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[02] • Parque de diversões e Jackpot

Eu nunca gostei de viagens, especialmente a que é necessária aviões. Passar horas sentada a um número enorme de altura longe da terra, nunca me pareceu seguro, mesmo que avião seja considerado a droga do meio de transporte mais "seguro". Posso dizer que o cara que disse isso tinha muita merda na cabeça.

Dane-se se eu posso tirar fotos tumblr das nuvens e da cidade, eu sempre irei tremer feito um pinscher sentada numa das poltronas.

Consigo me lembrar muito bem que minha primeira viagem de avião foi um fracasso! E só consigo sentir culpa, quando lembro de ter estragado o par maneiro do tênis que o Joo ganhou de Natal com meu vômito, quando estávamos voltando de sua cidade natal.

Era fim de tarde, no pôr do sol, quando aterrissamos em Nashville. Pegamos o primeiro táxi que encontramos e a cada minuto que se passava, cada nova ruela e descobertas de avenidas, eu senti algo como se o tempo já teve sua cota de ofensa atingida por todos os homens e não faz mais o tick nem o tack há um bom tempo. É uma bela cidade, não há o que reclamar - por enquanto. "Cidade da Música", como muitos conhecem e também dona de uma bela arquitetura antiga.

Aproveito do momento de distração da mamãe e do papai concentrado em rir das piadas água-com-sal do taxista mexicano, para colocar o novo chip que comprei no aeroporto e enfim falar com o Joo.

salva meu novo número aí, coalito!


[Jill <3]

coalito Joo🐨
caraca, nunca mais passe tanto tempo sem falar comigo! 👺

Eu já tava com o cu na mão de preocupação 👺

A vontade que eu tenho é de te matar, sabia? 👺

Coala Abusado
mas você não vai matar porque 1) me ama e
2) tô à quilômetros de distância haha😘

coalito Joo🐨
você não sabe mesmo brincar, não é?

como foi a viagem? me diz se aí é legal
e finge que me importo🙄

Coala Abusado
você sabe que odeio aviões, então foi bem bosta💩

NV é uma cidade... estranha ???
mas é bonita.

acredita que os letreiros das lojas são de neon?
tipo aquelas cidade hippies

gostei.

coalito Joo🐨
te fudê se gostou. Já sabe minha
opinião sobre.

mas que bom que gostou! <3

E eu quero fotos suas com pose de
vovó com esses letreiros atrás

ah e quando seu pai encontrar uma
cervejaria manda o endereço pra' mim.

vou querer ir com a senhora Valentine😍💙

Coala Abusado
você nunca vai deixar de ser trouxa
e de ter a mamãe como crush, né?

coalito Joo🐨
Tudo o que você disse não faz o mínimo sentido.

se crush fosse pra gente deixar de ser trouxa,
isso nem existiria!

Jill, entenda,
eu tenho um penhasco pela sua mãe.

Passei mais um tempo conversando com o Joo até ele precisar se despedir para ir a faculdade. Mandei uma foto fazendo coração e outra com o dedo do meio, e me virei para ver com quem mamãe tanto conversava naquele celular. Estava tão entretida que não notou minha tentativa de bisbilhotar sua conversa ao chegar mais perto sem que notasse.

— Tudo bem, filha? — Ela pergunta e diminuo o sorriso em meu rosto, tornando mais verdadeiro o falso que surgiu quando me notou. Eu assinto e a deixo fazer um carinho em meu queixo. — Estava conversando com o Namjoon?

— Sim, ele estava me contando que quase perdeu seu orifício anal de tanta preocupação. Eu acho que é apenas o ciúme e a saudade batendo, sabe? Mas ele foi para aula. Atrasado, como sempre. — Dou de ombros e vejo que mamãe contém um riso frouxo com a mão nos lábios.

— Então, tudo está sobre equilíbrio, hm? Depois diga a ele que mandei um beijo.

Ok, agora meu amigo vai surtar.

Namjoon sempre teve uma queda enorme por mamãe. E isso começou desde a época em que nossas mães ainda trabalhavam juntas e ele era o melhor amigo do meu irmão - o que foi bem antes de se tornar o meu. E, sabe, ele a exalta com toda razão. Além de ser uma mulher determinada e inteligente, Anne Valentine é uma mulher linda e toda sorte esteve do lado do meu pai, o Joe. Eu não puxei seus olhos verdes e corpo voluptuoso de latina, mas o tom de sua pele moreno e seu sorriso, sim.

Pode-se dizer que todas as características físicas eu, infelizmente, puxei ao papai. Um hipster magrelo, estatura mediana e cabelos castanhos que chegam a altura dos ombros, mas mamãe sempre achou tudo isso um charme.

Mas eu sempre achei que tudo não passou de uma puta desvantagem para alguém desprovida de músculos como eu, enfrentar a escola. Por alguns anos, eu ainda tive o Namjoon e o Roy, ao meu lado como "escudo", mas nada que durasse o suficiente.

Deixando um pouco o passado de lado, me permito olhar para fora da janela do carro e observar o crepúsculo abraçar a cidade. Os postes localizados em pontos estratégicos iluminam a cidade e as fachadas em neon dos estabelecimentos colorem os passos daqueles que por ali passam. Em determinado ponto, paramos em um semáforo em frente a um parque natural, onde pude ver um telão projetado no meio do gramado livre de árvores e toalhas estendidas no chão para famílias degustarem do filme que é transmitido para todos.

Sorrio para cena que vejo, onde crianças conversam e riem alto, gozando do calor e férias de verão. Em Cambridge, cenas assim não é vista com tanta frequência, mas parece que por aqui tudo isso é bem comum.

— Vocês chegaram numa boa época. — Ouvi uma voz diferente e constei ser do taxista. Ele tinha seu olhar preso ao meu pelo retrovisor. — Durante o verão, é tradição os jovens da escola MLK Magnet organizar nosso Festival de Filmes Independentes. E esse ano eles capricharam! Aquele telão é enorme e também conseguiram montar um fliperama caseiro com patrocínio do Planeta 51.

— E até quando o festival vai se estender? — Mamãe perguntou.

— Começou nesta segunda e se estende até o próximo fim de semana. — Respondeu o taxista.

— Ei, Jill! O que acha de irmos semana que vem? Teremos tempo de nos organizar e descansar até lá. — A ideia foi do papai e vi um problema em aceitar aquilo. Minha mente ainda parece encarar a ideia de se adaptar aquela cidade como algo nem tão bom.

Não tenho o conforto de Cambridge e muito menos o frio, mas o pior de tudo é que não tenho o meu melhor amigo ao lado para darmos boas gargalhadas e passar vigílias no Overwatch.

— Sei o que deve estar pensado... — mamãe sussurrava e desvio meu olhar do parque para ela. — Que isso tudo parece ser um pesadelo de seriado adolescente, principalmente sem o Namjoon por aqui. Mas se você não se forçar a tentar uma adaptação, querida, ela nunca virá. Não adianta apenas esperar. Você precisa passar por algumas dores para saber viver.

Mamãe tem razão. Sem o esforço ou obrigação da minha mente em aceitar tudo aquilo, eu só iria me desgastar com a tristeza que a falta da adaptação e de inclusão me traria.

O sinal abriu e quando o carro saiu pude ver uma grande barraca do outro lado do parque com uma enorme fila. De crianças birrentas, adolescentes cheios de espinhas e adultos que não reconhece que está velho demais para entrar numa fila de fliperama.

Coloquei meu rosto entre os bancos e virei meu rosto para papai, deixando um beijo estalado em sua bochecha.

— Eu aceito o encontro a três, no sábado, senhor Valentine. E também, quero ter o gosto da vitória em Mortal Kombat III contra você!

— O quê!? Eu não vou perder. Não mesmo! — Ele virou para trás naquele banco apertado do carro para me olhar com deboche. Eu e mamãe nos entreolhamos, sabíamos que ele perderia de qualquer jeito.

— A última vez que você disse isso, querido, ­— começou mamãe entre sorrisos frouxos — foi no jogo dos Dodgers e você perdeu a aposta do placar para sua filha!

Joe Valentine fez um bico e cruzou os braços, reconhecendo sua predestinada derrota, enquanto eu e mamãe rimos de suas caretas.

— Gostam de beisebol? — Perguntou o taxista.

— Sim. — Respondi.

— Nós temos um time profissional da cidade, os Nashville Sounds e também os Raven Blacks, um colegial incrível. Ano passado perderam o melhor capitão que já existiu, mas esse ano o arremessador é um monstro! Aconselho irem a uma partida dos dois times.

Depois dessas informações, papai puxou mais assunto com o taxista sobre os times e descobrimos que há uma boa escola para imigrantes na cidade, a antes citada MLK Magnet.

Mais alguns minutos vagando pela cidade, enfim, paramos em frente a uma casa de dois andares bem desgasta. Mas nada que uma boa pintura e um cortador de grama não resolvam! Há uma pequena varanda de frente para o jardim mal cuidado e vejo um balanço - talvez esquecido pelo antigo dono - e garagem.

— Gostou? — Meu pai se direciona a mim outra vez. Eu preferi não o responder. Não pretendo ser tão insensível ao ser sincera, sei o quanto ele se esforçou para encontrar uma casa legal em um bairro legal. — Ah, vamos lá, Rudi! Lugar novo, casa nova e amigos novos! É verão, cara!

Bufo e ri debochada das palavras do meu pai. Por que mesmo mamãe aceitou a ideia absurda do papai em colocar um segundo nome em mim?

— Não adianta usar meu nome hippie, pai. Não é como se isso fosse um ponto de partida para que um milagre surja na minha vida... Cara.

Se nem mesmo dezessete anos numa só cidade não me arranjou nada mais que um amigo, quem dirá essa cidadezinha? Tenho mais o que fazer, como por exemplo recuperar notas, conseguir uma boa carta de recomendação para faculdade e estudar para os exames no final do terceiro ano. Acima de tudo: Estudar.

O negócio é mirar nos estudos e acertar no cérebro maromba, como diria meu caro amigo Kim.

— Jill... — Mamãe me repreendeu com sua voz serena e sotaque puxado. Ela bagunça meus cabelos antes de sair do carro e reviro meus olhos, tardando de ajeitar a bagunça que ela fez.

— Sejam bem-vindos a Nashville! — O taxista diz e acena, assim que recebe o pagamento pela corrida.

— Tá, tá. Vai com Deus, vai, moço.

É, talvez eu realmente seja rabugenta, às vezes.

Arriba! — Papai grita para o taxista, acenando alegre como nunca. Os últimos dias papai tem aproveitado bem as férias que lhe deram do trabalho, antes de assumir o novo cargo alto na filial da empresa que abriram aqui no Tennessee.

— Pai, acho que "Arriba" não se encaixa nessa situação.

Me viro de volta para a casa, parando para analisar sua estrutura. É uma casa legal. Humilde, posso assim dizer, mas parece ser o suficiente para apenas três pessoas morar. A tinta antes o que parecia ter se perdido no passado do branco gelo, agora está descascando na madeira da frente da casa, o gramado estava um pouco grande e com algumas ervas daninhas. Olho para o balanço ao lado da porta principal, na varanda e é para lá mesmo que eu caminho e me deito, descansando as minhas costas e minha bunda provavelmente "quadrada" pela duração do voo.

— Levanta esse traseiro daí e vem logo ajudar, preguiçosa! — Meu pai dá umas tapinhas em minhas canelas, tentando me animar e assim começamos uma longa jornada para limpar toda a casa.

Sala de casa.
18 de junho, 12:01 a.m.

Os últimos dias limpando e organizando toda a casa se passaram mais rápido que planejamos. Por conta do jet lag, não conseguimos dormir muito bem, o que ajudou a ganhar mais tempo para terminar toda a pintura dos cômodos.

É sábado e mamãe saiu cedo para procurar um emprego pelos jornais da cidade, enquanto meu pai foi ao novo escritório organizar algumas papeladas dos negócios. Minhas manhãs não se rendem a coisas eficientes como a deles, o que me resta ligações com o Joo, videogames e pequenas listas feitas sobre tudo ao meu redor.

Penso que ainda não comentei sobre o festival de filmes com o Namjoon, e muito menos sobre meus novos vizinhos.

Ah, os vizinhos... uma bênção infernal, pode-se classificar. Razão do lado negro - há exceções ­- das minhas últimas listinhas.

De todos os vizinhos que já tive, certamente esse novo grupo é o mais aleatório que já me inclui.

Na casa da frente, há o senhor Carl Rogers, o nome que ocupa o primeiro lugar da minha lista negra de vizinhos. Um coronel aposentado do exército americano que acorda todos os dias antes do nascer do sol para hastear a bandeira do seu país ao som do hino nacional - morte ao hino nacional, por favor.

Quando papai o cumprimentou pela primeira vez, eu fui junto e cogito dizer que ainda não estou ouvindo muito bem do lado esquerdo. Sua voz é estrondosa e alta como um trovão e eu odeio trovões. Ainda consigo sentir minha mão direita dolorida por conta da força do aperto de sua mão áspera sobre a minha, ao nos apresentarmos. Fora que, naquele bigode antiquado e ridículo, havia pedaços de bolo. Mesmo que papai negue, eu vi! Ew.

