essa não seria a primeira vez para nenhum de nós dois- Shawn responde.

  Não, não seria e acho que essa também não é a última.

–––––––––––––––

  Assim que a música acabou joguei minha cabeça para trás ouvindo a risada de Shawn, estamos em uma boate em algum lugar no centro de Vegas, eu não me lembro bem. Tudo o que sei é que estou sentada sobre meus calcanhares em cima da mesa, Shawn está sentado à minha frente no sofá e nós dois já bebemos e cantamos muito desde que chegamos aqui.

    — Vamos pegar o avião com uma baita dor de cabeça amanhã- Shawn diz apoiando os cotovelos na mesa.

    — Eu não me importo- sussurro perto de seu rosto.

    — Você é muito engraçada bêbada- diz me fazendo rir.

  Pego o copo de whisky de sua mão e tomo um gole, automaticamente faço careta ao sentir o líquido descer rasgando por minha garganta, Shawn ri.

    — Vou manter isso longe de você- declara tomando o copo da minha mão.

    — Não seja chato, Shawnie- faço biquinho.

    — Shawnie?- repete.- Você está definitivamente muito bêbada.

  Dou de ombros. Tento pegar o copo mais uma vez, no entanto Shawn me impede, desisto assim que ouço “Sexy Bitch” começar a tocar. Pulo da mesa e acabo me desequilibrando, por sorte Shawn me segura pela cintura.

    — Acho melhor nós voltarmos para o hotel- Shawn aconselha ainda me segurando.

    — Só depois de você dançar comigo- proponho. Ele franze o cenho e me encara como se eu tivesse enlouquecido.- Vamos Shawnie, por favor.

  Ele sorri e acaba cedendo, seguro sua mão e o puxo para o meio da pista de dança. Fecho os meus olhos e começo a dançar no ritmo da música, sentindo a batida reverberar por meu corpo.

  Quando abri os olhos novamente vi que Shawn imóvel na minha frente, seu olhar fixo em mim, eu sorri e ele também.

    — Admirando a vista?- pergunto me aproximando e enlaçando meus braços em seu pescoço.

  Ele não responde, só me segura pela cintura enquanto mantém seu olhar fixo no meu.

    — Shawn?- chamo.

  Ele pisca como se despertasse de um transe.

    — Sim?

    — Me beija.

    — Você está bêbada!

    — Estou, mas isso não significa que não esteja consciente.

    — Então não vai me odiar amanhã de manhã?- pergunta.

    — Eu vou te odiar se não fizer isso agora- respondo.

  Shawn sorri e então aproxima nossos rostos, seus lábios pairando sobre os meus, tão perto. Quando finalmente nos beijamos a sensação foi sem igual, talvez fosse a bebida mas eu duvido, ou talvez fosse o lugar mas eu tinha passado a não me importar assim que nossos lábios se tocaram. Só à uma explicação: é ele, somos nós dois e isso é tudo que importa agora.

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