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𝐋𝐗𝐗𝐕 - 𝐉𝐚𝐧𝐭𝐚𝐫 𝐒𝐚𝐧𝐠𝐫𝐞𝐧𝐭𝐨


Pequeno desabafo da autora
     A primeira vez que sofri plágio em Infected estava nos primeiros meses do meu trabalho, embora o estresse de mexer com público e, claro, do plágio, ainda assim eu tinha ânimo, sabe? Ânimo para continuar escrevendo, continuar dando prosseguimento nessa fanfic(claro que mal tinha tempo). Só que atualmente eu tô sem energia, gente, eu tô tão desanimada de tudo que simplesmente me dá uma imensa vontade de jogar tudo pro alto. Só que por mais que eu insista, que eu persista nas coisas, não só com essa fanfic, essas coisas ainda me pegam e esgotam o pouquinho de animação que eu tenho.
       Confesso que estava DOÍDA, completamente ANSIOSA, para que Infected chegasse nessa parte já que tem uma virada na história e tudo muda. Eu tenho planejado essa parte há tantos meses, incluso uma cena Lindíssima da Annie e o Gally que me fez ficar com o coração tão acelerado que... JESUS!!! Ainda tem uma cena com uma frase de um anime(se não me engano era de um anime) que uma garota(desculpa, não lembro o nome) me recomendou quando eu comecei a postar vídeos no TikTok que eu guardo até hoje!!!! Tudo isso me deixa tão animada e com o coração tão, TÃO, quentinho!!
      Só que novamente Infected está sofrendo plágio. Eu nem sabia da existência, uma menina comentou a semelhança e eu fui dar uma olhada. Pedi para a Dannie( autum_garden) dar uma olhada e ela confirmou que estava EXTREMAMENTE semelhante, e outra leitora também disse que é plágio!! Eu não cheguei a ler, não tive paciência nem força para ler como eu tive para ler a fanfic que está no cap de exposed. Eu conversei com a menina, falei sobre os comentários feitos sobre a semelhança extrema entre as fanfics e ela afirmou que não estava plagiando(tais afirmações não foram aceitas pela Dannie que não foi convencida nem um pouco).
        Porém, mesmo com três pessoas diferentes acusando a semelhança e o plágio, a pessoa diz que não está e simplesmente continua. E toda essa bagunça de novo sugou TOTALMENTE minhas energias para Infected. Eu levei mais tempo do que deveria para escrever esse capítulo, visto que eu tinha todos os acontecimentos em mente, porém não tinha mais ânimo pra escrever pq fiquei pensando "Eu to aqui há meses criando e planejando essa cena, há um ano escrevendo Infected, pra simplesmente vir alguém e copiar."
        Esse é o último capítulo do arco e, muito provavelmente, vou dar uma pausa por tempo indeterminado dessa fanfic e talvez focar em outra. Eu pensei em fazer um exposed, falar o nome da escritora e da fanfic, mas eu sinceramente tô cansada e não quero mais dor de cabeça pra cima de mim por gente incapaz de criar as próprias ideias... Confesso que até considerei retirar a publicação de Infected, ainda tá rondando essa ideia na minha mente, mas não sei se é o certo... Talvez tirando ela pare de me plagiar... Enfim... É isso, desculpe pelo desabafo gigante.

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NOTAS E NOTAS
primeiramente, um alerta, esse capítulo tá bem tenso, okay? PODE conter gatilhos, pq tem sangue e tem morte ❤️(coisas suaves né)

Eu queria estar com mais ânimo pra postar esse capítulo, mas tô tão pra baixo c tudo isso q SLA..

ALÉM DISSO, UM ALERTAAA:

3 cenas desse capítulo são de 3 lugares diferentes
1. Cena: Dabi de Boku no Hero

2. Cena: Eren de Shingeki no Kyojin

3. Cena: Rick Grimes de TWD

É isso, espero que gostem, se divirtam(sei q n vão ❤️) e um ótimo capítulo!!!

NOTA: Esse é o último capítulo do arco e eu vou entrar em uma breve pausa, só pra relaxar a mente e tentar esquecer esse lance de plágio. Mas eu juro que volto presual ❤️❤️

Aí, boa leitura ❤️

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      Annie estava completamente paralisada vendo a imagem de sua melhor amiga ali, não conseguia reagir, a boca levemente aberta se movia tentando balbuciar uma única palavra, mas nada saia. De todos do esquadrão, Priscila era a que ela menos desconfiava e, de certo modo, a que mais gostava. Em parte por ser uma jovem extrovertida e que não tinha medo de falar ou fazer as coisas, mas, em seu interior, Annie sabia que gostava dela por não se sentir ligada a uma obrigação ou dívida. 

     Claro que a líder amava todos de seu esquadrão, mas não era mentira quando dizia que todos estavam ali por tê-los salvo e, de modo indireto e até bem inconsciente, ela sabia que todos estavam ligados a esse fator. Ela não salvou ninguém por desejá-los em seu esquadrão, na realidade o fez porque não faria sentido não ajudá-los quando teria a chance de fazê-lo. Tanya e Jade foram liberadas do grupo por ela, Eleazar foi salvo dos cranks por ela, Gabriel também foi encontrado e recebeu sua ajuda e Félix foi resgatado a pedido de seu pai. Priscila era a única que estava ali porque queria estar e ela sabia que a ligação de irmandade com Gabriel não seria o suficiente para fazê-la ficar. Ela ficou por escolha própria e Annie acreditou tão cegamente que se recusava a acreditar em uma possível traição por parte dela.

       E lá estavam as duas, encarando uma a outra, com a verdade estampada diante delas. Uma verdade que partiu o coração da garota de forma tão profunda que doeu, doeu intensamente a cada batida e que precisou lembrar de puxar o ar enquanto as lembranças enchiam sua mente. Memórias que passaram juntas, independente da situação, estavam sempre juntas. Piscou algumas vezes sentindo os olhos arderem após ficar sem piscar, então balbuciou com dificuldade:

 — Pri-Priscila… o que… é isso? – ainda estava relutante em aceitar. Esperava desesperadamente uma explicação, que dissesse que estava sendo obrigada a fazer aquilo ou qualquer coisa do tipo.