Também há senhorita June Evergarden, que mora na casa ao poente e dona do topo da minha lista de vizinhos agradáveis. Uma mulher adorada por todos os olhos que caem sobre si, certamente. Misteriosa, meiga e gentil. Ela é simplesmente angelical.

Foi no segundo dia de nossa chegada a cidade que eu a vi pela primeira vez. O quarteirão havia sofrido uma queda de energia e eu nunca odiei tanto uma cidade como naquele momento em que perdi toda a minha pontuação contra um novo jogador que conheci, o Jackpot. Não me restou muitas opções, a não ser descer do meu quarto, preparar um chá gelado e tentar me refrescar com a brisa de verão em minha varanda. Ela cantava Eternal Flame e senti que as The Bangles, poderiam morar em sua alma.

"Ela é tão bela e só está na casa dos trinta! Eu a daria vinte anos!", lembro de ouvir mamãe dizer admirada ao chegar em nossa cozinha com uma torta em mãos. Senhorita Evergarden é casada, mas seu marido é combatente, serve ao exército e talvez por isso também há uma esperança melancólica em seu olhar.

E então entra o garoto da casa ao lado e sua adorável vovó.

De todas as apresentações das últimas duas semanas a pior, com certeza, foi com ele. Foi na tarde em que terminei a pintura da sala e da varanda. Eu estava cansada e precisava de um banho urgente, mas ainda tinha algumas caixas com minhas roupas para desempacotar. Não pensei que a falta de roupas e uma sem noção como eu poderia cometer um constrangimento tão grande, mas foi o que aconteceu quando olhei para a janela do meu quarto e vi o moreno bochechudo me vendo apenas de toalha, cabelo molhado — mas ainda sujo de tinta azul do meu quarto — , enquanto aguava as roseiras de sua avó.

Em suas mãos não havia só a cumprida mangueira de florezinhas, mas também o que pareciam ser ataduras às envolvendo e uma bela visão do seu peito. Desnudo, totalmente exposto à luz natural do fim da tarde. Ele vestia apenas uma calça folgada com rasgos nos joelhos que pendia em sua cintura e no momento em que meus olhos inconscientes desceram até a linha V de seus quadris, descobri que saliva ou água no mundo poderia matar a sede maluca que me surgiu.

Eu vi suas bochechas ficarem vermelhas na hora, mas só notei depois que me joguei no chão e tive um ataque de risos por ser tão atrapalhada.

Mais tarde, naquele mesmo dia, eu voltei a janela do meu quarto e vi um bilhete num garrancho, grudado na janela da casa vizinha.

"Me desculpe pelo inconveniente!
Sei que não foi uma apresentação adequada, mas seja bem-vinda. Espero que goste da cidade ;) Se precisar de um guia ou carona, sei lá, posso te ajudar.

Park Jimin, seu novo vizinho"

Arrisco dizer que sou uma versão meia boca do Peter Parker e ele Mary Jane Watson só que plus one.

Você 'tá bem calada... Um euro pelos seus pensamentos.

Me perdi tanto em meus devaneios que esqueci completamente que estava numa videochamada com o Joo, para passar um tempo "juntos", enquanto estudamos e comemos besteiras, como fazíamos em Cambridge.

Beep, errou. Não uso mais euro, Joo. Então de nada vale me pagar.

Você é muito chata. — Não precisei virar o rosto para o computador para saber que revirava os olhos.

Estou deitada no sofá de ponta a cabeça. Minhas pernas onde deveriam estar minha cabeça e vice-versa. Pego mais um punhado de bolinhas de queijo e encho minha boca, fazendo delas meu almoço do dia.

— Meus pensamentos de nada valem. Estava só pensando na lista que fiz sobre meus vizinhos.

Quem é a vítima desta vez?

— O que você quer dizer com isso? — Saio da minha posição de contorcionista para olhá-lo pela tela. Recentemente ele havia tingido os cabelos de loiro escuro. Estava bem atraente.

De quem você vai partir o coração desta vez, Kat Stratford?

Seu sorriso ecoa robótico pela minha sala. Namjoon tinha uma mania incrível de fazer referências a filmes da forma mais aleatória possível e mesmo com anos de convivência nunca vou conseguir acompanhar seu incrível raciocínio.

— Não seja idiota! Sabe que não sou fácil de partir corações e muito menos de me apaixonar. Apenas achei o vizinho bonito. Não sou cega, Joo. — E é a verdade. Jimin é muito bonito e não havia como alguém negar. Mas sobre a paixão que Parker sente pela Watson, não se encaixa situação da realidade atual.

Okay, espera um pouco aí... Ha! Consegui! — Me assusto com o grito e mudança de assunto repentina, mas vejo que toda essa comemoração foi sobre os resultados dos cálculos que encontrou.

— Mas, enfim, sobre o que estávamos falando antes?

Sobre você ter um coração duro como um Nokia e não beijar alguém há, o que? Dois anos?

— Primeiro, não preciso ter um coração molenga para beijar uma boca. Segundo, a boca é minha vacilão! — Ele tem seus olhos sobre mim, rapidamente. — E terceiro, como eu ainda consigo ter você como meu melhor amigo? — Suspiro ao notar que sou ignorada outra vez.

— E enquanto a você e Sofia? Ela retornou suas ligações?

Pego mais um pouco de bolinhas de queijo e encho minha boca de refrigerante de limão, enquanto observo largar o lápis e deixar sua cabeça cair de forma derrotada sobre os livros. Seja qual for a situação dos dois, já sei que não é boa.

Ela me chamou para conversar no dormitório uns dias atrás, mas a gente acabou transando. — Meus olhos dobram de tamanho e sinto o refrigerante descer pelo buraco errado. Eles não haviam terminado um mês atrás? — Pensei que já estávamos bem de novo, mas ontem eu vi ela com outro cara pelo campus. E ela me viu quando passei pelos dois juntos e nem reagiu. Brigamos por telefone depois disso porque ela me ligou no dia seguinte me chamando para sair e a chamei de babaca.

— Caraca...! Namjoon, você precisa trocar a fita. — Começo seriamente. — Sei que gosta da Sofia há um booom tempo, mas agora vemos que já não é mais para o teu bico, garanhão. Isso já deu o que tinha que dar. Você vai acabar saindo mais machucado do que está.

Se eu pudesse, daria agora mesmo um soco na cara daqueles dois por serem tão patéticos. O relacionamento deles sempre foi conturbado, desde que ele a conheceu no final do primeiro período. Namjoon é intenso demais quando o assunto são sentimentos, já a Sofia, não. Ele não se importa se ela é três anos mais velha ou se não gosta de coisas melosas, ele só faz.

