Touro 2
Sabe aqueles diálogos únicos que você tem com a sua segunda personalidade?
Tipo quando você luta para ter bons argumentos, para quebrar os seus próprios argumentos. Sabe?
Aquele ser dentro de você que só serve para discutir.
Infelizmente, tem horas que ele está certo.
"Que merda você está fazendo André?"
Era essa a pergunta que eu fazia a mim e não sabia responder. Bem, acho que quando se chega ao ponto de se perguntar isto, ninguém sabe.
Queria chorar em posição fetal e ser levado pela minha mãe naquele momento.
Mas não.
Estava lá, eu, André, numa competição de quem come mais contra a garota que queria conquistar.
— Prontos? — Bianca falou de modo motivacional com um sorriso largo no rosto.
Quem diabos deixou ela ser juíza?
Precisa de juíz para isso?
"Que merda você está fazendo André?"
Meu outro eu questionou novamente, quer me fazer chorar o desgraçado só pode.
Lá estava ela na minha frente, esperávamos as pizzas. Seus amigos prontos para ver aquele combate com seus copos cheios de refrigerante, enquanto eu, Bianca e Seu Eraldo tínhamos pedido chopp.
Talvez devêssemos pensar no nosso consumo de álcool.
— Se eu ganhar posso te chamar para sair? — Falei com o rosto mais vermelho que a calabresa que havia sido servida em nossos pratos.
Ela me fez uma careta e depois deu uma piscadela.
— Quem sabe.
Pensei que taurinos fossem mais fáceis.
Cadê toda aquela simpatia de que se conquista o taurino com conforto e prazeres carnais?
Aparentemente ela não ia querer um parceiro que fosse ruim em comer muito no rodízio. Aliás, nem eu ia querer.
Uma pizza veio atrás da outra.
Fatia de número cinco? Doze? Bianca por acaso está contando?
— E o que você faz?
— Sou modelo plus size, e você?
Bem, ela disse modelo, é normal se sentir um pouco "simples" depois dessa palavra.
— Estudante de geografia. Conhece o mito da floresta intocada? Cujo não existe uma natureza ou ambiente ecológico não tocado pelo homem?
— Você dá em cima das pessoas assim?
— Faço isso quando estou nervoso.
Na verdade estava estranho faz um tempo, massa e cerveja estavam fazendo meu pequeno estômago explodir.
"Dou três meses."
"Tá doido Seu Eraldo? Cinco provavelmente."
Sim, eles estavam conversando sobre eu estar gestante.
Meus amigos são bem inconvenientes.
Peguei a maior das minhas inimigas, aquela fatia de pizza subia em câmera lenta a minha boca, mas logo recusei.
Havia perdido. Aplausos estonteantes vieram para a garota. Enquanto a mim só uma incrível vontade de ir ao banheiro.
Queria abortar este filho de merda que há dentro de mim.
Desculpa.
Cagar, acho que só isso basta, cagar.
— Ei, por que ficou interessado em mim? — Ela perguntou antes que pudesse pensar em levantar. — Homens costumam ter fetiches por mulheres gordas, achando que somos os objetos sexuais de um prazer machista. É isso que você é?
É isso que eu sou?
Não....
— Foi o jeito que você se portou com seus amigos... De algum modo sua felicidade era tão contagiante que me fez querer fazer parte de você. De ter o privilégio de ouvir sua risada.
A fala dela me lembrou de uma coisa que havia aprendido a minutos atrás.
Pessoas já estão feridas o suficiente por serem elas mesmas. Para que alguém se ache no direito de entrar em sua vida e machuca-la mais.
Não sabia o tipo de homem que era, mas lutava para não ser o tipo que machuca pessoas assim.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro