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𝐗: 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐞𝐬𝐬𝐚 𝐝𝐞 𝐢𝐫𝐦𝐚̃𝐨𝐬ʳ

      Annie seguiu Mattie por entre os corredores, a dupla se esquivava e espremia nos cantos escuros para que os guardas que faziam rondas e os civis comuns não os vissem saindo. Os passos dos dois eram extremamente silenciosos, eles corriam e subiam nas coisas sem fazer tanto alarde, um resultado dos intensos treinamentos que tiveram quando jovens.

       Foi extremamente fácil sair da área cercada da base e do alcance dos olhos dos vigias que observavam tudo em volta da base 24 horas por dia. Quando diminuíram o ritmo da corrida silenciosa, Annie se sentiu confortável o suficiente para pisar com força no chão provocando sons, pendeu a cabeça para trás com os olhos fechados e soltou um alto suspiro. Respirou fundo como se o ar ali fosse novo, limpo, embora o odor ali fosse mais forte que na base. O simples fato de não estar na área cercada do local já lhe dava energia e uma sensação extremamente boa.

 — E então? – aproximou-se de Mattie com as mãos na cintura, ele também havia parado e olhava sorrindo a reação dela por estar fora do local – Onde vai me levar?

 — Um lugar incrível. – ele esboçou um largo e lindo sorriso que Annie foi incapaz de não responder e sorriu também – Só me segue.

      O rapaz se virou e começou a correr pelas ruas escuras da cidade, Annie a todo instante em seu encalço. Eles seguiram por várias quadras, adentraram vielas e becos onde pulavam e escalaram as construções como uma dupla de macacos energizados. Mattie finalmente parou em um canto bem escondido, cercado por três enormes prédios destruídos, os destroços formavam uma parede que impedia a passagem andando. Por isso tiveram que escalar.

  — E então? – ela perguntou, curiosa.

       Mattie gesticulou para que ela não falasse e se agachou, ele puxou uma enorme placa coberta por sujeira e revelou um profundo buraco com uma precária escada enferrujada. Um sorriso macabro surgiu nos lábios de Annie quando viu aquilo, então se virou para ele claramente animada:

 — Vamo matar infectado no último estágio? 

 — O que? – ele a encarou – Não! – a expressão de Annie se fechou num segundo.

 — Então o que vamos fazer? – perguntou com um grande bico em lábios.

 — Cala a boca e me segue. – ele revirou os olhos e sorriu. Então puxou uma lanterna ligando-a e começou a descer a escada que rangia com qualquer movimento. – Só vem.

      Ela o seguiu, esperou um pouco e então começou a descer a escada. O odor ali era forte, Annie quase vomitou a janta, mas manteve-se firme enquanto descia. Sua preocupação era manter-se segura naquela escada, não queria cair dali por uma escada se soltar e nem se cortar com o ferro enferrujado. 

      Quando eles desceram, Mattie iluminou um túnel pequeno e a lanterna fez um péssimo trabalho. A luz fraca foi engolida pela escuridão, por um segundo a garota desejou que um Crancks brotasse ali e os assustasse, mas não foi o que aconteceu. Mattie tateou a parede e encontrou um fio onde havia um interruptor, no segundo seguinte várias lâmpadas se acenderam iluminando com uma luz amarelada o longo e estreito túnel. 

 — Simbora.

      Sem esperar resposta, Mattie se agachou e começou a andar por ali. Annie o seguiu, não queria admitir que a decepção pela ausência de adrenalina estava dando lugar a uma intensa e forte curiosidade sobre o que estava acontecendo. O trabalho ali no túnel revelava que haviam feito há dias, de qualquer forma, Lawrence sabia de algo e estava ocultando dela.

      Eles andaram agachados por vários minutos até chegarem ao fim que dava em uma placa de ferro, Matie esperou alguns segundos e Annie entendeu o que era. Começou com um tremor, depois um som distante que se aproximava rapidamente, então algo enorme e veloz passou na frente. Annie recuou um pouco, atordoada com aquilo, mas tentou ocultar de Mattie. Não demorou muito para aquilo sumir e então o rapaz empurrou com força a placa que saiu. Eles desceram e Annie notou que estavam nos trilhos de um metro.