Sofia Poulain é uma inter cambista francesa — e problemática — de 22 anos e algum tipo de ex-namorada que vai, mas volta.

— Você deveria ter dito para ela ir se foder!

É, sei que deveria. — Ouço sua voz abafada devido ao rosto ainda estar caído sobre os livros. Namjoon não está nada bem e infelizmente não há nada que eu possa fazer daqui, onde estou.

— Você deve ir fazer isso. Faz agora. Quero ver.

Eu vou.

— Então vai.

Vou o que mesmo? — Ele ergue seu rosto dos livros com alguns fiapos de borracha presos nas bochechas e me olha confuso. É notório como suas olheiras marcantes é o resultado do esforço com o trabalho de meio período e faculdade.

— Vai mandar sua ex-namorada ir se foder!

Ah, vou... — Silêncio e nada dele encerrar a videochamada. — Eu vou? É que eu não sei se vou ter saldo o suficiente, depois dessa ligação...

Eu ponho a mão na testa e me seguro para não explodir com ele e o deixar chateado.

— Não, Joo. Você não vai. Sabe por quê? — Suspiro e ouço um resmungo como resposta. — Porque você é trouxa demais!

Não é novidade você me dizer isso... É malvado demais, sabia?

É evidente que ele está amuado e de coração partido por causa do seu relacionamento ruim, mas até mesmo eu estou cansada de vê-lo ser um idiota por aquela garota.

— Supera logo ela, Joo. — Digo, ignorando totalmente seu drama e me preparando psicologicamente para a sessão de lamentações. — Sofia é controvérsia e negativa demais para o seu eu positivo, quantas vezes terei que dizer isso? Ela consegue ser tóxica para você em proporções gigantescas!

Eu estou tentando! Juro que estou, Jill. Eu não quis te dizer, mas na semana passada eu saí com uma garota. Ela é legal, linda e inteligente, cursa Filosofia, mas...

— Não é a Sofia? — Completo com o que ele parecia estar com medo de admitir.

- Isso. Ah, que porra! — E outra vez bate a cabeça contra os livros.

— Que merda hein...

Essa merda de amor é algo que eu espero que você nunca sinta, coalita. Depois que você descobre o poder dessa coisa: fodeu. É só desonra! Desonra 'pra tu, desonra 'pra toda a tua família e desonra 'pra tua vaca!

— Kim Namjoon! — O repreendi entre risos, chamando sua atenção. — Não precisa usar falas decoradas dos meus filmes favoritos para que eu entenda.

Para mim, você ainda é um bebê. Então, cale a boca que eu preciso usar, sim. — Ouço seu sorriso e vejo as covinhas que tanto sinto falta. — Mas só para finalizar: A droga do ex-amor vai te tirar a paz até que ela ou você desencane. Você é mais racional que eu... acho que vai se dar bem no amor, na verdade.

É fato que não entendo muito sobre amores, mas é algo imprudente de se falar "ex-amor". Como pode deixar de ser aquilo que você teve a certeza em admitir que sentiu durante anos? Eu não sei bem do que se trata "ex-amores", mas, enquanto eu viver em sã consciência, quero sempre poder evitar que isso me ocorra.

Centennial Park.
Festival de Filmes Independentes.
7:36 p.m.

O som dos sorrisos e conversas fazem uma perfeita harmonia com a voz feminina do blues que sai das rádios dos postes espalhados pelo parque.

As luzes dançam entre rostos, vozes e sentimentos, colorindo tudo ao seu alcance, assim dando mais vida e alegria a todo ambiente. Luzes de todas as cores. Azul, verde, vermelho, amarelo. A alma daquela cidade, daquelas pessoas, é exposta através de tudo.

E mesmo que tudo em mim pareça um terrível contraste - por usar roupas tão escuras e não expressar um sorriso tão fácil - , eu me sinto bem. Penso que encontrei um bom lugar para viver. Mesmo que eu me sinta deslocada sinto que também faço, de uma forma incoerente, parte de tudo aquilo.

Como se fossemos da mesma espécie.

Haviam instalado um parque de diversões esses últimos dias, pelo que estou vendo. Pois da última vez que passei por aqui, não havia tantas cores como agora. O festival está em seu último fim de semana, mas as pessoas não parecem estar cansadas ou enjoadas de tudo aquilo, pois cogito dizer que toda a população dos bairros ao derredor está localizado no Centennial Park.

Sei que duas semanas atrás eu prometi vir ao Festival aos meus pais, mas confesso que relutei em vim.

Mamãe e papai estão na enorme fila da roda gigante, esperando que eu volte com suas casquinhas. Mas tudo o que tenho feito é ficar admirada com o diálogo das crianças a minha frente e não manter os sabores dos sorvetes em mente, como haviam dito. Era algo como menta e chocolate ou dois morangos, cara, eu não faço a mínima ideia!

— Acho um completo engano dizer que solvete de "algodão-doce" é o melhor do mundo. - A garotinha que penso ter seis ou sete anos, diz com autoridade para o garoto ao seu lado, seu amigo. - O melhor é pistache. Se papai estivesse aqui, com celteza ele falaria algo como: Isso é um grande erro. Mas que equívoco, galoto

Ao dizer isso, tenta engrossar a voz e forçar a voz sair do jeito mais preguiçoso possível, e sorrio com seu jeito tão adorável. O garoto revira os olhos.

Apesar de errar algumas palavras, todo o seu discurso é totalmente impressionante para alguém da sua idade.

— Você nem sabe o que isso significa e o seu papai não 'tá aqui, Boo! É o seu tio bobão que gosta de sorvete de algodão-doce, então os garotos ganham! Ha!

— Isso não vale! — A garotinha diz e bate o pé. Só agora noto que sua voz sai tão chiada por ser banguela.

Mais alguns minutos de briga e espera entre os dois continua até que compram seus sorvetes e voltam de mãos dadas para seja lá de onde vieram. Com uma preocupação que não sei de onde surgiu, os acompanho com o olhar até seu responsável e vejo um cara alto, de cabelos vermelhos e tatuagens, os recebem com um grande sorriso quadrado e um abraço caloroso.
O suposto "tio bobão".

Um pequeno sorriso surge em meus lábios com tanta fofura ao ver que a garotinha não para de beijar o rosto do mais velho.

Comprei os sorvetes e sigo de volta para onde meus pais me esperam.