      Priscila apenas balançou a cabeça, enfiou as mãos no bolso e mandou que os dois rapazes se retirassem. Eles o fizeram sem dizer única palavra e quando estavam a sós, com Darlan amordaçado e Gally inconsciente, ela disse:

 — Devo admitir, fiquei muito surpresa quando nos reencontramos naquele dia em que buscamos Gabriel, afinal você nem se lembrava de mim ou do meu irmão e isso me deixou chocada pra caralho. Por uns bons tempos achei que estivesse mentindo, mas daí você continuou agindo normalmente e eu notei que realmente não se lembrava.

 — Do que você está falando, Priscila? Lembrar do que? – o corpo de Annie tremia, as amarras ferindo seu pulso, mas não se importou com aquilo. Apenas franziu o cenho encarando a amiga diante dela enquanto tentava desesperadamente puxar qualquer informação da mente.

 — Eleanor Castelli, Annie, a minha mãe! A mulher que você matou anos atrás! – ela exclamou com tanta raiva enquanto lhe lançava um olhar de profundo pesar, luto e, principalmente, raiva. – Por muito tempo acreditei que você estava mentindo, fingindo não se lembrar, eu me aproximei para ver até onde a farsa iria, mas você nunca lembrou. Você não fazia ideia! – ela sorriu, mas aquele olhar permaneceu – Daí eu vi a maravilhosa oportunidade de tirar tudo o que você tinha, assim como você tirou de mim!

      Annie a encarou, choque era o que lhe definia naquele momento, Priscila e Gabriel eram filhos de Andrey? Não se pareciam nem um pouco com ele, afinal o homem tinha um rosto estranhamente feio e um nariz pontudo e torto, mas Gabriel e Priscila? Eles eram lindos! Ela piscou algumas vezes, umedeceu os lábios secos e tentou puxar a memória de Eleanor, mas era impossível. Embora Ed e Andrey tivessem dito que ela havia matado a mulher, Annie não conseguia se recordar de seu nome ou seu rosto, nem de como a matou. Diante daquilo, a garota permaneceu em silêncio enquanto Priscila prosseguiu:

 — É, eu não te culpo por não se lembrar direito, afinal você tinha a mesma idade que Gabriel na época. – um suspiro longo passou por seus lábios – Nós tínhamos a vida perfeita, mesmo o fulgor e o calor não destruiu a nossa família e estávamos bem escondidos do CRUEL. Até meu pai idiota ter a brilhante ideia de abrigar dois “amigos” dele, você sabe quem são, não é? – ela sorriu de lado – Eduardo e Joel. Minha mãe foi contra a ideia, teríamos duas bocas a mais para alimentar e isso poderia chamar atenção desnecessária. Meu pai insistiu e os trouxe, mas também trouxeram duas garotas insuportáveis e idiotas. Kaira, uma menina insuportável e que se achava melhor que todos, e Anastácia, uma garota estranha e perturbadoramente assustadora. Por causa dessas quatro pessoas, nossa vida desandou.

      A expressão de Annie esboçou uma sutil raiva quando mencionou Kaira, mas ficou em silêncio permitindo que a mulher continuasse:

 — Mamãe mandou a gente não se aproximar de vocês duas, eu obviamente obedeci, mas Gabriel era diferente e rapidamente começou a se dar bem com você. – ela fez uma breve pausa, parecia querer dizer mais coisas, mas se conteve e apenas finalizou: – Estava tudo bem, até que um dia fui passear com meu pai e quando voltamos encontramos minha mãe morta. Estava caída ao chão e você escondida atrás daquele desgraçado do Joel, se não fosse por ele papai teria te matado na mesma hora.

      Havia um ódio profundamente enraizado em Priscilla, um tom de repulsa e rancor em sua voz, Annie pigarreou limpando a garganta e murmurou:

 — Olha, Priscila, eu sei que dizer que sinto muito não vai resolver nada. Eu queria resolver tantas coisas, corrigir vários erros que cometi no passado, mas eu não posso e tenho que viver com eles para o resto da minha vida. O seu problema é comigo, só comigo, então deixa eles irem. Darlan e Gally não tem nada a ver com isso.

 — Você é um poço fundo de erros. – sua voz saiu rouca – Mas eu não posso deixá-los fora, não, eu te conheço bem para saber que vai se entregar e me deixar matá-la de bom grado. Você até se ajoelharia na minha frente caso eu pedisse, mas eu não quero isso. 

 — Então o que você quer? Eu te peço, Priscila, deixe eles irem. Não envolva mais ninguém, por favor.

 — Eu quero que você lute comigo, com toda a fúria e ódio que você tem guardado em si mesma. Eu quero a Annie selvagem de anos atrás. 

 — Aquela pessoa morreu há muito tempo, eu a enterrei no passado!

 — Ah, é claro! – Priscila começou a rir enquanto levava as mãos até o rosto esfregando as pálpebras – Como pude esquecer? A admiração das pessoas da cidade fez seu coração amolecer, não é? O tempo que passou com o esquadrão, principalmente com Jade, não te fez sentir aqueles laços de família? Achou mesmo que poderia viver corretamente se olhasse apenas para o futuro, é? – ela começou a se alterar enquanto falava aquelas palavras, um misto de raiva, indignação e divertimento em sua expressão e sorriso, lentamente se aproximando de Annie – Se não sabe o que fala, então vou te lembrar de uma coisa… – Priscila parou diante se Annie, sua mão agarrou o cabelo dela puxando sua cabeça com força e aproximou seu rosto ao dela quase encostando suas testas. Seus olhos que antes eram um misto de sentimentos, agora esbanjam o mais puro ódio, seu sorriso desapareceu e sua voz saiu fria como a morte – O passado não desaparece. Você só colhe o que planta.

       Annie não respondeu, nem sequer tremeu com aquilo, apenas a encarou sem esboçar reação alguma. Com isso, Priscilla a soltou e se afastou continuando a falar:

 — Então eles vão servir como combustível para sua fúria. Eu quero você no ápice do ódio e vou conseguir isso matando eles. – dito isso, ela puxou o revólver no coldre em sua cintura e disparou contra Darlan.

 — Não! – Annie gritou com aquilo tentando avançar contra ela, mas a fita que enrolava seu pulso apertou mais ainda ferindo sua pele. 

