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𝐗𝐈: 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐝𝐢𝐚 𝐧𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨ʳ*



O dia nem sequer tinha começado, faltav aproximadamente uma hora para os primeiros feixes de luz solar iluminarem o horizonte, foi nesse horário que Annie abriu com força a porta do dormitório de Gally. O rapaz despertou em um salto com o barulho, o olhar confuso e assustado, enquanto encarava a entrada e via a garota vestida e com um objeto reluzente nas mãos.

- Bom dia, flor do dia. Pronto para seu primeiro dia no inferno? - um sorriso macabro surgiu nos lábios da garota- Levanta e se arruma, quero você pronto em dez minutos

Sem esperar resposta, a garota apenas se virou e saiu fechando a porta com a mesma força que havia aberto. Gally continuou sentado, atordado com aquilo tudo, mas não demorou muito para se levantar e calçar os sapatos e a jaqueta que havia ganhado de um dos homens que conheceu ali.

Ele esfregou os olhos tirando as sujeiras de reela dos cantos, o cansaço ainda bem notável em eus olhos inchados, mas saiu do quarto mesmo assim. Tudo ao redor era mergulhado pelo azul escuro, aos poucos o horizonte ia clareando, mas enquanto não acontecia ainda era bem difícil enxergar. Mesmo assim viu a sombra da garota encostada na parede, o brilho fraco do objeto metálico em mãos.

- Impressionante. - disse de maneira divertida - Você se arrumou em sete minutos

- O que você quer? - ele perguntou, a voz grossa e rouca por ter acabado de acordar.
- Já disse: primeiro dia no inferno. Mas indo direto aos fatos, sua recuperação foi concluída, embora seu ferimento ainda leve uns dias a mais para curar totalmente. Isso significa que vou te explicar e dizer tudo o que precisa saber.

- Passou dias me ignorando e agora vai me explicar tudo.

- Antes tarde do que nunca.

- E o que é isso? - apontou para o objeto metálico brilhante, embora acreditasse que ela não fosse enxergar o movimento.

- Um presentinho para você. - balançou e pode se ouvir o som da corrente - Mas estou pensando ainda se dou ou não. Vamos!

- Onde nós vamos?

- Sair dessa merda de lugar.

O sol já brilhava alto no céu, os dois não tinham sequer trocado uma única palavra, Annie permaneceu calada o tempo todo, vez ou outra cantarolava alguma canção desconhecida por Gally, sentia o vento entrar pela janela e bagunçar seus cabelos enquanto dirigia. Eles passaram pelas cidades destruídas, passaram pelo deserto e podiam ver no horizonte uma cidade distante da qual se aproximavam.

- Como está se sentindo, garoto? - ela perguntou acima do som do motor, finalmente quebrando o silêncio entre os dois.

- Confuso. - revelou, a expressão atônita olhando toda aquela vastidão quente e desértica - O que... o que aconteceu aqui?

- Não te mostraram, garoto? - ele negou.

- Não. - ele olhava fixo na janela, observando a paisagem desértica - Ninguém explicou nada e eu acreditava que você explicaria, mas você apenas me ignorou. Fora que não me deixavam sair, diziam ser ordens do chefe. *

- Ah! Achei que só eu estivesse castigada a isso. Mas se você perdeu as memórias, não saberá que o sol queimou o mundo. Aumentou a temperatura, acabou com quase tudo e matou bilhões de pessoas. Só que isso não foi a única coisa que aconteceu, um vírus chamado Fulgor surgiu e começou a atacar as pessoas e nem sequer tinha cura. Em tempos, crianças imunes a ele começaram a nascer, então o CRUEL pegava os imunes para criar vacinas. Tudo o que eles fazem, tudo mesmo, sempre é pela cura de um vírus que, segundo eles, "surgiu do nada". A minha função, garoto, é te ensinar e te ajudar. Eu fui responsável por salvar você, então serei responsável por te treinar.

Gally a encarava com a testa franzida, Annie o encarou por alguns segundos e depois se arrependeu de explicar tudo de uma vez, devia ter levado em consideração que ele não sabia nada a respeito do mundo e das coisas que tinham nele. Gally voltou a ficar silêncio, processando tudo o que havia escutado e lembrando das coisas que passou no labirinto, Annie o encarou de canto e então suspirou;

- Desculpa dizer tudo assim, devia ter ido mais devagar pra ser mais fácil de assimilar tudo. - ele a encarou, mas não disse nada. - O mundo tá todo fodido, as chances de morrermos hoje são altíssimas e basicamente tudo pode matar a gente, então é matar ou ser morto. É basicamente isso.

- E para onde estamos indo?

- Um dos locais mais perigosos da região, não é o mais perigoso, mas é quase. - ele abriu a boca para protestar, mas Annie foi mais rápida ao impedi-lo - Relaxa, você tá comigo! Ninguém vai te fazer mal.

- Se a sua intenção era me fazer ficar calmo, você falhou e muito. Não sei como um trolho como você pode garantir isso. - ele a encarou a analisando, Annie não era lá muito alta e não tinha uma composição física musculosa, para qualquer um não parecia ser perigosa.

- Bom, Gally, sinto muito se não é suficiente, mas confie em mim quando digo que estará seguro quando estiver comigo. Diferente de você, seu merdinha, eu sei sobreviver!

- Ah, que monte de plong. - ele revirou os olhos e suspirou, mas seu olhar se fixou no parabrisas e então ele perguntou - O que é aquilo?

- Ah, aquilo? - Annie se virou para o banco de trás, vendo as fitas vermelhas de couro gasto e a corrente prateada. Um sorriso se formou em seus lábios - Você já vai descobrir.

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