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𝐗𝐗𝐗𝐕𝐈: 𝐕𝐨𝐥𝐭𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐜𝐚𝐬𝐚ʳ


Espero que gostem ~

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      Embora a mira e o tiro certeiro, as lembranças tiveram um efeito contrário em Annie, ao invés de estar contente por ter acertado ela se sentia sufocada. Entrou novamente no carro, o coração disparado e a respiração ofegante como se não conseguisse respirar. O garoto que conduzia o carro gritava animado, encarando-a com admiração e surpresa enquanto tentava manter a atenção no carro e no caminho. Os soldados de Mattie cuidaram dos outros carros, mataram os soldados do CRUEL restantes e finalmente pararam aquela corrida.

     Todos saíram e se juntaram para conversar ou apenas respirar, o garoto saiu correndo e começou a contar com animação e um largo sorriso sua experiência com Annie e o que eles tinham feito. A garota, por outro lado, se manteve no carro com a testa apoiada no painel enquanto respirava fundo. Ela sentia seu corpo suado, grudento e cheio de grãos de areia. Aquela sensação era incômoda, pinicava e sua pele ardia, além de se sentir pegajosa com o suor e sangue. As lembranças preenchiam sua mente com imagens e sensações, sua respiração não melhorava e seu coração ainda estava acelerado. De longe, Mattie soube na hora o que estava acontecendo e se aproximou dela. Abriu a porta do carro e a encarou, encolhida com os olhos fechados com força, e então disse:

 — Você lembrou. – seu tom não era de pergunta, pelo contrário, ele afirmou aquilo só de vê-la. Annie não respondeu e isso o fez suspirar, Mattie segurou o braço dela e a puxou para fora do carro. Seus braços envolveram o corpo da garota, uma de suas mãos estava na cabeça dela e a pressionava suavemente contra seu peito enquanto a outra mão descansava em seu ombro. – Acabou. Tudo acabou. – ele sussurrava em seu ouvido. – Acabou.

      Após alguns instantes, Annie finalmente respirou fundo e seu corpo relaxou. A respiração que estava acelerada, enfim, relaxou e os batimentos cardíacos diminuíram. Seus membros relaxaram da rigidez dolorida, então seus braços envolveram a cintura do homem e ela o abraçou com força. A mente relaxou fazendo as imagens pararem de surgir, ela conseguiu ouvir os sons a sua volta, como o vento que soprava forte e as conversas animadas entre os homens ali perto. Ela soltou Mattie e os dois não disseram uma palavra, afinal não era necessário, e andaram em direção aos outros. O grupo ali conversavam, contavam suas experiências um para o outro enquanto outros vasculhavam os carros do cruel em busca de coisas úteis.

 — Chefe! – um homem de cabelos ensebados e longos até o queixo se aproximou, tinha alguns fios em suas mãos e mostrou para Mattie – Nós achamos isso! Os carros tinham rastreadores.

 — Se há rastreadores, então eles sabem que estão aqui. – Annie comentou olhando para Mattie – Podem estar vindo mais. Talvez até mandem um Berg.

 — Tem razão. – Mattie balança a cabeça – Peguem os carros e levem para a base. Deixem os mecânicos desmantelarem e usarem o que for útil. Vamos voltar! – e exclamou a última frase em tom autoritário. Os homens balançaram a cabeça e correram para os carros.

      Annie ficou ali, parada, observando-os sem saber exatamente o que fazer. E então uma voz jovial lhe chamou:

 — Ah, Annie? – era o garoto novato.

 — Novato. – ela o encarou – Para alguém que nunca dirigiu, você mandou bem dirigindo o carro. Foi impressionante. – o elogio de Annie fez um largo sorriso se abrir no rosto do garoto – Qual seu nome?

 — Sam, me chamo Sam. – ele sorria um pouco nervoso, Annie sorriu daquela postura e então bateu amigavelmente em seu ombro.

 — Vamos embora.

        A volta foi tranquila. Nada de novo e nem sequer um soldado do CRUEL. Annie estava junto de Mattie, sentada no passageiro enquanto usava sua faca para limpar a sujeira e sangue seco debaixo de suas unhas. Nenhum dos dois dizia uma única palavra. O sol sumia no horizonte levando consigo a luz e o calor, o vento frio já soprava pela janela bagunçando seus fios úmidos de suor. Após horas em silêncio, ela finalmente perguntou:

 — Quantos dias se passaram?

 — Uns quatro dias. – ele a encarou – Por quê?

 — Nada. Só estou perdida no tempo.

 — Você nunca se importa com o tempo que ficamos longe da base. Por que agora quer saber?

 — Porque eu perdi a noção do tempo. Qual o problema?

 — Suspeito, Annie, muito suspeito!

 — A gente vai para a base ou vamos para outro lugar? – perguntou mudando de assunto e ignorando aquele sorrisinho de lado nos lábios de Mattie.

 — Nossa função era ir até aquele grupo e saber que merda tinha acontecido. Só. Sabemos que merda aconteceu e podemos voltar para informar Lawrence.

 — A volta levará quantos dias mesmo?

 — Uns dois dias. – deu de ombros – Temos que ver se temos gasolina o suficiente.

 — Qualquer coisa é só tirar dos carros do CRUEL, deixamos eles em um lugar e voltamos com outro pessoal para pegar.

 — Isso mesmo. 

       Annie apenas suspira e se ajeita no banco. Seus dedos giram o cabo de faca uma última vez, leu as letras "R&B" gravadas de maneira mal feita e então respirou fundo. Guardou novamente a faca e tentou dormir.

*

" R e B, essa será nossas letras! Com elas conseguiremos encontrar e reconhecer uma a outra em qualquer momento, okay?" 

"Mas o que significa?"

Uma risada soou no fundo da sua mente, jovial e agradável, era uma criança. Ela ria com felicidade embora a situação e o cenário do mundo. Ela apenas ria.

*

       O carro deu um solavanco e ela despertou. Mattie continuava dirigindo, abaixo de seus olhos estavam profundas olheiras de cansaço e então ela suspirou.

 — Estaciona. Fala para seu pessoal fazer isso também.

       Ele não disse nada, apenas estacionou no meio do nada e seus homens o seguiram. Annie apenas saiu sem dizer nada, nem precisava, o garoto sabia o que ela iria fazer. O homem de cabelo ensebado saiu do carro preocupado, e então perguntou para a jovem enquanto ela fechava a porta:

 — O que aconteceu?

 — Todos vocês, desliguem o carro. – disse em bom tom enquanto ia para a frente do carro dela.

 — Mas por quê? 

 — Só obedece. Quero que todos vocês descansem. Vou acordá-los antes do nascer do Sol, então iremos para a base.

      Ele a encarou, mas seus ombros relaxaram enquanto respirava fundo. Ele gritou com todos ali, repetindo as palavras de Annie, então entrou no carro e se ajeitou no banco do motorista pronto para descansar. Annie não disse mais nada, apenas sentou no capô de seu carro e ficou observando o nada. O vazio escuro que os encobria era sufocante, quase desesperador, mas ela manteve seus olhos abertos pelas horas seguintes enquanto contemplava o silêncio total.


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