— Que merda em André. Se apaixonar logo por uma garota que estava prestes a viajar.

Agora pense que quem disse esta frase não fez questão de engolir a comida dentro de sua boca.

Pois é. Ouvi de modo abafado a comédia de Bianca.

— Você puxa os piores assuntos para um rodízio Bianca.

— A Bianca tem razão. — O homem e ela deram um tapa de alto e bom som com a palma das mãos.

— Inclusive, por quê estamos num rodízio. Caro. Com o Seu Eraldo!?

Sim, o homem era Seu Eraldo.

Pode parecer piada, mas ele até que estava bem limpinho, tinha se arrumado bem.

— Ele é um morador de rua André, o mínimo que você pode fazer é pagar pelo rodízio dele.

— Pagar?

O zodíaco não só me pregava peças no amor, mas nas minhas amizades também. Não me fiz de maneira ríspida para com ele, pelo contrário, mesmo que super aleatório que tenhamos levado um morador de rua para comer no rodízio, ainda me sentia bem.

Fui naquela balada diversos finais de semana, por diversos anos, sempre vi na rua, bebendo tão enlouquecidamente como eu, querendo apagar as mágoas.

Seu Eraldo acima de qualquer classe social era um ser humano.

— E por que você mora na rua Seu Eraldo?

— Vim para cá tentando dar uma condição de vida melhor para minha esposa e filho que estão lá no nordeste, mas fui demitido.

A resposta apagou a nossa motivação para comer.

Naquele momento aprendi que existe história por trás das pessoas, histórias que não surgem de nossas cabeças. Histórias mais dolorosas do que amores não correspondidos ou tristezas cotidianas.

Me dói a história de Seu Eraldo.

— A Bianca não mentiu não, foi um baita azar seu — Ele envolveu seu braço ao meu corpo magro — Mas hoje, é seu dia de sorte. — Tocou de modo singelo meu queixo, direcionando o rosto para um ponto específico.

E de lá pude ver, aquela coisa linda e voraz devorando tudo que via pela frente.

Com seu queixo arredondado. Em seu septo havia um piercing dourado, enquanto na orelha, três prateados. Seu corpo não era o que todos chamam como escultural.

Mas eu chamei. Com suas dobras por todo torso, aquela garota era de uma delicadeza sem igual.

Não dobras tipos curvas.

Sendo mais simplista... Ela é gorda.

Nunca entendi o tabu por trás desta palavra, mas acho que não é algo que eu deva me aprofundar.

E ela era linda, de se pensar que talvez eu não a achasse assim se fosse de outra forma.

Me vi casando com aquela garota, que ria de piadas que eu não conseguia ouvir. Que tinha seu brilho próprio.

Como se o universo não fosse nada sem ela.

Como se eu não fosse nada sem aquele momento.

— Seu Eraldo — Tirei sua mão de meu queixo. — Dar em cima de alguém num rodízio não faz o mínimo sentido.

— A, pronto. — Bianca se inclinou na mesa — André, mulher nunca quer ouvir cantada de macho, vocês só nos encontram em momentos frágeis, tipo bêbadas ou comendo.

— Essa é a deixa garoto, ela olhou para você.

Quando me virei vi que realmente ela havia traçados seus olhares a mim.

E no rodízio, sem muitas opções e por motivação dos meus melhores amigos. Começou minha nova saga.

O meu amor a garota de Touro.