 — Seguinte. – ele finalmente disse após recolocar a placa. – Vamos ter que correr, mas muito rápido! Entendeu?

       Annie concordou já sentindo o chão abaixo de seus pés começarem a tremer. Mattie foi o primeiro a correr, ela o seguiu e os dois correram o mais rápido que podiam. Annie sentiu o tremor aumentar, o som vindo atrás de si fez seu coração saltar em desespero por saber que o metrô estava se aproximando. Que morte patética, pensou.

       E então viram mais a frente uma porta para serviços, Mattie a alcançou primeiro e a abriu virando-se para a jovem. Ela esticou as mãos para que ele a alcançasse, ele a agarrou e a puxou para si. Annie sentiu o vento em suas costas do Metrô que passou incrivelmente perto. Ela sorriu claramente assustada.

 — Bora de novo? – o encarou como uma criança animada.

 — Não. – ele riu – Vem!

        Ela novamente bufou e o seguiu. Eles andaram um pouco e então finalmente saíram daquele lugar, só que Annie não esperava ver aquele lugar, de todos os lugares do mundo, aquele ali era o lugar que ela tinha certeza que nunca pisaria. Mattie viu sua reação, os olhos brilhosos quando viram os enormes prédios que se estendiam até o alto, as linhas de trens suspensas no ar e as pessoas bem vestidas que ali andavam. 

 — Bem vinda ao CRUEL. – Ele sorriu.

*

       Eles estavam em um dos pontos do muro, um binóculos havia sido posto ali e sabia que não foram os soldados do CRUEL. Estavam apoiados nas grades de ferro enquanto observavam a cidade. Era tão diferente do mundo lá fora, tudo era tecnológico, bonito e limpo. As pessoas não falavam alto, não gritavam uma com as outras e não estavam caídas em poças de sangue ou vômito pelos cantos. As pessoas eram quietas, os únicos sons eram dos alarmes, das vozes dando instruções nos microfones e dos trens.

       Era calmo.

       Annie suspirou sentindo uma leve brisa bagunçar os fios soltos de seu cabelo, ela respirou fundo e então disse num sussurro fraco:

 — Vamos fugir?

      Mattie a encarou por breves segundos, depois voltou a atenção para a cidade iluminada e ficou alguns segundos em silêncio. Annie não disse nada, apenas o esperou e após alguns minutos ele finalmente disse:

 — Não temos para onde fugir. Você sabe.

 — A gente só… vai. – gesticulou com as mãos. – A gente acha um lugar e fica lá. Eu só não quero mais ficar aqui, não mesmo, não quero me sentir presa a Lawrence, Beatriz e agora aquele garoto. Aquele lugar me dá desespero, você sabe o que passei, então só vamos embora.

 — Olha… – ele suspirou e se virou para ela, uma mão na cintura e outra na grade – A gente vai, mas daí escolhe o caminho errado e fica preso no deserto sem água e sem comida. E aí? O que fazemos?

 — Morre. – deu de ombros – Mas pelo menos não será aqui.

 — E se acharmos um lugar, mas eu pegar o fulgor? O que você fará?

 — Não vou deixar você se contaminar, nem que para isso eu precise extrair a última gota de meu sangue. Ágata me ensinou como fazer.

 — E se o Fulgor evoluir e contaminar o ar?

 — Isso não vai acontecer, Mattie. – bufou.

 — Mas e se acontecer? Eu não sou privilegiado como você, Anastácia, eu não sou imune. E se eu fosse com você, hum? Uma hora ou outra você ficaria sozinha. Eu sinto muito. Podemos ir, se quiser, mas quero que esteja ciente do final.

 — Deixa pra lá. – ela murmurou e passou por ele indo em direção a descida.

 — Vai continuar aqui?

      Ela parou sem se virar, apenas continuou fitando o chão e então apontou com o indicador o prédio central do CRUEL. Era o maior de todos ali, então Annie disse:

 — Se esses merdinhas encontrarem a cura, pode deixar que eu invado e roubo para você. Daí podemos fugir para qualquer lugar nesse mundo de merda.

      E então saiu. Matie ficou ali a observando se afastar, um sorriso fraco surgiu inevitavelmente em seus lábios, então foi até ela passando o braço por seus ombros e seguindo juntos até a descida.

 — Eu tenho a melhor irmã do mundo.

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