Apesar da idade, papai e mamãe nunca deixaram de demonstrar o quanto ainda são um casal apaixonado, mesmo depois de anos de casados e uma história conturbada nas costas. Enquanto caminho de volta para onde estão, vejo papai acariciar o rosto de mamãe e depositar um beijo casto em seus lábios.

Foi durante a faculdade, que tiveram seu primeiro contato. Numa ida ao único bar que transmitia jogos de beisebol pelo campus, cada um com seu grupo de amigos. Mamãe uma estudante de jornalismo e papai um moleque hipster e pinta de garanhão estrela do rock, estudante de Engenharia Mecânica por escolha dos meus avós.

Eles se conheceram em junho, mas o primeiro beijo foi em outubro, depois da vitória na final do seu time favorito - os LA Dodgers, que também é o meu time - , algumas cervejas de cereja e caminhadas até o dormitório feminino. Eles são mesmo meu casal favorito.

Entrego as casquinhas e digo que irei procurar o stander do fliperama e depois nos reencontrávamos. Eles concordaram e me liberaram.

O stander montado e com o letreiro neon "Planeta 51" não foi difícil de ser encontrado. O exagero nas cores e o tamanho da fila para entrar nele facilitaram minha busca. Não sei quanto tempo passo esperando por minha vez de comprar as fichas, no entanto a espera é recompensada ao ver tantas máquinas disponíveis para mim. Comprei algumas fichas na entrada e sinto alguns olhares sobre mim, entendendo só depois de um tempo indo de uma máquina para outra, que, aparentemente, de garota só havia eu ali. E então o desconforto me bate.

Apesar do constrangimento, é um lugar legal. Namjoon gostaria daquele lugar, mesmo sendo um cabeça dura.

— Inferno de fantasma! Vem aqui comer minha bunda para você ver o socão que te dou, inferno!

Eu jogava Metal Slug, quando ouvi o que parecia ser outra garota, nitidamente irritada na máquina do outro lado, atrás da minha máquina.

Deixo Marco Rossi* ser morto propositalmente por um alien e pendo meu corpo para o lado para ter uma visão do rosto da jogadora esquentadinha. Fiquei curiosa para saber quem carrega uma boca curiosamente tão suja.

É mesmo uma garota e sorrio com o óbvio. Seu rosto é adorável e sua pele morena é muito bonita, fazem todo o contraste com as tranças rastafári e maquiagem.

— Encantadora... — Sussurro para mim mesma com sarcasmo, ainda que sendo sincera, mas parece que foi o suficiente para chamar sua atenção. Ouço outro palavrão sair de sua boca carnuda e acho graça como alguém tão pequena pode ser tão estressada. Talvez tenha perdido a partida outra vez. - Não precisa descontar na máquina toda sua frustração. Ela não tem culpa se você não sabe jogar.

Falei, chamando sua atenção. Mas parece que ela não gostou muito.

— E o que você tem a ver com isso? Não se mete, garota. — É notório o deboche em sua voz. Atrevo a me aproximar mais dela e noto que há um pequeno band-aid da Hello Kitty perto de sua sobrancelha. Adorável.

— Alguém que talvez possa te ajudar a passar de nível? — É uma pergunta retórica e por ter visto que ela entendeu o que eu disse, tomei seu silêncio para prosseguir. Vejo que joga Pac-man. — Não usa o joystick da esquerda. Ele é lento e só vai te atrapalhar. E quando um fantasma chegar perto, você tem que apertar o botão mais rápido e não com violência.

Ela parece entender tudo o que digo e logo faz.

— Puta merda! Eu consegui! — Comemora um tanto excitada, quando eleva seu nível sorrio simplista. Trocamos um high five. — Mas eu não vou pedir desculpas pelo palavrão.

Dou de ombros, mas não volto a minha máquina.

— Sou Arabella Pierce.

— Como na música?

— Sim, como na música. - Ela estende sua mão e entendo que é mesmo uma apresentação.

— Jill Valentine. — - Aperto sua mãozinha. Céus, ela é tão fofa e pequena, mas violenta!

— Como em Resident Evil?

— Pois é, não dei sorte de ter um nome do indie como você, mas tudo bem.

Ela bebe um pouco do refrigerante que está sobre a máquina antes de continuar. Ela usa canudos, sério? Não preserva pela vida dos animais marinhos?

— Seu sotaque não é daqui. - Ressalta o óbvio.

— Cheguei na cidade faz duas semanas.

— Conselho de quem está aqui há muito tempo: não se mete no problema dos outros, como você fez. Sua sorte é que estou de bom humor, mas nem todos encaram isso com bom humor.

— Obrigada pelo conselho, mas é um mau costume. - Dou de ombros e ouço seu sorriso debochado.

— Então, Jill Valentine, se você quer se dar bem em Nashville, aconselho cortar esse mal pela raiz. O mundo por aqui ainda é muito oportunista.

Faço uma nota mental, torcendo para que nem todos os moradores daquela cidade sejam como Arabella, alguém direto e difícil de lidar — ao menos sei que alguns dos meus vizinhos não são como ela.

Arabella não parece ser uma garota qualquer e muito menos receptiva. Seu olhar demonstra tudo isso, mas não sinto a mínima vontade de me afastar de sua presença, ainda que eu não saiba o que se passa pela sua cabeça sobre mim. Talvez me ache ingênua ou intrometida, não faço ideia e também não tenho o interesse de saber.

Me ofereço para lhe fazer companhia nos jogos, como a única garota ali e ela não parece gostar da ideia, mas dar de ombros.

Eu ensinava a Arabella como jogar Sunset Riders* - ouvindo alguns palavrões e rindo de seu temperamento esquentado todas as vezes que socava a máquina velha e eu precisava a impedir de quebrá-la - quando uma movimentação diferente começou pelo fliperama improvisado.

Havia um acúmulo de garotos e adultos na máquina do Mortal Kombat III e imediatamente lembrei da minha promessa de que venceria o papai. Ele é incrível, não tanto quanto eu, mas poderia ser ele ali chamando a atenção de muitos.

— Nem pense nisso.

Arabella chamou minha atenção. Ela tem o canudo do refrigerante na boca outra vez.

— No que?

— Em ir até aquele cara. - Ela aponta para a máquina do Mortal Kombat e pude ver que não era o papai. Era um cara de moletom grande demais para o seu corpo e uma máscara patética escondendo seu rosto. - Você parece ter um ego alto para jogos, mas não ferra ao tentar ir desafiar aquele enrustido.

— Ele é gay? - Arabella engasga com o refrigerante, sujando sua calça e falou outro palavrão.

— Que caralho, o quê? Por que acha isso?

— Enrustidos não são gays que se negam a assumir? - Ela me olha incrédula e eu me sinto perdida.

— Eu não sei se ele é, mas mesmo que seja, não foi nesse sentido, caramba! Quis dizer porque ele sempre anda todo escondido, como um enrustido que tem medo de assumir, mas no caso dele é revelar o rosto. Há boatos de que ele deu uma surra no único cara que já viu seu rosto e nunca mais se ouviu falar no cara saco de pancadas. Tipo um bicho-papão, sabe?

— Que sem sentido! Que tipo de pessoa tem medo de se mostrar quem é? Não quer admitir ser um geek, é isso? — Uma crise de risos me invade, o que a assusta com o som estranho que sai de mim. — Mas quem é ele afinal?

— Nem todos conseguem encarar o que a realidade traz ao revelar uma verdade, Jill. Ninguém sabe quem ele é, mas todos o chamam de Jackpot. Ele é como um deus do fliperama. Todos os recordes aqui são dele.

Me assusto ao ouvir o mesmo nome que vem me atrapalhando em todas minhas contas on-line há dias! Em todas as máquinas que fui, vi no ranking aquele mesmo nome, mas achei que fosse delírio. Qualquer um poderia usar ele, afinal. Mas vendo daqui aquele cara jogar com maestria, meu ódio reconhece ser ele mesmo. Não que eu tenha um radar interno, mas é exatamente o que meu radar maldito quer dizer e só posso tirar a certeza jogando contra ele.

Vem roubando meus tesouros, destruindo minhas estratégias, me importunando como feiticeiro ou guerreiro. Estava sendo um real inferno para mim e Namjoon conseguir XP por culpa dele.

— Não ferra...

— Eu não falei palavrão, garota. Acha mesmo que eu brincaria com essa merda? Aquele cara é um pé no saco! Vem, vamos ver o deus babaca agindo. - Arabella me segura pelo pulso e vamos até onde ele está. Mas na verdade eu estava indo pela força do ódio.

Ele vem mesmo tirando minha paz, porque tudo o que eu tenho de mais sagrado é a minha vida de otaku e o beisebol. Kim Namjoon já não aguenta mais ouvir meus murmúrios sobre as várias formas que desejo esganiçar o indivíduo Jackpot, e agora tendo a oportunidade de enfrentá-lo no jogo que me dou tão bem, não pode ser desperdiçada. É como jogar fora a bênção de Deus.

— Eu vou lá. — Digo e Arabella me olha como se eu fosse maluca.

- Não, vai não. - Ela balança tanto sua cabeça que me sinto tanta por ela. - Olha, nós não nos conhecemos, mas eu prezo pelo orgulho de um jogador como você.

- Sério? Você quer me impedir de ir lá?

- Que se dane! - Ela suspirou irritada - Eu ainda não vi alguém quebrando a cara hoje. - Ela abre espaço para eu passar. - Vai ser prazeroso.

Empurro algumas pessoas, abrindo espaço até o cara de moletom preto. Ele não me nota quando paro ao seu lado. Está concentrado demais nos controles do Liu Kang* para notar minha presença ao seu lado. Ouço alguns burburinhos por perto, talvez me xingando por estar na frente de uns ou por ser tão atrevida de olhar com tanto deboche para o jogador favorito deles.

Que se dane.

Observo o semblante concentrado daquele que carrega meu ódio. Seus olhos são grandes, mesmo que seja dono de traços asiáticos e sua franja negra caindo sobre eles. É tudo que consigo ver, além das tatuagens que marcam suas mãos, são algumas letras, y no mindinho da mão direita e d o nos primeiros dedos da esquerda. Se antes eu já não conseguia ver nada, depois que ele puxa as mangas para baixo elas ficam ainda mais escondidas.

Eu não estava no meu melhor juízo. Sei que querer desafiar alguém sem conhecer é uma completa idiotice. Namjoon, com certeza, acharia minha atitude infantil e idiota, mas é por isso que o "impulso" existe, hm?

- Aposto vinte fichas que ganharei de você.

Digo, na primeira oportunidade que tenho, ao vê-lo ganhar e comemorar com um toque de mãos com um cara qualquer ao seu lado. Ele tem seus olhos sobre mim e ouço sua risada ser abafada pelo tecido da máscara da boca de um tengu.

- Não tenho tempo para blefes, tampinha.

Um calafrio percorre por minha espinha, logo, me causando um enjoo. Há anos eu não ouço alguém me chamando daquilo e não me senti bem com toda aquela nostalgia.

Dez fichas no mundo de fliperama é algo bem "rico" para se ter, então entendo seu lado por achar que eu estava blefando. Para provar que tenho todas comigo, jogo todas sobre o joystick da máquina ao nosso lado.

- Não é um blefe! - Aponto o óbvio.

- O que te faz pensar que pode me vencer, garota? - Sua voz é abafada, mas é notório todo o seu deboche.

- Intuição. - Dou de ombros e ouço sua risada.

- Vamos ver se a sua intuição é boa mesmo. Vai ser melhor de três.

Ele escolheu Scorpion e eu Jade.

A partida começou acirrada, mas eu não peguei leve. Eu estava literalmente jogando com a força do ódio, assim, ele ganhando o primeiro round e eu no segundo.

Eu almejo a vitória, é questão de orgulho e reputação a manter - mesmo que por aqui eu ainda não tenha uma. Mas parece que a vitória não quis dar as caras a mim hoje. Quando Fatality surgiu, já era para mim. Não fiz questão de olhar para o meu oponente, porque mesmo com uma máscara e seja lá quem seja, ele deve estar rindo bastante de mim.

Ele guarda as fichas no bolso de sua calça, ali formando um volume pesado. Suspiro decepcionada. Eu jurava que iria ganhar!

- Quero uma revanche!

Ele ajeita a máscara patética no rosto e se abaixou até ficar rente ao meu rosto. Ele está muito perto e posso sentir entre o cheiro característico de suor e outro nele, como uma colônia. É cítrico, algo como canela e vanilla. Tão bom que eu poderia me deixar levar por toda aquela áurea doce num cara tão cheio de marra.

Por um instante, me senti deslocada com aquele olhar negro e brilhante como uma noite estrelada me encarando de forma intensa.

- Aceita a derrota, boneca. - Sussurrou e notei que sua voz está diferente. Eu engoli a seco. Está mais preguiçosa e mais grave do que antes.

- Mas eu sei que posso te derrotar! - Reuni forças para dizer.

- Reconheço que você é uma boa jogadora, mas você não pode. - Seu rosto ainda estava tão perto do meu e seu cheiro é tão bom, e eu pude ver uma mecha do seu cabelo ondulado sair de dentro do capuz e cair sobre seus olhos, quando ele virou a cabeça para o lado e a curva de um sorriso se formou no tecido da máscara. - Porque eu já estou de saída.

Jackpot saiu e me deixou refletindo sobre como a minha derrota foi a coisa mais idiota daquela noite. Eu só pedi uma chance de revanche, mas ele me ignorou completamente. Me sinto uma completa otária. Que a vida gosta de me fazer de otária. Deve ter algum prazer a mais de gozar na minha cara, sou suspeita a falar.

Cai na real e lembro de que não estou em meu quarto para refletir tranquilamente. Vejo que já não havia mais nenhum seguidor daquele marrento por perto, então procuro por Arabella. Ela estava do outro lado do corredor, apoiada em uma máquina qualquer, com um copo de refrigerante em mãos e o canudo entre os lábios.

Arabella ria. E algo dentro de mim diz que ela só rir com a desgraça alheia, que no caso, é a minha.

- Eu te disse, não foi?

Reviro os olhos, ignorando suas palavras. Meu orgulho já teve sua cota de humilhação atingida ao máximo por hoje para que eu tenha forças de falar mais algo.

Me despedi de Arabella, torcendo para que nos esbarramos alguma outra vez por aí. Ela apenas deu de ombros e sua "simpatia" contagiante comoveu meu coração.

Não encontro meus pais perto da roda gigante e muito menos nas filas dos outros brinquedos que pensei que estar. Tentei ligar para eles, mas só dá caixa postal.

- Ótimo sábado a noite para você, Jill... "Vamos sair um pouco, respirar ares diferentes. Vista algo legal e vamos!". Uau, muito conveniente estar perdida num sábado à noite, mamãe.

As palavras de mamãe saiam da minha boca com deboche.

Procuro dinheiro nos bolsos da minha calça e ainda encontro algumas notas para comprar churros, já que meus pais não respondem minhas mensagens.

Espero na fila para comprar meu amado churros quando algumas pessoas passam correndo em direção ao telão. O casal a minha frente trocam comentários sobre o próximo filme começar em alguns minutos, e uns caras ao meu lado dizem ser o provável filme mais esperado do festival.

Com a curiosidade a flor da pele e um churros de canela como consolação para meu orgulho partido, sigo o fluxo de pessoas até o telão. Há mais toalhas estendidas e carros estacionados por perto do que antes. Sem muito espaço entre as pessoas, sentei no capô de um mustang vermelho.

Uma clichê contagem regressiva inicia na tela negra e um coral de grito de adolescentes animados, começa. Me assusto quando quando o zero chegou e quase todas as luzes do parque se apagam, apenas como exceção aquelas poucas que brilham acima de nós. Um silêncio reinou entre nós e notas de ukulele sai das caixas de som.

O filme começou com uma mão fazendo o sinal do rock e com a placa de boas vindas da cidade ao fundo, e um corte de imagem pulou para um tour a pé pela cidade. Lugares que cheguei a visitar durantes as duas semanas que já passaram e outros que sequer imaginei existir, como a barragem assustadora do rio e o orfanato desse take.

A câmera passou pela portaria e correu pela enorme casa, indo direto ao jardim dos fundos, onde havia crianças de todas cores e idades. Não se pode ouvir os gritos por causa da música de fundo, mas é notável a euforia em cada rostinho ao ver aquela câmera ser apontada para eles, que logo correm em direção a câmera ao notá-la, fazendo com que ela e quem a segura, caiam no gramado. Mas a câmera pegou tudo de um ângulo desajeitado, tornando a cena ainda mais espontânea. O jeito que elas parecem gostar da maneira diferenciada que recebem atenção e carinho do cara deitado na grama e sendo atacado por abraços e cócegas, é diferente, mas nitidamente boa.

Seja lá quem for ele, sabe perfeitamente o que fazer uma câmera.

Outro corte de imagem e um café é servido por um cara de cabelos azul e uma coleção de tatuagens bonitas por toda extensão dos braços. Ele parece resmungar algo para a câmera por ter zoom em seu rosto vermelho por estar constrangido. Alguns comemoraram a participação de seja lá quem ele for. Mais um corte depois e outra passagem pelas ruelas de Nashville e um armazém hippie aparece. Há uma senhora de vestes tão coloridas no balcão e sorri com seu espírito nem um pouco velho. Ela sorrir abertamente e abre os braços para abraçar a câmera.

O filme é nitidamente caseiro e o tour segue para vários outros pontos da cidade. Um cara maluco pulando de uma árvore para o rio Cumberland à um casal fofinho de idosos dançando na varanda de casa ao pôr do sol.

As cenas não são artificiais e muitos menos digitais, como foi algumas outras animações gráficas. É um despojo natural de toda Nashville e isso faz as cenas serem ainda mais graciosas. Não há nada de exagerado ou pré-gravado. É do jeito que é e ponto.

A expressão de cada uma delas ao ser recebida e saber que estava sendo filmada, é como ser bem recebida e adorada por todas. De certa forma, eu pude sentir que aqueles sorrisos são na verdade para todos que assistem ao filme.

No fim de tudo, não teve o rosto de quem tudo filmou, revelado, e nem seu nome. Apenas a mesma assinatura do início: O sinal do rock com o brilhar das luzes do parque de diversões ao fundo.

Aplaudo o trabalho como todos os outros que ali estavam e sigo meu caminho de volta em busca dos meus pais.

Deixo um suspiro alto sair por meus lábios e me deito num banco de madeira debaixo de uma árvore qualquer, longe da música alta e aglomerado de pessoas e chequei minha caixa de mensagens: vazia, e tudo que me resta é esperar.
Kim Namjoon sentiria decepção dessa imagem de garota deplorável que hoje me vesti. Agora mesmo, eu estaria ouvindo um longo discurso seu sobre minha moral e como eu não deveria ter sido impulsiva em relação ao Jackpot.

Mas quem se importa? A merda tá feita e agora só me resta abanar o fedor. E nada que uma boa e tardia vingança gamer não resolva.

Vai tudo ficar bem. Na base do ódio, mas sei que vai.

É inevitável não achar tudo isso uma grande merda do destino. Isso tudo é um saco. Minha vida está um saco e não posso seriamente reclamar, eu acho. Adolescentes tem dessas, não é? O que está ruim que não pode ficar pior, hm? Só espero que esse pior não chegue tão cedo. Eu não considero minha vida uma vida ruim. Ela só é tão comum ao ponto de ser entediante.

Na verdade, ela não era tão entediante quando eu ainda tinha meu melhor amigo e meu irmão.

As luzes encontram outra paleta de cores no ritmo que piscam ao seguir as novas músicas que tocam na rádio do parque. Os minutos passam e nenhum sinal dos meus pais.

Sinto meu corpo morgado e minha mente surtada. Eu não consigo imaginar que meus pais possam ter me esquecido aqui, mas é exatamente o que aconteceu. E tudo o que eu menos queria nesse momento é estar perto de um diálogo depravado de casal atrás de uma árvore aqui perto e quase prometi a Deus não comprar chocolate por um mês, mas eles foram embora antes disso e meu orgulho ferido de solteirona agradece.

-Boo, volta aqui! Eu vou contar até três para voltar ou eu ligo para o seu pai, mocinha! - Uma voz grave chama minha atenção e vejo o cara de cabelos vermelho vivo de mais cedo. Ele tem um sorriso enorme no rosto e risos alto saem de sua garganta ao correr atrás da garotinha de cabelos escuros e do seu amiguinho.

O garoto cabeça-vermelha corre mais um pouco atrás da pequena e a leva aos ares, quando a segurou pela cintura e jogou para cima. Senti meu coração quase sair pela boca e logo me peguei rindo com algo tão bobo.

A cena me fez lembrar de quando Roy ainda estava por perto e só então que percebo que a última vez que vim a um parque de diversões foi com ele. Todas as minhas melhores aventuras eu tive Roy ao meu lado.

Meus dedos percorrem o metal frio da gargantilha de girassol preso em meu pescoço e abro o fecho para ver com cuidado a inicial gravada dele atrás. Um R mal feito, pois ele só tinha onze anos quando nosso falecido avô o ensinou a manusear jóias delicadas como essa.

Volto o olhar para a cena dos três brincando na grama. É tão engraçada que até consegui ignorar o tanto de folhas que não param de cair sobre mim, por um tempinho.

Não há vento sequer, apenas um brisa quase inexistente, mas nada que venha cair tantas assim. Passo os dedos por meus cabelos e outro punhado de folhas caem em minhas mãos. Que droga de árvore é essa?

Ignoro outra vez e minutos depois outras caem em mim. Ok, tinha álcool naquele churros? Tô começando a delirar que uma árvore possa estar de sacanagem comigo? Porque elas não têm vida própria e muito menos boca para cantarolar The Smiths.

Sei lá, é diferente o jeito que o destino me odeia com muito deboche.

Há um garoto sentado no galho da árvore e é ele quem tanto balança os galhos que faz as folhas caírem em mim, mas a questão nem é mais sobre o matagal em meus cabelos, mas sim o garoto que ali está, com a aquela maldita máscara de tengu presa nas orelhas, mas abaixada na altura do seu queixo.

Um riso sai de meus lábios expressando a incredulidade que meus olhos enxergam por não acreditar no que vejo. Os mesmos olhos grandes e brilhantes, agora repletos de tranquilidade que nem parece ser quem vem trazendo minha ruína, sentado sobre um galho grande acima da minha cabeça, enquanto balança suas pernas como uma criança.

O diabo consegue ser muito astuto e nem vi ele chegando.

Jackpot parece não ter me visto, mas agora, sem nenhum capuz para esconder seu semblante - pois o moletom está embolado em seu colo - , o que me resta é a visão de um rabo de cavalo mal feito, deixando com que as pontas soltas do seu cabelo quase toquem os ombros expostos pelo que antes arrisco dizer ser uma clássica camiseta do KISS, agora não passa de uma regata de mangas rasgadas.

Sem a máscara cobrindo grande parte do seu rosto como horas atrás, eu posso livremente ver, deitada nesse banco de praça, seu rosto moreno e os lábios concentrados na letra e toques de There Is a Light That Never Goes Out que saem dos seus fones de ouvido.

De onde está, a luz não bate tão bem, então não posso ver o que há desenhado na parte interna de seus bíceps, quando os apoiou atrás da cabeça. Não há muitos desenhos como imaginei que teria por debaixo daquele moletom horroroso que antes vestia. Só vejo a que há no braço esquerdo e as letras que cobrem seus dedos.

Não quero dar meu braço a torcer, mas estava sendo bom ver o rosto bonito do garoto que com certeza vai muito além do costumeiro "cravos, espinhas, hormônios" dos adolescentes. Ouvir aqueles barulhos estranhos saindo dos seus lábios que não se pareciam nem um pouco com o tom que Morrissey alcança e por alguns segundos eu me deixei ser levada pela imagem do garoto distante que está bem ao alto de mim.

Eu nunca me atreveria a dizer que ele é um anjo, não mesmo. Certamente, anjos não têm essa aparência atrevida e uma língua solta como Jackpot tem e só então caio na real sobre quem estou encarando.

Sem pretextos plausíveis, sinto que o desespero me invadiu ao ver que ele está prestes a descer da árvore e me ver também. O que ele faria, caso saiba que agora sei qual é o seu rosto? Afinal, eu não sei quem ele é! Pode ser só mais um cara tímido ou um maluco e eu torço muito para que não seja a segunda opção!

Me levanto rápido do banco e me afasto alguns passos, indo em direção ao parque de diversões outra vez.

Olho uma última vez para trás, antes de ir embora de uma vez, mas já é tarde. Jackpot está em pé no mesmo banco que antes eu estava deitada, me encarando com aqueles olhinhos grandes e cogito dizer que havia uma mistura de surpresa e raiva, mas nem ferrando que eu fico aqui para descobrir.

- Ei! - Ouço seu grito me chamar, mas não paro de correr até que ele me perca entre os brinquedos e pessoas. - Boneca, espera!

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Me desculpem qualquer erro! Revisei várias vezes, mas a visão humana não é perfeita e nem mente de assalariado cansado haha! Bjs&hugs

Glossário

*Metal Slug é uma série de jogos de tiro estilo plataforma. Os jogos da série geralmente lidam com a luta contra o exército do general Morden e também contra extraterrestres (Um dos favoritos que marca a infância da autora! Haha).

*Marco Rossi é um dos personagens principais da trama do jogo. Ele é um soldado da Peregrine Falcon Squad;

*Sunset Riders é um dos jogos em dupla (que vai até quatro) árcade mais conhecido no mundo do fliperama. Assim como Moonwalker (do Michael Jackson) e Teenage Mutant Ninja Turtles.

*Mortal Kombat é uma série de jogos conhecida pelos altos níveis de violência sangrenta, incluindo mais notavelmente, as Fatalidades.

*Liu Kang; Scorpion e Jade são alguns dos personagens principais da trama do jogo.

A música do filme caseiro que encerrou o festival é Elephant Gun (Beirut), para quem se sentiu curioso em saber. Aliás, ela está na playlist da fanfic no Spotify! No "volume 1" da "fita JJK"

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