     Darlan gritou quando a bala atingiu seu ombro, mas o som foi abafado pela mordaça. Ele tentou se contorcer, mas a corda que o envolvia impediam qualquer movimento e a única coisa que Annie poderia fazer naquele momento era ver desesperada a expressão de dor do garoto.

 — E aí, já tá sentindo raiva? Já adicionei a morte de Paulo na lista. – Priscila comentou com um sorrisinho.

       A menção de Paulo fez Annie se virar fuzilando a mulher com raiva.

 — Foi você? – gritou ela.

 — Não estava na minha lista, mas… – Priscila deu de ombros – Mas tenho que dar os créditos para aquele velhote, ele demorou muito para cair, só me deu raiva que ele não quis lutar comigo. Vai, Annie, me fala quem eu tenho que matar pra acessar sua raiva acumulada. Se não fizer eu vou sair matando todo mundo, podemos começar pelo dorminhoco ali. – ela apontou para Gally e pela primeira vez Annie sentiu aquele medo profundo – Não vou negar, dei um sedativo potente já que tava sendo difícil lidar com ele. 

      O corpo de Annie tremia com a arma apontada para Gally, o medo corroendo suas veias e fazendo seus ossos tremerem, ela não conseguia se mover ou sair dali para fazer algo. A qualquer momento Priscila poderia disparar. Mesmo tremendo e sem conseguir pensar direito, ela perguntou:

 — Mataria o Mattie também? – ela a encarou e percebeu a breve hesitação – Mataria ele também?

 — Eu… Eu mataria todo mundo daquela base. Não se engane, não sinto absolutamente nada pelo seu irmão e o que tivemos foi um erro. 

 — E quanto ao bebê? Hum?

 — O bebê será retirado. – ela forçou um sorriso de lado.

 — E quanto aos outros? Mataria a Jade? Porra, Priscila, ela te tratou como uma filha!

 — Eu só tive uma mãe e o nome dela era Eleanor. E você tirou ela de mim.

 — Aí, chefe. – o garoto jovem apareceu – Teu pai tá na linha.

 — Fala pra’quele arrombado que eu tô ocupada aqui! – gritou sem se virar.

 — Ele disse que é importante.

 — Então manda o Gabriel atender.

 — Gabriel saiu. Não quer falar com ninguém.

 — Que irmão incompetente! Porra! – grunhiu se virando e saindo dali.

      O coração de Annie palpitava com força em seu peito, Darlan gemia de dor enquanto lágrimas escorriam por seus olhos, a garota não tinha muito tempo e precisava pensar urgentemente em alguma coisa. Com dificuldade, virou o rosto olhando com as mãos amarradas e notou que era um tipo de fita plástica bem resistente, não sabia de onde era ou de onde tiraram, mas estava amarrada a uma argola presa na parede. Movimentando um pouco, Annie percebeu que poderia arrebentar se usasse força, mas se puxasse então as amarras iriam apertar mais ainda seus pulsos e poderiam facilmente cortar sua pele. Respirou fundo, aquilo devia ser uma ideia de Priscila e devia ter alguma razão para usar isso, sentiu que ela estava planejando alguma coisa e seu estômago se contorceu com o que poderia ser.

       Ela olhou para Darlan e sentiu seu peito doer, então virou para Gally percebendo que ele estava completamente livre, mas inconsciente.

 — Gally. – ela sussurrou seu nome – Gally, acorda! Gally. – chutou seu pé por debaixo da mesa, mas não houve nenhuma reação. Se não fosse o sutil movimento de seu peito com a respiração, então acharia que ele estava morto – Gally, por favor querido, acorda. Eu preciso de você.

      De repente a porta se abriu e Annie se calou, esperava por Priscila ou algum dos dois rapazes, mas não. Ali, parado segurando a maçaneta e com olhar arregalado, estava Gabriel. Ela o fuzilou com o olhar, sentindo a dor e raiva da traição finalmente se instalando em seu ser.

 — A-Annie! – ele exclamou correndo até ela, suas mãos avançaram em seu rosto agarrando suas bochechas e verificando seus ferimentos com um olhar preocupado.

 — Não toque em mim! – murmurou a jovem enquanto afastava o máximo que podia seu rosto das mãos dele – Não toque em mim. – repetiu.

 — Eu… – ele espremeu os lábios com o olhar baixo, as mãos estavam suadas e trêmulas – Sinto muito por isso. Eu juro que não queria nada disso, mas… 

 — Se sente muito, então nos liberte. Darlan está perdendo sangue com o tiro que sua irmã deu nele.

 — Darlan? – ele se virou rapidamente olhando o jovem, seu rosto ficando pálido com a imagem do amigo naquela situação, Gabriel rapidamente correu puxando o tecido que estava enrolado em seu pescoço e pressionou na ferida tentando estancar o sangramento. A ação provocou gemidos de dores em Darlan que não podia falar devido a mordaça. – Eu sinto muito. De verdade, eu nunca quis isso! Eu vou dar um jeito, por favor, confiem em mim. Irei tirá-los dessa!

      E sem.esperar respostas ele se virou e saiu correndo pela porta, Annie o encarou com raiva não confiando mais em uma única palavra sequer dele, mas então respirou e se virou para Darlan.

 — Não se preocupe, Darlan. – o sussurro atraiu o olhar dele e a viu tentando forçar um sorriso tranquilizador – Vamos sair dessa. Eu prometo.

      Ao dizer isso, ela começou a arrastar a cadeira para trás de modo que o fio que envolvia seus pulsos não estivesse tão esticado e começou a tentar achar um meio de se livrar. Enquanto isso, numa sala no andar superior daquele local, Priscila estava no rádio conversando com seu pai, Andrey.

 “Ela está realmente presa?” a voz dele soou do outro lado, era rouca e desagradável, e a pergunta fez Priscila se irritar.

 — Já disse que sim, imbecil! – exclamou – Ela vai se ferir muito se tentar se soltar.

 “E tem certeza que ela estava sozinha? Não há ninguém atrás dela?”

 — A conheço bem, tenho certeza que veio sozinha e nem sequer partilhou a localização com os outros. Sequestrar Gally a motivou bastante, mas acho que a morte de Paulo serviu para isso também.

