Câncer 2
Você se sabota?
Bem, eu sei que é um questionamento muito profundo e delicado para se fazer enquanto se está num carro indo em direção a um sítio, mas me peguei pensando nisso.
Pensar que tudo que você pode fazer não vai dar certo, ou que és o problema de tudo. Bianca uma vez me disse que eu saboto meus próprios relacionamentos, e também os meus projetos de vida.
Bem, vendo meu histórico, e olhando para essa linda praia enquanto corremos pela estrada.
Talvez ela tenha razão.
Fracassar é algo inexistente. Minha mãe me disse uma vez.
Não existem falhas, apenas resultados.
Se é difícil chegar em um objetivo mesmo que você tente, é impossível chegar em algo se nunca tentar...
As vezes, tentar falha pode ser seu maior acerto…
— André? — Pude ouvir algo soando como um eco no meu subconsciente — ANDRÉ! — Até que me deparo com minha amiga me chamando. — Está pensando em algo profundo não é bicha? Sempre que tu faz essa cara é certeza que tá pensando em algo chato.
Bianca sabia tornar minhas questões filosóficas um tédio.
E não por mal, realmente contemplar a vida é algo mais singelo e prazeroso do que questioná-la.
Medos te fazem perder minutos. Seu Eraldo disse uma vez.
E ali… vendo Bianca sentada no carona daquele carro, aos mimos e beijos no rosto de um guri que mal conheço. Pude perceber as nossas diferenças.
Invejava a entrega de Bianca.
— O casal pode parar de quase transar aí na frente? — Sim, eles estavam se tocando em tais lugares — Eu nem conheço o garoto para vocês estarem com essas graças.
O pivete riu, Bianca tentou não rir para se mostrar contrária a minha fala.
Mas seu rosto esboçou nitidamente satisfação.
— Toma — Ela tirou de uma bolsa térmica abaixo de suas pernas uma lata de cerveja. — Respira aí.
— Vendo a quantidade de vezes que a gente bebe, acha que a temos quanto tempo de vida?
— Para de graça André! — Bianca repudiava qualquer assunto sobre a morte. Creio que tivesse medo. — Mas acho que uns vinte anos por aí. Bastante tempo!
Bastante tempo? Temos vinte anos, nessa matemática íamos morrer aos quarenta. Posso ser safado, mas quero constituir família até lá.
Que bom que Bianca era péssima com previsões. E com matemática também.
A pista possuía largas curvas, todas dão o vislumbre do beira-mar, as ondas fortes iam de encontro a areia numa colisão truculenta, como dois corpos que lutam para amar um ao outro.
Com seus sentimentos fortes, e toques delicados.
Semelhante a alguém que parece te golpear com palavras e gestos tão afáveis, de um modo tão delicado e gentil.
Até porque, ninguém merece migalhas.
Viramos em uma rua que bifurca da estrada, me tirando dos devaneios das ondas do mar. Colocando minha própria pessoa no inferno que era ter que ouvir aquele pagode sem graça.
Amo pagode, mas nem todos atualmente são bons.
Uma seleta rua com diversas casas apareceu em minha nova paisagem. E o carro reduziu sua velocidade para respeitar o limite da localidade.
Estávamos chegando, indo a um ponto onde problemas cotidianos são esquecidos, e a bebedeira se torna mais comum do que respirar.
Sim, como havia dito antes para vocês, tudo numa segunda-feira.
Até que lá chegamos, em frente a uma casa de garagem aberta, com um churrasco prontamente sendo feito pelos amigos do atual "ficante" de Bianca.
Garotos com braços fortes e barriguinha de chopp. Uma combinação mais linda do que abdômen de tanquinho.
E meninas com cabelos dreads, fumando maconha a beira da piscina.
Acho que ali iria começar.
Dessa vez, não o meu inferno astral.
Apenas
Minhas segunda-feira…
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