 “De qualquer forma, deixe-a como está. Chegarei amanhã de manhã.” Priscila se virou e viu no relógio que era 13h42min, ainda teriam muito tempo “Não mate os outros também, okay?”

 — Cê acha que tá falando com quem, velho?

      Dias antes, na base.

     Tanya ficou observando os mapas e a localização que Annie havia dito que eles estariam. A sensação angustiante crescia mais a cada segundo, duas horas se passaram desde a saída apressada e sem planejamento de sua líder e a garota não sabia o que fazer. Isa também tinha desaparecido, Mattie saiu correndo atrás dela quando contou o que havia acontecido, Félix estava totalmente desolado com a perda do pai, Jade e Eleazar estavam em sua lua de mel e Annie proibiu qualquer um de pedir a ajuda deles independente da situação e Triz não era confiável. Aquilo fazia o peso da responsabilidade recair sobre os ombros da mulher e ela se viu desesperada.

 “O que faço? O que faço? O que faço?” Ela repetia para si mesma apoiada na mesa diante de vários mapas.

      Esfregou as pálpebras enquanto tentava organizar os pensamentos, então correu para a sala de Lawrence e o avisou de tudo, embora ele soubesse da situação, o homem pareceu chocado com o fato de que os dois líderes tinham saído sem levar mais soldados com eles.

 — Você sabe a localização precisa? – perguntou o líder da base.

 — Bom, sei, mas não tenho total certeza. – respondeu de forma receosa.

 — O que quer dizer?

 — A localização está marcando no meio das montanhas, encontrar um assentamento ou até mesmo uma caverna que sirva de esconderijo será difícil.

 — O que sugere, então?

 — Precisamos de um grupo grande de busca. Mais gente irá cobrir uma área maior e poderemos achá-los mais rápido. 

      Lawrence pareceu considerar aquelas palavras, então suspirou e se virou para Jasper, seu guarda costas:

 — Reúna o máximo de homens que puder e…

 — Espera! – Tanya exclamou dando um passo à frente – Quero pedir uma coisa! Eu sei que vamos precisar de muitos soldados, mas não podemos ter o risco de incluir Triz e seu esquadrão nisso tudo. Querendo ou não, ela não é confiável e todos nós sabemos disso e não sinto que seria inteligente incluir ela e seus homens. Além disso, se os quatro estão presos, significa que alguém deixou Andrey entrar e matou Paulo e os guardas nos portões. – Tanya fez uma rápida pausa para tomar fôlego e ordenar os pensamentos – Andrey deve estar junto dos quatro e esperando que Annie chegue perto, então ele não seria um risco para a base, mas levar tantos homens e deixar a base para os cobras não é muito seguro e nem uma boa ideia!

 — Parece que estamos lidando com uma faca de dois gumes. – Jasper murmurou – Não podemos incluir os cobras, mas não podemos deixá-los sozinhos na base. 

 — É por isso que pensei em não chamarmos todos do esquadrão de Mattie!

 — O que? – Lawrence se virou para ela confuso com sua afirmação.

 — Mas precisamos do máximo de homens que pudermos unir! – exclamou Jasper.

 — Exatamente, precisamos de homens e não soldados! – Tanya se virou para ele.

       Lawrence a encarou por alguns segundos e aos poucos foi compreendendo o que ela queria dizer, então percebeu que aquele plano poderia dar certo. Após fecharem algumas pontas soltas e Jasper, que naquele momento era o mais confiável, ficar a cargo de reunir todos, Tanya voltou para planejar a próxima parte do resgate. Sem Félix, então ficava mais difícil conseguir pensar em algo mais rápido, desde sempre os dois criavam os planos que Annie seguia e a impediam de se jogar de cabeça no perigo. Infelizmente, naquele momento crucial, os dois não conseguiram impedi-la de sair daquela forma. A raiva de si mesma se apossou em seu peito.

 — Que se dane aquela ordem! – gritou para si mesma e pegou o walkie-talkie – Eleazar, Jade, na escuta?

__

      Horas antes da captura de Annie. Mattie e Isa.

      Após perderem Annie de vista, os dois tentaram acelerar o passo, Mattie claramente estava preocupado com toda a situação e sempre prestava atenção em Isa que poderia escorregar e cair naquele terreno irregular. Sem o mapa, sem direção e sem Annie, a dupla se viu perdida enquanto seguia às cegas por aqueles caminhos sinuosos e perigosos. Ele ajeitou a mochila nas costas, o rifle que Annie havia levado em seu ombro, tinham deixado boa parte das coisas, principalmente armas, no carro já que queriam apenas fazer o reconhecimento do ambiente e não partir para o ataque logo de cara.

 — Cansei. – murmurou Isa.

 — É, eu também. – ele suspirou – Mas temos que achar a Annie.

 — Não podemos simplesmente gritar por ela?

 — Seria uma péssima ideia, pois o som ecoaria pelas montanhas e nossos inimigos saberiam que estamos por perto.

 — Ah, mas que saco. – a garota bufou.

 — Acho que não foi uma boa ideia você ter vindo, tampinha.

 — E só agora você fala?

 — Em parte eu não queria pensar no que iríamos enfrentar. – ele parou, suas mãos segurando firmemente as alças da bolsa e então se virou para a garota olhando-a com uma expressão preocupada – Por um momento pensei que ter você junto seria uma boa distração, iria tirar minha mente dos problemas e, bom, de certo modo tirou. Mas quanto mais perto chegamos do destino final, mais difícil fica ignorar tudo isso. Desculpe por ter te colocado nessa situação, tampinha.

 — Não se preocupe. – ela suspirou chutando uma pequena pedrinha que girou parando longe deles – Eu tô cansada de me sentir inútil, sabe? Farei de tudo para ajudar, não sei quanto aos outros três, mas Gally é meu amigo e ele me lembra muito meu irmão. Não quero perder ele também.

     Mattie suspirou vendo a dedicação e determinação em seus olhos e a firmeza em sua voz, então se viu em uma posição difícil e precisou contar a verdade:

 — Há um traidor no esquadrão raposa. 

 — Quê? – aquela expressão firme no rosto da garota desapareceu, por um segundo achou ter escutado errado.

 — Pode ser um dos quatro que foram levados. Incluso Gally.

 — Não! Gally não faria algo assim, nunca trairia ninguém!

 — Pode ser, mas ele está na lista de suspeitos e devemos considerar a possibilidade de ser ele. Eu… temo que seja Priscila, na realidade estou rezando para que não seja, mas a possibilidade de ser ela existe e eu não posso mais ignorar.

 — Então era isso que você queria evitar. – ela sussurrou, as sobrancelhas erguidas com a compreensão de tudo – Vi vocês dançando juntos na festa de casamento. Você gosta dela.

 — Eu amo ela, tampinha. Ela e o nosso filho. – ele balançou a cabeça tentando disfarçar as lágrimas que brilhavam em seus olhos – Chega de papo. Vamos continuar.

      Eles andaram sem rumo por mais alguns minutos, até que ouviram algo e viram Annie totalmente imobilizada bem a frente, entretanto eles se encontravam em um ponto alto e iriam precisar retornar para poderem dar a volta e finalmente chegarem onde elas estavam. Eles se agacharam, Mattie puxou a mochila e retirou o binóculos de dentro vendo melhor a situação das duas, foi então que conseguiu visualizar a faca no pescoço de Annie.

 — Droga, isso não é bom. – Mattie murmurou.

 — A arma faria muito barulho, não é? – Isa perguntou para ele enquanto se recordava da explicação anterior e o homem apenas confirmou – Então tenho uma ideia!

      No segundo seguinte, ela pegou uma pedra e jogou na direção das duas. Logo pegou outra e jogou antes que Mattie a impedisse.

 — Tá maluca? – ele tentou gritar em seu sussurro enquanto segurava a mão dela.

 — Veja!

      Rapidamente ele se virou e olhou pelo binóculos quando Annie aproveitou a brecha da distração de Isa e mudou as posições, a viu matar a mulher e então viu quando alguém se aproximou golpeando-a na cabeça. Seu corpo travou, sua mente ficou nublada e sua respiração falhou.

 — Priscila? – ele sussurrou, a boca mal se movendo para proferir aquele nome.

 — Então é ela?

      Mattie engoliu em seco, a face completamente pálida, então virou para Isa e sussurrou com dificuldade:

 — Ela é a traidora.

      De repente seu walkie-talkie começou a chiar.

 ___

      Horas depois, Annie.

     Annie tentou inútilmente se soltar, mas arrastar um pouco a cadeira em direção a parede serviu minimamente para a fita não apertar mais ainda seus pulsos. O homem que devia ter mais de trinta anos adentrou naquela sala e ficou no canto com olhar fixo nela. Um suspiro saiu de seus lábios com aquela presença indesejada, mas voltou a olhar em volta tentando estudar o ambiente.

      Estavam em uma sala de jantar, a mesa retangular estava próxima a parede a sua direita, a mesma parede que estava a única porta de entrada e saída. No canto à esquerda ao fundo tinha um aparador velho e gasto pelo tempo, não havia nada em cima dele, e no canto esquerdo de frente para a porta tinha outro com um vaso vazio, velho e sujo. Na parede à esquerda tinham três janelas guilhotinas, todas fechadas e com os vidros imundos intactos, haviam outras duas na parede à frente.  

       A mesa era retangular, uma cadeira na ponta e três dos lados e Annie já tinha notado que tudo em cima dela estava sujo por uma grossa camada de poeira. As cadeiras também eram de madeira, uma sutil inspeção e pode constatar que a madeira estava frágil e gasta pelo tempo e poderia ser quebrada com um pouco de força, mas não poderia fazer absolutamente nada com aquele homem ali a encarando. Sem escolhas, ela apenas tentou a primeira coisa que veio sua mente:

 — E aí, ô da calvície, me fala o que eu fiz contra você. – um sorrisinho debochado surgiu em seu rosto suado, tentando desesperadamente ocultar a tensão e preocupação em seus olhos – Fiquei sabendo que os seguidores daquele desgraçado foram pessoas que, de uma forma, afetei. Tipo aquele garoto que vocês enviaram, sabe? Qual era o nome?

 — Adrian? – ele falou, o cenho franzindo a medida que ela falava e pode notar o seu tom surpreso.

 — É, devia ser esse o nome. Ele disse que eu o deixei órfão, bom, não sei quanto a isso, mas pelo menos garanti que estivesse junto de seus pais. – ela deu de ombros.

 — Você matou ele?

 — Lógico. Assim como matei Carmilla e Emily. Mas fala aí, qual é a sua história? Gostaria de saber quem você é antes de te fazer engasgar com seu próprio sangue.

     Annie sempre se considerou péssima para provocações, até porque sempre as fazia em péssimos momentos e ninguém levava fé em suas palavras. Então não se surpreendeu quando o careca riu enquanto se levantava e fazia a pergunta mais óbvia:

 — E como você pretende me matar estando presa?

 — Eu dou meu jeitinho. – ela sorriu de lado.

       O homem ia falar algo, mas o som de um tiro ao longe chamou sua atenção e ele rapidamente saiu correndo para fora da sala. Vendo a oportunidade, Annie arrastou mais ainda sua cadeira em direção a parede para que o fio que prendia seus pulsos não a atrapalhasse, dobrou seu antebraço de modo que firmasse no encosto da cadeira e então forçou seu corpo para frente. Grunhiu com a força, Darlan que estava completamente pálido pela perda de sangue a encarou confuso, ela relaxou e respirou fundo antes de forçar novamente a madeira. Seu corpo tremia, as gotículas de suor escorriam por todo seu rosto e seu corpo tremia com toda aquela situação, mas continuou forçando até ouvir um estalo. Foi então que usou todas as suas forças e a madeira do encosto se partiu ao meio e caiu ao chão, ela pode se levantar então chutou a cadeira para longe.

      Se aproximou da mesa até a fita apertar seu pulso novamente, com os pés chutou os pratos e todas as coisas que estavam ali, mas não encontrou uma única faca.  Darlan grunhiu, mesmo com a mordaça apertando sua boca ele continuou tentando.

 — A-o? – ela perguntou confusa.

 — Ufa uff afos! – ele repetia.

 — Afos? – Annie encarou a mesa confusa, precisava pensar e tentar entender, foi então que finalmente se tocou dos pratos partidos – Cacos! – exclamou e Darlan assentiu aliviado por ela ter entendido.

      Ela esticou o pé puxando um grande pedaço do prato, o arrastou pelo piso enquanto dava alguns pulinhos para trás e se agachou pegando em suas mãos. Com dificuldade, conseguiu virar a ponta para a fita e tentou perfurá-la. Parecia impossível, a fita era mais resistente do que imaginava e não rasgava nem furava com facilidade, mas aquilo não a impediu e ela continuou tentando e tentando sem parar. O suor escorria cada vez mais por seu rosto, o coração palpitava enquanto ouvia os tiros e a movimentação do lado de fora, sabia que devia ser Mattie e Isa, então precisaria agir o mais rápido possível e se libertar logo.

       Foi então que a porta se abriu violentamente e seu corpo congelou, olhou para cima pronta para ver o calvo, Priscila ou até mesmo Gabriel, mas quando reconheceu quem estava ali sentiu as lágrimas encherem seus olhos e então seu coração pulou em seu peito.

 — Jade! – sua voz saiu trêmula.

 — A gente saiu por uns dias e vocês já são sequestrados? – exclamou parecendo furiosa enquanto ia em direção a Annie – O que aconteceu?

 — Espera! Liberte e cuide de Darlan primeiro, ele está perdendo sangue há muito tempo, eu consigo me libertar aqui. 

      Foi então que a mulher se virou para Darlan e no segundo seguinte correu até ele.

 — Meu Deus, Darlan! – ela exclamou e rapidamente puxou a mordaça dele.

 — Ah, é bom te ver, Jade. – ele murmurou sem forças, finalmente livre daquele pano sujo em sua boca.

 — O que diabos aconteceu? – perguntou enquanto puxava a faca de seu coldre e cortava as cordas que o prendia, então levou um pano limpo que estava em sua mochila até a ferida dele e o pressionou tentando parar o sangramento. – Jesus, o que aconteceu com Gally?

 — Priscila e Gabriel! – Annie respondeu tentando desesperadamente partir aquela fita com aquele pedaço de prato – Eles são filhos de Andrey e nos traíram. Priscila matou Paulo.

 — Espera, o que? E por que não me contou nada? Por que veio aqui sozinha?

 — Não vim sozinha, estava com Mattie. Além disso, não quis estragar sua lua de mel com Eleazar.

 — Aí estão vocês! – Eleazar adentrou a sala deixando as portas abertas – Temos que ir!

 — Tá, alguém corta essa fita aqui para mim? 

 — Deixa comigo. – Jade suspirou – Eleazar, pode carregar o Gally? Annie e eu levamos o Darlan.

      Eleazar fez uma rápida inspeção em tudo. Annie ao fundo presa, Darlan sentado com o ombro ensanguentado e Gally completamente inconsciente. O homem não fez nenhuma pergunta, pareceu entender tudo de uma forma superficial e então deu o primeiro passo indo em direção ao garoto ferido, entretanto o som de tiro ecoou por toda a sala e pareceu que o joelho direito de Eleazar explodiu fazendo-o cair com tudo no chão aos berros.

       Os olhos de Annie se arregalaram com a imagem que seguia lentamente diante dela, Jade se virou e gritou pelo seu marido pronta para correr até ele, mas o homem calvo apareceu e puxou um revólver mirando nela e então disparou. A colisão da bala contra o corpo de Jade a fez cair para trás.

       Annie via tudo lentamente, incapaz de reagir, apenas assistiu o corpo de Eleazar cair no chão em câmera lenta sendo seguido pelo corpo de Jade. O sangue jorrando de suas feridas manchava o chão imundo, nenhum dos dois reagiu de início e aquilo fez Annie parar de respirar.

 — Mate o homem. – o calvo disse para o garoto jovem.

      Foi então que Annie percebeu Eleazar se movendo, o joelho estava destruído com o tiro que recebeu da espingarda que estava nas mãos do garoto, mas mesmo com a dor ele tentava se levantar enquanto os olhos estavam fixos no corpo de Jade caído no chão atrás de Darlan e Gally.

 — Jade! Meu amor! – ele gritava e então se virou para Annie – Annie, salve ela!

 — Matar rapidamente? – o jovem perguntou ignorando os gritos.

 — Pode fazer ele sofrer um pouquinho. – o calvo deu de ombros e foi até o corpo de Jade, deu um leve chute em sua perna e não obteve reação nenhuma dela – Essa tá morta. 

      As palavras penetraram nos ouvidos de Annie e foram puxadas por um buraco negro que surgiu em sua mente, estava sugando todos os seus pensamentos e reações fazendo-a olhar para aquilo completamente paralisada e sem esboçar uma única reação. Seus olhos se fixaram no corpo imóvel de Jade, o sangue que sujava cada vez mais o chão, depois virou para o garoto que ia até Eleazar e passou a desferir chutes em seu corpo e rosto. 

      Uma sensação fria encobriu seu corpo junto de um pulsar, provavelmente o som das batidas de seu próprio coração, que aumentavam gradativamente dentro de sua cabeça.

 — Pare… – ela pediu, a voz trêmula e fraca – Pare. – o calvo se virou para o jovem que continuava as agressões e ninguém se importou com o que ela dizia. As batidas aumentaram em sua cabeça, a raiva fervorosa e assassina sendo despejada em seu corpo e pintando cada uma de suas células. Apertou com força os punhos, pouco se importando se ainda segurava o pedaço de vidro do prato e ignorou completamente a ardência do corte em sua palma e o sangue que escorria. – Eu mandei… – sua voz saiu em um tom furioso de rosnado – Vocês… – e então ela se levantou – Pararem!

      Foi então que ela avançou, a fita apertou fortemente seu pulso causando uma dor terrível, mas ela não ligou e continuou puxando tentando a todo custo arrebentar aquilo. O jovem se virou assustado e então a encarou, mas o calvo apenas suspirou:

 — Continue, ela não pode se soltar.

      O garoto assentiu embora sentisse um arrepio percorrer sua espinha por estar sob o fixo olhar assassino dela. Ele voltou a agressão, divertindo-se com a incapacidade do homem se defender, sempre ouviu histórias do homem grande e assustador que era, mas naquele momento ele estava sendo sufocado por seu pé que pressionava seu pescoço. Enquanto isso, Annie grunhia e gritava enquanto puxava mais e mais a fita, os sons eram quase animalescos e fizeram o jovem estremecer, mas ele tentou ignorá-la.

      A fita passou a ferir sua pele cortando-a enquanto era puxada, o sangue escorria não só dessa ferida, mas do corte em sua mão enquanto ainda estava agarrada naquele caco. A fita parecia entrar em sua pele cada vez mais, mas Annie apenas gritava e puxava mais e mais, o desespero para se livrar ignorando a própria dor apenas para avançar contra aquele menino.

     Nada passava em sua mente, nenhum pensamento ou nome, naquele momento estava agindo apenas por instinto, como costumava agir quando criança, e a única coisa que queria era avançar contra aquele garoto e matá-lo. O homem calvo se virou para a saída para ajudar os outros naquele lugar, afinal os sons de tiros ainda continuavam do lado de fora e os problemas pareciam só começar. Foi então que ele ouviu o som de algo se partir e então um baque caindo no chão. Ele se virou a tempo de ver Annie livre correndo em direção ao garoto, ela se jogou contra ele e os dois rolaram no chão ao lado de Eleazar. Tudo foi muito rápido, a jovem assumiu o controle e o prendeu embaixo dela e no segundo seguinte cravou com toda a força o caco no pescoço dele.

 — Kyler!

     Ele tentou gritar o nome do filho, mas já era tarde demais e quando percebeu ele já estava cuspindo seu próprio sangue enquanto seus olhos arregalados fixos no teto tinham o pavor estampado neles. Bob, o calvo, gritou já sentindo as lágrimas escorrerem por seus olhos e puxou a pistola pronto para atirar. Annie foi mais ágil, após matar o jovem, ela rapidamente puxou a espingarda que ele carregava e se virou mirando no velho disparando em seguida. O tiro errou, mas o fez recuar e se encolher e naquele segundo ela se levantou pronta para atacá-lo. 

      Uma coisa que pouquíssimas pessoas sabiam – e que Priscila não imaginava – é que quando vivia daquele jeito, Annie jamais hesitava independente da situação. A traição de Priscila e Gabriel, as mortes de Paulo e Jade e a agressão contra Eleazar, Darlan e Gally, fizeram com que chegasse ao limite que por muitos anos ela evitou passar e naquele momento não estava agindo racionalmente. Apenas deixou sua fúria e instintos controlarem seu corpo.

      Ela tentou atirar novamente, mas não tinha balas e então usou a arma para golpeá-lo com toda a força que tinha – que infelizmente era pouca – e o fez derrubar a arma. Após não dormir, não se alimentar e a dor de suas feridas, ela claramente não estava em seu melhor estado e não conseguiu desviar quando ele, agora desarmado, avançou contra ela. 

      Bob a golpeou com o ombro, lançando-a contra a janela com força, o impacto fez o vidro se partir e cortar suas costas, mas ela apenas grunhiu de dor e logo chutou o estômago dele fazendo-o se afastar. O homem recuou dois passos com a mão na área atingida, então Annie avançou contra ele pulando em suas costas envolvendo seu pescoço com os braços e tentando sufocá-lo. Ele grunhiu enquanto a balançava tentando a todo custo se livrar dela, sua passagem de ar estava bloqueada e precisava urgentemente retirá-la de cima de si. Tentou livrar-se de seus braços, desferiu cotoveladas na lateral de seu corpo e até avançou contra a parede para esmagá-la, mas mesmo assim ela não se soltava e continuava a sufocá-lo. A falta de ar começou a afetá-lo, passou a ficar zonzo e então tropeçou e caiu ao chão no meio dos estilhaços da janela. Nem mesmo assim ela o soltou.

       No calor e desespero do momento ele agarrou um caco pontiagudo de vidro e o lançou com tudo por cima do ombro, a única coisa que ouviu a seguir foi o grito esganiçado de Annie. 

       A ponta perguntou seu olho esquerdo fazendo-a gritar em dor, Bob mexeu os o caco e então o puxou fazendo a ponta causar mais estragos e também cortar seu rosto. Annie finalmente o soltou fazendo-o sugar uma grande quantia de ar, ela recuou grunhindo e gritando de dor como um animal, as mãos pressionavam a região enquanto o sangue escorria livremente e sem parar por entre seus dedos. Darlan estava lutando desesperadamente contra a inconsciência causada pela perda excessiva de sangue, tentou se levantar e agir enquanto assistia toda aquela cena perturbadora. A sensação de inutilidade preenchendo seu ser a cada segundo.

 — Ela falou para não matá-la! – Bob exclamou furioso enquanto se levantava recompondo-se da luta. 

     Então avançou contra Annie que ainda estava atordoada, mas passou a balançar freneticamente o braço sem conseguir raciocinar ou ver direito. Então ele envolveu seu corpo com seus braços, apertando-a firmemente para que parasse de se mover, os braços dela também foram envolvidos enquanto as mãos dele se encontravam no meio de suas costas. 

 — Infelizmente eu não vou poder te matar, sua puta!

      Ele falou encarando-a bem de perto, a expressão dela era um misto de raiva, dor e desespero enquanto o sangue cobria boa parte de sua pele e não conseguia enxergar quase nada. 

      Embora a dor, Annie sentiu quando ele a imobilizou com um forte abraço e sentiu seu hálito podre em seu rosto, não ouvia absolutamente nada do que ele dizia e apenas agiu por instinto e teve a única atitude que podia naquele momento para se livrar dele.

      Seus dentes avançaram contra a pele áspera e suada de seu pescoço, apertaram fortemente em uma mordida enquanto ele gritava em dor e desespero para fazê-la parar e o soltar. Ele tentou puxá-la, tentou abrir sua boca e até mexeu na ferida de seu olho que a fez grunhir de dor, mas ela continuou firme ali. 

      O pavor e choque encobriram o corpo de Darlan que continuava assistindo tudo, aos poucos as bordas de sua visão foi escurecendo, mas ele viu quando ela puxou a cabeça para trás arrancando um grande pedaço do pescoço do homem. Annie virou o rosto e cuspiu aquele pedaço nojento de pele que, ironicamente, caiu na borda de um dos pratos e rolou até o centro. O sangue jorrou da ferida cobrindo mais ainda o corpo de Annie, naquele momento não sabia mais qual era o seu sangue e qual era os de seus inimigos. Bob caiu ao chão afogando-se no próprio sangue, como ela havia dito antes que faria.

      Sem mais inimigos, a garota levou o braço até o rosto e limpou o sangue que sujava seu olho e olhou ao redor enquanto a consciência voltava aos poucos. Ela olhou para as próprias mãos, aquele fio feriu profundamente seu pulso e um pedaço parecia estar preso em seu pulso direito. Suas mãos tremiam sem parar, a dor parecia piorar a cada segundo, mas ela ignorou e olhou ao redor. Viu Darlan completamente pálido, com olheiras profundas ao redor dos olhos, olhando-a com total pavor. Então viu o corpo de Eleazar caído e foi até ele, ignorou todos os próprios ferimentos e focou sua preocupação no homem. Ajoelhou ao seu lado, o balançou chamando seu nome desesperando-se cada vez mais que ele não respondia, tentou sentir sua respiração e não sentiu nada e, ao fim, tentou ouvir seus batimentos cardíacos. Nada. 

      Eleazar estava morto.

      Annie se levantou, afastando-se lentamente enquanto seu olho estava fixo no corpo do homem e então um soluço saiu do fundo de sua garganta. Ela estava pronta para chorar quando uma movimentação a fez olhar para o lado e viu Jade se levantar.

 — Jade! – ela gritou, a voz rouca e falhada.

 — Bati a cabeça quando caí. – murmurou a mulher enquanto esfregava a região ferida – O merdinha atirou no meu ombro, desmaiei com a bati… – ela parou quando seus olhos pousaram na garota – ANNIE!

      Ela contornou a mesa e correu até a jovem, vendo-a completamente ensanguentada e ferida, o desespero enchendo seu ser enquanto gritava por Eleazar, mas parou quando viu o homem caído e sem vida ao chão. Jade não reagiu, ficou olhando para ele sem acreditar e antes que pudesse reagir Priscila finalmente entrou na sala.

 — Que porra aconteceu aqui? – ela gritou vendo toda a bagunça. 

     Priscila fuzilou Annie com o olhar e então puxou a arma em sua direção. Aquela visão paralisou a garota, ver a garota que era sua melhor amiga mirar em sua direção pronta para matá-la era algo que jamais imaginou antes, mas ali estava ela. Quando Priscila ia disparar, Jade se jogou em cima de Annie e as duas caíram ao mesmo tempo que o som de tiro ecoou pela sala, quando seu corpo colidiu no chão ela ouviu a voz de Kaira e por um segundo foi transportada para aquela lembrança. 

      Agora, mais velha e experiente, Annie agiu por instinto e se levantou num salto jogando um caco de vidro contra Priscila que atingiu seu ombro. Ao ouvir o grunhido de dor que ela emitiu, a jovem rapidamente se arrependeu lembrando-se de sua amizade e, principalmente, o bebê.

 — M-me des… me desculpa. – ela gaguejou.

 — Priscila! – uma mulher ruiva entrou – Temos que ir, agora!

      Junto da ruiva, havia outras duas pessoas, um homem jovem e alto e uma garota de cabelos encaracolados e olhos azuis. Annie fuzilou cada um deles enquanto Priscila se virava e saía, mas antes de sair da sala ela lhe lançou um olhar e sorriu de lado como se estivesse satisfeita com algo. Quando estavam novamente sozinhos, Annie suspirou e tentou pensar no que fariam a seguir, mas uma voz fraca chamou sua atenção.

 — Annie? 

      Era Jade. Quando ela se virou, o chão abaixo de seus pés desapareceu e ela sentiu ser engolida por um buraco de desespero e dor. A mancha no peito de Jade crescia cada vez mais e quando seu corpo perdeu o equilíbrio, Annie avançou para segurá-la em seus braços.

 — Calma, calma… Vamos dar um jeito! Vamos dar um jeito! – dizia pressionando a ferida tentando estancar o sangramento.

 — A-Annie… – ela dizia com dificuldade.

 — Vamos dar um jeito, eu não posso te perder! – dizia com o desespero tomava sua voz enquanto tentava parar o sangramento.

 — Obrigada. – ela sussurrou.

 — Não, mãe, não… não! Não me deixe, por favor! – as lágrimas já escorriam livremente por seu rosto se juntando ao sangue, a dor de suas feridas não eram importantes naquele momento – Mãe, por favor… por favor, não me deixe! – implorava.

 — Eu não… – ela engasgou – Quero morrer. Mas vou me encontrar com Eleazar. – um fraco sorriso surgiu em seus lábios – Tá tudo bem.

      Ela tentou levar a mão até o rosto de Annie, mas não conseguiu. Seu braço caiu em cima de seu próprio peito e seus olhos perderam o brilho, assim como o sorriso que desapareceu. 

 — Não… – ela sussurrou – Não, não, não… Mãe! Jade, por favor! Darlan! Darlan! – ela se virou, mas o garoto já havia desmaiado pela perda de sangue, então olhou desesperada para Gally que voltava aos poucos da inconsciência– Gally, Gally! Gally, acorda, por favor! Gally! Me ajuda, por favor! Gally… – sua voz tremeu vendo que seria inútil, então se virou novamente olhando o rosto de Jade e a abraçou com força – Alguém, por favor… Alguém traz ela de volta… Alguém me ajuda.

       Ela passou a sussurrar aquelas palavras em meio ao choro que não cessava, seu corpo estava coberto de sangue e todas as suas feridas doíam, mas nenhuma delas se comparava a dor daquela perda e de sentir seu coração se destroçando mais a cada segundo. E isso doía. Doía muito. Foi então que Tanya entrou naquela sala e os encontrou naquele estado. Eleazar caído e morto, Darlan desmaiado e quase morto, Gally inconsciente e Annie, que estava totalmente banhada de sangue e ferida, agarrada ao corpo já sem vida de Jade.

      E ali, agarrada a sua mãe após todo aquele caos, Annie finalmente desmaiou.

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